28 janeiro 2017
27 janeiro 2017
Acordo ortográfico falhou?
A Academia de Ciências de Lisboa divulgou, hoje, um texto onde salientou que o documento “Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” de 1990 se trata de “um contributo que resulta de aturada reflexão em torno da aplicação da nova ortografia e sobre algumas seis particularidades e subtilezas da língua portuguesa que não podem ser ignoradas em resultado de um excesso de simplificação”.
Para tal, a Academia, no estudo aprovado em plenário na passada quinta-feira, propõe o retorno das consoantes mudas, por exemplo, de palavras como “recepção” e “inspeccionar”.
Mas não é a única alteração. De acordo com o estudo apresentado, o acento agudo em palavras homógrafas (palavras com pronúncia e grafia iguais) vai voltar. Exemplo disso é a palavra “pára”, do verbo parar, que é facilmente confundida com a preposição “para”.
Também é possível o regresso do acento circunflexo em diferentes expressões que são homógrafas a outras. “Pelo” volta a ser “pêlo”, para não ser confundida com a preposição “pelo”, tal como acontece com o verbo “pôr” que acaba por se confundir com a preposição “por”.
Relativamente às consoantes mudas, nos casos em que geram uma concordância absoluta de sons (palavras homófonas), propõe a Academia os termos “aceção”, quando usado como “sentido”, que se confunde com “acessão” de consentimento, “corrector” (quem corrige), com a palavra “corrector” (intermediário), “óptica” (visão), com “ótica” (audição).
“Convém esclarecer o que se entende por ‘aperfeiçoamento’: aperfeiçoar o Acordo Ortográfico não significa rejeitar a nova ortografia, mas antes aprimorar as novas regras ortográficas e retocar determinados pontos para fixar a nomenclatura do Vocabulário e do Dicionário da Academia”, remata a ACL”, encontra-se no mesmo texto divulgado.
Obviamente que a posição da Academia de Lisboa precisa ser aceita pela Brasileira. Fonte: Aqui
Para tal, a Academia, no estudo aprovado em plenário na passada quinta-feira, propõe o retorno das consoantes mudas, por exemplo, de palavras como “recepção” e “inspeccionar”.
Mas não é a única alteração. De acordo com o estudo apresentado, o acento agudo em palavras homógrafas (palavras com pronúncia e grafia iguais) vai voltar. Exemplo disso é a palavra “pára”, do verbo parar, que é facilmente confundida com a preposição “para”.
Também é possível o regresso do acento circunflexo em diferentes expressões que são homógrafas a outras. “Pelo” volta a ser “pêlo”, para não ser confundida com a preposição “pelo”, tal como acontece com o verbo “pôr” que acaba por se confundir com a preposição “por”.
Relativamente às consoantes mudas, nos casos em que geram uma concordância absoluta de sons (palavras homófonas), propõe a Academia os termos “aceção”, quando usado como “sentido”, que se confunde com “acessão” de consentimento, “corrector” (quem corrige), com a palavra “corrector” (intermediário), “óptica” (visão), com “ótica” (audição).
“Convém esclarecer o que se entende por ‘aperfeiçoamento’: aperfeiçoar o Acordo Ortográfico não significa rejeitar a nova ortografia, mas antes aprimorar as novas regras ortográficas e retocar determinados pontos para fixar a nomenclatura do Vocabulário e do Dicionário da Academia”, remata a ACL”, encontra-se no mesmo texto divulgado.
Obviamente que a posição da Academia de Lisboa precisa ser aceita pela Brasileira. Fonte: Aqui
Formato da Tese
Um texto bem interessante sobre o formato da tese foi publicado pelo Scielo. Lilian Nassi-Calò faz uma análise entre os dois formatos típicos. Antes disto, a autora apresenta um dado horripilante:
O editorial da edição da Nature de 7 de julho de 20161 traz um dado peculiar: “de acordo com estatísticas frequentemente citadas que deveriam ser verdadeiras, mas provavelmente não são, o número médio de pessoas que leem uma tese de doutorado do início ao fim é 1,6, e isso inclui o autor”.
Baseado na minha experiência, que leio as teses dos meus orientandos e das comissões que participo, acredito que este número seja verdadeiro. Principalmente quando o trabalho possui mais de duzentas páginas e você é convidado para avaliar do trabalho. Isto é ajudado pelo número crescente de trabalhos científicos - sobra menos tempo para ler tudo que queremos - e pelo aumento no número médio de páginas:
Informação da maior base de dados de teses de doutorado, ProQuest, situada em Ann Arbor, Michigan, EUA, indica que o número médio de páginas de uma tese aumentou de cerca de 100 nos anos 1950 para ao redor de 200 atualmente
A defesa pode ser aberta ao público, como geralmente ocorre no Brasil, mas pode acontecer através de comentários por escrito, como na Austrália. Os dois tipos de formatos são: (a) tradicional, onde o trabalho possui uma longa introdução, um extenso referencial teórico, o método e os resultados; (b) formato de capítulos por artigos. No segundo caso, o candidato publica ou redige artigos decorrentes da pesquisa, junta o material, faz uma contextualização inicial e uma conclusão.
A CAPES, órgão que atribui conceitos aos cursos de pós-graduação em todo o país, reconhece esta modalidade de tese, assim como a FAPESP e Fundações de Amparo à Pesquisa de outros estados, na concessão de bolsas e auxílios. O fato de o candidato ter trabalhos publicados em periódicos bem avaliados, entretanto, não o isenta da defesa da dissertação ou tese, que deve ocorrer de acordo com os critérios estabelecidos pela instituição de ensino superior.
Durante toda minha vida acadêmica lidei, como aluno e docente, com o primeiro formato. Agora, no programa de pós-graduação da minha instituição, como coordenador do curso, estou participando do processo de implantação do segundo formato.
Esta modalidade é vista com bons olhos por pesquisadores e estudantes, uma vez que estimula a publicação de artigos e é menos trabalhoso que redigir 200 páginas de uma tese.
Existem críticas a este formato:
Shirley Tilghman, biologista molecular e ex-presidente da Universidade Princeton, em New Jersey, EUA, entretanto, não é favorável à adoção do formato alternativo de teses, pois “elas demonstram a habilidade do candidato em definir o contexto de uma questão, descrever em detalhes o propósito e a execução e chegar a uma conclusão com base nos resultados obtidos”.
Minha experiência mostra que o formato de artigos pode ser interessante por cinco motivos principais: (a) após a defesa no formato tradicional é muito difícil incentivar o aluno a publicar seu trabalho; (b) somos avaliados pela publicação e esta não pode ser muito distante no tempo da defesa - o formato do artigo a publicação será mais rápida; (c) os artigos são mais lidos e citados; (d) pode ajudar os avaliadores com uma visão prévia da qualidade da tese (imagine uma tese com três artigos publicados em periódicos internacionais de primeiro nível...); (e) aproxima mais o orientador do aluno.
O que estamos experimentando é mudar somente o formato. Ainda haverá o processo de defesa, com uma comissão examinadora. Os artigos irão precisar de um cuidado metodológico e científico. Talvez crie uma dificuldade de entrelaçar as pesquisas. Mas não custa tentar.
O editorial da edição da Nature de 7 de julho de 20161 traz um dado peculiar: “de acordo com estatísticas frequentemente citadas que deveriam ser verdadeiras, mas provavelmente não são, o número médio de pessoas que leem uma tese de doutorado do início ao fim é 1,6, e isso inclui o autor”.
Baseado na minha experiência, que leio as teses dos meus orientandos e das comissões que participo, acredito que este número seja verdadeiro. Principalmente quando o trabalho possui mais de duzentas páginas e você é convidado para avaliar do trabalho. Isto é ajudado pelo número crescente de trabalhos científicos - sobra menos tempo para ler tudo que queremos - e pelo aumento no número médio de páginas:
Informação da maior base de dados de teses de doutorado, ProQuest, situada em Ann Arbor, Michigan, EUA, indica que o número médio de páginas de uma tese aumentou de cerca de 100 nos anos 1950 para ao redor de 200 atualmente
A defesa pode ser aberta ao público, como geralmente ocorre no Brasil, mas pode acontecer através de comentários por escrito, como na Austrália. Os dois tipos de formatos são: (a) tradicional, onde o trabalho possui uma longa introdução, um extenso referencial teórico, o método e os resultados; (b) formato de capítulos por artigos. No segundo caso, o candidato publica ou redige artigos decorrentes da pesquisa, junta o material, faz uma contextualização inicial e uma conclusão.
A CAPES, órgão que atribui conceitos aos cursos de pós-graduação em todo o país, reconhece esta modalidade de tese, assim como a FAPESP e Fundações de Amparo à Pesquisa de outros estados, na concessão de bolsas e auxílios. O fato de o candidato ter trabalhos publicados em periódicos bem avaliados, entretanto, não o isenta da defesa da dissertação ou tese, que deve ocorrer de acordo com os critérios estabelecidos pela instituição de ensino superior.
Durante toda minha vida acadêmica lidei, como aluno e docente, com o primeiro formato. Agora, no programa de pós-graduação da minha instituição, como coordenador do curso, estou participando do processo de implantação do segundo formato.
Esta modalidade é vista com bons olhos por pesquisadores e estudantes, uma vez que estimula a publicação de artigos e é menos trabalhoso que redigir 200 páginas de uma tese.
Existem críticas a este formato:
Shirley Tilghman, biologista molecular e ex-presidente da Universidade Princeton, em New Jersey, EUA, entretanto, não é favorável à adoção do formato alternativo de teses, pois “elas demonstram a habilidade do candidato em definir o contexto de uma questão, descrever em detalhes o propósito e a execução e chegar a uma conclusão com base nos resultados obtidos”.
Minha experiência mostra que o formato de artigos pode ser interessante por cinco motivos principais: (a) após a defesa no formato tradicional é muito difícil incentivar o aluno a publicar seu trabalho; (b) somos avaliados pela publicação e esta não pode ser muito distante no tempo da defesa - o formato do artigo a publicação será mais rápida; (c) os artigos são mais lidos e citados; (d) pode ajudar os avaliadores com uma visão prévia da qualidade da tese (imagine uma tese com três artigos publicados em periódicos internacionais de primeiro nível...); (e) aproxima mais o orientador do aluno.
O que estamos experimentando é mudar somente o formato. Ainda haverá o processo de defesa, com uma comissão examinadora. Os artigos irão precisar de um cuidado metodológico e científico. Talvez crie uma dificuldade de entrelaçar as pesquisas. Mas não custa tentar.
Imposto de Renda Zero 2
Ainda sobre a questão do imposto de renda, a PwC divulgou (via aqui) as alíquotas de imposto de renda cobradas em cada país. A relação de alguns países, das maiores alíquotas as menores, é a seguinte:
55% = União dos Emirados Árabes
40% = Estados Unidos
35% = Argentina, Malta, Sudão, Zâmbia
34.61% = Índia
34.5% = San Martin
34% = Brasil e Venezuela
33.99% = Bélgica
33.3% = França
33% = Camarões
32% = Moçambique, Namíbia e Paquistão
0% = Bahamas, Barain, Bermuda, Ilhas Cayman, Ilhas Man, Suriname, Vanuatu, Bonaire, Guernsey
A média global é de 23.62% e da OCDE é de 24.81%. Na América Latina a alíquota média é de 27.29%.
Entretanto, estas são as alíquotas, o que não significa que correspondam aos valores efetivos. A existência de lacunas na lei ou possibilidades de fazer o planejamento fiscal pode resultado num valor bem abaixo. Para um total de mais de 40 mil empresas globais, Damodaran estimou uma alíquota média menor que 14%, apesar do valor da alíquota na lei ser em torno de 24%.
55% = União dos Emirados Árabes
40% = Estados Unidos
35% = Argentina, Malta, Sudão, Zâmbia
34.61% = Índia
34.5% = San Martin
34% = Brasil e Venezuela
33.99% = Bélgica
33.3% = França
33% = Camarões
32% = Moçambique, Namíbia e Paquistão
0% = Bahamas, Barain, Bermuda, Ilhas Cayman, Ilhas Man, Suriname, Vanuatu, Bonaire, Guernsey
A média global é de 23.62% e da OCDE é de 24.81%. Na América Latina a alíquota média é de 27.29%.
Entretanto, estas são as alíquotas, o que não significa que correspondam aos valores efetivos. A existência de lacunas na lei ou possibilidades de fazer o planejamento fiscal pode resultado num valor bem abaixo. Para um total de mais de 40 mil empresas globais, Damodaran estimou uma alíquota média menor que 14%, apesar do valor da alíquota na lei ser em torno de 24%.
Imposto de Renda Zero
Minha opinião: o imposto sobre as sociedades deve ser zero. Não apenas uma alíquota zero, mas o imposto deve ser abolido. Reduzir uma alíquota é apenas um convite à renegociação, e um aumento rápido no futuro. Reduzir uma taxa mantém todos os lobistas atentos em manter todas as isenções em curso. Para reduzir um imposto, você deve seguir o conselho de um filme de zumbi - mate e crave uma estaca no seu coração. Queime o código, exclua do disco rígido.
Na minha melhor suposição, o imposto é inteiramente pago pelos consumidores em preços mais altos e trabalhadores com salários mais baixos. No entanto, funciona melhor apenas com uma mudança no imposto sobre o consumo (progressivo, se quiser) dos indivíduos.
Cochrane tem uma opinião radical sobre o imposto sobre o lucro. Provavelmente o imposto é favorável as empresas maiores, que possuem um grande departamento de planejamento tributário, e para as empresas que fazem trapaças.Além disto, alimenta uma indústria que não agrega valor para a economia: advogados tributaristas, contadores, servidores da receita, professores de normas etc.
O problema é que no Brasil seria difícil de implantar, já que o imposto sobre o consumo é elevado.
P.S. Sobre o assunto, a Receita prorrogou o prazo de apresentação da DIRF pelo atraso na disponibilização do software.
Na minha melhor suposição, o imposto é inteiramente pago pelos consumidores em preços mais altos e trabalhadores com salários mais baixos. No entanto, funciona melhor apenas com uma mudança no imposto sobre o consumo (progressivo, se quiser) dos indivíduos.
Cochrane tem uma opinião radical sobre o imposto sobre o lucro. Provavelmente o imposto é favorável as empresas maiores, que possuem um grande departamento de planejamento tributário, e para as empresas que fazem trapaças.Além disto, alimenta uma indústria que não agrega valor para a economia: advogados tributaristas, contadores, servidores da receita, professores de normas etc.
O problema é que no Brasil seria difícil de implantar, já que o imposto sobre o consumo é elevado.
P.S. Sobre o assunto, a Receita prorrogou o prazo de apresentação da DIRF pelo atraso na disponibilização do software.
Aquecimento Global
Abaixo, vídeo da Nasa mostrando o aquecimento global do século XIX até os dias de hoje.
26 janeiro 2017
Fies
Koike, em Aluno com Fies paga mensalidade mais cara (Valor. 24 de janeiro, B4) informa que as mensalidades pagas por estudantes com Fies – um financiamento do governo federal – são 8% mais altas do que os alunos sem Fies. Apesar da lei determinar que os descontos devam ser iguais para os dois grupos.
Segundo Koike, a prática é semelhante as companhias de aviação, que concedem desconto para diluir custos fixos. Na realidade isto não faz muito sentido, já que dependeria da suposição sobre a existência de uma ordem para entrar num curso: primeiro o aluno com financiamento e depois aquele sem.
Outra explicação é que o aluno busca o financiamento para depois procurar a instituição. Como o dinheiro está “garantido”, a instituição não se esforça para oferecer melhores condições em relação ao aluno sem financiamento. De certa forma isto é confirmado pela declaração de um executivo da ABMES, a associação que defende os interesses das faculdades: “os abatimentos pontuais, de caráter individual, (…) não precisam ser repassados para alunos beneficiados pelo programa estudantil”.
Acredito que existam duas outras razões: o horizonte temporal do pagamento e a assimetria informacional. Para o aluno com Fies, buscar um desconto pode não compensar em razão do valor do dinheiro no tempo. E talvez a informação do desconto fique restrita ao aluno e a instituição, criando uma assimetria e impedindo que o aluno com financiamento não busque um pagamento menor.
Segundo Koike, a prática é semelhante as companhias de aviação, que concedem desconto para diluir custos fixos. Na realidade isto não faz muito sentido, já que dependeria da suposição sobre a existência de uma ordem para entrar num curso: primeiro o aluno com financiamento e depois aquele sem.
Outra explicação é que o aluno busca o financiamento para depois procurar a instituição. Como o dinheiro está “garantido”, a instituição não se esforça para oferecer melhores condições em relação ao aluno sem financiamento. De certa forma isto é confirmado pela declaração de um executivo da ABMES, a associação que defende os interesses das faculdades: “os abatimentos pontuais, de caráter individual, (…) não precisam ser repassados para alunos beneficiados pelo programa estudantil”.
Acredito que existam duas outras razões: o horizonte temporal do pagamento e a assimetria informacional. Para o aluno com Fies, buscar um desconto pode não compensar em razão do valor do dinheiro no tempo. E talvez a informação do desconto fique restrita ao aluno e a instituição, criando uma assimetria e impedindo que o aluno com financiamento não busque um pagamento menor.
Links
Listagem dos 50 melhores carreiras dos EUA (5 vinculadas à contabilidade)
F1 foi vendida (e seu ex-chefão demitido)
Dados sobre o terrorismo no mundo
Uber: dilema entre caixa e crescimento (prejuízo de 3 bilhões em 2016)
O indicado de Trump para a SEC deve ser aprovado no senado
PwC contrata a equipe de impostos da GE
F1 foi vendida (e seu ex-chefão demitido)
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Uber: dilema entre caixa e crescimento (prejuízo de 3 bilhões em 2016)
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25 janeiro 2017
Falácia do WACC
Um dos erros cometidos pelos gestores de uma empresa é a falácia do WACC. Os administradores das empresas, procurando simplificar sua função, terminam por usar a mesma taxa de desconto para todos os projetos de investimentos. Assim, as decisões de investimento de maior risco terminam por apresentar uma configuração mais favorável, enquanto as alternativas menos arriscadas são descontadas por uma taxa maior do que a adequada. O resultado disto é uma decisão errônea, que distorce a rentabilidade do projeto e induz a tomada de risco mais elevada.
Isto também ocorre quando uma empresa está analisando a possibilidade de adquirir ou se juntar com outra entidade. Ao analisar o potencial de geração de caixa da operação, deve-se considerar taxa de desconto diferente daquela usada pela empresa.
Resumindo, a falácia do WACC decorre de escolher uma taxa de desconto única para todas as decisões. Cada decisão tem riscos específicos, que podem se traduzir em taxas maiores ou menores que aquela usada pela empresa.
Kruger, Landier e Thesmar, pesquisadores europeus, analisaram esta falácia no artigo The WACC Fallacy: The Real Effects of Using a Unique Discount Rate (publicado há mais de ano no Journal of Finance, em junho de 2015). O que considero interessante no trabalho dos autores foi o método usado. Sem ter como analisar cada decisão de cada empresa, os autores basearam na suposição de utilização do CAPM como forma de capturar o risco fundamental. A análise focou nas empresas diversificadas, onde a falácia do WACC seria mais provável. Assim, eles puderam perceber se as empresas estavam inclinadas a investir menos nas divisões de “baixo” beta do que nas divisões de “alto” beta. Suponha, por exemplo, que uma empresa possua três divisões: A, B e C e que os betas destas divisões (que poderia ser obtido pelos betas dos setores) seriam de 0,5, 1 e 1,5. Imagine que o beta médio desta empresa diversificada seja de 1. Assim, os projetos da Divisão A, que possui um beta pequeno de 0,5, seriam avaliados, caso existisse a falácia do WACC, usando não 0,5 mas 1. Provavelmente os projetos seriam rejeitados. Por outro lado, os projetos da divisão C seriam avaliados usando um beta menor do que deveria ser, sendo mais facilmente aprovados.
Os autores do estudo efetivamente encontraram que estas empresas caiam na falácia. Isto é surpreendente, pois geralmente as empresas diversificadas são grandes empresas. Deveríamos esperar que estas empresas tivessem uma qualidade de gestão maior que as empresas menos diversificadas. Outro aspecto, é que provavelmente estas empresas devem possuir áreas específicas que fazem a análise e seleção dos investimentos, com funcionários devidamente treinados. Não parece que isto seja verdade.
Isto também ocorre quando uma empresa está analisando a possibilidade de adquirir ou se juntar com outra entidade. Ao analisar o potencial de geração de caixa da operação, deve-se considerar taxa de desconto diferente daquela usada pela empresa.
Resumindo, a falácia do WACC decorre de escolher uma taxa de desconto única para todas as decisões. Cada decisão tem riscos específicos, que podem se traduzir em taxas maiores ou menores que aquela usada pela empresa.
Kruger, Landier e Thesmar, pesquisadores europeus, analisaram esta falácia no artigo The WACC Fallacy: The Real Effects of Using a Unique Discount Rate (publicado há mais de ano no Journal of Finance, em junho de 2015). O que considero interessante no trabalho dos autores foi o método usado. Sem ter como analisar cada decisão de cada empresa, os autores basearam na suposição de utilização do CAPM como forma de capturar o risco fundamental. A análise focou nas empresas diversificadas, onde a falácia do WACC seria mais provável. Assim, eles puderam perceber se as empresas estavam inclinadas a investir menos nas divisões de “baixo” beta do que nas divisões de “alto” beta. Suponha, por exemplo, que uma empresa possua três divisões: A, B e C e que os betas destas divisões (que poderia ser obtido pelos betas dos setores) seriam de 0,5, 1 e 1,5. Imagine que o beta médio desta empresa diversificada seja de 1. Assim, os projetos da Divisão A, que possui um beta pequeno de 0,5, seriam avaliados, caso existisse a falácia do WACC, usando não 0,5 mas 1. Provavelmente os projetos seriam rejeitados. Por outro lado, os projetos da divisão C seriam avaliados usando um beta menor do que deveria ser, sendo mais facilmente aprovados.
Os autores do estudo efetivamente encontraram que estas empresas caiam na falácia. Isto é surpreendente, pois geralmente as empresas diversificadas são grandes empresas. Deveríamos esperar que estas empresas tivessem uma qualidade de gestão maior que as empresas menos diversificadas. Outro aspecto, é que provavelmente estas empresas devem possuir áreas específicas que fazem a análise e seleção dos investimentos, com funcionários devidamente treinados. Não parece que isto seja verdade.
24 janeiro 2017
BT e fraude na Itália
A BBC informou que a empresa BT, uma ex-empresa estatal privatizada nos anos oitenta, constatou fraude na sua operação na Itália. Em razão disto, o preço das ações da empresa caiu em 18%. Apesar do problema já ser conhecido do mercado, a dimensão foi subestimada pela BT. As notícias indicam não somente que os problemas são maiores, mas que irão afetar os resultados nos próximos dois anos. Alega-se "comportamento inadequado" dos executivos da empresa na Itália.
Eleições e notícias falsas
Apresentamos novas evidências sobre o papel das histórias falsas divulgadas nas mídias sociais antes das eleições presidenciais de 2016 nos EUA. Com base em dados de audiência, arquivos de sites de verificação de fatos e resultados de uma nova pesquisa on-line encontramos: (i) a mídia social foi uma fonte importante, mas não dominante, de notícias no período pré-eleitoral, com 14% dos estadunidenses denominaram as mídias sociais com a "mais importante" fonte de notícias eleitorais; (ii) das notícias falsas conhecidas que apareceram nos três meses antes da eleição, aquelas que favoreceram Trump foram compartilhadas um total de 30 milhões de vezes no Facebook, enquanto aquelas que favorecem Clinton foram compartilhadas oito milhões de vezes; (iii) o estadunidense médio viu e lembrou-se de 0,92 história de notícias falsas a favor de Trump e 0,23 notícia falsas a favor de Clinton, com pouco mais da metade daqueles que se lembravam das notícias falsas acreditaram nelas; (iv) para as notícias falsas terem mudado o resultado da eleição, um único artigo falso precisaria ter o mesmo efeito persuasivo de 36 anúncios de campanha televisiva.
Social Media and Fake News in the 2016 Election - Hunt Allcott, Matthew Gentzkow
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Links
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23 janeiro 2017
História da Contabilidade: Mucuri
A Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri foi criada em 1849 pelos irmãos Theophilo Benedito Ottoni e Honorio Benedicto Ottoni. Foi uma das primeiras empresas a emitir ações de Sociedade Anônima no Brasil (1). Tinha por objetivo estabelecer uma ligação entre o Rio de Janeiro e Salvador com o vale do Mucuri. Para isto, a empresa abriria estradas, implantaria uma linha fluvial entre a região e o mar, através do rio Mucuri, e promoveria a colonização da região com imigrantes. A empresa tornou-se uma das primeiras concessões públicas, uma espécie de Parceria Público-Privada do império (2).
Concebida por Theophilo Ottoni (3), que posteriormente batizou uma das cidades surgidas a partir da criação da empresa, teve um história de controvérsias e polêmicas. Weder Ferreira da Silva, na dissertação de mestrado (4), faz um importante apanhado histórico sobre a empresa e o papel de Otoni no desenvolvimento da região do Mucuri. O estudo da empresa permite conhecer melhor como era a contabilidade das empresas na metade do século XIX. Envolve questões relacionadas com a concessão, mas também a encampação de empresa, incluindo avaliação de bens em situação de liquidação.
Esta postagem irá se concentrar no relatório preparado por um dos peritos, no caso Jose Candido Gomes, que analisou a situação da empresa (5), assim como a documentação contábil da mesma. Conforme explica Silva, na dissertação de mestrado, dois peritos fizeram uma análise da Mucuri. Gomes, denominado de comissário árbitro, foi indicado pelo ministro dos Negócios da Agricultura, e Ernesto Otoni, dos acionistas; existindo divergência, a mesma seria decidida pelo presidente da província de Minas Gerais.
A leitura do parecer de Gomes permite inferir alguns aspectos interessantes sobre a contabilidade da empresa. Destaco aqui os seguintes pontos:
1) A Mucuri utilizava o método das partidas dobradas (6). Naquela época, nem toda entidade usava o método, como é o caso da administração pública, onde era predominante as partidas simples. Apesar disto, a escrituração estava baseada no regime de caixa; assim, uma dívida não estava registrada no passivo da empresa, exceto se tivesse transitado pelo caixa da empresa.
2) Não existia a demonstração de lucros e perdas, a atual demonstração do resultado. Entretanto, a partir das contas do “balancete” é possível fazer uma análise do desempenho da empresa. O problema maior estava na qualidade dos números apurados (7);
3) Outro aspecto destacado no parecer de Gomes é que a grande maioria das despesas eram classificadas numa única conta, de “despesas gerais”, o que impedia uma análise mais detalhada do desempenho da empresa. Como a empresa tinha vários negócios, não era possível saber se eram lucrativos; pela análise, provavelmente nenhum deles era, incluindo o comércio, que representava uma pequena parte da receita.
4) Um auditor iria reprovar as contas da empresa, já que a maioria dos lançamentos não tinham os documentos comprobatórios (8). Num dos casos, a contabilidade registrava que o volume de documentos era muito grande e não tinha sido encaminhado, da região de Mucuri para o Rio de Janeiro, onde ficava a sede da empresa, por serem grandes. As cartas entre os funcionários também não eram suficientes para comprovar os lançamentos, já que muitos acertos eram feitos verbalmente. Num dos recibos, a letra do funcionário era, segundo Gomes, igual a do guarda-livros (9).
5) Entre os ativos da empresa existiam seres humanos (10). Na época a escravidão era legalizada no país e estas pessoas eram consideradas como bens da empresa. Há uma discussão sobre o quantitativo de escravos, a “baixa” daqueles que foram alforriados pelo gestor ou dos que morreram entre o balanço e o levantamento dos bens da empresa. E também a amortização dos seres humanos pela perda de capacidade de trabalho em razão da idade.
6) Apesar de não existir claramente o conceito de depreciação ou amortização, o mesmo estava indiretamente apresentado no documento redigido por Gomes (11). Este perito, ao comentar sobre o valor dos ativos, destaca a necessidade de subtrair um percentual pelo uso ou desgaste do mesmo.
7) Para finalizar, há uma discussão muito interessante sobre se uma determinada quantidade de terra deveria ser considerada como ativo da empresa (12). Gomes traça um histórico da lei que deu a concessão para a Mucuri. Na norma, a empresa poderia receber do império terras devolutas caso cumprisse uma série de requisitos. Para o perito, em alguns casos a empresa cumpriu o expresso na norma; em outros casos, isto não ocorreu. Assim, para Gomes, este último caso não daria direito, para a empresa, de reconhecer as terras como ativo, ao contrário do que afirmava o perito da empresa, Ernesto Ottoni. Este ponto me fez lembrar da discussão do Iasb sobre a necessidade do ativo estar dentro da lei ou não.
O caso da Mucuri é muito interessante por mostrar que situações históricas podem enriquecer nosso conhecimento sobre a contabilidade.
(1) Salomão Neto, Flávio Henrique. Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri: uma concessão de serviço público como forma de desenvolvimento de uma Região.
(2) Idem.
(3) Vide verbete na Wikipedia
(3) Colonização, Política e Negócios: Teófilo Benedito Otoni e a trajetória da Companhia do Mucuri (1847-1863) defendida no programa de pós-graduação de história da UFOP em 2009. O trabalho de Silva representa uma análise muito interessante dos fatos relacionados com a Mucuri.
(5) O relato foi publicado parcialmente no jornal O Constitucional, em diversas edições (ano I, números 7 a 19, 23, 28 e 29, 1862)
(6) número 7 do O Constitucional.
(7) Idem.
(8) número 8 do O Constitucional
(9) A questão da letra encontra-se no número 9 do O Constitucional.
(10) Este aspecto pode ser encontrado no número 8 e no número 15 do O Constitucional.
(11) Isto está no número 13 e 17 do jornal.
(12) Número 12 do jornal
Concebida por Theophilo Ottoni (3), que posteriormente batizou uma das cidades surgidas a partir da criação da empresa, teve um história de controvérsias e polêmicas. Weder Ferreira da Silva, na dissertação de mestrado (4), faz um importante apanhado histórico sobre a empresa e o papel de Otoni no desenvolvimento da região do Mucuri. O estudo da empresa permite conhecer melhor como era a contabilidade das empresas na metade do século XIX. Envolve questões relacionadas com a concessão, mas também a encampação de empresa, incluindo avaliação de bens em situação de liquidação.
Esta postagem irá se concentrar no relatório preparado por um dos peritos, no caso Jose Candido Gomes, que analisou a situação da empresa (5), assim como a documentação contábil da mesma. Conforme explica Silva, na dissertação de mestrado, dois peritos fizeram uma análise da Mucuri. Gomes, denominado de comissário árbitro, foi indicado pelo ministro dos Negócios da Agricultura, e Ernesto Otoni, dos acionistas; existindo divergência, a mesma seria decidida pelo presidente da província de Minas Gerais.
A leitura do parecer de Gomes permite inferir alguns aspectos interessantes sobre a contabilidade da empresa. Destaco aqui os seguintes pontos:
1) A Mucuri utilizava o método das partidas dobradas (6). Naquela época, nem toda entidade usava o método, como é o caso da administração pública, onde era predominante as partidas simples. Apesar disto, a escrituração estava baseada no regime de caixa; assim, uma dívida não estava registrada no passivo da empresa, exceto se tivesse transitado pelo caixa da empresa.
2) Não existia a demonstração de lucros e perdas, a atual demonstração do resultado. Entretanto, a partir das contas do “balancete” é possível fazer uma análise do desempenho da empresa. O problema maior estava na qualidade dos números apurados (7);
3) Outro aspecto destacado no parecer de Gomes é que a grande maioria das despesas eram classificadas numa única conta, de “despesas gerais”, o que impedia uma análise mais detalhada do desempenho da empresa. Como a empresa tinha vários negócios, não era possível saber se eram lucrativos; pela análise, provavelmente nenhum deles era, incluindo o comércio, que representava uma pequena parte da receita.
4) Um auditor iria reprovar as contas da empresa, já que a maioria dos lançamentos não tinham os documentos comprobatórios (8). Num dos casos, a contabilidade registrava que o volume de documentos era muito grande e não tinha sido encaminhado, da região de Mucuri para o Rio de Janeiro, onde ficava a sede da empresa, por serem grandes. As cartas entre os funcionários também não eram suficientes para comprovar os lançamentos, já que muitos acertos eram feitos verbalmente. Num dos recibos, a letra do funcionário era, segundo Gomes, igual a do guarda-livros (9).
5) Entre os ativos da empresa existiam seres humanos (10). Na época a escravidão era legalizada no país e estas pessoas eram consideradas como bens da empresa. Há uma discussão sobre o quantitativo de escravos, a “baixa” daqueles que foram alforriados pelo gestor ou dos que morreram entre o balanço e o levantamento dos bens da empresa. E também a amortização dos seres humanos pela perda de capacidade de trabalho em razão da idade.
6) Apesar de não existir claramente o conceito de depreciação ou amortização, o mesmo estava indiretamente apresentado no documento redigido por Gomes (11). Este perito, ao comentar sobre o valor dos ativos, destaca a necessidade de subtrair um percentual pelo uso ou desgaste do mesmo.
7) Para finalizar, há uma discussão muito interessante sobre se uma determinada quantidade de terra deveria ser considerada como ativo da empresa (12). Gomes traça um histórico da lei que deu a concessão para a Mucuri. Na norma, a empresa poderia receber do império terras devolutas caso cumprisse uma série de requisitos. Para o perito, em alguns casos a empresa cumpriu o expresso na norma; em outros casos, isto não ocorreu. Assim, para Gomes, este último caso não daria direito, para a empresa, de reconhecer as terras como ativo, ao contrário do que afirmava o perito da empresa, Ernesto Ottoni. Este ponto me fez lembrar da discussão do Iasb sobre a necessidade do ativo estar dentro da lei ou não.
O caso da Mucuri é muito interessante por mostrar que situações históricas podem enriquecer nosso conhecimento sobre a contabilidade.
(1) Salomão Neto, Flávio Henrique. Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri: uma concessão de serviço público como forma de desenvolvimento de uma Região.
(2) Idem.
(3) Vide verbete na Wikipedia
(3) Colonização, Política e Negócios: Teófilo Benedito Otoni e a trajetória da Companhia do Mucuri (1847-1863) defendida no programa de pós-graduação de história da UFOP em 2009. O trabalho de Silva representa uma análise muito interessante dos fatos relacionados com a Mucuri.
(5) O relato foi publicado parcialmente no jornal O Constitucional, em diversas edições (ano I, números 7 a 19, 23, 28 e 29, 1862)
(6) número 7 do O Constitucional.
(7) Idem.
(8) número 8 do O Constitucional
(9) A questão da letra encontra-se no número 9 do O Constitucional.
(10) Este aspecto pode ser encontrado no número 8 e no número 15 do O Constitucional.
(11) Isto está no número 13 e 17 do jornal.
(12) Número 12 do jornal
Rir é o melhor remédio
Uma propaganda pode ser criativa e engraçada:
Poderíamos dizer: acabastes de aprender algo inútil. Leia a próxima postagem (sobre a Mucuri) e poderá aprender algo útil.
Poderíamos dizer: acabastes de aprender algo inútil. Leia a próxima postagem (sobre a Mucuri) e poderá aprender algo útil.
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