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27 março 2025

Desonestidade

 O resumo

Uma suposição fundamental sobre o comportamento humano, que sustenta as teorias dos traços de personalidade, é que, em certa medida, os indivíduos se comportam de maneira consistente em situações estruturalmente comparáveis. No entanto, especialmente no que diz respeito a comportamentos antiéticos, essa suposição de consistência tem sido severamente questionada, pelo menos desde o início do século XIX. Neste estudo, oferecemos um teste rigoroso dessa suposição de consistência em um exemplo proeminente de comportamento antiético — a desonestidade — com uma amostra ampla (N = 1.916) e demograficamente diversa. O comportamento desonesto foi medido três vezes — com até três anos de intervalo — utilizando diferentes variantes de paradigmas bem estabelecidos e incentivados de trapaça. Uma vantagem central desses paradigmas é que mentir é lucrativo individualmente, mas não leva à autoincriminação. Além de variar a tarefa específica em cada medição, também manipulamos experimentalmente a natureza dos incentivos (ou seja, dinheiro vs. evitar tarefas tediosas), assim como sua magnitude.

A consistência do comportamento desonesto foi estimada por meio de um modelo estatístico recém-desenvolvido. Os resultados mostraram forte consistência do comportamento desonesto entre os diferentes contextos na maioria dos casos. Além disso, traços de personalidade teoricamente relevantes (como Honestidade-Humildade e o Fator Sombrio) apresentaram relações significativas tanto com a desonestidade quanto com sua consistência. Assim, contrariando suposições de longa data, há uma consistência notável no comportamento desonesto que pode ser atribuída a fatores disposicionais subjacentes. De modo geral, os achados atuais têm importantes implicações para a compreensão teórica da desonestidade, ao fornecerem evidências robustas de que (des)honestidade pode ser entendida como um traço de personalidade, bem como para a prática (por exemplo, intervenções voltadas à promoção da honestidade). Além disso, a nova abordagem estatística desenvolvida pode ser útil para pesquisas futuras em diversas áreas científicas.

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IA e economia

Why LLMs are so good at economics

Consigo pensar em algumas razões:

Pelo menos por enquanto, mesmo os LLMs muito bons não podem ser considerados confiáveis em termos de originalidade. E, pelo menos por enquanto, um bom raciocínio econômico não exige originalidade — muito pelo contrário.

Boas cadeias de raciocínio em economia não são muito longas nem complicadas. Se se estendem por demais, provavelmente há algo errado com o argumento. O comprimento dessas cadeias eficazes de raciocínio está bem dentro das capacidades dos melhores LLMs atualmente.

Grande parte da boa economia exige uma síntese entre considerações teóricas e empíricas. Os LLMs são especialmente bons em fazer sínteses.

Em argumentos e explicações econômicas, frequentemente há múltiplos fatores envolvidos. Os LLMs são muito bons em listar múltiplos fatores — às vezes são “bons até demais” nisso, “aargh! não aguento mais uma lista, por favor…”

Artigos de periódicos econômicos costumam ter alta qualidade e, em geral, são consistentes entre si, baseando-se em ideias comuns como curvas de demanda, custos de oportunidade, ganhos com o comércio, e por aí vai. As chances são de que um bom LLM tenha sido treinado com “o material certo”.

Muitas ideias centrais da economia são “difíceis de perceber do zero”, mas “fáceis de entender uma vez que você as vê”. Isso também favorece os modelos, que são excelentes em digerir conteúdo.

E, por isso, LLMs de qualidade tendem a se sair melhor em economia do que em muitas outras áreas de investigação.

Penso que muito se aplica na área de contabilidade. 

26 março 2025

Estranho argumento

 Lendo notícias passadas encontrei isso:

“Temos uma nova administração compatível com criptografia e Bitcoin, com discussões em andamento para uma reserva em bitcoin dos EUA, e também regras do FASB Financial Accounting Standards Board que agora permitem que as empresas mantenham Bitcoin em seus balanços sem penalidade”, disse James Lavish, sócio-gerente do Bitcoin Opportunity Fund, observou. “Isso legitima ainda mais o Bitcoin como um ativo corporativo.”

De acordo com os padrões contábeis implementados pelo FASB, as entidades devem mensurar ativos criptográficos a valor justo a cada período de relatório. A nova regra começou a valer em 15 de dezembro. As alterações também exigem que uma entidade forneça divulgações sobre participações significativas, restrições contratuais de venda e alterações durante o período de relatório.


 

Utilizar o custo histórico — uma regra antiga — foi considerado uma penalidade. O motivo é que, quando o Bitcoin está se valorizando, esse aumento não aparece nos resultados da empresa. Da mesma forma, uma eventual perda também não é registrada quando há desvalorização. Além disso, Lavish considera que a forma de mensuração tem o poder de legitimar algo como um ativo. No entanto, acredito que essa legitimação está presente no reconhecimento do item em si, e não no montante registrado como ativo.

Mudança econômica

 O bilionário fundador e presidente da Amazon, Jeff Bezos, anunciou sua mudança da região de Seattle para a Flórida no final de 2023. No anúncio, Bezos mencionou que as operações de sua empresa de foguetes, a Blue Origin, estavam cada vez mais concentradas em Cabo Canaveral. O que não foi mencionado na publicação é que o bilionário economizaria uma fortuna em impostos. Só em 2024, ele poupou cerca de US$ 1 bilhão (R$ 6,18 bilhões) em tributos.

Com isso, na segunda metade de 2023, ele desembolsou US$ 234 milhões (R$ 1,447 bilhão) para comprar três mansões em Indian Creek, uma ilha artificial conhecida como o “bunker dos bilionários” da Flórida; registrou-se para votar no estado; e apresentou uma declaração de domicílio na Flórida — três passos cruciais para estabelecer residência legal no estado, que é famoso por não cobrar impostos sobre renda, ganhos de capital ou herança.


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Quando a contabilidade entra em campo

O artigo "Manchester City could cripple football", publicado no UnHerd, discute as acusações enfrentadas pelo Manchester City por supostas violações das regras de Fair Play Financeiro (FFP) entre 2009 e 2018. Essas acusações incluem inflacionar artificialmente o valor de patrocínios de empresas ligadas à propriedade do clube e realizar pagamentos a terceiros para complementar os salários oficiais de jogadores e técnicos. Se consideradas procedentes, tais infrações podem resultar em penalidades severas, como multas substanciais, dedução de pontos ou até mesmo rebaixamento do clube. ​




O artigo destaca que, sob as Regras de Lucro e Sustentabilidade introduzidas pela Premier League, os clubes podem perder no máximo £105 milhões em um período de três anos. Recentemente, outro clube, o Everton foi penalizado com a dedução de pontos por exceder o limite permitido de perdas financeiras. Há outros antecedentes também. Caso o Manchester City seja considerado culpado, as sanções podem ser ainda mais severas, dada a magnitude das acusações e a alegada falta de cooperação durante as investigações. ​

O que torna a discussão interessante é que o City seria um clube atuando em um setor onde deveria prevalecer o aspecto esportivo, mas a discussão sobre a não esportividade financeira é crucial. Além disso, dado que o City é propriedade de um governo e parece estranho falar em fair-play financeiro com a presença do estado entre os atores.

A relação com a contabilidade é evidente, pois as acusações centram-se na manipulação de demonstrações financeiras para aparentar conformidade com as regulamentações financeiras. 

Balanço do Estado de São Paulo não representam sua situação financeira


Este estudo tem o objetivo de analisar se existem inconsistências contábeis nos balanços patrimoniais do Estado de São Paulo nos anos de 2022 e 2023, utilizando a Teoria da Divulgação como suporte teórico. Os dados desta investigação foram extraídos do Portal de Transparência do Estado de São Paulo, do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro – SICONFI, do site Visão Integrada das Dívidas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e do Sistema de Análise da Dívida Pública, Operações de Crédito e Garantias da União, Estados e Municípios – SADIPEM. Os resultados revelaram a existência de inconsistências contábeis nos Balanços Patrimoniais
dos anos 2022 e 2023 do Estado de São Paulo: divergência entre os valores do Passivo Exigível com o Passivo Real; inconsistências nos valores dos Restos a Pagar processados e não processados; o ativo e o passivo não representam a situação financeira e patrimonial do Estado de São Paulo, pois foram encontradas divergências nos valores divulgados. Por fim, com base na Teoria da Divulgação (Theory of Disclosure), conclui-se que os valores registrados nos balanços patrimoniais dos anos de 2022 e 2023 não refletem adequadamente a real situação do Patrimônio Público do Estado de São Paulo.

Fonte: aqui

25 março 2025

Tradução e Tradutor


Avanços em inteligência artificial estão transformando rapidamente o mundo do trabalho. Esta coluna investiga os efeitos da tradução automática sobre (1) o emprego e os salários no setor de tradução e (2) a demanda por habilidades em línguas estrangeiras em diferentes cargos e setores. Utilizando variações no uso da tradução automática entre os mercados de trabalho locais nos EUA após o lançamento do aplicativo móvel Google Tradutor, os autores constataram que as áreas com maior adoção do Google Tradutor apresentaram uma queda no emprego de tradutores. Os autores também mostram que os avanços na tradução automática reduziram, de forma geral, a demanda por habilidades em línguas estrangeiras.

Veja que o texto acima foi traduzido pelo GPT. Honestamente, tenho pena dos trabalhadores, mas para quem precisa, o avanço é muito bom. 

Brasil e ORCID

O ORCID é um dos pilares da pesquisa científica atual. A figura abaixo registra a participação de 3900 pesquisadores em 28 eventos virtuais. O Brasil teve 2% dos participantes (algo como 80 interessados) no último ano.

Diz muito sobre nossa ciência.


Transparência, antes e depois da pandemia, dos Institutos Federais

Eis o resumo

Pesquisas recentes se propuseram a observar, por meio da comparabilidade entre dois períodos, pré e pós-pandemia, o comportamento e os reflexos na sociedade advindos da pandemia COVID-19. O objetivo deste estudo é comparar o nível de transparência dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia em dois momentos distintos, pré e pós-pandemia do COVID-19. A amostra é composta por 38 Institutos Federais (IF), 02 Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) e 01 colégio, o Pedro II. Em relação aos procedimentos metodológicos, utilizou-se da análise de conteúdo e análise estatística descritiva para comparação dos dados. Como resultado, foi identificado que os IFs evoluíram significativamente no quesito transparência pública no período pós-pandemia, em comparação aos dados do período pré-pandemia. O Instituto Federal de Alagoas (IFAL), 1º lugar do ranking pós-pandemia, atingiu um resultado expressivo de 97,5% de transparência, sendo que o seu percentual pré-pandemia era de 53,4%. Esta pesquisa revelou a importância de os órgãos públicos cultuarem a manutenção perene da disponibilidade de informações de toda a estrutura governamental de forma tempestiva. A enorme quantidade de dados gerados a partir dos portais do governo podem oferecer oportunidades para fornecer monitoramento contínuo de uma série de dados, os quais propiciam aos pesquisadores e à sociedade informações substanciais, a partir dos dados coletados, que podem potencialmente mitigar assimetrias informacionais e elevar o controle social.

Eis a tabela com os resultados de 2023:



Halloween e o diagnóstico de TDAH


O que podemos aprender com a subjetividade de uma opinião? Há muitas decisões que o contador toma que são subjetivas. Ao olhar para outras profissões é possível ver que fatores externos podem influenciar casos como diagnóstico de uma doença. Eis a pesquisa

A prática da medicina depende de um diagnóstico preciso. No entanto, o diagnóstico de muitas condições médicas envolve avaliações que convidam a diferentes graus de subjetividade. Fatores externos e arbitrários podem influenciar as avaliações diagnósticas dos médicos em condições que vão desde ataques cardíacos a condições de neurodesenvolvimento, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Quantificar essa subjetividade é um desafio, no entanto, particularmente para as condições do neurodesenvolvimento e psiquiátrica, onde as avaliações subjetivas do comportamento são comuns e importantes. O Halloween, um feriado caracterizado por excitação entre as crianças, poderia apresentar um experimento natural para estudar a subjetividade no diagnóstico, se alguma mudança comportamental resultante influenciar as taxas de diagnóstico de TDAH. Usando dados de mais de 100 milhões de consultas médicas, comparamos as taxas de diagnóstico de TDAH, por dia, entre as crianças atendidas pelos médicos nos 10 dias úteis em torno de sete feriados de Halloween. A taxa de novo diagnóstico de TDAH foi de 62,7 por 10.000 visitas infantis no Halloween, em comparação com 55,1 durante os dias úteis circundantes, um aumento de 14%. Não houve aumento nos diagnósticos de vários distúrbios neuropsiquiátricos com critérios diagnósticos que são menos focados no comportamento hiperativo. Nossos achados destacam a subjetividade no diagnóstico de TDAH e apoiam a necessidade de considerar fatores externos que podem influenciar o diagnóstico.

Imagem: aqui

Jorge Luiz Hennemann - Contador da FEE

Via Alexandre Alcântara. Trabalhei com gelatina, pequeno e aprendiz do meu pai, técnico em contabilidade.

Rir é o melhor remédio

Adaptado pelo blog
 

24 março 2025

Quando a Auditoria Falha: Como um Software Mudou as Regras do Bitcoin


Um desenvolvedor de software, Roman Storm, criou um mecanismo para ajudar as pessoas a manter suas transações com criptomoedas de forma privativa. Esse mecanismo impedia o rastreamento de doações para países em guerra, como a Ucrânia, mas também permitiu que a Coreia do Norte lavasse um bilhão de dólares em Bitcoin.

Roman acabou preso e agora corre o risco de pegar até 40 anos de cadeia. Em sua defesa, Storm argumentou que sua tecnologia é neutra, como uma planilha ou um telefone celular. Basicamente, ninguém condenou Bill Gates pelo fato de terroristas usarem o Excel.

Na prática, o software envia sua criptomoeda para um endereço onde ela é misturada com os valores de outras pessoas, quebrando a trilha de auditoria. Lembram quando diziam que uma das vantagens do Bitcoin era justamente permitir o acompanhamento de todas as transações feitas com uma determinada moeda? O software de Storm mudou esse conceito.

reCAPTCHA e seu custo para sociedade

O CAPTCHA (Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Apart — ou Teste de Turing Público e Automatizado para Diferenciar Computadores de Humanos) foi criado para proteger sites contra ataques automatizados. Em 2007, essa tecnologia passou a ser utilizada também para ajudar na digitalização de textos escaneados de livros e jornais, quando os computadores ainda tinham dificuldade em reconhecer certos caracteres. Assim, surgiu o reCAPTCHA, com um propósito nobre.


Para se ter uma ideia, o New York Times digitalizou seu arquivo de 13 milhões de artigos com o auxílio dessa ferramenta. No entanto, atualmente, já é possível burlar o reCAPTCHA com certa facilidade. Ainda assim, ele continua em uso — agora, cada vez mais, como uma ferramenta de rastreamento, coletando dados dos usuários.

Um estudo revelou que o reCAPTCHA monitora extensivamente os cookies dos usuários, o histórico de navegação e o ambiente do navegador (incluindo renderização de canvas, resolução da tela, movimentos do mouse e dados do user-agent) — tudo isso podendo ser usado para fins de publicidade e rastreamento. Ao analisar mais de 3.600 usuários, os pesquisadores descobriram que os desafios baseados em imagens levam 557% mais tempo para serem resolvidos do que os desafios de caixa de seleção e concluíram que o reCAPTCHA custou à sociedade cerca de 819 milhões de horas de tempo humano, o que equivale a aproximadamente 6,1 bilhões de dólares em salários - enquanto gera lucros massivos para o Google por meio de suas capacidades de rastreamento e coleta de dados.

Rir é o melhor remédio

Fonte: aqui
 

23 março 2025

Diamantes, tecnologia e custo de produção

Um texto longo da Bloomberg analisa o caso da De Beers, que chegou a ter 90% do mercado de diamantes do mundo. Em cinco anos, uma revolução da tecnologia colocou em dúvida o futuro da empresa. Eis um trecho

Manish Shah trabalha na indústria de diamantes de Nova York há 25 anos e é dono da GEMXO, uma empresa atacadista que fornece pedras preciosas soltas para revendedores, fabricantes e grandes varejistas, operando a partir de um escritório no distrito de diamantes. Até cerca de cinco anos atrás, todos os diamantes que fluíam através de seu negócio tinham sido desenterrados de uma mina.
Hoje, esse número caiu para metade. O resto foi feito em laboratório.
“Agora isso é sem precedentes. Isso é algo inovador, isso nunca aconteceu antes”, disse Shah em uma entrevista. “Toda a indústria está em um tumulto.”
(...) Ao contrário das gemas de imitação, como a zircônia cúbica, os diamantes cultivados em laboratórios têm as mesmas características físicas e composição química que as pedras minadas. Eles são feitos de uma semente de carbono colocados em uma câmara de microondas e superaquecidos em uma bola de plasma brilhante, criando partículas que podem eventualmente cristalizar em diamantes. A tecnologia é tão avançada que os especialistas precisam de uma máquina para distinguir entre gemas sintetizadas e minadas.
Jóias de moda baratas foram especialmente atingidas – os clientes que anteriormente gastariam algumas centenas de dólares por pedras erradas agora podem obter diamantes sintéticos perfeitos pelo mesmo preço. O Boston Consulting Group estima que a produção de diamantes cultivados em laboratório cresceu 10 vezes em seis anos, arrastando para baixo tanto a demanda quanto os preços de seus equivalentes naturais.
E enquanto a produção de pedras cultivadas em laboratório explodiu, o preço despencou. Fontes dizem que os preços no atacado caíram mais de 90% na última meia década e agora estão acima do custo de produção.

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

Novilíngua existe

 Ontem comentamos da Interpol mudando o nome dos crimes. Eis que deparo com a seguinte pesquisa:

Em muitos países, o controle sobre a linguagem tem sido um elemento importante do regime autoritário: ao rotular fenômenos sociais de determinadas formas, ditadores tentam influenciar a percepção que seus súditos têm desses eventos. O Newspeak (ou "Novilíngua") de Orwell é a descrição literária mais poderosa dessas práticas. Embora a existência de Newspeak em muitas autocracias seja indiscutível, há pouquíssimas pesquisas empíricas investigando sua eficácia — os indivíduos realmente reagem à escolha das palavras ou percebem as intenções do regime em manipulá-los?

Usando o caso da Rússia de Putin em 2024 e aplicando um experimento online pré-registrado e inédito (N = 4.000), demonstramos que o Newspeak tem impacto político. Em particular, analisamos como os participantes reagem à escolha específica das palavras usadas para descrever a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. O governo russo proibiu legalmente o uso do termo "guerra", exigindo que se utilize a expressão "operação militar especial" em seu lugar.

Demonstramos que os entrevistados expostos à formulação "operação militar especial", em contraste com "conflito militar", demonstraram menos ansiedade e mais orgulho em relação aos acontecimentos em curso. Além disso, esses participantes expressaram níveis mais baixos de engajamento cívico e menor disposição para participar de protestos com demandas políticas ou econômicas.

Nossas conclusões contribuem para a literatura sobre narrativas de propaganda autoritária e destacam o papel do Newspeak na formação da apatia política em contextos autocráticos.


Lembrando que as empresas, quando divulgam seus resultados, são adeptas a Newspeak.

Uberização do setor de saúde


existem no mercado em outros países aplicativos que estão introduzindo o modelo de trabalho sob demanda no setor de enfermagem, oferecendo aos profissionais de saúde a flexibilidade de escolher turnos em hospitais e casas de repouso. No entanto, essa tendência trouxe desafios semelhantes aos enfrentados por motoristas de aplicativos como Uber. Muitos hospitais utilizam essas plataformas para reduzir custos, resultando em condições de trabalho precárias para os enfermeiros. Problemas incluem remuneração baixa, desativação de contas sem explicação e falta de orientação adequada nos locais de trabalho, o que pode comprometer a segurança dos pacientes. Além disso, enfermeiros relatam discrepâncias salariais significativas e a necessidade de complementar a renda com outros empregos. 

Isso também está ocorrendo em diversos mercados, mas em muitos casos os aplicativos estão criando um mercado. Se você está planejando um futebol entre amigos, mas falta um goleiro, é possível contratar um através de um aplicativo. Isso não existia antes. Recentemente postamos e perguntamos aqui sobre a possibilidade disso chegar à contabilidade. 

22 março 2025

Alterar o nome dos crimes: uma nova estratégia no combate à criminalidad

O título pode parecer estranho, mas é exatamente isso que está acontecendo com a agência mundial que combate o crime em mais de 190 países. A Interpol acredita que, ao emitir alertas sobre crimes, a escolha dos nomes usados para tipificar os delitos pode melhorar a qualidade de seu trabalho.

Esses nomes dizem respeito a crimes como o pig butchering (ou "abate de porcos"), um termo já conhecido para um tipo específico de golpe. A Interpol agora propõe substituí-lo por romance baiting (ou "isca romântica"). Na visão da agência, muitas vezes a vítima perde uma quantia significativa de dinheiro — e o prejuízo financeiro se soma a um suposto dano psicológico causado pela comparação com um porco.

Faz sentido? As palavras têm poder, mas a mudança proposta pela Interpol não é respaldada por nenhuma pesquisa que a justifique.

Restauração e custo de reposição

O trecho:

Escondida acima das abóbadas de pedra de Notre-Dame de Paris, a estrutura de madeira do século XIII que uma vez sustentou o telhado íngreme da catedral era tão extensa que era conhecida como “a floresta”. Quando a catedral pegou fogo em 2019, as chamas se espalharam rapidamente pela rede de vigas de carvalho, cada uma escavada de uma árvore individual por carpinteiros medievais. Cerca de dois terços do telhado foram destruídos no incêndio.

Em março de 2024, toda a estrutura do telhado – la charpente em francês – havia sido identicamente reconstruída por um pequeno exército de carpinteiros do século XXI treinados na técnica tradicional de trabalhar “madeira verde” recém-colhida à mão com um machado. (Desta vez, no entanto, o quadro é protegido contra riscos de incêndio por um sistema de neblina automática, batimentos de telhado mais espesso e treliças resistentes ao fogo que separam a torre da nave e do coro em ambos os lados.)


Depois de gerações de mecanização, esta habilidade antiga quase desapareceu na França quando uma associação chamada Charpentiers Sans Frontiéres (Carpenters Without Borders) começou a promover seu renascimento em 1992. As oficinas do movimento agora atraem voluntários de todo o mundo. 

Comentamos no blog sobre o incêndio de Notre Dame e o conceito de custo de reposição. Veja, no exemplo, que não há um reposição no sentido literal, pois o telhado foi reconstituído usando a técnica medieval, mas somado com um aparato moderno para evitar novos incêndios:

A estimativa do custo de reposição irá depender das decisões sobre restaurar ou replicar e o nível de detalhe na reconstrução do prédio.

Produção mundial de automóveis

 

Eis a produção de automóveis em 2023. Cerca de um terço foram fabricados na China, a nova potência mundial. Estados Unidos e Japão somam outros 20,9%. Lá atrás, em nono, o Brasil tem 2,5%.

Street View resolve um crime

O Street View é uma ferramenta do Google Maps que permite visualizar imagens reais das ruas. Um carro equipado com câmeras percorre os locais tirando fotografias, possibilitando que o usuário tenha uma noção do trajeto, dos prédios e da paisagem ao seu redor. Há diversas histórias curiosas envolvendo o Street View, como fotos de pessoas com roupas inadequadas ou sendo flagradas em situações inusitadas.

Mas uma história recente está entre as mais surpreendentes. Na pequena cidade de Tajueco, na Espanha, com cerca de 100 habitantes, o carro do Google voltou a registrar imagens após quinze anos. Em uma das fotos captadas, a cena foi a seguinte:

Aparentemente, alguém estaria colocando um corpo no porta-malas de um automóvel. E essa não foi a única imagem intrigante: o Street View também registrou o suspeito transportando o corpo em um carrinho de mão. As imagens serviram de pista para a investigação, que resultou em duas prisões e na descoberta do cadáver.

Aprovação é igual a qualidade?

 

Lendo um comunicado antigo do CFC, da retrospectiva 2024:

A contratação da Fundação Getulio Vargas (FGV) para realizar as duas edições do Exame de Suficiência trouxe grandes ganhos à qualidade da avaliação dos futuros profissionais. Na primeira edição, foi alcançado o quantitativo de 18.898 aprovados, com um índice de 47,30%.

Como está no mesmo parágrafo, o texto passa a impressão de que qualidade na avaliação dos profissionais é igual ao aumento no número de aprovados.  Será que minha leitura estaria correta? 

Em outro trecho leio: 

Além dos exames, a área avançou em resultados relativos a outras iniciativas, como a aprovação da Resolução CFC n.º 1.246, de 2009

Inicialmente achei que a data estava incorreta. Mas parece que é isso mesmo. Eu não colocaria isso em um texto de retrospectiva.