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29 dezembro 2019

Chantagem na Odebrecht

Em novembro de 2014, uma nova fase da operação Lava-Jato começou a investigar o grupo Odebrecht. Estima-se que a empresa pagou mais de 3 bilhões de dólares em propinas, em diversos países do mundo. As investigações levaram a condenação do então presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Marcelo era neto do fundador da empresa e tinha assumido o posto da empresa anos antes.

Recentemente, a prisão foi relaxada. Mas Marcelo tinha perdido poder na empresa e estava excluído das grandes decisões. No dia 16, a empresa trocou o executivo Luciano Guidolin por Ruy Sampaio na presidência do grupo. Sampaio é um executivo da confiança de Emílio Odebrecht, pai de Marcelo. Na sexta, dia 20, uma extensa reportagem do Valor Econômico traz revelações do novo presidente. Sampaio afirmou que Marcelo fez chantagem com a empresa, antes de assinar o acordo de delação premiada, em novembro de 2016. Marcelo exigiu, e conseguiu, que a empresa pagasse 310 milhões de reais para o presidente, sendo 70 milhões através de um título de VGBL em nome da esposa. Somente com o pagamento ele assinaria o acordo de delação. A acusação de chantagem revelou que Marcelo foi o único a receber um valor bem acima da multa que deveria pagar pelo escândalo. Mais ainda, Sampaio revelou que Marcelo era funcionário licenciado da empresa, mas que ainda recebia R$100 mil reais.

No sábado, dia 21 de dezembro, surgiu a notícia que Marcelo tinha sido demitido por e-mail por justa causa, sem direito a indenização. A razão é que ele teria extorquido a empresa. A explicação da empresa era que a demissão foi uma exigência do Ministério Público Federal e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Isto realmente pareceu estranho. Um detalhe é que a ameaça de Marcelo e a aceitação da empresa foi concretizada em um contrato assinado pelas partes, onde existia uma clausula de confidencialidade. E a imprensa teve acesso ao documento, de maneira sigilosa.

Além disto, foi informado que as regras da delação obrigam a revelação do patrimônio da pessoa e Marcelo não teria feito esta revelação. Na segunda, dia 23, mais informação divulgada na imprensa mostra que Marcelo recebia salário durante seu afastamento e benefícios, que totalizavam 200 mil por mês. Desde então, mais nenhuma notícia. Estranho?

Baseado nos seguintes textos:
Valenti, Graziella. Após saída de Marcelo, 8 delatores continuam na Odebrecht. Valor, 23 dez B5
Pereira, Reneé e outros. Odebrecht vai investigar Marcelo. Estado de S Paulo, 22 dez B3
Pereira, Reneé e outros. Por ordem do pai, Marcelo Odebrecht é demitido por justa causa do grupo. Estado de S Paulo, 21 dez B1
Valenti, Graziella. Odebrecht acusa ex-CEO Marcelo de chantagear empresa. Valor, 20 dez B2
Valenti, Graziella. Odebrecht troca presidência do grupo. Valor, 17 dez B3

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