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30 julho 2009

EMH, Finanças Comportamentais e Crise

A crise de 2007 foi devastadora não somente para os bancos, mas também para uma disciplina acadêmica inteira de economia financeira, afirma a The Economist (Efficiency and beyond, 16/7/2009). A idéia que predomina é que os economistas financeiros ajudaram a começar a festa dos banqueiros. Apesar disto, existem defensores da EMH (efficient-markets hypothesis). Myron Scholes, que venceu o Nobel de Economia em 1997 e ajudou a criar a indústria de modelagem financeira - afirmou que "existem modelos e existem aqueles que usam os modelos". Segundo a The Economist, Scholes sabe o que fala: ele participou do Long-Term Capital Management (LTCM), um fundo hedge que faliu em 1998.

Dois trabalhos anteriores, no entanto, já apontavam uma contração nas EMH. Em 1980 Sanford Grossman e Joseph Stiglitz mostraram que se todos os preços refletissem todas as informações disponíveis não haveria incentivos para os investidores. Ou seja, é necessário que o sistema funcione com um pouco de ineficiência.

Mais recentemente, os pesquisadores começaram a investigar as chamadas “institutional frictions” dos mercados. Entre estes pesquisadores, aqueles que se dedicam as finanças comportamentais. O texto destaca o livro de Shiller e Akerlof, Animal Spirits. E o trabalho de Thaler, que afirma que os pesquisadores da área são menos arrogantes.

Mas existe uma convergência entre ambas as teorias já que elas estão perguntando as mesmas questões.

20 julho 2009

A Eficiência do Mercado

A eficiência do mercado tem sido objeto de estudo da contabilidade desde que o trabalho de Fama foi publicado. Para este economista, o mercado seria mais ou menos eficiente em razão da reação a informação. Fama entendia que a contabilidade era uma das fontes de informação, embora não fosse a única.

As EMH (Hipóteses de Eficiência de Mercado) têm sido objeto de estudo pelos pesquisadores. Fama classificava suas hipoteses em tres grupos: fraca, semi-forte e forte. Um grupo extenso de pesquisas surgiu no sentido de classificar o mercado num destes grupos. Ou seja, verificar em situações específicas se o mercado agia de forma mais ou menos eficiente.

Neste texto irei comentar três aspectos da EMH: a crença atual, a suposição da correlação e a relação entre eficiência e previsão.

Crença Atual

Um artigo recente, analisado pelo blog Financial Rounds, concluiu, por exemplo, que existem evidências que o mercado de ações dos EUA são altamente ineficientes.

A questão da eficiência já era questionada com a expansão das finanças comportamentais. A constatação que as pessoas não são plenamente racionais abriu uma nova perspectiva em termos de tentar explicar como se comporta o mercado. Existia uma velha piada sobre dois pesquisadores que acreditam na EMH e que um deles, por acaso, encontra uma nota de 50 reais na calçada. Ele diz: “nao é uma nota de 50 dólares no chão?” O outro afirma: “Parece, mas se fosse alguém já teria passado e ficado com ela”.

A crise financeira aumentou o debate sobre a eficiência dos mercados. Diversos textos interessantes foram divulgados nos últimos dias tratando do assunto. Além da crise contribui o lançamento recente do livro The Myth of The Rational Market (de Justin Fox).

Robert Waldmann, em The REH vs the EMH, destaca que a eficiência do mercado não significa necessariamente a hipótese de expectativa racional (REH). Para Waldmann, a EMH não trata de comportamentos individuais ou assume que os investidores possuem, isoladamente, carteiras eficientes.

Ja Gillian Tett, no Financial Times (Credit crunch causes analysts to rethink rational market theory, 16 de junho de 2009, p. 17) cita uma pesquisa realizada entre os membros britânicos do CFA. Quando questionados se acreditam na eficiência do mercado dois terços responderam que já não acreditam que o preço do mercado reflete toda informação disponível. Além disto existe uma elevada discordância que o investidor é racional.

Esta mudança é mais significativa quando imagina que a eficiência do mercado é fundamental para pontos relevantes da contabilidade financeira, como a remuneração dos executivos. Isto naturalmente tem despertado o interesse pelas finanças comportamentais.

Esta conclusão dos estudo do Chartered Financial Analyst Institute também foi destacada por Tom Stevenson em Investors are finally seeing the nonsense in the efficient market theory (Daily Telegraph, 18 de junho de 2009).

Em EMH - The Dead Parrot of Finance, Neil Hume lembra que James Montier, do Soc Gen, deseja que a EMH seja banida da industria de investimento. Isto inclui CAPM, administração de risco entre outros.

A questão da Correlação

John Lounsbury - em The (In)Efficient Market Hypothesis - destaca um problema específico da EMH: questão da existência de correlação constante entre dois ativos no tempo. Lounsbury faz uma correlação entre o dólar e a SP 500 para os últimos 38 anos e encontrou o seguinte resultado:



Pode ser observado que a correlação entre os dois investimentos varia ao longo do tempo. Usando os dados do Banco Central para taxa de câmbio e variação do índice Bovespa fiz este cálculo para o Brasil. O resultado encontra-se abaixo:



A correlação da figura refere-se a variação diária para cada um dos anos. É possível perceber que a correlação entre estas duas variáveis muda com o passar do tempo. Isto significa dizer que a objeção de Lounsburry provavelmente também é válida para o Brasil.

EHM e Previsão
Uma questão que sempre incomodou as mentes mais críticas de finanças refere-se a relação entre a EHM e a bola de cristal. Lembro-me de um livro recomendado por meu mestre e orientador, Alexandre Assaf, que abordava este assunto. Trata-se de Modern Portfólio Theory, The Capital Asset Pricing Model & Arbitrage Princing Theory, de Diana Harrington. Harrington comenta a questão controversa de usar a teoria de finanças para fazer projeção.

Mais recentemente Timmermann e Granger (em Efficient Market Hypothesis and Forecasting) comentam a contradição: os modelos pressupõem um mercado eficiente, onde a existência do chamado lucro anormal não seria possível; mas os “práticos” usam para tentar obter este lucro.

19 julho 2009

Os mitos e a Crise

O jornal El País apresenta hoje um interessante texto sobre os 14 mitos que foram derrotados pela crise (14 mitos caídos tras dos años de crisis, Íñigo de Barrón, A (Andalucía), p. 26).

Aqui um extrato do que interessa para a contabilidade:

- Más mercado y menos Estado. (...)

- La supervisión escasa impulsa al mercado libre. (...)

- Los banqueros son profesionales de prestigio y deben tener salarios elevados. (...)

- El que la hace, la paga. (...)

- La banca comercial es aburrida. (...)

- Los grandes mercados están supervisados y regulados.

- El mercado es eficiente y pone precio a los activos. Este largo ciclo de crecimiento alentó la creencia de que el mercado siempre da precio a los activos. En mitad de esa carrera alcista, los bancos norteamericanos insistieron en la utilización del mark to market, es decir, que los activos se valoren a precio de mercado, recogido en las Normas Internacionales de Contabilidad (NIC). El resultado fue que los activos se hincharon en paralelo a la burbuja. Esta filosofía también está en la reforma internacional de Basilea II. Ambas están en profunda revisión.

Ahora, la banca norteamericana y británica ha conseguido que el supervisor elimine la valoración de mercado para no castigar sus cuentas, en un movimiento que algunos consideran "maquillaje" y que puede favorecer otra burbuja futura. Sin embargo, la UE ha suavizado la normativa, pero la mantiene. Los expertos piden utilizar otros modelos, pero con transparencia. "Sobre Basilea II hemos aprendido que los propios bancos no pueden decidir el riesgo crediticio y por lo tanto las reservas usando sus propios modelos", dice Garicano.

- No hay que preocuparse de la liquidez, casi es ilimitada. (...)

- No hay ciclos en la economía.

- Los bancos, cuanto más grandes, más seguros.

- Con la globalización, no importa donde esté la sede social. (...)

- Estamos a salvo con las nuevas normas: las NIC y Basilea II. Poco ha durado el prestigio de ambas normativas. Están en revisión completa para reforzar cuatro aspectos: las provisiones, que deberán hacerse en momentos de bonanza aunque no haya morosidad (el modelo español); el capital, que deberá aumentar, sobre todo si hay operaciones de riesgo; el principio de consolidación dentro del balance de todos los productos (para evitar la venta de subprime a terceros) y vigilancia de la liquidez, que apenas se tenía en cuenta.

- Las agencias de 'rating' y los auditores vigilan. El oligopolio de las tres grandes agencias de calificación financiera, Moody's, Standard&Poo's y Fitich ha fracasado y se prepara una profunda revisión. Han demostrado no tener sistemas fiables para medir los créditos basados en activos basura. Los auditores también han sido criticados por mezclar sus servicios con los de consultoría. "No aprendieron de la crisis de Enron", dicen en AFI. Tornabell, de Esade, cree que no pueden cobrar de los clientes a los que tienen que juzgar. Fernández, del IESE, cree que hay empresas que consideran que los auditores no te pueden criticar porque les estás pagando.

- Los 'hedge funds' y los productos sofisticados dinamizan la economía. La titulización de activos (que es una forma de empaquetar y revender productos), los derivados y los hedge funds fueron los protagonistas de la época dorada. Ahora se les considera responsables de buena parte de la burbuja y del sobreendeudamiento. Warren Buffet advirtió de que "los derivados son verdaderas armas de destrucción masiva". De Guindos opone que "el origen de la burbuja de liquidez no son tanto los derivados como el mantenimiento de los tipos de la FED en niveles muy bajos durante mucho tiempo".


Sobre a eficiência do mercado, estarei postando amanhã um texto sobre o assunto.

26 março 2009

Mercado, Racionalidade e Crise 2

O texto a seguir é uma tradução do Financial Times, comentado na postagem feita aqui.

Crise econômica derruba mitos da teoria financeira
Valor Econômico - 26/3/2009

A crise econômica criou várias subcrises no setor bancário, na área de governança e assim por diante. Mas existe outro queixume sob a superfície: uma crise da teoria financeira.

Vejamos três artigos publicados pelo "Financial Times" na semana passada. O primeiro diz que as autoridades dos Estados Unidos darão aos bancos mais liberdade para avaliar seus ativos financeiros. O segundo diz que a Shell vai gastar um extra de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões para tapar o rombo do fundo de previdência dos funcionários. O terceiro afirma que o ex-presidente da General Electric Jack Welch desistiu de pregar o valor para os acionistas, descrevendo-o agora - no curto prazo e de qualquer maneira - como "uma ideia estúpida".

Os três artigos podem ser remetidos ao mesmo fundamento: a ideia de que o preço de mercado de uma ação ou outro título é de certa forma adequado, ou de outra forma mais adequado do que qualquer outro preço que venham a conseguir.

Isso, por sua vez, repousa sobre a noção, entranhada na teoria financeira no último meio século, das expectativas racionais. Os mercados personificam o balanço das opiniões consideradas e informadas sobre resultados prováveis. Os indivíduos podem ser otimistas demais ou pessimistas demais, mas o mercado não é nenhum dos dois. Os dois se anulam.

Um momento de reflexão nos diz que isso é uma tolice. Tome um único exemplo simples, o dos títulos residenciais "prime" lastreados em hipotecas da Holanda. Eles estão sendo vendidos agora - se você conseguir encontrar um comprador - a cerca de 50 centavos por euro de valor de face. Isso aparentemente implica que 75% dos detentores de hipotecas vão dar calote, e que suas casas vão valer apenas 25% do valor da hipoteca. Como a Holanda perdeu a bolha imobiliária residencial dos últimos anos, ninguém na verdade acredita nisso.

Mas os investidores profissionais, queimados na queda dos mercados, não estão dispostos a apostar seus empregos de que isso é o fundo do poço. Esse medo pode não ser irracional, mas está longe de ser considerado uma opinião estudada.

Isso nos leva de volta às diretrizes emitidas na semana passada pelo Financial Accounting Standards Board dos Estados Unidos (FASB), sobre quando os títulos devem ser marcados a mercado. Em essência, se não há um mercado ativo e há evidências de vendas motivadas por pânico, os títulos podem, em vez disso, serem marcados de acordo com modelos.

A assimetria disso faz pensar. No "boom" pontocom, houve muita compra pressionada de ações da bolha. Assim como aconteceu com os títulos hipotecários holandeses, os investidores em nenhum momento acreditaram nas avaliações do mercado. Mas seus empregos estavam em jogo do mesmo jeito.

A diferença, é claro, é que num mercado em uma fase de alta irracional sempre há giro, enquanto que, numa fase irracional de baixa, não. Portanto, é quase uma ordem contabilizar lucros quando uma ação passa de US$ 10 para US$ 100, mas não perdas quando elas despencam para US$ 1 - como aconteceu com algumas ações do bolha pontocom.

A falta de lógica vai mais adiante quando comparamos o exemplo da Shell. Alguns bancos podem estar hoje de fato insolventes. Se o pior acontecer, seus ativos serão vendidos a preços de mercado, sendo isto justo ou não.

Mas a Shell não está insolvente e seu fundo de pensão terá décadas para se ajustar antes de pagar boa parte de seus benefícios. O número de déficit hoje pode ser uma informação interessante para os investidores. Por que isso deveria exigir um desvio do tão necessário fluxo de caixa da empresa neste momento, é uma questão diferente.

Isso vale para Welch. A administração baseada no valor criado para o acionista - ou baseada no valor, no retorno total para o acionista, ou o que quer que seja - se tornou popular na década de 1980.

Enquanto teoria, ela foi criada sob medida para uma fase de alta do mercado. O sucesso administrativo - e as recompensas - eram medidos pela soma dos ganhos de capital e dividendos. Em outras palavras, ela dizia respeito principalmente ao preço das ações.

A doutrina das expectativas racionais dizia, é claro, que se o preço das ações de uma companhia caía, aquilo somente podia estar acontecendo porque suas perspectivas haviam piorado. A dedução lógica - de que, num mercado em baixa sustentado, todos os administradores devem ser tolos juntos - não foi invocada.

Mais uma vez, essa falta de lógica pode ser levada um estágio adiante. Se o trabalho dos administradores era aumentar o preço das ações, seus objetivos eram os mesmos dos acionistas. Mas, embora os acionistas obviamente soubessem bem menos coisas sobre a companhia, eles ainda eram conclamados a exercer uma maior influência.

Agora, ao que parece, este não é mais o trabalho dos administradores. Portanto, os acionistas, cujos objetivos não mudaram, sabem ainda menos sobre o que a administração deveria estar fazendo. Mesmo assim, eles são exortados por várias partes - incluindo os governos - a enfrentarem a crise exercendo ainda mais influência. Vai entender!

Minha conclusão com tudo isso é a que eu já afirmei antes nesta coluna: é melhor não saber nade de alguma coisa, do que saber um pouco.

Nos anos de alta do mercado, era certo que os preços das ações carregavam informações únicas e objetivas. Essa noção, ao que parece agora, era uma mera confirmação agradável do que estava acontecendo.

Por trás disso tudo, estava um grupo de teorias sobre o comportamento racional do mercado que agora viraram poeira. Não está claro o que as vai substituir, mas estamos melhor sem elas do que com elas.

25 março 2009

Mercado, Racionalidade e Crise

Tony Jackson, em Theories of rational behaviour are facing crisis (Financial Times, 23/3/2009, London Ed1, 18) traz uma consideração importante sobre a contabilidade e a crise econômica. Jackson lembra que histórias recentes estão baseadas na crença de que o preço de mercado de um bem ou ação é algo verdadeiro e inquestionável em relação a qualquer outro preço possível. Isto tem sua origem nas expectativas racionais, onde o mercado é composto por pessoas bem informadas.

Este pressuposto é essencial na questão da marcação a mercado e em outras bases de mensuração apresentadas nos últimos anos por entidades reguladoras contábeis. Um argumento daqueles que defendem a extinção do valor justo é exatamente este aspecto: não existe mercado hoje para muitos bens e ações. (Muito embora, quando o mercado estava em alta – e este tipo de avaliação não era questionado – existia também irracionalidade).

A doutrina das expectativas racionais é que se o preço da ação da empresa está em queda é que suas perspectivas pioraram.

03 março 2009

Pressupostos econômicos

Especial
Economia deve se admitir imperfeita, afirma Frydman
Valor Econômico - 26/2/2009


Além de culpar Alan Greenspan, o governo Bush e a desregulamentação financeira feita no governo Clinton, os economistas deveriam olhar para si mesmos ao buscarem as causas da atual crise global. Uma causa subjacente, segundo o economista Roman Frydman, foi a pretensão da corrente dominante do pensamento econômico nos últimos 30 anos de que podia estimar com precisão os preços dos ativos e, consequentemente, prever os movimentos dos mercados. Esse modelo fracassou, diz Frydman. Em seu lugar, ele defende um modelo baseado no que chama de conhecimento imperfeito.

(...) O alvo de Frydman é a teoria (ou hipótese) das expectativas racionais, um pressuposto usado atualmente nos principais modelos macroeconômicos e que prevê que a expectativa dos agentes econômicos (consumidores, empresas, traders, associações etc) é correta na média, pois essas expectativas se baseiam na análise de todos os fatores envolvidos.

"As expectativas racionais são uma metodologia muito poderosa, que postula que os economistas são capazes de determinar com precisão o que os mercados pensam sobre o futuro. Soa estranho, mas é isso", disse Frydman.

Assim, seria possível prever "cientificamente" a evolução dos preços dos ativos, isto é, de ações, imóveis, moedas, commodities etc. Obviamente há oscilações não previstas, mas com o tempo o preço do ativo tenderia a voltar a uma situação de equilíbrio.

"Todos esses modelos são baseados na ideia de que os economistas, analistas ou alguém que trabalha num banco pode precificar uma ação. Isso se chama a precificação racional das ações. O preço depende das expectativas de para onde a ação está indo. Se essa expectativa está errada, então o preço não é o preço racional. Mas, por causa dessa crença dos economistas de que podem saber exatamente quais são as expectativas, eles achavam que podiam desenvolver métodos para modelar os preços."

Essa ideia levou à elaboração de complexos modelos matemáticos que são usados diariamente por instituições financeiras e empresas em todo o mundo para tentar antecipar preços dos ativos. "Isso se tornou um enorme negócio", afirma Frydman.

O que isso tem a ver com esta crise? Frydman cita dois efeitos importantes. Em primeiro lugar, os modelos fracassaram ao não conseguir prever os riscos da valorização contínua dos ativos. Como o modelo previa "cientificamente" o preço dos ativos, e estes só subiam, isso desestimulou os agentes econômicos a prestar atenção aos fundamentos que deveriam sustentar aqueles preços. Os mercados se iludiram de que os preços podiam continuar se apreciando indefinidamente.

Em segundo lugar, se o mercado conseguia fazer uma avaliação científica do risco, o principal fator para se precificar um ativo, então não era necessário que a autoridade regulatória fiscalizasse as instituições. Elas mesmas estariam se fiscalizando continuamente, ao analisarem o risco umas das outras. O ex-presidente do Fed (o banco central americano) Alan Greenspan comprou essa ideia. Deu no que deu.

"Os EUA precisam aceitar o fato de que desregulamentar não foi uma boa ideia. A teoria econômica nos EUA não está muito boa, pois é amplamente baseada nas expectativas racionais. E as expectativas racionais fazem você pensar que, quando os mercados disparam, eles estão certos, ou então não teriam disparado. Essa teoria é incapaz de explicar o que estamos vendo agora."

O embate com as expectativas racionais marcou a atividade acadêmica de Frydman. "Eu tinha acabado de imigrar para os EUA no final dos anos 60, vindo da Polônia, onde a economia planificada havia fracassado, e fiquei muito surpreso de saber que lá se pretendia elaborar um modelo exato para o mercado. Fui até Phelps e perguntei a ele se as pessoas nos EUA acreditavam mesmo que podiam dizer exatamente para onde o mercado estava indo. Então começamos a desenvolver uma crítica às expectativas racionais."

Ele mesmo admite que boa parte dessa crítica (como o livro escrito com Phelps e publicado em 1983, "Individual Forecasting and Aggregate Outcomes: 'Rational Expectations' Examined") foi ignorada. "O pensamento econômico continuou trabalhando com as expectativas racionais."

"Todas essas implicações fracassaram na prática. Há uns dez anos começou a ficar claro que a economia tinha de aceitar que não pode prever exatamente para onde vai o mercado", diz Frydman. "Então, a pergunta principal passou a ser: é possível fazer algum tipo de modelo se você não sabe para onde o mercado está indo? Ou se teríamos de desistir dos modelos?"

Em 2007, Frydman publicou, em conjunto com Michael Goldberg, "Imperfect Knowledge Economics" (Economia do Conhecimento Imperfeito), que viria a ser a sua resposta a essa pergunta. Resumidamente, sim, é possível elaborar modelos, mas eles têm de se basear no fato de que o conhecimento é imperfeito, diz Frydman.

Como isso funciona? "A economia do conhecimento imperfeito postula que há limites para o que os economistas podem saber. Ela permite a formulação de modelos substituindo condições quantitativas - economistas gostam de fortes condições matemáticas nos seus modelos - por condições qualitativas, que são o máximo que podemos ter. Ou seja, regularidades qualitativas, não regularidades quantitativas."

O conceito fundamental para Frydman é o de padrão histórico (historical benchmark) de preços de um certo ativo. Assim, o risco relacionado a determinado ativo cresce à medida que o seu preço se distancia, para cima ou para baixo, de seu padrão histórico. "O modo tradicional de pensar sobre o risco é que ele depende de volatilidade. Nós temos um modo de olhar o risco que retoma Keynes, que mede o risco relativamente ao distanciamento de um ativo, por exemplo uma moeda, em relação a um padrão de valores das moedas."

Como professor, Frydman gosta de dar exemplos de seus conceitos. Foram vários na conversa com o Valor. Eis um deles: "O valor padrão do dólar é perto da paridade com o euro. Sabemos que, na história do dólar, quando ele sobe 30% ou 35% acima da paridade, é muito alto. Então, as chances são grandes de que ele vá cair".

Assim, o modelo de Frydman não consegue prever (mas será que alguém hoje consegue?) onde o dólar estará em relação ao euro na semana que vem, mas pode dizer se ele está alto ou baixo demais em relação a onde normalmente está.

Esse padrão histórico proposto por Frydman para a avaliação de preços de ativos não é um valor, mas um intervalo dentro do qual o preço do ativo costuma oscilar. Esse intervalo também não é fixo, já que ao longo do tempo vários fatores, como ganhos de produtividade, podem alterar a tendência de preço de longo prazo. "Essa visão que temos, de conhecimento imperfeito, implica que só fundamentos sólidos podem mover os preços dos ativos para além de seu padrão. Nós não negamos que a psicologia tenha um papel, mas não precisamos da psicologia para ter flutuações. O importante é que as flutuações de preços ocorrem por conta dos fundamentos."

Frydman acha que seu modelo ajuda a evitar grandes oscilações nos mercados, que acabam resultando em grandes correções, com custos sociais elevados. Ele defende que, em caso de distanciamento importante do preço de um ativo em relação ao seu padrão histórico, caberia à autoridade reguladora intervir, mas sem se comprometer com um determinado preço.

Exemplo: "O índice Shiller-Case [de preço de moradias nos EUA] dobrou de 2000 a 2006. E, ainda assim, o governo continuou a oferecer financiamento imobiliário a taxas mais e mais vantajosas. É o oposto do que deveria ser feito."

Ele admite que seria superficial atribuir toda a culpa à economia. "Houve pressão política, dos democratas e dos republicanos, para a concessão de financiamento imobiliário, para que todo mundo possuísse uma casa. Isso é bem documentado. Instituições como a Fannie Mae foram informadas de que deveriam expandir os financiamentos. Isso é política."

"A solução que propomos para esse tipo de problema é que sejam tomadas medidas que contenham a magnitude das oscilações, mas sem assumir nenhuma posição sobre onde os preços devem estar amanhã", diz Frydman.

Que medidas? "Pode haver intervenção direta e indireta. O Fed tem discutido se a política monetária deve ser usada para limitar as oscilações do mercado. Mas as taxas de juros não são uma medida adequada, pois afetam toda a economia. Uma coisa simples que pode ser feita é ressaltar os padrões históricos de vários tipos de ativos. Isso deixaria claro que o risco está aumentando para os investidores, quanto mais o mercado sobe."

Frydman sugere que as autoridades reguladoras divulguem regularmente o seu padrão histórico para os preços de ativos. O banco central, por exemplo, divulgaria o que considera o padrão para a cotação do real em relação ao dólar. Mas não se comprometeria a manter a moeda nesse padrão, apenas alertaria o mercado de que se reserva o direito de intervir sempre que a cotação estiver muito fora do padrão. "Quanto mais ela se distanciar, mas arriscado será para o mercado. O BC nunca perde credibilidade, pois ele nunca se compromete em manter uma certa taxa de câmbio." Essa intervenção poderia ser feita comprando ou vendendo dólares ou por meio de medidas administrativas que onerem (ou desonerem) as operações.

"Se acreditarmos que as flutuações são o normal no mercado, e não que os mercados estão sempre em equilíbrio, e se não acreditarmos que, quando o mercado sobe, a única coisa a fazer é rezar para que volte, então teremos a chance de limitar, não de eliminar, mas de limitar as crises."

Apesar dessa extensa acusação a um pensamento econômico que se julgava preciso, científico, Frydman não acredita que os economistas se tornarão menos arrogantes no futuro. "Num fenômeno tão complexo como essa crise, não é fácil atribuir as responsabilidades. Eu ainda não vi o movimento entre meus colegas de que tudo isso tenha de ser reexaminado. Há pessoas, como Phelps, que acham que essa responsabilidade é inequívoca. Mas é muito difícil para os economistas aceitar que a economia não pode afinal dizer o que vai acontecer. É duro. Os economistas tiraram fortes conclusões a partir disso. E economistas têm a tendência de ser muito seguros de si mesmos."

17 outubro 2008

O mercado não é bobo

Em 1986, o onibus especial Challenger explodiu no momento do seu lançamento em Cabo Canaveral. O desastre estava sendo televisionado e, naturalmente, foi repetido a exaustão. No momento que soube da notícia, o mercado acionário reagiu com uma queda nos preços das ações das empresas que tinham algum vínculo com o projeto de construção do ônibus espacial. A redução no preço chegou a 6% para algumas empresas alguns minutos após a tragédia.

Entretanto, as ações as empresas começaram a subir novamente ao final do dia, reduzindo a queda substancialmente. Neste momento, não era possível saber o que tinha provocado o problema no ônibus espacial, que foi conhecido somente meses depois.

A recuperação no preço das ações das empresas envolvidas na construção da Challenger ao final do dia só não ocorreu com as ações de uma empresa chamada Thiokol. Ao final do dia 28 de janeiro, data do incidente, o preço da ação desta empresa era de 12% a menos. No dia seguinte as ações da empresa continuavam num nível reduzido, apesar de não existir nenhuma pista sobre o que tinha ocorrido. Mas o mercado apontava, misteriosamente, para a empresa.

E o mercado estava certo. Com efeito, a comissão encarregada de estudar as causas do acidente, presidida pelo legendário físico Richard Feynman, mostrou que os anéis de vedação da Thiokol não eram resistentes.

O caso da Thiokol foi estudado por dois autores, Maloney e Mulherin, que não conseguiram descobrir a razão da premonição do mercado (Este caso está também relatado no início do livro A Sabedoria das Multidões, de James Surowiecki, p. 27 a 29).

O motivo para lembrar-se deste caso é para dizer algo importante no momento que se discute as mudanças das regras contábeis em razão da crise financeira: o mercado não é bobo. Ao mudar as regras, os órgãos reguladores cederam a pressão de bancos e políticos, mas a mensagem pode ter sido: não confie na contabilidade e nos seus reguladores.

29 outubro 2007

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço

Onde os professores de finanças aplicam seus recursos? A resposta pode ser encontrada na pesquisa "What Really Matters When Buying and Selling Stocks?". Aqui um resumo

Os professores não usam o CAPM, o mercado eficiente e outras abordagens conhecidas, mas trabalham com PE, múltiplo de mercado e abordagens mais tradicionais.

23 outubro 2007

Nova crise?

No aniversário do Black Monday (a segunda-feira que representou a crise da bolsa de 1987), este endereço pergunta se é possível ocorrer novamente.

Se os retornos dos mercados estiverem distribuídos normalmente (ou seja, através da distribuição normal) a resposta seria não. Um queda de 22,6% no mercado norte-americano é um evento de 18 desvios ou uma vez dentro da história do universo.

O problema é que os retornos provavelmente não seguem uma distribuição normal. Já se comprovou que nos extremos a curva da distribuição dos retornos do mercado acionário é mais "gorda" que a curva normal. É o que os especialistas chamam de "fat tail".

01 outubro 2007

Mercado

Mark Carhart era um professor de finanças da University of Southern California, aluno de Eugene Fama, o fundador da teoria do mercado eficiente. (A teoria do mercado eficiente diz que os investidores não podem ganhar consistentemente do mercado). Ele fez uma análise de 1.892 fundos, que foi publicado no Journal of Finance. Depois disto, foi contratado para trabalhar num fundo, que obteve um retorno de 21% em dez anos. Em 2006 o fundo perdeu 9% em razão de apostas no ien e no dólar australiano.

Fonte: Aqui

06 setembro 2007

Uma pesquisa importante

Executivos lucram com informação privilegiada
Ganho na Bolsa é, em média, 3,8% maior que o do investidor comum
Agnaldo Brito
O Estado de São Paulo - 04/09/2007

Diretores e membros dos conselhos de administração de empresas de capital aberto faturam mais que os investidores comuns na venda e na compra de ações de empresas que administram. E o uso de informação privilegiada é apontado como a principal razão para os ganhos adicionais desse grupo, revela uma pesquisa inédita no Brasil feita pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (CEF/FGV), à qual o Estado teve acesso.

Os pesquisadores Willian Eid e Ricardo Rochman analisaram dados sobre as transações feitas por diretores e membros do conselho de administração e descobriram que, na média, esses acionistas ganharam 3,85% mais do que os investidores fora desse círculo. "Parece um porcentual pequeno, mas em transações milionárias isso representa um excepcional ganho", diz Rochman.

O uso de informação privilegiada no mercado de ações - quem faz essa operação é conhecido como insider - é crime com punição prevista na nova Lei das S.A. A pena varia de 1 a 5 anos de prisão. Casos rumorosos ocorridos recentemente no Brasil são alguns dos exemplos de como a prática pode gerar ganhos espetaculares.

Entre os episódios sob investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estão operações suspeitas ocorridas antes da compra da Suzano Petroquímica pela Petrobrás, do Grupo Ipiranga pela Petrobrás, Braskem e Ultra e da tentativa frustrada da Sadia de adquirir a Perdigão.

Segundo o ex-presidente da CVM, Luiz Leonardo Cantidiano, o sistema que fiscaliza esse tipo de prática precisa de atualização. Ele avalia, no entanto, que houve avanços nas regras e nas normas para o mercado de capitais. "O aperfeiçoamento da fiscalização, no momento em que o mercado se tornou mais forte, trouxe ao conhecimento público casos de uso de informação privilegiada."

UNIVERSO

No estudo, foram avaliadas 6.969 operações no período de março de 2001 a janeiro de 2005, feitas por diretores de 44 companhias abertas. A pesquisa observou os valores de compra e venda dos papéis. Apenas nessa amostra, esse grupo ganhou R$ 248,6 milhões a mais do que o grupo de investidores comuns. A evolução do mercado de ações e a valorização dos papéis nos últimos anos pode ter transformado grupos inteiros em milionários.

Segundo os pesquisadores, a amostra revela mais do que sorte ou talento para faturar mais do que o investidor comum. "Seria ingênuo dizer que esses operadores possuem só talento. Há indícios claros de se opera com informações privilegiadas", diz Willian Eid.

A pesquisa também apurou que essas pessoas são investidores muito mais ativos do que os comuns. Vendem e compram os papéis de empresas que representam com muito mais velocidade do que os demais. "Na média, apuramos que eles realizam sete operações diárias de compra ou de venda dos papéis. A freqüência dos investidores comuns é de no máximo uma operação por dia", explica Rochman.

Todas as operações avaliadas pelos pesquisadores da FGV são de empresas do chamado Novo Mercado, uma denominação que em princípio confere à companhia algum nível de governança corporativa. "Uma coisa é dizer que a empresa adota conceitos reconhecidos como de governança. A outra é praticá-la", diz Rochman. O uso de informação privilegiada por acionistas ligadas às empresas é uma das práticas condenadas na governança.


Esta é uma pesquisa importante e mostra que a idéia de inocência no mercado deveria ser repensada. A exigência de divulgação das operações dos executivos com ações das empresas resolveria?

16 agosto 2007

National Geographic e o Mercado

A National Geographic de julho de 2007 trouxe uma reportagem muito interessante sobre a inteligência coletiva. Para quem estuda finanças ou tem conhecimento sobre o mercado eficiente, o comportamento dos animais pode ser uma réplica adequada para o que ocorre no mercado de capitais.

"Uma colonia é capza de resolver problemas inconcebíveis para cada formiga, tal como achar o caminho mais curto para a melhor fonte de comida. Individualmente, as formigas podem ser criaturas estúpidas, mas reunidas em formigueiro reagem ao ambiente com rapidez e eficiência. Ao fazer isso, revelam algo que ficou conhecido de ´inteligência de enxame´"

21 maio 2007

Apple e o poder da internet


Um notícia, falsa, vazou na internet sobre um novo produto da Apple. Falava do atraso no seu lançamento e nas dificuldades que a empresa estava encontrando para fechar seu cronograma no prazo. O gráfico registra a reação do mercado.

Fonte: Data Mining

12 maio 2007

Mercado falha ao combater a poluição

Os cientistas que estudam os efeitos da poluição sobre a terra geralmente propõe de alguma forma ou aumentar o custo da emissão de carbono ou melhorar a atratividade da redução desta emissão.

A razão está no próprio mercado: poluir não tem custo, o que significa que isto desencoraja o uso excessivo de combustíveis.

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