



Sobre débitos e créditos da vida real
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) finalmente concedeu a licença prévia para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, fazendo exigências que elevarão substancialmente o custo da obra. Conforme os cálculos dos empresários privados, será um projeto caro, que gerará energia a custo superior ao de outras usinas situadas na Amazônia, como as de Santo Antônio e Jirau.
Com capacidade instalada de 11,4 mil MW, Belo Monte terá uma geração média de 4,6 mil MW, em decorrência das condições hidrológicas dos Rios Tapajós e Xingu, que fornecerão a água para seu reservatório. Belo Monte será a segunda maior usina do País e a terceira maior do mundo, depois de Itaipu e de Três Gargantas, na China.
O projeto da hidrelétrica começou a ser desenvolvido nos anos 80 e foi reformulado várias vezes. Em 2001 a Justiça Federal proibiu o Ibama de emitir o relatório de impacto ambiental da obra, frustrando a intenção do governo de licitar a usina em 2002. Ainda hoje o projeto enfrenta resistências de ambientalistas e do Ministério Público. No final do ano passado, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a baixar a Portaria 434 com as regras para a licitação, que o governo pretendia realizar ainda em 2009, mas teve de adiar o leilão para este ano.
Não há dúvidas quanto à resistência de representantes do Ministério Público Federal (MPF) à obra. O procurador da República Ubiratan Cazetta declarou que a licença prévia é só uma etapa e terá de ser analisada pelo MPF. “Todas as fases serão acompanhadas pelo MPF, que poderá ingressar com novas ações” contra a construção, afirmou outro procurador, Daniel César Avelino. A Advocacia-Geral da União (AGU), por sua vez, contra-atacou, anunciando que ajuizará ações de improbidade contra os promotores que exorbitarem de suas funções.
Com a reforma do projeto, Belo Monte terá um reservatório proporcionalmente pequeno – uma exigência ambiental –, de 516 km², menor que o de Tucuruí, que produz menos energia. Das 15 maiores usinas do Brasil, Belo Monte é a que terá o menor reservatório em área ocupada.
Os investidores que se articulam para disputar Belo Monte terão de atender a nada menos de 40 exigências socioambientais, de saneamento, habitação e segurança, cujo cumprimento é precondição para a concessão da licença de instalação, segunda etapa do processo e que, normalmente, demora meses para ser concedida.
Terão de ser construídas escolas e postos de saúde na região da usina e realizadas obras de saneamento básico em municípios próximos à barragem. Terá de ser mantida a navegabilidade do Rio Xingu durante a construção e a operação da usina. E os empreendedores precisarão elaborar um plano de conservação dos ecossistemas aquáticos e terrestres da região. Nenhum índio – prometeu o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc – será deslocado em decorrência da obra. “Se houvesse possibilidade de desastre ambiental, essa licença não seria dada, pelo menos na minha gestão”, declarou ele.
O custo das exigências ambientais é estimado em R$ 1,5 bilhão. Isto “não vai inviabilizar a obra”, afirmou o presidente do Ibama, Roberto Messias Franco. Mas há uma enorme diferença entre as estimativas do governo e do setor privado sobre o custo de Belo Monte.
O governo fala em valores entre R$ 16 bilhões e R$ 18 bilhões, enquanto empresários estimam o custo em não menos de R$ 26 bilhões – para a produção de 4,6 mil MW. Nas usinas do Madeira, estão sendo investidos R$ 18 bilhões para a produção de 3,6 mil MW de energia média. Aos R$ 26 bilhões de Belo Monte cabe acrescentar, ainda, o R$ 1,5 bilhão decorrente das novas exigências.
Graças aos sistemas nacionais de transmissão de eletricidade, a energia de Belo Monte tanto poderá servir para o abastecimento dos principais centros consumidores da Região Sudeste como para assegurar um aumento substancial da oferta na Região Norte, viabilizando a construção de novas fábricas eletrointensivas, como as de alumínio, aproveitando a matéria-prima abundante na área.
O empresário Marcio Goldfarb, dono da Lojas Marisa, rede nacional de roupa feminina, descobriu uma boa maneira de reduzir o prejuízo com a inadimplência de seus clientes, que chegou a 3,8% das vendas em 2007. Simplesmente dispensou a empresa terceirizada que executava o serviço de recuperação do crédito, passando a fazer o trabalho dentro de casa. Resultado: o calote caiu à metade, para os 1,9% registrados no final de 2009, irrigando o caixa da empresa. Já para incrementar as vendas neste ano, Goldfarb resolveu apostar na popularização entre a clientela dos cartões de crédito, que respondem por 56% de suas receitas - a Marisa trabalha com duas bandeiras, uma própria e outra do Itaú. A rede pretende emitir mais 2,5 milhões de cartões, elevando para 15,4 milhões o número de usuários.
Segundo ele, a operação é um negócio lucrativo. “Ela contribuiu com 20% do nosso Ebtida”, diz Goldfarb. Com 227 lojas espalhadas pelo País, a Marisa faturou R$ 1,5 bilhão no ano passado.
Os estudiosos de Finanças Comportamentais sabem da divergência com a eficiência do mercado e o conceito do homem racional. Uma história muito instrutiva foi contada no livro The Myth of the Rational Market, de Justin Fox (p.192), e ilustra muito bem a forma como os dois grupos entendem o ser humano.
Em 1979, depois da publicação do artigo Prospect Theory, Daniel Kahneman e Amos Tversky foram visitar Richard Thaler na University of Rochester. Thaler, fazendo as honras da casa, preparou um jantar para seus convidados e estava presente Michael Jensen. Jensen, um rigoroso teórico das finanças, mas defensor da idéia do mercado eficiente, não gostava muito das idéias comportamentais de Kahneman e Tversky. Além disto, Jensen era muito rigoroso com as pessoas.
Tversky perguntou a Jensen o que ele achava das decisões que eram tomadas por sua esposa. Jensen reconheceu que ela não tomava boas decisões. Tversky então quis saber o que Jensen achava do então presidente Carter. Jensen respondeu que Carter era um idiota. E a política econômica do Chairman do Federal Reserve, questionou Tversky para Jensen. Tudo errado, disse Jensen. Tversky continuou querendo saber de Jensen o que ele achava de vários tipos de pessoas, e a opinião de Jensen não era muito boa.
Tversky finalmente fez um fechamento no seu bate-papo com Jensen: "Quando nós falamos das pessoas, especialmente os policy makers, eles fazem grandes erros nas suas decisões. Mas no agregado, eles estão corretos?"
O que Tversky chamou a atenção é algo muito interessante. Para os defensores da eficiência do mercado existe um mecanismo regulador nas decisões individuais que mesmo que algumas pessoas comentam erros, o mercado como um todo estaria correto. A soma dos comportamentos geraria esta eficiência. Mas os estudiosos de finanças comportamentais acreditam que algumas decisões os erros individuais não são anulados no mercado.
Considere o caso do custo perdido. Sabemos pela contabilidade de custos que as decisões passadas não devem afetar as minhas decisões futuras. Os custos perdidos não podem ser considerados no processo decisório. Racionalmente isto é muito fácil de entender e compreender. Mas nas nossas decisões pessoais cometemos constantemente este erro. Quando um número muito grande de pessoas não age de forma racional, a eficiência do mercado deixa de existir.
Sabemos que existem estes problemas e um grande número de pesquisas já mostraram como isto ocorre. O que ainda não sabemos é o impacto disto para o conjunto total de decisões. Os partidários da eficiência do mercado, quando reconhecem as questões levantadas pelas finanças comportamentais, consideram que isto é uma exceção reduzida a regra mais abrangente do bom funcionamento do mercado. Os estudiosos de finanças comportamentais enxergam que os vieses apontados nas pesquisas são importantes demais para serem considerados como residuais.
Fonte: Forbes