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21 outubro 2025

IA afetando o mercado de trabalho: cartas de apresentação

Como a IA está influenciando o mercado de trabalho, mas não da forma como você está pensando:

Nós estudamos como a inteligência artificial generativa afeta o sinal transmitido no mercado de trabalho, analisando a introdução de uma ferramenta de redação de cartas de apresentação com IA na plataforma Freelancer.com. Nossos dados acompanham tanto o acesso à ferramenta quanto o uso em nível de candidatura. As estimativas de diferença-em-diferenças mostram que o acesso à ferramenta de IA aumentou o alinhamento textual entre cartas de apresentação e anúncios de vagas — o que chamamos de personalização da carta de apresentação — e elevou as chances de retorno das empresas. Trabalhadores com habilidades de escrita mais fracas antes da IA apresentaram maiores melhorias nas cartas, indicando que a IA funciona como substituto das próprias competências desses trabalhadores. Embora apenas uma minoria das candidaturas tenha usado a ferramenta, a correlação geral entre personalização da carta e retornos caiu em 51%, o que implica que as cartas de apresentação se tornaram sinais menos informativos da habilidade do trabalhador na era da IA. Os empregadores, por sua vez, passaram a se apoiar em sinais alternativos, como avaliações anteriores dos trabalhadores, que se tornaram mais preditivas para a contratação. Por fim, dentro do grupo tratado, observou-se que maior tempo gasto editando os rascunhos produzidos pela IA esteve associado a um maior sucesso em contratações. 

08 setembro 2025

Saúde, desemprego e poluição


Primeiro, vamos detalhar a pesquisa, conduzida pelos economistas Amy Finkelstein, Matthew Notowidigdo, Frank Schilbach e Jonathan Zhang. Eles analisaram o impacto da Grande Recessão de 2007-2009 nas taxas de mortalidade em diferentes regiões dos EUA, algumas das quais sofreram aumentos mais acentuados no desemprego. Descobriram uma correlação impressionante: quando a taxa de desemprego sobe um ponto percentual em uma das 741 regiões metropolitanas ou “zonas de deslocamento” dos EUA, a taxa de mortalidade naquela área cai 0,5%. Esse benefício persiste por pelo menos uma década e se distribui uniformemente entre as faixas etárias, embora, em termos absolutos, os idosos — por estarem mais sujeitos à morte — tenham usufruído do maior benefício. (...)


O ar fica mais limpo em áreas onde a economia desacelera. Os pesquisadores estimam que esse ar mais limpo explica mais de um terço da redução da mortalidade. Isso pode surpreender, porque não estamos acostumados a considerar a poluição atmosférica como um problema em países ricos — o clichê é que cidades em industrialização na Ásia estão cobertas de smog, mas que, para América e Europa, o único poluente preocupante seria o gás de efeito estufa dióxido de carbono.

Fonte: aqui

02 setembro 2025

Reliogisidade e ceticismo profissional

Muito interessante: 


 

Esta pesquisa analisou a influência da religiosidade no ceticismo profissional em auditores independentes no Brasil. Realizou-se um estudo de levantamento survey exploratório e de abordagem quantitativa. O estudo foi executado com auditores independentes de empresas Big Four e Não Big Four, através do uso de questionário enviado pela rede social profissional LinkedIn®. O questionário foi elaborado através da ferramenta Google Forms, contendo 40 questões, sendo cinco de religiosidade da escala de Durel (2010), 30 da escala de ceticismo profissional de Hurtt (2010) e cinco perguntas demográficas. O acesso ao questionário foi fornecido através de link de acesso para 1484 auditores independentes, obtendo-se um retorno de 205 respostas. Para efetuar a análise dos dados, usou-se estatística descritiva, correlação de Person e regressão linear simples. Constatou-se que o nível de ceticismo profissional é maior no gênero masculino e que as mulheres obtêm maiores resultados na característica de suspensão de julgamento, além de serem mais religiosas. Embora a religiosidade, considerada como uma variável agregada, não tenha demonstrado influência estatisticamente significativa sobre o ceticismo profissional de forma global, análises mais aprofundadas revelaram que, ao desmembrar tanto a religiosidade quanto o ceticismo em suas dimensões específicas, emergem relações estatisticamente significativas entre determinados aspectos dessas variáveis. Os resultados podem indicar que a influência da religiosidade sobre o ceticismo não é uniforme, mas varia conforme o tipo de religiosidade (organizacional, não organizacional, intrínseca) e conforme a dimensão do ceticismo.

Fonte: Oliveira, D. J. de & Schlotefeldt, J. de O. (2025). Influência da religiosidade no ceticismo profissional em auditores independentes no Brasil. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, 30(1), 58-73. 

20 agosto 2025

Exemplo de como o interesse financeiro pode prejudicar a qualidade da informação: Rotten Tomatoes

O Rotten Tomatoes é uma das plataformas de crítica mais conhecidas do cinema e da televisão. Criado em 1998, reúne resenhas de críticos profissionais e avaliações do público, atribuindo notas que resultam no índice “Tomatometer”. Esse indicador tornou-se referência global para medir a recepção de filmes e séries, influenciando tanto a decisão de espectadores quanto o desempenho comercial de produções. Sua importância está em condensar múltiplas opiniões em uma métrica simples e acessível, permitindo rápida percepção sobre a qualidade percebida de uma obra no mercado audiovisual.

O Rotten Tomatoes é uma referência, juntamente com o ImdB. Com seu crescimento, o Rotten terminou sendo comprada pela Fandango Media. Esta empresa, por sua vez, é especializada na venda de ingressos de cinema, controlada pela NBC Universal (75%) e pela Warner (25%). A aquisição ocorreu em 2016. 

Na newsletter de Daniel Parris, de hoje, ele faz uma análise sobre o impacto da compra pela Fandango. Eis a evolução das notas do Rotten ao longo do tempo:

Veja que a média das notas, em torno de 50 a 60 entre 1998 a 2014, aumentam com o tempo e hoje estão mais próximas dos 70 do que antes. Será que os filmes melhoraram? 

Há algo adicional na análise de Parris: a correlação entre as notas dos críticos e as notas do público. É certo que nem sempre o público entrega uma nota alta para Cidadão Kane, que os críticos adoram. Mas a divergência não é tão expressiva assim, conforme o gráfico:

A correlação entre as notas, entre 0,6 e 0,8 em todos os anos, começa a cair a partir de 2016 e agora está em 0,4. O que ocorreu? Parece que não mudaram a metodologia, algo que poderia ser feito, mas poderia significar a perda de credibilidade na informação. 

Se antes de 2016 a média de críticas por filme estava entre 100 a 130, com a aquisição a Fandango ampliou o número de pessoas que opinam. E muitos dos novos "críticos" não eram provenientes de uma fonte "confiável". Ou seja, o aumento da nota dos filmes decorre da incorporação de novos avaliadores, muitos deles sem um bom preparo para tal. 

Como afirma o autor: 

Segundo uma análise da Vulture em 2023, agências de PR passaram a cortejar ativamente críticos de veículos menores para inflar as notas do Tomatometer antes do lançamento de um filme. Surgiu, aparentemente, uma espécie de “indústria paralela” voltada a recrutar não–Top Critics para garantir o selo “fresh” na fase pré-lançamento — recurso que os estúdios então usam como gancho de marketing.

O resultado: o Rotten deixou de ser confiável como fonte confiável sobre a qualidade de um filme. 

Nos anos recentes as fontes de avaliação de obras de arte foram criticadas. O Imdb, concorrente do Rotten, agiu de forma estranha no filme Pequena Sereia. O próprio Rotten já está sendo olhado com desconfiança há tempos. 

Não deixa de ser um alerta sobre a relevância da reputação na contabilidade. No primeiro capítulo de Teoria da Contabilidade, Niyama e Silva recordam que as empresas de auditoria costumam afirmar que seu maior fiscalizador é justamente a reputação. Para o profissional, o simples medo de perdê-la seria suficiente para induzir atitudes de busca pela qualidade.

Apesar das críticas ao Rotten Tomatoes, a ferramenta continua sendo utilizada por falta de um substituto à altura. De modo semelhante, ainda associamos a Big Four à qualidade, mesmo quando o temor de perder reputação já não parece exercer o mesmo peso.

Nos anos 1980, a contabilidade foi sacudida pelo livro Relevance Lost, que acusava a área de ter perdido importância. A crítica dialoga com a história recente do Rotten: ambos enfrentam questionamentos sobre sua relevância, ainda que continuem sendo referências em seus campos.

 

24 julho 2025

Tema de pesquisa e influência de fatores ambientais: o caso do gênero

Em um artigo publicado na American Economic Review, as autoras Francesca Truffa e Ashley Wong argumentam que fatores ambientais amplos influenciam significativamente a escolha dos cientistas sobre quais tópicos pesquisar. Elas demonstram que, à medida que as mulheres passaram a representar uma parcela maior dos corpos estudantis de graduação nos Estados Unidos ao longo do século XX, as pesquisas sobre temas relacionados a gênero aumentaram nas ciências — uma tendência impulsionada principalmente por pesquisadores homens já estabelecidos.

O gráfico mostra a proporção de diplomas de bacharel concedidos a mulheres (linha amarela, eixo direito) e a média de artigos relacionados a gênero publicados em cada universidade (linha azul, eixo esquerdo).

No início do século XX, as mulheres recebiam apenas 20% dos diplomas de bacharelado, enquanto as pesquisas relacionadas a gênero eram praticamente inexistentes. Entre 1900 e 1940, ambas as tendências cresceram de forma constante, mas caíram significativamente logo após a Segunda Guerra Mundial. Na década de 1960, ambas passaram a aumentar de forma acentuada e, em 2015, as mulheres conquistavam 57% dos diplomas de bacharel, enquanto as pesquisas relacionadas a gênero representavam mais de 8% de todas as publicações universitárias.

A forte correlação — que as autoras reforçam com métodos estatísticos mais robustos — indica que, à medida que as universidades se tornaram mais diversas em termos de gênero, as questões estudadas pelos cientistas tornaram-se mais sensíveis a temas relacionados a gênero. Embora parte do aumento se explique pela maior presença de pesquisadoras na academia, as autoras argumentam que pesquisadores homens já estabelecidos foram os principais responsáveis, em razão de sua maior exposição à diversidade.

As conclusões sugerem que iniciativas de diversidade não apenas promovem equidade, mas também criam ambientes onde interações com estudantes e colegas mais diversos geram dividendos científicos.

 Fonte: aqui.

Acho possível fazer uma revisão das pesquisas na área contábil e ter a mesma constatação: com o aumento das mulheres na pós-graduação (e também na graduação) nas últimas décadas, aumentou também o tema gênero na pesquisa.  

04 junho 2025

Café faz bem


A maioria das pessoas que bebem café aprecia a rápida sacudida de energia que ela fornece. Mas em um novo estudo, apresentado hoje na reunião anual da Sociedade Americana de Nutrição, os cientistas descobriram que o café pode oferecer o benefício a longo prazo do envelhecimento saudável. O estudo não foi revisado ou publicado por pares, mas foi rigoroso. (...)

Os pesquisadores descobriram uma correlação entre a quantidade de cafeína que as mulheres normalmente bebiam (que era principalmente de café) quando tinham entre 45 e 60 anos de idade e sua probabilidade de envelhecimento saudável. Após o ajuste para outros fatores que poderiam afetar o envelhecimento, como sua dieta geral, o quanto eles se exercitavam e se fumavam, aqueles que consumiam mais cafeína (equivalente a quase sete xícaras de café por dia) tinham chances de envelhecimento saudável que eram 13% maiores do que aqueles que consumiam menos cafeína (equivalente a menos de uma xícara por dia).

(...) “Como os benefícios associados ao café têm sido tão consistentes, é improvável que eles sejam inteiramente explicados por outros aspectos da vida de uma pessoa, disse o Dr. Zhang. 

Do blog Design que transcreveu parte da matéria publicada no NYT. Foto aqui

04 maio 2025

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Zappa


Gino Zappa (1879–1960) foi um dos gigantes da contabilidade e da economia do século XX, tanto pela influência que exerceu no mundo científico quanto na profissão. O tema central da contabilidade empresarial, segundo Zappa, é a determinação do resultado (rendimento/lucro). Esse fenômeno básico constitui o alicerce de todas as explicações sobre o processo contábil e seus elementos, especialmente nas teorias contábeis sobre o balanço patrimonial e a demonstração de resultados.

Zappa reconheceu o aspecto dinâmico da contabilidade ao enfatizar o papel da demonstração de resultados. Assim, o balanço patrimonial torna-se um instrumento para a determinação do resultado. Essa teoria contábil, centrada na determinação do resultado, é uma teoria de quatro séries de contas, que, em conformidade com a prática atual, distingue duas séries de contas patrimoniais (ativos, de um lado; passivos e patrimônio líquido, de outro) e duas séries de contas de desempenho (despesas e receitas). A inclusão dessas diferentes séries de contas permite o reconhecimento de todas as transações e processos em diferentes tipos de entidades: o fluxo contínuo e a formação interna de bens e serviços, seu consumo subsequente e a produção final.

Zappa desenvolveu o aspecto dinâmico da contabilidade e da economia da empresa, predominante até hoje na Itália. As demonstrações de resultados esclarecem a correlação geral entre componentes positivos e negativos de renda atribuídos a um período específico. O balanço patrimonial mostra um sistema de valores (um fundo de valores), referente ao final desse período, para a determinação futura do resultado. Os componentes do resultado são determinados, basicamente, por trocas monetárias. Para expressar de forma compreensiva a magnitude desses componentes, eles devem ser considerados como valores de troca. Assim, o resultado é concebido como um conceito de valor. O resultado é, essencialmente, um fato de valor e, portanto, de distribuição, pois só é determinado nas trocas e para as trocas.

Zappa via o balanço patrimonial como um reflexo do futuro. Para ele, os valores dependem dos resultados futuros. Seu conceito de balanço patrimonial possui, simultaneamente, caráter de orçamento e avaliação — eventos futuros devem ser trazidos a valor presente. É mérito da escola contábil de Zappa ter reconhecido os efeitos das atividades futuras nos dois lados do balanço patrimonial, em uma época em que o balanço era normalmente interpretado apenas como reflexo de eventos passados.

Zappa foi o fundador da economia da empresa (economia d’azienda), uma teoria geral que considera a empresa como um todo complexo: composta por partes específicas, mas interligadas, e que busca investigar essa complexidade total. Ele expressou sua visão assim:

“... se se acredita que aquilo que é organicamente um todo pode ser dividido com segurança; se se acredita que a ainda maior variedade de fenômenos sob investigação exige um alto grau de especialização, então podemos aceitar a autonomia científica das três disciplinas: gestão, organização e sistema de informações. Contudo, não devemos esquecer os muitos laços, tanto evidentes quanto ocultos, que unem essas três disciplinas; uma ordem de conhecimento não pode ser desenvolvida — ou pior, legitimada — isolando-a do conhecimento que constitui seu substrato natural e complemento lógico.”

A seriedade, a originalidade e a concretude de seus pensamentos científicos — enraizados na experiência e em um poder incomum de observação dos fenômenos econômicos — deram origem a muitos discípulos que se destacaram nos estudos de contabilidade e de economia da empresa. Os estudos contábeis na Itália após Zappa tornaram-se praticamente idênticos aos da administração de empresas, e a metodologia passou a se orientar cada vez mais na direção dos eventos econômicos da empresa, uma direção que se espalhou amplamente. O verdadeiro objeto dos estudos contábeis é a economia da empresa — empresas de todos os tipos — expressa em termos de quantidades elaboradas principalmente por métodos contábeis e desenvolvidas na empresa em resposta às suas necessidades de informação e controle.

Giuseppe Galassi para The History of Accounting

07 março 2025

Risco de Carbono é relevante?

Eis o resumo:


O objetivo deste estudo é analisar a relação entre retorno acionário e a divulgação de emissões de carbono no mercado brasileiro. A literatura internacional vem documentando forte correlação entre o retorno acionário e emissões de carbono em escala global. No mercado brasileiro, há poucas evidências do impacto da divulgação de emissões de carbono para o mercado de capitais. Estudos anteriores, em geral, analisaram as empresas do Índice Carbono Eficiente da B3 – ICO2, não identificando retornos acionários superiores. Este estudo amplia a amostra, considerando as empresas que divulgaram emissões de carbono, e analisa a relação entre emissões de carbono e o retorno acionário. Apesar do alto nível de divulgação das emissões de carbono das empresas brasileiras, os resultados deste estudo não identificaram que os investidores exigem compensação pelo risco de carbono na transição energética. Esse resultado contraria as evidências apresentadas por estudos internacionais. Este estudo contribui para a literatura de finanças sustentáveis ao analisar a relevância da divulgação de emissões de carbono no mercado de capitais de uma economia emergente.
 

Imagem: aqui

01 março 2025

Filmes e mercado acionário

Parece não fazer sentido, mas imaginando que um filme blockbuster pode ser uma métrica do "humor" ...


Este estudo apresenta uma métrica inovadora de humor – o lançamento de filmes blockbuster – e investiga sua correlação com a dinâmica do mercado de ações. Documentamos uma correlação positiva significativa entre o lançamento de filmes blockbuster e os retornos do mercado de ações dos EUA na semana seguinte. Esse padrão permanece robusto em diversos testes de robustez, tanto dentro quanto fora da amostra. As variações na receita semanal de bilheteria e o aumento nas buscas na Internet por termos relacionados a filmes reforçam ainda mais essa relação. Além disso, os lançamentos de filmes blockbuster preveem menor volatilidade esperada do mercado e menor aversão ao risco. O efeito preditivo positivo nos retornos do mercado também é evidente em mercados internacionais. 

Fonte: aqui

20 fevereiro 2025

Dunning-Krueger e gênero

Eis o resumo. Atente para a parte final

O efeito Dunning-Kruger (DKE) afirma que pessoas com níveis mais baixos de habilidade tendem a autoavaliar sua capacidade de forma menos precisa do que aquelas com níveis relativamente mais altos de habilidade. Assim, a correlação entre as habilidades cognitivas objetivas de uma pessoa e suas habilidades autoavaliadas é maior em níveis mais altos de habilidades cognitivas objetivas. Há um grande debate sobre se esse efeito realmente existe ou se é um artefato estatístico.


Este artigo replica e amplia os estudos de Gignac e Zajenkowski (2020) e de Dunkel, Nedelec e van der Linden (2023) para testar se o DKE existe usando várias medidas de habilidade e dados representativos de uma coorte de nascimentos britânica. Para isso, construímos uma medida de habilidades cognitivas objetivas utilizando 18 testes realizados nas idades de 5, 10 e 16 anos, e uma medida de habilidades subjetivas autoavaliadas usando estimativas de desempenho escolar e percepção de inteligência nas idades de 10 e 16 anos.

Replicamos seus modelos e mostramos que o DKE existe em nossos dados secundários. Importante, somos os primeiros a analisar se essa relação é heterogênea por gênero e descobrimos que, embora o viés de autoavaliação seja específico de gênero, o DKE não é. O DKE surge do fato de que homens tendem a superestimar relativamente suas habilidades, enquanto mulheres tendem a subestimá-las relativamente.

26 abril 2024

Etiqueta nutricional para periódicos

Um grupo de pesquisadores deseja que as editoras científicas exibam uma "etiqueta nutricional" nos artigos que inclua informações sobre o periódico (taxa de aceitação, por exemplo) e sobre o artigo (como o número de revisores e os interesses conflitantes dos autores).


Quase três quartos dos leitores que votaram em nossa pesquisa acharam que essas "etiquetas nutricionais" seriam úteis. Em termos do que deveria ser incluído, "o índice de citação é complicado, mas há alguma correlação com a qualidade geral do periódico", diz o biólogo molecular Simon Goodman.

As etiquetas poderiam ser expandidas para além dos dados que já estão disponíveis publicamente. "Eu quero algum tipo de métrica que capture se os revisores apenas disseram 'Sim, parece bom' ou se eles forneceram um feedback detalhado para um artigo", diz o economista Alexander Smith. "Eu só quero saber se um artigo foi tratado de forma indiferente ou não."

Houve algumas preocupações de que os periódicos tentariam manipular o sistema para fazer seus números parecerem melhores ou que as etiquetas desfavoreceriam injustamente novos periódicos que ainda não possuem certas estatísticas.

Outros acharam que tais etiquetas seriam desnecessárias. "Não porque essa informação não seja útil", diz a pesquisadora em educação Pilar Gema Rodríguez Ortega, mas porque isso implica que os pesquisadores não são capazes de tomar suas próprias decisões informadas sobre a qualidade de um artigo.

Fonte: newsletter Nature. Realmente parece muito estranho. Que tal a proposta para a contabilidade? 

23 abril 2024

Disponível e volatilidade do caixa

O meu breve estudo sobre o disponível das empresas de capital aberto no Brasil focou na dispersão do caixa e na relação entre o caixa e o ativo. Usando os dados de junho de 2019 a dezembro de 2023, calculei a dispersão, medida pelo coeficiente de variação, para cada empresa. Na média, os valores ficaram em 66%, mas algumas empresas apresentaram um valor bastante reduzido, de 7,2% (Bic Monark) até mais de 300% (Celgpar, que passou no crivo inicial de excluir as participações por meio do setor outros). Detalharei essa estatística a seguir.


Para fins de comparação, considerei a relação do disponível pelo ativo de dezembro de 2023. Será que a dispersão do disponível nos períodos anteriores afetou a propensão das empresas a criar maiores reservas? Eu esperaria que sim, já que quando o disponível é muito volátil, as empresas tendem a ser mais conservadoras na criação de reservas financeiras. Ou seja, quanto maior o índice de CV, maior também deveria ser o índice de disponível por ativo. Isso parece fazer sentido. Se isso fosse verdadeiro, o gráfico deveria mostrar uma relação direta entre as variáveis. Plotei os resultados no gráfico e a figura a seguir mostra que a relação é contrária ao esperado.


Calculei a correlação e o resultado foi de -0,30, o que é significativo. O gráfico esclarece um pouco o que ocorreu: algumas empresas, com elevada dispersão e baixa relação entre caixa e ativo, puxaram o resultado. Fiz diversas tentativas de excluir esses casos atípicos, mas o resultado persistiu. Tenho uma possível explicação para isso, que não cheguei a testar: talvez a sazonalidade seja responsável pelo resultado. Empresas com maior sazonalidade podem ter uma grande dispersão e o final do ano pode ser um momento de pagamentos, como o décimo terceiro. Mas isso seria apenas uma especulação.


Concluindo, a relação entre a volatilidade dos recursos disponíveis e a propensão das empresas a manterem reservas financeiras parece ser intrigrante. Apesar de uma expectativa inicial de que maior volatilidade levaria a maiores reservas, os dados mostram o oposto, com uma correlação negativa significativa entre estas variáveis. Essa descoberta sugere que outros fatores, como a sazonalidade dos negócios, podem influenciar as decisões financeiras das empresas de maneira mais complexa do que o previsto. 

Necessidade de Investimento em Giro em cinco empresas de varejo

Cinco empresas comerciais foram analisadas sobre a necessidade de investimento em capital de giro. Selecionei a Raia Drogasil e a Pague Menos, duas redes de farmácias; a Vivara, uma loja de artigos de luxo; o supermercado Pão de Açúcar e a Marisa. Utilizando os dados de junho de 2019 até dezembro de 2023, selecionei as contas de valores a receber, estoques e fornecedores. A soma dos dois primeiros, menos a subtração do terceiro, representa a necessidade de recursos que a empresa tem para investir no capital de giro. Os dados estão em milhões de reais, e a tabela abaixo apresenta a média das três contas, além da média da NIG.

Houve dezenove observações, com variações ao longo do tempo. As empresas Drogasil, Vivara e Pague Menos apresentaram uma evolução ao longo dos trimestres estudados. Um exemplo é o volume de estoques da Drogasil, que aumentou de 3 bilhões para 7,2 bilhões no final de 2023, uma evolução bastante expressiva. Por outro lado, a empresa Vivara lida com elevada sazonalidade. No final de dezembro de 2023, o volume de valores a receber dos clientes chegou a 831 milhões, sendo que no final do trimestre anterior era de 515 milhões.

O Pão de Açúcar viu um esvaziamento por conta da venda da rede Extra para o Carrefour e a cisão na empresa. O valor de fornecedores, que estava em 14,9 bilhões no final de 2019, caiu para 3,3 bilhões em 2023, em 31 de dezembro. A Marisa reflete o impacto da recuperação judicial, resultado de erros de gestão. A conta de fornecedores manteve-se na casa dos 400 milhões de reais na maior parte do período, enquanto o estoque, que era de 437 milhões no início do período analisado, caiu para 146 milhões, em dezembro de 2023. A redução na conta de clientes foi ainda maior: de 749 milhões em junho de 2019 para 70 milhões em dezembro de 2023.


Também calculei a dispersão de cada conta ao longo do período. O valor está na parte do meio da tabela. É impressionante a consistência do resultado da Drogasil, já que a dispersão, em relação à média, foi de 29%, 25% e 28% para as três contas. A Pague Menos também segue nessa linha (21%, 31% e 22%). Já a Vivara, que possui elevada sazonalidade, apresenta uma dispersão, medida pelo coeficiente de variação, variando em 40%, 35% e 67%, respectivamente.

Destaquei a consistência da Drogasil por outra razão: a elevada correlação entre as três contas do investimento em giro. Há uma sincronia nas contas, já que, quando há um aumento nos estoques, o mesmo ocorre com valores a receber e fornecedores. A correlação, a medida estatística que mensura a relação entre dois conjuntos de dados, é próxima da unidade, o valor máximo possível. Além disso, é positiva nos três cálculos, indicando que a relação é direta: um aumento nos estoques será observado também com um aumento em fornecedores, por exemplo.

A relação entre estoques e fornecedores para a Pague Menos e o Pão de Açúcar segue o mesmo padrão, mas na Marisa, o resultado foi -0,22, indicando uma baixa relação e valores negativos. Novamente, isso é reflexo da recuperação judicial.

09 abril 2024

Análise Multivariada e Contabilidade

A Análise Multivariada (AMV) representa uma extensão dos métodos estatísticos univariados e bivariados, permitindo investigar simultaneamente a relação entre múltiplas variáveis. Trata-se de um conjunto de técnicas muito usada em quase todos os campos científicos, especialmente quando existem eventos que são influenciados por várias variáveis conectadas.


Sua importância decorre da capacidade de controlar o efeito de múltiplas variáveis ao mesmo tempo, permitindo uma compreensão mais precisa dos dados. Por isso, pode ser útil para identificar padrões, tendências e associações que não conseguimos usando as variáveis de forma separada ou através da mera observação dos dados. Uma potencial aplicação é no processo preditivo.

Para a contabilidade, a AMV pode ser uma ferramenta muito útil para diferentes aplicações em diferentes campos da contabilidade. Usando as técnicas, podemos ter instrumentos poderosos para analisar a saúde financeira de uma empresa através do estudo integrado de índices. Outro campo onde a AMV pode ser usada é na detecção de fraudes, analisando padrões e ajudando a identificar transações que desviam do padrão usual. Na análise de risco, podemos verificar o impacto de fatos no risco. Na contabilidade gerencial, as técnicas podem ser úteis em diferentes situações.

Um levantamento que fiz em mais de 30 obras que abordam o tema, sob diferentes perspectivas, permitiu listar as cinco técnicas mais populares de AMV. Na ordem:

1. Regressão – esta é uma técnica presente em qualquer obra sobre o assunto. Em muitos cursos, os professores dedicam um grande foco de atenção a este assunto, e realmente seu conhecimento é importante para um profissional contábil que deseja ter uma visão mais sofisticada de diversos temas. Um exemplo onde a regressão pode ser usada na contabilidade é na contabilidade de custos, onde o custo de uma empresa pode ser dividido em uma parcela fixa, que seria a constante do resultado obtido na regressão, uma parcela que varia conforme o volume de atividade da empresa, o chamado custo variável por atividade, além do custo por lote de produção, custo decorrente da diversidade do produto, custo de parada, entre outros.

2. Regressão Logística – esta poderia ser usada quando trabalhamos com as chances de ocorrência de um evento onde o resultado esperado é do tipo categórico. Um exemplo é estimar a chance de falência de uma empresa a partir dos índices de análise, como liquidez ou endividamento. A logística pode criar uma expressão onde os índices são usados, sendo possível tomar uma decisão baseada na probabilidade. Este é um método um pouco mais sofisticado, mas tem se tornado popular com os softwares estatísticos e a atratividade em termos de restrição de uso.

3. Análise de Cluster ou de Agrupamento – a ideia da análise é verificar se um conjunto de elementos pode ser dividido em grupos em razão de sua semelhança. Estamos classificando um conjunto de hospitais com base na sua receita, tipo de atendimento, taxa de leitos, entre outras medidas. A análise de cluster agrupa os hospitais de maneira mais precisa, onde os hospitais com características semelhantes estarão no mesmo grupo. Essa é uma técnica que pode ser usada quando não sabemos muito sobre o objeto de estudo, facilitando as comparações e análises que possam ser feitas.

4. Análise Discriminante – A análise discriminante é uma velha conhecida na literatura contábil na construção de índices de solvência. Os índices de Altman e de Kanitz foram construídos com base nessa técnica. Veja, a análise é muito parecida com a logística: queremos distinguir dois ou mais grupos (solvente e insolvente, por exemplo) com base em características (os índices de balanço). Confesso que fiquei surpreso ao verificar que a análise ainda é estudada na literatura de AMV, pois achava que a mesma já tinha sido substituída pela logística.

5. Análise de Componentes Principais – Essa técnica procura reduzir um grande conjunto de dados em algumas poucas informações. Se fiz um questionário com 30 perguntas e não sei como analisar, a PCA, como é chamada, pode ser útil ao reduzir em um menor número de componentes. Se o analista der sorte, dos 30 itens talvez somente dois ou três realmente importam. E isso ajuda muito no processo de análise e compreensão do que está ocorrendo. Há uma grande controvérsia na literatura sobre a diferença da PCA com a análise fatorial, que também é bastante estudada.

Além destas técnicas, outras aparecem na literatura e podem ser úteis para o contador: análise de variância, análise fatorial (exploratória e confirmatória), correlação canônica, equação estrutural, escalonamento multidimensional, correspondência, árvore de decisão, entre outras. Boa diversão.

(Imagem criada pelo Chatgpt a partir do texto acima)

27 fevereiro 2024

Explorando a Complexa Relação entre Renda e Crime

É bem conhecido que pessoas com renda mais baixa cometem mais crimes. Chame isso de resultado transversal. Mas por quê? Um conjunto de explicações sugere que é precisamente a falta de recursos financeiros que causa crime. De forma simplificada, talvez pessoas mais pobres cometam crimes para obter dinheiro. Ou, pessoas mais pobres enfrentam maiores pressões - raiva, frustração, ressentimento - o que as leva a agir ou pessoas mais pobres vivem em comunidades menos integradas e bem policiadas ou pessoas mais pobres têm acesso a piores cuidados médicos ou educação e assim por diante, o que leva a mais crime. Essas teorias implicam todas que dar dinheiro às pessoas reduzirá sua taxa de criminalidade.

Um conjunto diferente de teorias sugere que a correlação negativa entre renda e crime (mais renda, menos crime) não é causal, mas é causada por uma terceira variável correlacionada tanto com renda quanto com crime. Por exemplo, um QI mais alto ou maior conscienciosidade poderia aumentar a renda enquanto reduz o crime. Essas teorias implicam que dar dinheiro às pessoas não reduzirá sua taxa de criminalidade.

As duas teorias podem ser distinguidas por um experimento que aloca dinheiro aleatoriamente. Em um artigo notável, Cesarini, Lindqvist, Ostling e Schroder relatam os resultados de um experimento desses na Suécia.

Cesarini et al. observam suecos que ganham na loteria e comparam suas taxas subsequentes de criminalidade com não-ganhadores semelhantes. O resultado básico é que, se alguma coisa, há um leve aumento na criminalidade ao ganhar na loteria, mas, mais importante ainda, os autores podem rejeitar estatisticamente que a maior parte do resultado transversal seja causal. Em outras palavras, como aumentar aleatoriamente a renda de uma pessoa não reduz sua taxa de criminalidade, o primeiro conjunto de teorias é falsificado.

Algumas observações. Primeiro, você pode objetar que os jogadores de loteria não são uma amostra aleatória. No entanto, uma parte substancial dos dados de loteria de Cesarini et al. vem de contas de poupança vinculadas a prêmios, contas de poupança que pagam grandes prêmios em troca de pagamentos de juros mais baixos. As contas de poupança vinculadas a prêmios são comuns na Suécia e cerca de 50% dos suecos têm uma conta PLS. Assim, os jogadores de loteria na Suécia parecem bastante representativos da população. Em segundo lugar, Cesarini et al. têm dados sobre cerca de 280 mil ganhadores da loteria e têm o universo de condenações criminais; isto é, qualquer condenação de um indivíduo com 15 anos ou mais de idade de 1975 a 2017. Uau! Em terceiro lugar, algumas pessoas podem objetar que a correlação que observamos é entre condenações e renda e talvez as condenações não reflitam o crime real. Não acho que isso seja plausível por várias razões, mas os autores também não encontram evidências estatisticamente significativas de que a riqueza reduza a probabilidade de alguém ser suspeito em uma investigação criminal (Deus abençoe os suecos pela coleta de dados extremos). Em quarto lugar, a análise foi pré-registrada e correções são feitas para testes de hipóteses múltiplas. Preocupo-me um pouco com o fato de que os ganhos na loteria, na sua maioria, são da ordem de 20 mil ou menos e gostaria que os autores tivessem falado mais sobre o seu tamanho em relação às diferenças transversais. No entanto, no geral, este parece ser um artigo muito credível.

Em seu resultado mais importante, mostrado abaixo, Cesarini et al. convertem ganhos na loteria em choques de renda permanente equivalentes (usando uma taxa de juros de 2% ao longo de 20 anos) para estimar causalmente o efeito de choques de renda permanente sobre o crime (quadrados sólidos abaixo) e eles comparam com os resultados transversais para jogadores de loteria em sua amostra (círculo) ou pessoas similares na Suécia (triângulo). Os resultados transversais são todos negativos e diferentes de zero. Os resultados causais da loteria são na maioria positivos, mas nenhum rejeita zero. Em outras palavras, aumentar aleatoriamente a renda das pessoas não reduz sua taxa de criminalidade. Assim, a correlação negativa entre renda e crime deve-se a uma terceira variável. Como os autores resumem de forma bastante modesta:

Embora nossos resultados não devam ser extrapolados casualmente para outros países ou segmentos da população, a Suécia não se destaca por taxas de criminalidade particularmente baixas em relação a países comparáveis, e a taxa de criminalidade em nossa amostra de jogadores de loteria é apenas ligeiramente menor do que na população sueca em geral. Além disso, há uma forte relação negativa transversal entre crime e renda, tanto em nossa amostra de jogadores de loteria suecos quanto em nossa amostra representativa. Nossos resultados, portanto, desafiam a visão de que a relação entre crime e status econômico reflete um efeito causal de recursos financeiros sobre a delinquência adulta.


Fonte: Marginal Revolution (negrito meu). 

23 fevereiro 2024

Confiança alta nos cientistas

Uma pesquisa global envolvendo mais de 70.000 participantes, em 67 países, revela que as pessoas em todo o mundo geralmente confiam nos cientistas e desejam sua maior participação na formulação de políticas. Apesar da possível polarização causada pela pandemia de COVID-19, os níveis de confiança permanecem altos em diferentes grupos demográficos. 


O estudo, conduzido por pesquisadores de todo o mundo, emprega uma abordagem abrangente para medir a confiança, destacando a integridade, competência, benevolência e abertura dos cientistas. Em média, os participantes atribuíram uma confiança moderadamente alta, com percepções de que os cientistas são competentes e benevolentes, embora a abertura ao feedback tenha recebido uma pontuação mais baixa. 


Os níveis de confiança variaram entre os países, com Egito (4,30), Índia (4,26) e Nigéria (3,98) exibindo mais confiança, enquanto Albânia (3,05), Cazaquistão (3,13) e Bolívia (3,22) mostraram menos confiança. A Rússia, celeiro de grandes cientistas, teve uma nota de 3,23. O Brasil está no patamar superior, com uma média de 3,78. 

A orientação política influenciou a confiança, com visões de esquerda geralmente associadas a uma maior confiança, embora essa correlação tenha variado entre os países. Muitos participantes defendem uma maior participação dos cientistas na formulação de políticas, apesar de reconhecerem os desafios que os cientistas enfrentam nas arenas de políticas públicas. 

O estudo destaca a importância da comunicação eficaz e do treinamento para os cientistas que se envolvem na formulação de políticas. Embora o estudo forneça uma visão geral ampla da confiança nos cientistas, os níveis de confiança podem variar entre os campos científicos. Os pesquisadores pretendem disponibilizar o conjunto de dados global de forma aberta para facilitar estudos adicionais sobre o tema.

17 fevereiro 2024

Um método estranho de imputação de dados no Excel

Este é um daqueles casos em que você não acredita no que está lendo. Um estudo com 27 países, já publicado, empregou um método pouco usual para lidar com os dados faltantes. O primeiro autor é um professor de uma universidade da Suécia, e o caso foi descoberto por um aluno de doutorado.

O estudante estava trabalhando com algo semelhante e sabia que existiam informações ausentes. Na linguagem mais técnica, seriam os "missing". Há diversas formas de tratar essa situação: você pode substituir pela média, fazer uma correlação entre duas variáveis, entre outras maneiras. Um livro básico, como "Análise Multivariada", de Hair et al., tem uma explicação sobre isso. Alguns softwares ajudam no tratamento desse problema, como o SPSS.

O que o estudante descobriu não se encaixava em nenhum dos casos. Ele ficou curioso, pois o artigo afirmava que tinha tratado os dados como se não existissem lacunas, e por isso entrou em contato com Almas Heshmati (foto), o professor de economia da Universidade Jönköping, na Suécia, perguntando como ele lidou com os dados ausentes.


O professor respondeu que tinha usado a função de preenchimento automático do Excel para corrigir os dados. Mas se o espaço tivesse sido preenchido com números negativos, Heshmati usava o último valor positivo. Detalhe, do Excel. (Nada contra a planilha) O processo de imputação é comum em pesquisa, mas o uso do preenchimento automático do Excel como técnica é algo inusitado.

Mas o aluno descobriu também que, em vários casos, quando não havia observações para o preenchimento, os autores usaram os dados de um país adjacente. E com esse método, o professor preencheu milhares de células do seu banco de dados. A proporção de intervenção dos pesquisadores é maior que 10% do total.

25 outubro 2023

Luta contra a corrupção no setor público chinês

Em um artigo futuro na revista Management Science, nós e nossos coautores empregamos essa metodologia para estimar a "renda não oficial" dos funcionários do governo chinês. Analisando dados sobre a compra de residências e rendas em uma cidade chinesa importante entre 2006 e 2013, comparamos as famílias com um funcionário do governo com as famílias sem um. Em seguida, examinamos a relação entre o valor das residências adquiridas e a riqueza das famílias, levando em consideração fatores como gênero, idade e nível de educação do funcionário.

Descobrimos que, em média, a chamada "renda cinza" dos funcionários chineses corresponde a 83% de seu salário formal. Notavelmente, esse número aumenta acentuadamente com o cargo. Por exemplo, os ganhos não oficiais de servidores públicos de baixo escalão representam apenas 27% de sua renda oficial. Em contraste, para chefes de divisões governamentais (zheng chu na gíria administrativa chinesa), a proporção dispara para 172%. Surpreendentemente, a renda não registrada de um diretor-geral de um departamento do governo (zheng ju) - equivalente ao prefeito de uma cidade pequena ou média na hierarquia administrativa da China - representa impressionantes 424% da compensação oficial.

(...) Para entender qual desses cenários se aplica à China, estimamos a proporção de funcionários em níveis administrativos específicos que provavelmente têm renda não oficial. Ao comparar o valor das compras de residências em famílias com um funcionário do governo com as famílias sem um, descobrimos que 13% dos funcionários em nossa amostra têm uma renda não oficial. Importante destacar que essa proporção também aumenta com o cargo. Por exemplo, nossos dados sugerem que aproximadamente 8% dos servidores públicos que não ocupam cargos gerenciais recebem ganhos não divulgados significativos, em comparação com 12% dos funcionários de baixo escalão, 27% dos zheng chu e 65% dos zheng ju.


Alguns argumentaram que os funcionários públicos recorrem a subornos porque seus salários são baixos em comparação com o que poderiam ter ganho no setor privado. Para avaliar essa alegação, consideramos fatores como educação, experiência de trabalho, idade e gênero. Contrariamente à crença popular, não encontramos evidências de que os funcionários do governo em nossa amostra sejam mal remunerados, levando em conta seu nível de educação e experiência. Em outras palavras, os salários inadequados do governo não são a principal razão para a prevalência do suborno entre os burocratas chineses.

A ampla campanha anticorrupção do governo chinês apresenta uma oportunidade única para examinar se as rendas cinzentas decorrem de subornos. Nossas descobertas implicam uma correlação significativa, já que esses ganhos não oficiais parecem diminuir em áreas onde os esforços anticorrupção se intensificaram, especialmente após a prisão ou acusação de altos funcionários locais.

Isso sugere que as medidas anticorrupção do governo chinês foram pelo menos em parte eficazes. Além desses esforços, a introdução de reformas orientadas pelo mercado, especialmente aquelas que limitam os poderes discricionários dos funcionários do governo para emitir licenças ou alocar subsídios e outros recursos, poderia contribuir significativamente para vencer a luta contra a corrupção.

O negrito é nosso e o texto foi traduzido a partir de um artigo do Project Syndicate. Foto:  Robert Nyman

12 julho 2023

Fraude de uma professora de ética de Harvard

A professora Gina Francesco, que leciona ética na Harvard Business School, enfrenta um problema ético próprio: acusações de falsificação de dados em um de seus estudos.


Os professores Joseph Simmons, Uri Simonsohn e Leif Nelson, respectivamente das universidades da Pensilvânia, Escade Business School na Espanha e da Universidade da Califórnia, Berkeley, acusaram Gino de fraude em seu blog Data Colada.

"Especificamente, escrevemos um relatório sobre quatro estudos para os quais acumulamos as evidências mais fortes de fraude", escreveram eles, afirmando que compartilharam suas preocupações com a Harvard Business School.

Nem Gina nem a Harvard estão dando declarações à imprensa, mas o marido dela atendeu o telefone para o New York Times: "Obviamente, é algo muito sensível sobre o qual não podemos falar agora", disse ele a Noam Schieber.

No entanto, em seu post no blog, os Drs. Simonsohn, Nelson e Simmons, analisando os dados que a Dra. Gino e seus coautores haviam publicado online, citaram um registro digital contido em um arquivo do Excel para demonstrar que alguns dos pontos de dados haviam sido adulterados e que a adulteração ajudou a impulsionar o resultado.

O post da semana passada não foi a primeira vez que os vigias do DataColada encontraram problemas no artigo de 2012 da Dra. Gino e seus coautores. Em um post no blog em agosto de 2021, os mesmos pesquisadores encontraram evidências de que outro estudo publicado no mesmo artigo parecia depender de dados fabricados.

Parece que o sangue está na água em relação à pesquisa de Francesco desde que outros não conseguiram replicá-la. Fico pensando qual é a correlação geral entre a falta de replicação e a fraude.

Fonte: Boing-Boing

22 junho 2023

O perigo das correlações apressadas nas pesquisas realizadas na pandemia

A publicação rápida e não criteriosa de correlações durante a pandemia de COVID-19 pode ter gerado algumas pesquisas com qualidade duvidosa. Um estudo relacionou o aumento de eventos cardiovasculares graves em Israel durante a vacinação contra a COVID-19, em pessoas com menos de 40 anos. Embora a correlação pareça estatisticamente significativa, tudo leva a crer que é clinicamente irrelevante.

Muitas publicações durante a pandemia foram apressadas, possivelmente sem uma revisão rigorosa por pares, levando ao desperdício de esforços científicos. Na estatística temos vários exemplos de correlações sem sentido, como a relação entre o consumo de chocolate e o número de ganhadores do Prêmio Nobel, para ilustrar o problema de interpretação incorreta dos dados de correlação. Este é o fenômeno de correlação espúria, que já destacamos várias vezes no blog. 


O estudo de Israel, por exemplo, possui várias falhas na análise estatística e as conclusões não são sustentadas pela metodologia adequada. Publicar correlações é válido, desde que não sejam interpretadas erroneamente ou consideradas como evidências científicas ou relevantes para políticas.

As correlações devem ser publicadas, mas é importante interpretá-las corretamente e evitar conclusões equivocadas.

Baseado aqui. Foto Oliver Roos