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06 junho 2017

Matemática Financeira e a multa da JBS

O jornal Estado de S Paulo traz uma interessante aplicação de matemática financeira: a multa da JBS. Pelo acordo firmado na semana passada e assinado nesta semana, a empresa, ex-campeã nacional, terá que pagar 10,3 bilhões de reais de multa. Este valor deverá ser pago em 25 anos, sendo que inicialmente de forma semestral e depois anualmente. Além disto, o montante deverá ser corrigido pelo IPCA.

O jornal usou os préstimos de uma empresa de gestão de recursos chamada Quantitas. Estes concluíram que a multa deve sair pela metade do valor originalmente acertado. O cálculo feito é o seguinte: o valor será corrigido pela inflação somente, sem incluir uma taxa de juros, ao contrário do acordo da Odebrecht, que será corrigido pela Selic. Assim, se a empresa aplicar os recursos que serão usados para pagar a multa em NTN-B, um investimento do próprio governo, corrigido pelo IPCA mais juros, os recursos gerados seriam suficientes para reduzir o impacto da dívida pela metade. Ou, se a empresa aplicar R$5,158 bilhões hoje nestes títulos, os recursos serão suficientes para efetuar todo pagamento.

(Em matemática financeira, seria descobrir o valor presente - que neste caso é de R$5,158 bilhões - que será igualado as anuidades ou pagamentos a serem realizados pela empresa, a taxa de juros)

É um cálculo simples que assume uma hipótese: a taxa de juros do título público deverá continuar nos atuais níveis. Se ocorrer um aumento na taxa, o valor irá reduzir; existindo uma redução, como parece ser possível, o valor a ser aplicado deverá ser maior.

De qualquer forma, o texto mostra que o MPF precisa contratar aulas de reforço de matemática financeira para seus negociadores.

20 janeiro 2014

Custo da alta dos juros

O combate à inflação por meio da elevação da taxa básica de juros, a Selic, vai custar pelo menos R$ 14,2 bilhões a mais aos cofres públicos neste ano. É o que mostra cálculo do economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria. Segundo ele, as despesas com juros devem crescer de R$ 56,5 bilhões no ano passado para R$ 70,7 bilhões neste ano, efeito do ciclo de aumento da Selic, que estava em 7,25% em abril de 2013 e chegou a 10,5% nesta quarta-feira.
Salto diz que sua estimativa é conservadora, pois considera apenas as operações compromissadas – instrumento do Banco Central (BC) para enxugar excesso de liquidez na economia pela venda de títulos públicos. Não está incluso o impacto dos juros sobre os títulos pós-fixados vendidos pelo Tesouro.
- Esses R$ 70 bilhões já representam três orçamentos do Bolsa Família. E o governo não vai conseguir mudar isso por decreto. É preciso mudar a base desta política fiscal expansionista, o que abriria espaço para uma política monetária mais decente – diz.
Pelos cálculos de José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o aumento de gastos com o ciclo da Selic é um pouco maior, de R$ 15,3 bilhões. O número, também considerado conservador, tem como base a estimativa informada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) da União. Segundo o texto, o aumento de um ponto percentual da Selic provoca despesa extra com pagamento de juros de 0,09% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de produtos e serviços produzidos no país).
- A taxa de juros é o instrumento predominante de política monetária também em outros países, mas parece que existe monopólio disso aqui no Brasil – disse Afonso, lembrando que o governo também tem adotado outros caminhos para conter preços. – O governo está intervindo diretamente nos preços dos combustíveis, da energia elétrica. Os chamados preços administrados estão sendo mais administrados do que nunca.

[...]

Fonte: O Globo

10 março 2013

Inadimplência dos bancos públicos x privados


Nas últimas semanas, foram divulgados os resultados dos balanços dos bancos referentes a 2012. O que torna esses números importantes é que estamos no meio de uma alteração na maneira de funcionamento desse mercado.

O mercado de bancos comerciais brasileiro é composto por cinco grandes instituições -além das pequenas e médias-, duas delas públicas, Banco do Brasil e Caixa, e três privadas, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander.

Um dos elementos da política econômica da presidente Dilma é reduzir os juros básicos da economia e reduzir os juros cobrados pelos bancos comerciais na concessão de crédito. Para tal é necessário reduzir o "spread" bancário, que é a diferença dada pela taxa com que os bancos remuneram seus depositantes, conhecida por taxa de captação e próxima da taxa básica de juros, e a taxa cobrada aos tomadores de empréstimos.

O Banco Central promoveu de agosto de 2011 até o segundo semestre de 2012 forte redução da taxa básica de juros, a Selic, trazendo-a para 7,25% ao ano após reduzir 5,25 pontos percentuais. Adicionalmente, instruiu a diretoria dos bancos públicos, BB e CEF, a iniciar um forte processo de redução dos "spreads" com vistas a reduzir o custo de crédito e estimular a demanda.

Subjacente a essa iniciativa há uma particular interpretação dos motivos dos elevados "spreads" observados em nossa economia. Normalmente, os economistas e os bancos atribuem os elevados "spreads" aos altos custos da intermediação bancária. Os "spreads" seriam elevados pois a carga tributária e os depósitos compulsórios são muito altos no Brasil, além da inadimplência e, principalmente, do custo jurídico de reaver um crédito não pago ser elevadíssimo no Brasil. Ou seja, os elevados "spreads" seriam consequência do ambiente institucional subjacente ao funcionamento do sistema financeiro nacional.

[ Meu comentário: no Brasil, os spreads bancários não são elevados. ]

Parece que a presidente, quando estimula os bancos públicos a baixarem "na marra" os "spreads", tem outro diagnóstico. Os "spreads" seriam elevados porque os bancos explicitamente ou tacitamente-se comportam como um cartel, reduzindo artificialmente a quantidade concedida de crédito e, consequentemente, elevando artificialmente o custo do crédito.

Se o diagnóstico da presidente estiver correto, o resultado será a forte elevação da participação dos bancos públicos no mercado de intermediação bancária, elevação dos lucros totais dos bancos públicos e redução da taxa de lucratividade dos bancos públicos e privados, fruto da redução do "spread".

O risco da política do governo é o primeiro diagnóstico ser o correto, e os bancos públicos, ao longo do tempo, colherem fortíssima elevação da inadimplência, reduzindo muito os lucros e, no limite, gerando forte prejuízo, que teria que ser coberto por recursos do Tesouro.

Dirigentes dos bancos públicos argumentam que a inadimplência é menor do que a dos bancos privados e, portanto, não há esse risco. A dificuldade com o argumento dos dirigentes dos bancos públicos é que em parte a inadimplência dessas instituições é baixa pois a maior parte de sua intermediação ocorre no segmento de crédito direcionado, principalmente crédito ao investimento, com o BNDES, crédito agrícola, com o BB, e crédito imobiliário, com a CEF.

Como os recursos que lastreiam créditos dessa natureza são compulsoriamente captados na sociedade, os bancos públicos concedem essa modalidade de crédito a taxas muito menores. E, de fato, as taxas de mercado são maiores devido em parte ao fato de essa "captação" ser compulsória.

Com dados do BC (e fazendo algumas hipóteses), calculamos a taxa de inadimplência dos bancos públicos no crédito livre, aquele que é concedido em condições de mercado. Nossas estimativas apontam para taxas de inadimplência nos créditos livres significativamente maiores que as dos bancos privados.
Essa constatação sugere que a forte elevação da participação da carteira de créditos livres nos créditos totais dos bancos públicos deve elevar em alguns anos a inadimplência (que hoje estaria artificialmente baixa pela elevada participação dos créditos direcionados).

O temor é que o Tesouro Nacional tenha que arcar com enormes prejuízos como foi o caso do empréstimo de R$ 700 milhões do BNDES ao Lácteos Brasil. Por outro lado, se o diagnóstico da presidente estiver correto, haverá queda permanente do custo do dinheiro no Brasil. Temos que aguardar.

Fonte: Competição entre bancos - SAMUEL PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado doInstituto Brasileiro de Economia da FGV. Escreve aos domingos nesta coluna.

13 outubro 2012

Taxa de juros e fundos de pensão


Fundos de pensão: a escolha de sofia
Fábio Giambiagi
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2012
A queda da taxa Selic era uma antiga aspiração nacional, por várias razões, pelo fato de estimular a produção, melhorar o nível de emprego, mitigar a apreciação da taxa de câmbio e reduzir a despesa de juros.
Contudo, é necessário atentar para o outro lado da moeda, associado a aspectos em relação aos quais a redução da Selic pode causar problemas potenciais, como resultado da inércia dos agentes negativamente afetados por esse fenômeno. Um desses aspectos, com repercussões significativas sobre a economia, é a saúde dos fundos de pensão. Para entender isso, peço ao leitor um pouco de paciência para desenvolver um raciocínio matemático, ainda que simples.
Imaginemos uma situação em que não haja inflação, a taxa de juros real seja nula e um homem solteiro autônomo comece a trabalhar aos 20 anos, aposentando-se aos 55 anos e vivendo até os 80 anos de idade. Se ele separar todos os meses R$ 500 de contribuição, no final de 35 anos terá na sua conta o valor de R$ 500 x 12 x 35 = R$ 210 mil. Esse valor acumulado, gasto posteriormente ao longo dos últimos 25 anos de vida da pessoa (300 meses) possibilitará a esta uma renda mensal de R$ 210 mil / 300 = R$ 700. No mundo real, porém, a taxa de juros costuma ser positiva, de modo que com seus depósitos sendo remunerados, o juro faz parte do trabalho que, na ausência de remuneração financeira, seria feito apenas pelo esforço de poupar.
Em outras palavras, para um assalariado que quiser ter uma aposentadoria complementar, quanto maior for a taxa de juros, menor precisará ser a parcela poupada do salário. Pela mesma razão, dada uma taxa de juros que gera uma necessidade de contribuição para ter uma certa aposentadoria complementar, quanto maior for a queda dos juros, maior terá que ser o aumento da contribuição.
É arriscada a ideia de que a redução dos juros pode ser compensada com uma exposição maior na renda variável
Com Felipe Vilhena Amaral, tentamos mensurar as consequências de uma redução dos juros sobre a alíquota de equilíbrio de planos de pensão. O artigo, bastante técnico, publicado na “Revista Brasileira de Direito Previdenciário” (número 6, 2011), refere-se aos planos de Benefício Definido (BD), mas o pano de fundo é o mesmo que afeta os planos de Contribuição Definida (CD), com a diferença de que aquilo que nos planos BD gera a necessidade de medidas compensatórias para preservar o benefício, nos planos CD implica uma redução deste.
Em qualquer caso, uma menor remuneração das aplicações afeta os participantes, aumentando a alíquota requerida para o plano continuar equilibrado ou exigindo uma redução dos benefícios ou ainda um aumento do período contributivo, para que o plano não se torne insolvente. É uma escolha difícil.
Na tabela, extraída do citado artigo, apresentam-se as alíquotas de contribuição sobre o rendimento para o caso de um indivíduo solteiro que começa a trabalhar com 20 anos de idade, contribui 35 anos e se aposenta com 55, recebendo uma renda complementar igual ao último salário por outros 25 anos, renda essa indexada à inflação. A tabela apresenta resultados para diferentes combinações de taxas de desconto e de incremento da remuneração real na data-base.
A flexibilidade para escolher a taxa de desconto pode permitir inicialmente que alguns fundos agravem a situação futura dos mesmos caso resolvam “driblar” a necessidade de medidas corretivas (como aumento da contribuição ou elevação da idade de aposentadoria), mas não há dúvidas de que todos os participantes terão que se ajustar, cedo ou tarde. É bom ressaltar que quanto mais demorar o ajuste, mais drástico ele terá que ser depois.
A simples redução da taxa de desconto de 6% para 5% gera uma necessidade de elevação da alíquota de equilíbrio entre 4 e 6 pontos percentuais. A ideia de que a redução dos juros poderá ser compensada mediante uma maior exposição na renda variável é arriscada, porque é improvável que tenhamos outro ciclo de prosperidade da Bolsa como o do pós-Real ou o de 2003/2008. Os fundos serão obrigados a se adaptar à realidade de juros menores e fazer a sua “escolha de Sofia”..

03 setembro 2012

Regra do 72


A regra do 72 é uma maneira fácil de obter em quanto tempo um investimento irá dobrar o seu valor. Para saber este período de tempo, basta dividir 72 pela taxa. Suponha um investimento que irá render 10% ao ano. Em quantos anos o valor do investimento será o dobro? Pela regra do 72 basta dividir 72 por 10 (sem o percentual e sem a divisão por cem) e obteremos 7,2 anos. Ou seja, em aproximadamente 7,2 anos teremos o valor investido em dobro.

A figura abaixo mostra algumas taxas e o valor da regra do 72. Um investimento como a antiga poupança, que rendia 6% ao ano, levaria 12 anos para dobrar o seu valor. De 1994 até julho de 2012 o mercado acionário brasileiro apresentou uma rentabilidade mensal de 1,22%, que corresponde a 15,7% ao ano. Usando 15%, temos que em menos de cinco anos o valor do investimento dobraria.

11 abril 2012

Ben Bernanke


Um reportagem sobre Ben Shalom Bernanke, o atual preseidente do FED. Eis alguns trechos interessantes:

Ben Bernanke ainda tem quase dois anos pela frente no comando do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mas o seu legado já começa a ser escrito, num momento em que a economia americana dá sinais de se recuperar de forma mais forte do que o esperado, alavancando a candidatura do presidente Barack Obama para um segundo mandato.

Muito mais à vontade no papel de professor do que de "czar monetário", Bernanke deu quatro aulas na Universidade George Washington nas últimas duas semanas, cobrindo a história do século XIX para cá, incluindo as medidas que ele mesmo tomou para evitar que o mundo mergulhasse numa nova Grande Depressão

(...)Menos confortável, o tímido e reservado Bernanke também concedeu entrevistas para alguns dos veículos de comunicação mais importantes do país, incluindo a revista "The Atlantic", que publicou um longo perfil. Na capa, uma foto de Bernanke, com a manchete "O Herói". Lá dentro, outra foto, sob o título "O Vilão".

(...)Bernanke procura acrescentar algumas linhas numa narrativa sobre seu trabalho à frente do Fed, que, num ano de eleições, está sendo escrita num ambiente de alta temperatura. Republicanos acusam Bernanke de empurrar perigosamente os Estados Unidos à beira de um abismo inflacionário. A esquerda diz que ele é fraco porque não foi mais ousado para baixar o desemprego.

(...)"É curioso que Bernanke tenha sido atacado pelos dois lados", diz Donald Kohn, vice-presidente do Fed até 2010, hoje pesquisador da Brookings Institution, centro de estudos de Washington. "Isso não significa que ter uma posição intermediária seja o correto, mas mostra que não há uma decisão clara ou óbvia para um lado ou para o outro."

Muitos acham que, dentro de 10 ou 20 anos, Bernanke será julgado de forma mais generosa. Ele já tem algo a mostrar. Os bancos americanos estão funcionando, enquanto na Europa o crédito segue obstruído. Os Estados Unidos poderão crescer mais de 3% neste ano nos cenários mais otimistas, nada extraordinário, mas melhor do que o risco de recessão da Europa. As empresas americanas estão criando cerca de 250 mil empregos por mês, contribuindo para uma queda do desemprego de 9,8% para 8,3% de novembro para cá, a mais intensa desde a década de 1980. Os preços dos imóveis parecem finalmente ter parado de cair.

Paul Volcker, com seu choque de juros, fez de Jimmy Carter um presidente de um só mandato, na virada dos anos 1970 para os anos 1980. Alan Greenspan derrubou Bush pai pouco mais de uma década depois. Agora, Bernanke ajuda a vitaminar Obama, cuja popularidade começa a encostar na casa de 50% pela primeira vez desde meados do ano passado, quando Osama bin Laden foi morto. "A economia está melhorando, e a aprovação do Obama melhora junto", diz Clifford Young, diretor da Ipsos Public Affairs, empresa de pesquisas de opinião pública. "Hoje, ele tem 85% de chance de ganhar as eleições.

(...)Ben Shalom Bernanke, 58 anos, foi criado em Dillon, pequena cidade na Carolina do Sul, na fase final da segregação racial. Era considerado gênio desde criança - aprendeu Cálculo sozinho e tirou nota 1.590 num total de 1.600 pontos possíveis no teste-padrão para admissão à universidade. Mas seus pais, um farmacêutico e uma professora primária, tinham planos modestos de enviá-lo a uma universidade local, onde ficaria sob vigilância próxima para evitar que se perdesse na vida. Só concordaram com sua ida para o Massachusetts Institute of Technology (MIT) depois de uma conversa com um cliente da farmácia do pai de Bernanke, Kenneth Manning, afroamericano que virou professor da universidade depois de ter estudado numa escola segregada. Manning prometeu ficar de olho no jovem e fazê-lo frequentar uma sinagoga de Boston, onde fica o MIT.

O MIT tem um dos melhores cursos de economia do mundo, com uma tradição que vai de Paul Samuelson, autor do primeiro grande manual de macroeconomia de cursos de graduação, passa por Rudiger Dornbusch, estudioso dos sistemas cambiais, e chega aos Prêmios Nobel Franco Modigliani e Robert Solow, este último ainda vivo e em atividade. Entre os brasileiros, dois pais do Plano Real estudaram por lá, Pérsio Arida e André Lara Resende. O MIT parece dominar as decisões econômicas atuais, com seus quadros em alguns dos cargos mais importantes do mundo. Bernanke comanda o Fed, Olivier Blanchard é o economista-chefe do FMI e Mário Draghi preside o Banco Central Europeu (BCE).

Diferentemente da Universidade de Chicago, que tem uma linha ideológica inclinada à defesa do livre mercado, o MIT é uma escola muito mais pragmática, que transita sem preconceitos entre as várias linhas de pensamento econômico. "Talvez Bernanke tenha aprendido no MIT a ser essa pessoa ponderada, do meio-termo, que se preocupa com o desemprego, mas também com a inflação", diz o ex-aluno do MIT Laurence Ball, hoje professor da Universidade John Hopkins, de Washington.

A primeira grande produção acadêmica de Bernanke foi um trabalho sobre a Grande Depressão, publicado no começo da década de 1980 em parceria com Gertler, quando o hoje presidente do Fed já dava aulas na Universidade de Stanford. Os economistas Milton Friedman e Anna Schwartz haviam descrito, em 1963, como barbeiragens de política monetária do Fed haviam causado a Grande Depressão. Bernanke e Gertlher foram além, descrevendo os mecanismos de transmissão da crise pelo sistema financeiro, que se opera sobretudo pelo canal do crédito, jogando luz sobre um tema que era bastante obscuro para os economistas da época

(...)Preocupado com o risco de deflação durante a recessão causada pelo estouro da bolha acionária da internet, em 2001, Bernanke defendeu uma política monetária bastante relaxada e até o uso de instrumentos monetários não convencionais, caso a coisa ficasse mais grave. Ele ficou conhecido como "Helicóptero Ben", por ter se referido à proposta de Friedman de lançar dinheiro com helicóptero, num discurso feito em 2002 que delineou a chamada "Doutrina Bernanke", um roteiro agressivo para combater riscos deflacionários.

Hoje, ele minimiza a culpa dos juros ultrabaixos na criação da bolha que estourou a partir de 2007. "A política monetária não teve um papel importante no aumento dos preços de imóveis", disse Bernanke na semana passada, numa de suas aulas na universidade. Outros países, como a Inglaterra, tiveram bolhas imobiliárias na mesma época, apesar de ter juros mais altos. Os preços dos imóveis começaram a subir nos Estados Unidos em 1998, argumentou, antes de o Fed baixar os juros.

(...)"O Lehman Brothers era provavelmente grande demais para falir, no sentido de que sua falência teve enormes impactos para o sistema financeiro global", disse Bernanke nesta semana, em outra aula. "Mas estávamos impotentes, pois era essencialmente uma empresa insolvente." Não havia muito espaço legal, nem disposição política, para um resgate puro-sangue com dinheiro público. "Não acho que, no fim das contas, eles tinham outra opção senão deixar o Lehman Brothers falir", afirmou Olson.

Poucos, porém, fazem reparos à atuação de Bernanke a partir de então, quando a crise bancária ganhou contornos dramáticos e exigiu medidas muito mais agressivas. Dois dias depois da quebra do Lehman Brothers, a seguradora AIG recebeu um socorro de US$ 85 bilhões do Fed. Bernanke agiu para que a Merrill Lynch fosse adquirida pelo Bank of America. O governo americano anunciou, numa questão de dias, a criação de um fundo de US$ 700 bilhões para injetar capital e adquirir ativos problemáticos de instituições financeiras debilitadas. "Os Estados Unidos e o mundo foram muito felizes em ter Bernanke à frente das decisões, alguém que aprendeu as lições da história", afirma Olson.

Já a ação monetária de Bernanke, porém, é cercada de controvérsia. Os economistas mais ortodoxos dizem que a maciça emissão de dinheiro pelo Fed, em operações conhecidas como expansões quantitativas, são ineficazes para reanimar a economia e vão levar a uma inexorável aceleração inflacionária. O balanço do Fed atingiu proporções gigantescas, com um volume de US$ 2,9 trilhões. Alguns sustentam que há razões estruturais por trás dos altos índices de desemprego atuais. Trabalhadores estão fora do mercado de trabalho há muito tempo e, por isso, perderam qualificações profissionais. Num ambiente como esse, estímulos monetários só levam a mais inflação.

Uma outra corrente de economistas, menos ortodoxa, diz que Bernanke tinha obrigação de fazer ainda mais para estimular a economia. O Fed tem dois mandatos principais, controlar a inflação e manter o pleno emprego. A inflação anda bem-comportada, com projeções abaixo de 2%, a meta perseguida pelo Fed. Já o desemprego, em 8,3%, está muito acima do nível de longo prazo para a economia americana, que membros do Fed calculam entre 5% e 6%.

Em tese, há muitos outros instrumentos monetários não convencionais à disposição para estimular a economia, considerando o que escreveu o próprio professor Bernanke antes de virar banqueiro central. Na década de 1990, o Japão passou por uma experiência bastante semelhante à dos Estados Unidos. Depois de uma crise financeira, o Banco do Japão baixou agressivamente a taxa de juros até virtualmente zero, um limite para as políticas monetárias convencionais. Em 1999, Bernanke criticou o Banco Central do Japão por não fazer mais e propôs um agressivo roteiro aos japoneses num famoso texto, "Política monetária japonesa: um caso de paralisia autoinduzida".

A caixa de ferramenta incluía deliberada desvalorização cambial, emissão de moeda para expandir gastos fiscais e uma meta de inflação mais alta, entre 3% e 4%, acima dos 2% que os bancos centrais de economias avançadas costumam perseguir. Em 2008, quando Bernanke se deparou com a "armadilha monetária" no mundo real, preferiu seguir um roteiro mais bem-comportado. "Tenho mais simpatia pelos banqueiros centrais agora do que há dez anos", brincou Bernanke no ano passado, respondendo a uma pergunta de um jornalista japonês sobre sua aparente mudança de posição. Ele sustentou que fez o necessário para enfrentar o risco deflacionário nos Estados Unidos.

"Ele ficou muito mais cauteloso", disse Ball, da Universidade John Hopkins, autor de um trabalho recente que comparou as visões do professor Bernanke com a do banqueiro central Bernanke. "Algumas pessoas dizem em tom de brincadeira que o real Bernanke foi sequestrado por extraterrestes e, no seu lugar, foi colocado alguém com exatamente a mesma aparência física, porém bem mais cauteloso."

(...)Hoje, a política monetária de Bernanke é criticada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como uma das peças da chamada "guerra cambial". O dinheiro impresso pelo Fed estaria reforçando os fluxos internacionais de capitais e levando à depreciação do dólar ante moedas de países emergentes, como o real. O dólar fraco seria um motor adicional da recuperação americana, enquanto o real forte leva à desindustrialização no Brasil.

"Acho que os brasileiros não têm muita razão nesse argumento", afirma Edwin Truman, do Peterson Institute for Internacional Economics, que dedicou a carreira a temas de finanças internacionais e exerceu uma alta posição no assessoramento no Fed de Volcker. "Se Bernanke tivesse sido menos agressivo na política monetária, talvez o dólar fosse mais forte, mas a economia americana ficaria mais fraca e a demanda dos Estados Unidos por exportações brasileiras seria menor." Se o Fed de Volcker tivesse tolerado inflação maior, argumenta, o resto do mundo também acabaria prejudicado.

Decisões de Bernanke mexem com o mundo todo, mas uma década em Washington não o mudou muito. Seu principal passatempo nos fins de semana é resolver palavras cruzadas com a mulher. Ele volta para casa todas as noites para ler livros em formato eletrônico no Kindle. Quando sai, é para assistir a jogos do time local de beisebol, o Washington Nacionals. Sua maior satisfação, porém, parece ser dar aulas e responder a perguntas de estudantes da Universidade George Washington. "É o que fiz por 23 anos, antes de entrar nessa linha de trabalho", disse, ao começar o curso.

27 dezembro 2011

Juros ao longo da história

O gráfico mostra a evolução histórica da taxa de juros de curto prazo, desde 1831, nos Estados Unidos. Na metade do gráfico, um linha aponta a criação do Banco Central daquele país, que aparentemente reduziu o valor desta taxa.

01 outubro 2010

Juros

Levantamento do Banco Central mostra que o devedor gasta mais com juros do que com o bem adquirido em prestações

Compre juro e ganhe uma geladeira. Nenhuma loja vai atrair clientes com esse chamariz pouco convincente, mas é assim que, na prática, pessoas têm se endividado.

Estudo do Banco Central mostra que devedores gastam mais com juro nos financiamentos que com o bem adquirido. Em julho, 13,3% do salário dos brasileiros foi destinado ao pagamento de juros e 10,5% usado no abatimento da dívida. Ou seja, a maior despesa é com o banco, e não com a loja. A crescente vantagem do juro sobre a amortização do empréstimo é atribuída em parte ao boom do crédito imobiliário, que já consome 8,1% do salário dos brasileiros.

A situação em que o juro é a maior despesa dentro dos financiamentos é vista há pelo menos quatro anos. E, desde 2006, a “vantagem” dos encargos financeiros sobre o pagamento do principal tem crescido. Em julho daquele ano, 11,3% do salário era consumido pelo juro e 10,1% quitava efetivamente a dívida.

Ao ser questionado sobre o fato de o juro ter maior peso que o principal, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, não demonstrou preocupação. “As taxas de inadimplência no Brasil estão caindo. Então, as pessoas estão conseguindo pagar suas dívidas”, disse.

O professor de finanças pessoais do Insper, Ricardo José de Almeida, atribui boa parte do aumento do peso dos juros nos gastos familiares à disparada dos financiamentos imobiliários. “Muitos desses empréstimos são pós-fixados. Nesse caso, juro e a correção pela TR são calculados sobre o valor do original do empréstimo. E, como esses empréstimos são muito longos, os pagamentos começam com peso maior do juro que do principal”, explica o professor.

Casa própria. No estudo, o BC afirma que o comprometimento da renda dos brasileiros com os financiamentos imobiliários mais que dobrou nos últimos anos.

Em janeiro de 2007, famílias gastavam, na média, 0,65% do salário para pagar essas prestações. Em julho de 2010, o valor aumentou para 1,03%. Mesmo com a alta, o diretor Carlos Hamilton Araújo considera o porcentual ainda “baixo” na comparação com outros países.

O levantamento mostra também que a dívida com os empréstimos imobiliários, que somava apenas 3,7% da renda anual dos brasileiros em 2007, mais que dobrou para 8,1% do salário no meio deste ano. O BC explica que o endividamento cresceu em ritmo maior que o comprometimento da renda porque os prazos foram ampliados e os juros caíram - o que reduz a parcela mensal.

O professor do Insper também chama a atenção para o fato de que a nova realidade do crédito no Brasil aumenta o gasto proporcional com juros.


Juros pesam mais que produto, diz BC - Fernando Nakagawa , Fabio Graner / BRASÍLIA
1/10/2010 - O Estado de São Paulo

Taxa de juros

O Conselho Monetário Nacional decidiu nesta quinta-feira (30/9) estender a obrigatoriedade de informar o Custo Efetivo Total (CET) a financiamentos oferecidos a pequenas e micro empresas.

A decisão entra em vigor a partir de 2 de maio de 2011. Segundo o Banco Central (BC), a medida reduz a assimetria de informações e estimula a concorrência.

O CET é a taxa percentual mensal ou anual que inclui, além dos juros, todos os encargos envolvidos em uma operação financeira, como impostos e outras tarifas. Atualmente os bancos são obrigados a informar a taxa apenas financiamentos oferecidos a pessoas físicas.

O CMN, autoridade máxima do sistema financeiro nacional, é composto pelo presidente do BC e pelos ministros da Fazenda e Planejamento.


CMN estende dado global de taxas para pequenas empresas
Felipe Peroni - Brasil Econômico - 30/09/10

20 outubro 2009

Taxa de Juros comparada


Fonte: Aqui

Diz respeito a taxa de juros do banco central de diferentes países da América Latina. Observe que durante todo o período, o Brasil adotou taxa de juros acima dos outros países.

02 julho 2009

Taxa sem Risco e Taxa com Risco

Em finanças corporativas estuda-se a questão do investimento num título que pretensamente não possui risco. Os livros, geralmente com forte influência anglo-saxão, considera a taxa do tesouro dos EUA como o valor mais próximo deste retorno do título sem risco, ou Rf na expressão clássica do CAPM.

Com a crise financeira, esta taxa deixa de ser referência.

Atualmente o país com menor remuneração para os investidores, que pretensamente representa a taxa mais próximo de um título livre de risco, é a Noruega, com um retorno de 2,7%. Isto corresponde a um rating AAA para o investimento no país escandinavo, segundo a empresa CMA, que divulgou estes números. A seguir, os seguintes países: Finlândia, Alemanha, França, EUA, Japão, Holanda, Dinamarca, Suiça e Bélgica, nesta ordem.

A lista dos piores, entre os pesquisados, é liderada pela Argentina, com 76,9% e um rating correspondente a C. Depois Ucrânia, Venezuela, Letônia, Islândia, Dubai, Lituânia, Cazaquistão, Romênia e Bulgária.

01 junho 2009

Spread no Brasil

Spread bancário: uma contribuição para o debate
26 Maio 2009
Valor Econômico

O spread bruto é elevado no Brasil, mas disso não decorre necessariamente que o spread e o lucro líquido também o sejam

"Para problemas complexos, sempre existem soluções simples... e erradas". A frase parece ajustar-se como uma luva no debate sobre o spread bancário no Brasil, que vem aparecendo com frequência no noticiário econômico, mas quase sempre de forma superficial e limitada. Este artigo é uma tentativa de contribuir para esse debate, esclarecendo alguns aspectos, de natureza técnica, que podem ajudar a termos um melhor entendimento do assunto. Vamos a eles:

1) Dados parciais: os dados do Banco Central (BC) consideram apenas parte das operações bancárias, as do chamado mercado livre de crédito, que em geral são de prazo menor e que correspondem a cerca de 45% das operações do sistema. As restantes são, em geral, de spread mais baixo, como financiamento imobiliário, leasing e repasses do BNDES. Nossos cálculos indicam que a inclusão dessas operações reduziria em cerca de 7,4 pontos percentuais (pp) o spread bancário bruto referente a março.

2) Spread bruto: embora spread bruto e lucros do setor financeiro sejam com frequência tratados como sinônimos, são conceitos bastante distintos. O spread calculado pelo BC equivale à diferença entre as taxas de captação, pagas pelos bancos, e as taxas cobradas nas operações de empréstimo. Spreads elevados podem ou não implicar em lucros elevados, a depender de outros fatores, entre eles a taxa de inadimplência e a carga tributária. Para se chegar ao spread líquido, que seria uma melhor aproximação do lucro líquido, é necessário descontar os demais custos que incidem sobre as operações de crédito.

3.1) Inadimplência - cálculos do BC indicam que só a inadimplência responde por algo como 37% do spread bancário, certamente um dos mais elevados níveis do mundo. O custo é alto porque a qualidade da informação no Brasil é deficiente, elevando muito o risco para o emprestador. Assim, bons pagadores pagam pelos maus e é por isso que o setor bancário defende o cadastro positivo e todas as iniciativas que possam melhorar a qualidade da informação disponível aos agentes econômicos. Os custos associados à inadimplência também são elevadíssimos se incluirmos gastos com a cobrança judicial, a demora na recuperação de garantias etc. Destaque-se a evidência de que nas linhas com melhores garantias, como o crédito consignado e o financiamento de veículos, os spreads são bem menores.

3.2) Carga tributária: o Brasil é provavelmente o único país que tributa a intermediação financeira, onerando poupadores e tomadores de crédito. Sobre as operações de crédito incide uma alíquota de 3,65% referente a PIS/ Cofins e outra, de IOF, que pode atingir até 1,88% ao ano. Na tributação direta, além do IR os bancos recolhem a alíquota diferenciada de CSLL de 15%. Segundo o BC, os tributos diretos e indiretos respondem por cerca de 18,5% do spread bruto nas operações de crédito livre.

3.3) Compulsórios: é provável que o Brasil tenha os maiores níveis de depósitos compulsórios do mundo. Sobre depósitos à vista o percentual é de 47% comparativamente a, por exemplo, 10% nos EUA e 3% na zona do euro. Também há compulsórios sobre depósitos a prazo, o que é uma clara distorção em relação aos demais países. Esse nível de compulsório até ajudou o Banco Central a injetar liquidez rapidamente no sistema após o agravamento da atual crise externa, mas é inegável que se trata de mais um custo que infla o spread, onera os tomadores de crédito e eleva as despesas de captação dos bancos.

3.4) Custos administrativos/operacionais - no cálculo do BC, esses custos respondem por 13,5% do spread, mas avaliamos que este percentual pode estar subestimado. A metodologia do BC só considera os custos "alocáveis" a um número limitado de operações, os 45% citados no item 1. Ficam de fora outros custos, inclusive o das operações obrigatórias, como o crédito rural. Se os incluirmos de alguma forma, certamente teremos uma elevação deste percentual.

É importante mencionar que os percentuais aqui citados correspondem a um estudo do BC para o ano de 2007, feito para as operações do mercado livre de crédito. Mas, feita esta ressalva, achamos que essa metodologia pode nos ajudar a pelo menos chegar a um cálculo mais correto sobre o spread líquido do setor bancário no Brasil.

E qual seria este número? De acordo com os dados do BC para março de 2009, o spread bruto para as operações de crédito livre foi de 28,5%. Incluídas outras operações de crédito direcionado e de taxas controladas, de acordo com a metodologia da Febraban, este spread cairia para 21,1%

Ainda segundo o BC, o spread ou resíduo líquido corresponde a cerca de 27% do spread bruto (27% de 21,1%), o que daria, portanto, 5,7% ao ano. É provável que este número seja ainda mais baixo, já que em nossa avaliação os custos administrativos parecem subestimados na metodologia utilizada pelo BC. De todo modo, é o spread líquido (5,7% ao ano) e não o spread bruto, que deveria ser utilizado na comparação com o desempenho do setor financeiro em outros países (em tempos normais) e com a rentabilidade de outros setores da economia brasileira.

O spread bruto é elevado no Brasil, mas disso não decorre necessariamente que o spread e o lucro líquido também o sejam. Uma discussão séria para reduzir o spread bruto deveria ser centrada nos fatores estruturais listados acima. Análises apressadas e pouco técnicas podem até render boas manchetes, mas não contribuirão para que se encontrem as soluções corretas para este problema.

Rubens Sardenberg é economista-chefe da Febraban. Foi diretor de Finanças do Banco Nossa Caixa (2003/2007 ) e secretário-adjunto do Tesouro Nacional (2000/2002).

05 setembro 2008

Juros e Religião 2

Ainda sobre Juros e Religião, a The Economist de 4 de setembro de 2008 traz dois textos sobre o assunto (aqui e aqui. Os países islâmicos possuem muito dinheiro e dificuldade para gastá-lo em razão das restrições religiosas.

04 setembro 2008

Juros e Religião




(...) As vendas dos títulos compatíveis com o direito islâmico, ou Sharia, caíram 50% em 2008 e os preços tiveram queda, em média, de 1,51%, segundo dados do HSBC Holdings. Esses títulos, os sukuk, não pagam juros, o que é proibido pela lei islâmica, mas pagam um percentual do lucro do negócio subjacente.

Foram esses títulos sukuk que financiaram o ambicioso projeto Palm, a maior ilha artificial do mundo, construída em Dubai e onde milionários e estrelas como David Beckham e Donald Trump possuem casas.

O mercado de bônus sukuk, que crescia 100% ao ano desde 2004 e atingiu volume expressivo de US$ 90 bilhões, está atualmente em declínio depois que um grupo de juristas islâmicos com sede no Bahrein decretou, em fevereiro deste ano, que a maioria dos bônus existentes no mercado desrespeita as regras religiosas. Segundo os juristas islâmicos, apenas um deles cumpriria o édito e continua sendo emitido, o que está pressionando os custos dos empréstimos em projetos, entre eles os imobiliários, de US$ 200 bilhões na capital dos Emirados Árabes Unidos.

"Em tempos de aflição, a primeira coisa que os investidores vendem são os créditos que não compreendem direito", disse James Milligan, chefe de operações de ativos de renda fixa no Oriente Médio do HSBC em Dubai, o maior subscritor de bônus sukuk no Golfo Pérsico no ano passado. "Isso afetou duramente os spreads na região", disse ele, referindo-se ao nível relativo de retorno dos papéis.

Os bônus atendem à proibição islâmica aos juros, ao permitir que os investidores se beneficiem com a troca de ativos, e não de dinheiro. As vendas dos títulos caíram de US$ 21 bilhões entre janeiro e agosto do ano passado para US$ 11 bilhões no mesmo período de 2008, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Novo decreto sobre papéis islâmicos desencadeia crise
Gazeta Mercantil - 4/9/2008 - Finanças & Mercados - Pág. 2 - Bloomberg News

17 abril 2008

Relação entre Spread e taxa de Default

Este gráfico é auto-explicativo. A taxa de default tem acompanhado o comportamento do spread. Quanto este aumenta, o índice de default aumenta. Fonte: aqui

28 dezembro 2007

Agiotas perdem mercado

Segundo o Valor Econômico, as financeiras e os bancos estão tomando o mercado dos agiotas (Crédito reduz espaço de agiotas, Valor Econômico, 28/12/20007)

Os velhos agiotas vêm perdendo espaço com o crescimento acelerado do crédito bancário. O espaço antes ocupado pelo crédito informal, hoje pertence às financeiras.

(...) Uma caminhada pela região, antigo centro financeiro de São Paulo e diversas promotoras de crédito oferecem dinheiro "sem comprovação de renda e sem consulta ao Serasa". Em meia hora de caminhada, panfletos de diferentes bancos e financeiras. "Você só precisa ter talão de cheque" diz uma das vendedoras. Um carro também tem valor, já que o importante é ter uma garantia.

(...) A bancarização "reduziu a oferta informal de crédito", avaliou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, em entrevista à imprensa. Segundo ele, o maior número de brasileiros com acesso aos bancos, aliado à queda dos juros, tirou clientela dos agiotas.

(...) Vários fatores colaboraram com essa disparada dos empréstimos formais: estabilidade econômica, queda das taxas de juros e a elevação do emprego e da renda. Além disso, alguns acertos legais facilitaram o financiamento de bens, com a alienação fiduciária, que reduziu os riscos para os bancos.A necessidade de expandir a oferta com a queda dos juros levou ainda o banco para o mercado de mais baixa renda, alvo fácil dos agiotas.


10 dezembro 2007

Jogando para a platéia

O governo resolveu agir nas tarifas bancárias, tentando padronizar e evitar abusos. Como um amador, que desconhece o que está fazendo, cometeu um grande erro: deixou de lado da periodicidade.

Preocupado em uniformizar a nomenclatura das tarifas, que varia de banco para banco, o governo deixou de lado um detalhe importante: também existe diferença de periodicidade na cobrança dos serviços. Um levantamento da Associação Nacional de Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac) mostra, por exemplo, que a taxa para a manutenção ou validade do cartão de débito varia de 30 a 365 dias. O Citibank cobra R$6 a cada 30 dias. No Itaú, são R$12, pagos a cada três meses. (...)

Dependendo do banco escolhido pelo correntista, a renovação da ficha cadastral é cobrada a cada 90, 180 ou 365 dias. Clientes do ABN Real pagam uma tarifa de R$4,50 pelo serviço, valor aparentemente menos indigesto dos que os R$15 debitados pelo Bradesco. Mas a comparação só fica completa quando se considera os prazos: no ABN, a cobrança é feita a cada 90 dias, enquanto no Bradesco, uma vez por ano. (...)
Governo padroniza nomes de tarifas bancárias, mas periodicidade varia - O Globo - 8/12/2007

O BO dos Bancos

Quando você compra um remédio numa farmácia, se o vendedor consegue "empurrar" certos tipos de medicamentos para o cliente ele ganha uma comissão conhecida como BO, ou Bônus, mas também conhecida como Bolso de Otário. Esta comissão chega a 20% do valor da venda. Assim, uma Novalgina, um remédio da Hoechst, não gera uma comissão bonificada, mas uma dipirona de um fabricante menos conhecido pode gerar 20% de BO.

Agora o Estadão informa que este BO chegou nas concessionárias de automóveis. É o o BO do carro. Veja a reportagem:

Bancos pagam bônus para lojista vender no crediário
O Estado de São Paulo - 9/12/2007

Bancos e financeiras pagam comissões e prêmios aos concessionários e vendedores para garantir gorda carteira de clientes. Lojistas recebem de 6% a 20% sobre o valor financiado por carro, operação conhecida como Retorno Financeiro ou simplesmente R seguido do porcentual a ser pago, como R6.

De olho no ganho extra com o crediário, lojistas treinam funcionários para convencer clientes a comprar a prazo. Para compra à vista é dada pouca vantagem. A prática não é nova nem restrita ao segmento, mas se alastra num momento em que o País tem venda recorde de 2,8 milhões de veículos. O bônus não é ilegal - se registrado na contabilidade dos envolvidos -, mas facilita ações predatórias de instituições e lojas que empurram planos que amarram o cliente por longo prazo, além do repasse de despesas para os consumidores.

Outra prática é a cobrança da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), nem sempre divulgada ao comprador, cujos valores variam de R$ 200 a R$ 900. Nas medidas anunciadas quinta-feira pelo Banco Central foi incluída a obrigatoriedade de os bancos informarem a cobrança, sem valor máximo para a taxa.

"Tem vendedor que abusa e chega a cobrar duas TAC, uma embutida nas prestações e outra à vista", conta o vendedor de uma grande concessionária de São Paulo. "A comissão pela venda de um carro hoje é baixa, por causa da concorrência, por isso os lojistas buscam a diferença na TAC ou no R", diz ele, no ramo há 15 anos. "Hoje, em muitas revendas, quem paga o salário do vendedor é o banco."

Segundo o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), Sérgio Reze, juros, TAC e Retorno dependem de negociações entre bancos e concessionárias, levando em conta o risco do crédito. "É da natureza do sistema financeiro num regime livre." O Procon reconhece o Retorno como "relação comercial", mas admite que há abusos quando o consumidor não é informado de taxas e não recebe cópia do contrato.

06 setembro 2007

Brasil pode ser muito afetado pela crise, segundo a ONU

A ONU alerta que uma real turbulência no mercado financeiro internacional ainda virá, que a crise pode se aprofundar e que, nesse cenário, o Brasil será um dos países mais afetados. (...) Para a ONU, o resultado da política monetária brasileira é "decepcionante", os custos são "insustentáveis para a economia real" e a especulação do real só tende a crescer. (...)

Na opinião de Flassbeck, a decisão do Banco Central de acumular reservas ao mesmo tempo que mantém juros altos está "equivocada". "Os custos de manter essa reserva são enormes e quem está pagando por isso são os contribuintes ."

(...) Segundo o documento, as altas taxas de juros, aliadas à valorização do câmbio, acabam criando oportunidades para a especulação internacional com o real. O resultado disso é uma queda também na competitividade brasileira. A especulação seria tão intensa em volume como nos momentos antes do regime monetário adotado em 1999.

ONU vê mais problemas para o Brasil, Jamil Chade, O Estado de São Paulo, 06/09/2007