28 abril 2025
Nem sempre é o que parece
Eis o resumo:
Durante a primeira metade do século vinte, muitos estados dos EUA promulgaram leis que restringem as oportunidades do mercado de trabalho das mulheres, incluindo restrições de horas máximas, leis de salário mínimo e proibições de turnos noturnos. A era das chamadas leis trabalhistas protetoras chegou ao fim na década de 1960, como resultado das reformas dos direitos civis. Neste artigo, investigamos a economia política por trás da ascensão e queda dessas leis. Argumentamos que o principal motor por trás das leis trabalhistas protetoras era o desejo dos homens de se protegerem da concorrência no mercado de trabalho. Definimos o mecanismo através de um modelo político-econômico em que solteiros e casais trabalham em diferentes sectores e votam em legislação protetora. As restrições são apoiadas por homens solteiros e casais com homens solteiros que competem com mulheres por empregos. Mostramos que as previsões da teoria sobre quando a legislação protetora será introduzida são bem apoiadas por evidências em nível estadual dos EUA.
Dez problemas contábeis e financeiros do Vaticano hoje
1. Estrutura Financeira Fragmentada
- Os diversos órgãos do Vaticano (Secretaria de Estado, APSA, Banco do Vaticano, governo da Cidade do Vaticano) operam de maneira independente, dificultando a consolidação e controle das contas.
- Não há um sistema unificado de gestão financeira, permitindo sobreposição, lacunas e feudos internos.
2. Falta de Prestação de Contas e Transparência
- Resistência dos monsenhores e altos funcionários a mecanismos de accountability (ex.: reclamações sobre prestação de contas até de despesas pequenas como cappuccinos).
- Suspensão arbitrária de auditorias (por exemplo, a auditoria comandada por George Pell foi interrompida pelo Cardeal Becciu).
3. Corrupção e Má Gestão de Recursos
- Envolvimento de altos membros da Cúria em escândalos financeiros (ex.: caso do Cardeal Becciu e a compra suspeita do antigo depósito da Harrods).
- Uso indevido de recursos do Vaticano em despesas pessoais (ex.: bolsas de luxo adquiridas com verbas destinadas à missão secreta, no caso de Cecilia Marogna).
4. Problemas com o Portfólio Imobiliário
- Muitos imóveis do Vaticano são alugados a preços abaixo do mercado para funcionários, reduzindo a receita patrimonial.
- Falta de gestão ativa para maximizar o valor e rendimento dos ativos imobiliários.
5. Fontes de Receita em Queda
- O Óbolo de São Pedro, principal fonte de arrecadação, está diminuindo drasticamente.
- Algumas operações que deveriam gerar receita acumulam prejuízos (como a Rádio Vaticano).
6. Persistência de Práticas de Lavagem de Dinheiro
- Apesar dos escândalos antigos (como o caso Roberto Calvi nos anos 1980), ainda persiste a suspeita de lavagem de dinheiro envolvendo o Banco do Vaticano.
7. Governança Deficiente
- Nomeações diretas e pouco criteriosas de bispos e gestores, muitas vezes ignorando processos de verificação e diligência prévia.
- Casos de má administração em dioceses e nas estruturas internas de governo, gerando instabilidade e escândalos.
8. Falha em Implementar Reformas Estruturais
- Apesar das intenções de reforma e da criação do Dicastério para a Economia, houve falta de apoio interno, sabotagem e ausência de continuidade nas medidas propostas.
- A prisão e o afastamento de reformadores como Libero Milone ilustram a resistência sistêmica.
9. Judicialização e Impunidade
- Processos canônicos de figuras envolvidas em crimes (como Zanchetta e Rupnik) foram mal conduzidos, atrasados ou arquivados, perpetuando a percepção de impunidade dentro da Igreja.
10. Cultura Institucional de Feudos e Clientelismo
- Prevalência de redes de proteção interna que dificultam a responsabilização individual e protegem membros comprometidos, enfraquecendo as tentativas de saneamento financeiro e administrativo.
Os Cinco avanços do Vaticano - na área financeira - com o Papa Francisco
O Papa Francisco adotou algumas medidas interessantes durante o período que governou o Vaticano. Eis uma lista com os cinco avanços que ele obteve nesse período:
1. Criação do Dicastério para a Economia - Ele criou o Dicastério para a Economia para centralizar o controle financeiro, reunir os departamentos dispersos e promover auditorias e maior transparência. E então escolheu o cardeal George Pell, conhecido pela rigidez e disciplina, para liderar esse processo.
2. Primeiras Tentativas de Prestação de Contas - Houve um esforço inicial para exigir justificativas detalhadas de despesas, mesmo para gastos pequenos. Pela primeira vez, monsenhores e cardeais foram obrigados a prestar contas formalmente de seus gastos.
3. Congelamento de salários - Francisco enfrentou um grave problema com a redução dos recursos (receitas) e o grande volume de despesas com pessoal. Para amenizar o problema, ele reduziu o salário dos cardeais, assim como congelou o salário de vários funcionários. Também não expandiu o seu pessoal, tentando equilibrar as contas com os recursos humanos através da redução natural do quadro.
4. Melhoria na punição de escândalos financeiros - Isso incluiu o o julgamento e condenação do Cardeal Becciu. Isso trouxe a consciência de que era necessário uma melhor gestão patrimonial, incluindo a profissionalização de algumas áreas. Além disso, melhorou a qualidade do Banco do Vaticano, que já não é tão susceptível a fraudes e desvios como foi no passado.
5. Melhoria da contabilidade - O Vaticano ainda registra seus bens culturais por um euro, é verdade, mas a qualidade da contabilidade melhorou com a contratação de auditores e a tentativa de que todas as movimentações financeiras fossem registradas pela contabilidade.
Baseado, livremente, nos textos da Forbes, Unheard e Estadão
27 abril 2025
Cinco exemplos recentes que mostram que o Vaticano precisa de um bom gestor
1. Suspensão da Auditoria Geral de Pell - O cardeal George Pell, nomeado por Francisco para reformar as finanças, contratou uma auditoria profissional independente. Em razão de denúncias, que parecem ter sido plantadas na imprensa, o cardeal teve que se afastar do cargo. O Cardeal Becciu (foto) suspendeu a auditoria arbitrariamente, alegando que a Secretaria de Estado não deveria ser auditada. Posteriormente esse Cardeal foi afastado de suas funções.
2. Compra Irregular do Imóvel de Londres - A Secretaria de Estado usou recursos do Vaticano para investir na compra do antigo depósito da Harrods, em Londres, operação marcada por contratos confusos e suspeitas de superfaturamento. O prejuízo foi calculado em R$750 milhões.
3. Desvios de Recursos por Cecilia Marogna - Cecilia Marogna (foto), ligada ao Cardeal Becciu, recebeu meio milhão de euros sob justificativa de "operações humanitárias secretas", mas gastou o dinheiro em artigos de luxo. Isso mostra que muitos gastos do Vaticano estão sem controle.
4. Má Gestão do Patrimônio Imobiliário - O Vaticano possui uma carteira imobiliária extremamente valiosa, mas muitos imóveis são alugados a preços muito abaixo do mercado para funcionários. Em muitos casos, os valores estão contabilizados no balanço por 1 euro.
5. Política de nomeação para área financeira - As pessoas responsáveis pela gestão financeira nem sempre possuem experiência e capacidade para lidar com as complexidades dos negócios. Somente recentemente o Vaticano contratou uma empresa de auditoria e começou a nomear gestores com melhor qualidade para fazer tarefas da administração.
Baseado, livremente, nos textos da Forbes, Unheard e Estadão
Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Datini
Datini, Francesco de Marco (1335-1410) - Francesco de Marco Datini realizou, em vida, a transição de um negócio local utilizando a escrituração de partidas simples para operações de grande escala com filiais que empregavam um sistema completo de partidas dobradas. Ele foi varejista, importador, banqueiro, agente comissionário e fabricante, vendo na diversificação uma proteção contra os riscos que haviam levado outros, que cresceram rapidamente demais, à falência. Datini expandiu seus negócios abrindo filiais em toda a Europa, utilizando registros contábeis para revisar e controlar suas operações. Os livros contábeis de Datini cobrem ininterruptamente o período de 1366 a 1410. Após 1390, um sistema completo de partidas dobradas, incluindo balanços patrimoniais, passou a ser utilizado na maioria de suas filiais no exterior e em seu escritório principal em Florença.
A principal inovação nos livros contábeis de Datini foi a conversão do formato vertical para o formato bilateral das contas. Tradicionalmente, nas contas dos livros contábeis florentinos, as seções de débito e crédito eram dispostas uma acima da outra, em vez de lado a lado como em Veneza. Isso significava, por exemplo, que, ao registrar um débito no topo de uma determinada página do livro, era necessário deixar um espaço em branco abaixo para a entrada do pagamento. A disposição dos débitos e créditos com base na posição lateral da página era impossível, e o sistema florentino jamais poderia ter evoluído para as entradas contábeis “taquigráficas” usadas atualmente. Após a introdução das contas bilaterais vindas de Veneza, nenhuma mudança importante ocorreu na técnica de escrituração florentina, evidência de que ambos os sistemas eram, em essência, semelhantes.
Michael Chatfield do livro The History of Accounting
Da Wikipedia, um acréscimo importante:
Em 1870, 500 livros contábeis e 150.000 papéis relacionados aos negócios de Datini foram descobertos em uma escada da mansão do casal em Prato.[8] Esses artigos fornecem informações sobre os negócios de Datini, bem como sobre a classe mercantil em geral, tal como existia nos séculos XIV e XV.
Dois outros aspectos relevantes:
1. Datini já conhecia o conceito de Goodwill
2. Francesco Datini escrevia em seus livros de contabilidade: "Em Nome de Deus e do Lucro"
Grandes nomes da história da contabilidade mundial: May
May, George Oliver (1875–1961)
George Oliver May nasceu em 22 de maio de 1875, em Teignmouth, Devonshire, Inglaterra. Ingressou no escritório de Londres da Price Waterhouse em 1897 e, ainda naquele ano, mudou-se para os Estados Unidos, onde se juntou à equipe da Jones, Caesar and Company, uma firma afiliada à Price Waterhouse nos EUA. Foi admitido como sócio da Price Waterhouse em 1902, nomeado sócio sênior em 1911 e continuou nessa função até 1927, quando se afastou da prática ativa para dedicar suas energias a questões profissionais, principalmente através do American Institute of Accountants. Aposentou-se da Price Waterhouse em 1940, mas continuou ativo na profissão quase até sua morte, em 25 de maio de 1961.
Suas contribuições mais significativas para o desenvolvimento do pensamento contábil ocorreram após sua saída da prática ativa em 1927, coincidindo com o que provavelmente foi o período mais importante no desenvolvimento da contabilidade — a década de 1930. May era um intelectual interessado em uma ampla variedade de áreas além da contabilidade, incluindo economia, tributação, direito e filosofia.
Provavelmente devido à sua formação britânica, May era pragmático. Sua influência pragmática é claramente visível no trabalho do Special Committee on Cooperation with Stock Exchanges (1932–1934), presidido por ele. Essa influência também se reflete nos resultados do Committee on Accounting Procedure, do qual May foi o líder ativo nos primeiros quatro anos desde sua criação em 1936 e do qual permaneceu membro até 1944.
May considerava seu trabalho no Special Committee on Cooperation with Stock Exchanges como sua maior contribuição para a profissão. A correspondência entre esse comitê e o Committee on Stock List da Bolsa de Valores de Nova York reflete claramente suas ideias. May acreditava ser importante educar o público sobre tanto a importância quanto as limitações das demonstrações financeiras. Ele argumentava que essas demonstrações refletem eventos que ocorrem em um mundo de incertezas e, portanto, não podem transmitir um grau de certeza maior do que o dos próprios eventos. May enfatizava a natureza convencional da contabilidade e defendia que as corporações deveriam escolher seus próprios métodos contábeis, divulgá-los e aplicá-los de forma consistente. Acreditava que a contabilidade é amplamente convencional, deve servir a um propósito social útil e deve evoluir conforme mudam as condições econômicas e as políticas sociais.
A influência pragmática de May foi sentida na abordagem adotada pelo Committee on Accounting Procedure no desenvolvimento dos princípios contábeis. Uma corrente de pensamento defendia que nada fosse publicado até que se acumulasse um corpo de doutrina. May, por outro lado, sustentava que o comitê deveria tratar de questões individuais até que um corpo razoável de doutrina fosse alcançado. Foi esta última abordagem que o comitê adotou. Ele se opunha a qualquer tentativa de promulgar regras uniformes de contabilidade. Acreditava que padrões uniformes significariam necessariamente padrões mais baixos e estava convencido de que a contabilidade uniforme levaria à criação de burocracias para sua imposição, o que seria prejudicial tanto ao interesse público quanto à profissão contábil. Em seu julgamento, o apropriado seria desenvolver novos métodos de análise e apresentação que resultassem em demonstrações financeiras mais significativas, além de adaptar a prática contábil às necessidades de três classes de corporações. Ele as classificava como: pequenas corporações, grandes corporações de capital aberto e corporações reguladas.
May acreditava que não haveria vantagem em aplicar padrões uniformes às pequenas corporações e que, dado que as grandes corporações estavam em constante crescimento e mudança, qualquer tentativa de uniformidade sustentada seria fútil. Além disso, argumentava que qualquer tentativa de uniformidade encerraria o progresso no desenvolvimento da profissão e enfatizaria a forma em detrimento do conteúdo. Em sua opinião, havia o risco de se criar a crença em um grau de uniformidade e comparabilidade que não poderia ser alcançado.
Ao longo de sua vida profissional, May manteve interesse na determinação do lucro, dedicando considerável reflexão ao tema. Em 1947, foi fundamental na organização do Study Group on Business Income e atuou como consultor de pesquisa do grupo até a publicação de seu relatório final em 1952. May enfatizava a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para definir o conceito de lucro e acreditava que o papel do contador era aconselhar e cooperar com membros de disciplinas correlatas na formulação dessa definição, além de implementar o conceito aceito. O contador deveria tornar claro para os demais o significado da renda apurada.
May estava principalmente interessado no conceito de lucro empresarial e acreditava que ele consistia em dois componentes — um gerado pelas operações do negócio e um segundo oriundo de lucros e perdas resultantes de mudanças no nível de preços. Observava que o método LIFO (last in, first out) de avaliação de estoques, essencialmente, permitia a apuração do lucro em valores correntes. Defendia que a depreciação deveria ser tratada da mesma maneira — um afastamento do princípio do custo histórico.
Devido à estreita relação com a determinação do lucro, May também se interessava profundamente por tributação e acreditava que os impostos deveriam ser divulgados como item separado na demonstração de resultados. Em sua opinião, o principal valor das demonstrações de resultados estava na luz que lançavam sobre a capacidade futura de geração de lucros. Essas demonstrações deveriam destacar tendências significativas, sendo o aumento da tributação uma tendência relevante nas décadas de 1930 e 1940.
George Oliver May foi uma luz orientadora para a profissão.
Por Henry Francis Stabler para o verbete The History of Accounting
O verbete da Wikipedia destaca que a influência de May foi responsável pela SEC, criada nos anos 30, delegasse para profissão contábil a responsabilidade de emitir as normas contábeis, fato esse que influenciou a contabilidade nas décadas seguintes. É importante lembrar que May está no Hall of Fame, uma honraria para alguns grandes nomes da contabilidade dos Estados Unidos. Mais do que isso, foi um dos três primeiros homenageados, juntamente com Patton e Montgomery
Apesar do impacto de May ter ocorrido especialmente nos Estados Unidos, estou usando nessas postagens o local de nascimento para classificá-lo como um grande nome da história da contabilidade mundial.






