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31 outubro 2025

Indicador Buffett atinge o ponto máximo

Para a maioria das pessoas, comparar o valor de mercado das empresas (market cap) ao PIB de um país costuma ser um erro conceitual: o PIB é uma medida de fluxo (atividade econômica ao longo de um ano), enquanto o valor de mercado é uma medida de estoque (um retrato de todos os papéis multiplicados por seu preço mais recente). [Isso é verdade]

Mas, como em todas as outras disciplinas, depois que se domina verdadeiramente as regras, pode-se quebrá-las. Foi exatamente isso que Warren Buffett fez ao popularizar o “Indicador Buffett” — a razão entre o valor total do mercado acionário dos Estados Unidos e o PIB do país.

Antes considerado pelo próprio investidor que lhe dá nome como “provavelmente a melhor medida única de onde as avaliações estão”, o indicador atingiu nesta semana alarmantes 225% — seu nível mais alto já registrado —, reforçando o coro crescente de analistas de mercado que acreditam que podemos estar prestes a uma correção.


 

Junto ao Indicador Buffett, outras métricas também estão piscando em amarelo ou vermelho. Os investidores estão pagando preços recordes por cada dólar de receita futura do S&P 500, e o mercado está cada vez mais concentrado em um pequeno grupo de gigantes da tecnologia — com oito empresas agora respondendo por cerca de 40% do valor total do índice S&P 500.

Em 2001, Buffett alertou que o indicador se aproximando de 200% significava “brincar com fogo”. No entanto, paralelamente às preocupações válidas, existem razões muito legítimas para ignorar esse alarme em particular. De fato, considerando a globalização dos gigantes corporativos americanos, suas margens operacionais recordes e perspectivas de crescimento futuro, até que ponto deveríamos realmente estar assustados?

Gráficos

 

As palestras do TED deixaram de ter a atenção do público

... assim como da marca Gucci, que teve seu auge no início da pandemia. 


 

A pesquisa no Google sobre o design de uma tatuagem seria indicativo da "moda" na tatuagem? 

Filmes de música estão perdendo público? Parece que sim. 


 

O comparativo de valorização da Nvidia com as outras grandes empresas de tecnologia mostra o avanço rápido daquela. 

Há um efeito Ozempic na taxa de obesidade nos Estados Unidos. 
 

Clima ou saúde?

Sobre uma "nova" posição de Bill Gates sobre o clima: 


Em um longo ensaio hoje, Gates argumenta que algum financiamento de ajuda climática está sendo gasto incorretamente em projetos que tentam reduzir as emissões, mas não fazem nenhuma melhoria tangível na saúde ou nos meios de subsistência das pessoas. E enquanto ele é estridente de que a mudança climática é um “problema sério”, ele está convencido de que “não levará à morte da humanidade”.

Para as pessoas mais pobres do mundo, seus maiores problemas continuarão a ser a pobreza e a doença, não o aquecimento das temperaturas em si (embora o aquecimento exacerbe claramente ambos os problemas). Ele aponta para alguns exemplos em que a busca bem-intencionada de cortes de emissões nos países em desenvolvimento levou a consequências negativas para a saúde e o bem-estar: a proibição de fertilizantes sintéticos elevou os preços das colheitas; a pressão sobre os bancos de desenvolvimento para parar de financiar combustíveis fósseis tornou mais difícil conectar mais pessoas à eletricidade confiável.

A próxima cúpula da COP30 é uma chance de repensar como o grupo extremamente limitado de ajuda externa disponível para fins climáticos é gasto, argumenta Gates. A conclusão mais importante aqui é que ele acredita que os defensores do clima devem se concentrar menos em ser contra os combustíveis fósseis e mais para o bem-estar humano.

Os críticos argumentarão que essas duas posições estão inerentemente ligadas; no lado oposto do espectro político, os partidários do petróleo e do gás poderiam apontar para o ensaio de Gates como prova de que a histeria climática foi equivocada o tempo todo e que o uso de fósseis deve continuar desimpedido.

Em vez disso, acho que devemos seguir a sugestão de Gates de que a obsessão com metas de emissões de longo prazo nem sempre serve ao propósito pretendido, e tem sido motivo de muita reação política contraproducente. Quando chegamos à Amazônia em algumas semanas, talvez seja hora de nos concentrar em como elevar o padrão de vida para a maioria das pessoas no menor tempo, com todas as tecnologias disponíveis, com a menor pegada de carbono viável. 

Fonte: Newsletter Semafor 

Lembramos de uma escolha feita pela Fundação IFRS em tratar da questão ambiental. 

Fala.BR

 

Hoje li uma reportagem sobre uma professora que foi executada em casa, pouco depois de testemunhar em um caso de desvio de verbas de emendas parlamentares. Uma notícia como essa traz muitas emoções, ainda mais em nós, mulheres.

Isso me tocou a compartilhar uma informação que talvez seja pouco conhecida, mas muito importante: a plataforma FalaBR permite denúncias anônimas.

Apesar da Constituição Federal proibir o anonimato, há exceção para a denúncia relacionada a “defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos da administração pública federal”, conforme o Decreto 9.492/2018.

O denunciante só precisa ficar atento, pois precisa incluir requisitos mínimos de autoria e materialidade para que seja investigado, além de denúncias anônimas não oferecerem a opção de acompanhamento do processo, que será sigiloso.

A ferramenta não teria impedido o que aconteceu com aquela professora, até porque ela já era testemunha em um processo em andamento, mas as emoções derivadas da notícia me fizeram sentir a necessidade de divulgar essas informações.

Melhores cursos, segundo o Guia da Faculdade


 Do Estado de S. Paulo de hoje. E os cursos não presenciais:


 

28 outubro 2025

Novas pesquisas, sobre fatos velhos, reescreve a história


Eis que interessante:

Duas doenças inesperadas contribuíram para a queda do exército liderado pelo imperador francês Napoleão I em 1812. Pesquisas anteriores, que analisaram DNA de restos mortais de soldados, haviam encontrado evidências de infecção por Rickettsia prowazekii, causadora do tifo, e Bartonella quintana, responsável pela febre das trincheiras — duas doenças comuns na época.

Em uma nova análise, porém, os pesquisadores não encontraram vestígios desses patógenos. Em vez disso, o DNA extraído dos dentes dos soldados mostrou evidências de infecção por Salmonella enterica e Borrelia recurrentis, patógenos que causam, respectivamente, paratifoide e febre recorrente.

Os resultados mostram que a queda do exército não foi causada por “uma única epidemia”, afirma o paleogenomicista e coautor do estudo, Nicolás Rascovan.

 (Newsletter da Nature)

Para salvar a natureza, aprenda com o Brasil


A revista The Economist é muito influente, não apenas pelo fato de ter sido fundada no século XIX, mas também pela clareza e lucidez com que aborda assuntos complexos (não estou dizendo que seja um periódico perfeito, mas é, sem dúvida, uma grande referência).

No editorial de 23 de outubro, há um artigo com a seguinte ideia: aprender com o Brasil para salvar as florestas tropicais. Mas é importante notar que o aprendizado não vem apenas dos acertos, mas também das falhas. A premissa do texto é que o custo social da derrubada de uma área da Amazônia é muito maior do que os benefícios que ela proporciona.

Em diversos momentos, as políticas públicas — que incluem fiscalização, monitoramento e incentivos à conservação — resultaram em redução do desmatamento. Nesse sentido, o modelo brasileiro, que depende de vontade política, pode ser adaptado para outros países.

 

25 outubro 2025

E o acusador paga a conta do advogado do acusado


O website Frank foi lançado em 2016 por Charlie Javice, então com 24 anos, e tinha como objetivo ajudar estudantes no preenchimento de um formulário federal chamado FAFSA. Além disso, prometia reduzir a dívida estudantil. Javice chegou a ser destaque na lista Forbes 30 Under 30.

Em setembro de 2021, o gigante JP Morgan Chase comprou a empresa por 175 milhões de dólares. Um ano depois, em dezembro de 2022, a instituição financeira descobriu que os vendedores haviam declarado possuir 14 vezes mais clientes do que realmente utilizavam o site: Javice afirmava que a Frank tinha 4,25 milhões de usuários, mas o número real seria inferior a 300 mil. Em abril de 2023, o JPMorgan acusou Javice e outros executivos de fraude e conspiração. Em março de 2025 saiu a decisão, com Javice sendo condenada a 85 meses de prisão.

Agora a parte curiosa do caso: no contrato de compra da Frank, uma cláusula estabelecia que o JPMorgan seria responsável pelos honorários legais de Javice. E ela parece ter se aproveitado disso, já que o banco desembolsou mais de 115 milhões em honorários advocatícios. O JPMorgan agora pede que a obrigação de continuar pagando seja encerrada, por considerar os valores excessivos. Em um documento, há a acusação de que Javice contratou cinco escritórios de advocacia diferentes para sua defesa. 

A história parece um caso onde um gigante financeiro foi enganado por uma pessoa, de forma grotesca. Onde estava a governança do JPMorgan na aquisição? 

Antes postamos aqui sobre o caso

Um novo canal do Panamá? De Ilhéus a Chancay, Peru

Aqui o ponto mais importante


Em resposta à nova política do governo Trump de reafirmar o controle sobre o Canal do Panamá, a China e o Brasil estão explorando a possibilidade de construir uma ferrovia transcontinental para fornecer uma alternativa vantajosa ao Canal do Panamá. O sistema ferroviário proposto seria potencialmente executado a partir da costa atlântica do Brasil, talvez Ilhéus, Bahia, para a costa do Pacífico do Peru em Chancay
(foto).

Há muitos desafios, que inclui passar pela floresta Amazônica e pelos Andes. Mas teria uma economia de 10 a 12 dias, em comparação com o Canal do Panamá. 

Contabilização do Ativo Ambiental do Estado

Fonte da imagem: ChatGPT

A professora doutora Juliana Molina Queiroz, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), submeteu o projeto “Contabilização do Ativo Ambiental do Estado” para apreciação na COP30. A proposta faz parte do Laboratório de Modelagem de Sistemas Contábeis (LMSC), do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis (PPGCC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A proposta está disponível aqui e busca fortalecer a pauta da contabilidade ambiental e do PIB Verde, conectando a mensuração do patrimônio natural aos instrumentos de transparência e sustentabilidade no setor público.

Destacamos: “A proposta tem alto potencial de mobilização, porque envolve diretamente governos, comunidades tradicionais, universidades e organizações da sociedade civil na construção de políticas ambientais baseadas em transparência e participação. Ao reconhecer a biodiversidade como ativo ambiental público, cria um instrumento concreto de engajamento social, fortalecendo a corresponsabilidade na preservação e no uso sustentável do território. Acredita-se que, enquanto neste sistema, é necessário que desenvolvamos caminhos possíveis com o desenvolvimento de instrumentos de gestão e políticas públicas. Por exemplo, pode promover inclusão social ao valorizar o papel de comunidades tradicionais e populações vulneráveis na preservação ambiental, reconhecendo seus territórios e saberes na gestão pública. Reconhecer contabilmente o ativo ambiental pode permitir uma gestão sustentável em prol da preservação, manutenção e recuperação do meio ambiente, com mais justiça ambiental e social e menos filantropia.”

O projeto precisa estar entre os cinco mais votados do eixo para avançar à próxima fase.

Quem quiser apoiar precisa fazer login com o acesso GOV e clicar em Votar/Apoiar: https://brasilparticipativo.presidencia.gov.br/processes/cop30/f/1346/proposals/67642

Agradecemos ao colega Alexsandro por repassar a solicitação da professora Juliana.

 

24 outubro 2025

Netflix, impostos e Brasil


A gigante de streaming Netflix anunciou na terça-feira, 21, os resultados financeiros do terceiro trimestre de 2025, com margem operacional abaixo do esperado devido a uma disputa tributária no Brasil, de US$ 619 milhões. A justificativa fez as ações da companhia caírem 7,5% na terça e 5,54% na quarta-feira, 22.

(...) quando uma empresa no Brasil remete valores para uma empresa no exterior a título de serviços, existia uma dúvida se ela deveria ou não pagar a Cide. A contribuição é de 10% sobre a remessa quando existe transferência de tecnologia.

No caso da Netflix, não existia transferência de tecnologia. Ela pagava os serviços para a matriz como custo do serviço para manter as assinaturas no Brasil. Então não havia transferência de tecnologia nem pagamento de 10% de Cide.

“Esse foi um entendimento de tribunais inferiores em 2022, quando a Netflix foi questionada a respeito disso.” Em agosto, no entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou um caso parecido e entendeu que a Cide Tecnologia deve ser paga mesmo quando não envolver transferência de tecnologia. Ou seja, a Netflix teria de pagar os 10%.

fonte aqui 

Regras são regras?

Regras são criadas para serem cumpridas. Pelo menos, não é isso que o governo parece demonstrar. Há normas estabelecidas justamente para garantir maior qualidade no gasto público. Em outras palavras, não se pode gastar o que não se tem, sob pena de comprometer gerações futuras e expor a irresponsabilidade dos governantes. Regras são regras.

A situação se torna ainda mais delicada em um ano eleitoral, quando surge a tentação de realizar gastos inadequados para sustentar o poder. Dois exemplos recentes indicam que esse risco está presente.

O primeiro diz respeito à norma que determina que, em caso de déficit em 2025, o governo federal estaria proibido de ampliar despesas com pessoal e encargos até que se registre superávit. No entanto, a proposta orçamentária para o próximo ano prevê um aumento nominal de 10,1%, o que representa cerca de 4% de reajuste real, descontada a inflação. Ou seja, em desacordo com a regra.

O segundo caso envolve a tentativa de socorrer os Correios. Para viabilizar um empréstimo de 20 bilhões de reais, o governo estaria contando com bancos públicos. Contudo, a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe operações de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a controla.

fonte: Weterman, Daniel. Governo quer afastar regra do arcabouço para aumentar gastos com pessoal e isenções em ano eleitoral. Estado de S Paulo, 22/10/2025; Gabriel, Alvaro e Weterman, Daniel. Bancos públicos podem emprestar aos Correios? Operação levanta dúvidas entre especialistas; entenda. Estado de S Paulo, 23/10/2025
 

 

Os Auditores do PCC


Um investigação da Polícia Civil de São Paulo prendeu suspeitos de integrarem a estrutura do Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre os presos estariam dez "auditores", um dos cargos mais altos na hierarquia da entidade criminosa. Como é praxe, a operação recebeu uma denominação, que no caso foi batizada de "Auditoria". Na estrutura da entidade, os auditores seriam coordenadores de pontos de tráfico, sendo responsáveis pela fiscalização interna das atividades do grupo vinculado ao tráfico de entorpecentes. Os auditores seriam superiores aos traficantes, que fazem venda direta, e dos que abastecem o ponto. 

Fonte: Gonçalo Junior, RH do PCC tem auditores do tráfico e dá licença médica. Estado de S Paulo, 22 de outubro.  Foto: aqui

Sarkozy irá cumprir pena de cinco anos por corrupção e tráfico de influência


Ainda sobre políticos e justiça: Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França, tornou-se o primeiro ex-chefe de Estado do país a ser preso desde a Segunda Guerra Mundial. A decisão decorre de condenações por corrupção e tráfico de influência, após acusações de que tentou obter informações sigilosas de um juiz em troca de favores. O caso é considerado histórico e marca um momento de forte impacto político e jurídico na França, levantando debates sobre integridade das instituições e responsabilidade de ex-líderes. A prisão de Sarkozy simboliza um endurecimento da Justiça francesa em relação a figuras políticas de alto escalão. 

Bom lembrar que processos de corrupção geralmente envolvem fluxos de recursos ocultos, uso inadequado de fundos e tentativa de mascarar transações em documentos oficiais. A contabilidade, e suas técnicas, pode rastrear operações, garantir transparência e identificar inconsistências que servem de prova em tais processos. 

Quando a "justiça" lenta pode ser uma vantagem


Eis um caso onde uma justiça lenta pode ser "interessante":

O presidente Donald Trump entrou com uma ação contra o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, exigindo o pagamento de 230 milhões de dólares como ressarcimento. Ele alega que as investigações e processos movidos contra ele foram motivados por razões políticas e causaram danos substanciais à sua imagem e negócios. O pedido aconteceu em meio à sua campanha para retornar à presidência. 

E ele venceu a eleição e nomeou seus ex-advogados como funcionários, que agora tem o poder de liberar o pagamento. Se você acredita que exista um problema ético aqui, uma justiça lenta pode ser interessante para o bem das finanças públicas. 

Fonte da notícia: NYT, Trump exige que o Departamento de Justiça lhe pague US$230 milhões. Publicado O Estado de S Paulo, 22 de outubro de 2025. Imagem aqui

Padrão contábil para o terceiro setor


Já tínhamos publicado sobre o desenvolvimento de um conjunto de padrões contábeis para entidades do terceiro setor. A International Non-Profit Reporting Foundation (INPRF) acaba de divulgar o primeiro padrão abrangente de relatórios financeiros para organizações sem fins lucrativos em todo o mundo, denominado International Non-Profit Accounting Standard (INPAS).

Baseado na norma para Pequenas e Médias Empresas da Fundação IFRS, o novo padrão pretende atender às organizações sem fins lucrativos, incluindo regras sobre reconhecimento de doações, fundos restritos, subvenções e outros tópicos. É importante destacar que, atualmente, a Fundação IFRS não cobre assuntos relacionados a entidades do terceiro setor.

No Brasil, há muito tempo o Conselho Federal de Contabilidade assumiu a função de tratar desse tema. Talvez fosse interessante, neste momento, que o CFC ajustasse seus documentos a essa norma internacional, ajudando a dar legitimidade ao esforço de criação do INPAS.

Anteriormente postamos aqui e aqui

23 outubro 2025

Uma nova medida para contabilizar as emissões de CO2


Um consórcio global liderado por BlackRock (GIP), Santander e ExxonMobil anunciou a criação da iniciativa Carbon Measures, voltada a estabelecer um novo modelo de contabilidade de emissões de CO₂. O objetivo é elaborar um padrão que acabe com a dupla contabilização das emissões e permita calcular a intensidade de carbono por produto (como aço, cimento ou combustíveis) ao longo de cadeias de suprimentos. Segundo o grupo, o sistema atual — baseado no Greenhouse Gas Protocol — facilita que múltiplas empresas reivindiquem redução da mesma tonelada de CO₂. 

Você pode encontrar mais detalhes da iniciativa aqui e aqui 

22 outubro 2025

Nomes dos novos contadores

A partir da relação dos nomes dos aprovados no Exame de Suficiência, solicitei ao GPT que elaborasse a relação dos primeiros nomes mais populares. Eis o resultado:


Parabéns para as Anas, Marias, Gabrieis e muitos outros. Nessa relação há 4 "César" e 9 "Isabel".

Blockchain e smarts contrats para ajudar a reduzir a corrupção na Bolívia


O novo governo da Bolívia já anunciou que irá adotar a tecnologia blockchain, juntamente com os smart contracts, para combater a corrupção. A ideia é que as licitações e compras governamentais sejam registradas em blockchain, usando contratos inteligentes que executam automaticamente as regras acordadas. Isso reduziria a possibilidade de interferências, manipulações ou decisões arbitrárias. Em uma licitação pública, cada etapa ficaria registrada de forma pública e imutável na rede, permitindo maior controle.

A medida parece promissora na capacidade de ajudar no combate à corrupção, dada a transparência, a rastreabilidade, a redução de intermediários e a possibilidade de fiscalização por qualquer cidadão. Mas, se realmente funciona, por que não foi adotada em larga escala em outros países?

Há experiências em andamento, mas os casos de sucesso indicam que a eficácia da medida depende de vários fatores. Em primeiro lugar, há o custo de implementação e a necessidade de infraestrutura, incluindo profissionais capazes de utilizar a tecnologia. Em segundo lugar, os exemplos positivos surgem em sociedades onde já existe uma cultura de digitalização e de processos confiáveis. Em terceiro lugar, a corrupção pode ocorrer antes mesmo da informação entrar no sistema. É verdade que o uso de blockchain pode reduzir o volume da corrupção, mas, se houver problemas já na fase de licitação, o contrato decorrente continuará comprometido. Em quarto lugar, aqueles que se beneficiam da corrupção tendem a resistir ao processo, o que pode incluir a criação de entraves burocráticos, a má vontade em aprovar recursos para o projeto, entre outras barreiras.

Túnel no Estreito de Bering

Não foi proposital, mas novamente voltamos com uma postagem sobre comércio internacional. Anteriormente, falamos de uma nova rota da China para a Europa e, antes, do caso do Canal de Suez. Agora, encontro uma proposta de construção de um túnel sob o Estreito de Bering, aquele que separa a América — mais especificamente o Alasca — da Ásia, isto é, da Rússia. Há até um verbete na wikipedia.


Há diversos aspectos que apontam para a inviabilidade do projeto, desde o elevado custo até as condições geográficas e a baixa viabilidade econômica. É difícil imaginar um grande volume de cargas e pessoas circulando entre o Alasca e a Rússia.

E, como em todo projeto polêmico, a questão do custo é um jogo de números. Há previsões que variam entre 35 bilhões e 250 bilhões de dólares, segundo informações de um site dedicado ao projeto. As estimativas deveriam incluir não somente o túnel, mas também as ferrovias e a infraestrutura associada. Com essa inclusão, provavelmente trata-se de um projeto acima de cem bilhões de dólares. Mas haveria carga a transportar que compensasse o investimento? Provavelmente não.

Liberdade de expressão e IA no mundo

Eis o resumo:

A inteligência artificial (IA) generativa transformou a forma como as pessoas acessam informações e produzem conteúdo, levando-nos a questionar se os atuais marcos regulatórios ainda são adequados. Menos de três anos após o lançamento do ChatGPT, centenas de milhões de usuários já dependem de modelos da OpenAI e de outras empresas para aprender, se entreter e trabalhar. Em meio a tensões políticas e reações públicas, surgiram debates acalorados sobre que tipos de conteúdo gerado por IA devem ser considerados aceitáveis. A capacidade da IA generativa tanto de ampliar quanto de restringir a expressão a torna central para o futuro das sociedades democráticas.

Isso levanta questões urgentes: as leis nacionais e as práticas corporativas que regulam a IA protegem a liberdade de expressão ou a limitam? Nosso relatório — “Isso Viola Minhas Políticas”: Leis de IA, Chatbots e o Futuro da Expressão — aborda essa questão ao avaliar legislações e políticas públicas em seis jurisdições (Estados Unidos, União Europeia, China, Índia, Brasil e República da Coreia) e as práticas corporativas de oito grandes empresas de IA (Alibaba, Anthropic, DeepSeek, Google, Meta, Mistral AI, OpenAI e xAI). Em conjunto, esses sistemas públicos e privados de governança definem as condições sob as quais a IA generativa molda a liberdade de expressão e o acesso à informação em escala global.

Este relatório representa um passo em direção a repensar como a governança da IA influencia a liberdade de expressão, tomando como referência o direito internacional dos direitos humanos. Em vez de aceitar regras vagas ou sistemas opacos como inevitáveis, legisladores e desenvolvedores podem adotar padrões claros de necessidade, proporcionalidade e transparência. Dessa forma, tanto a legislação quanto as práticas corporativas podem contribuir para que a IA generativa proteja o pluralismo e a autonomia dos usuários, ao mesmo tempo em que reforça as bases democráticas da liberdade de expressão e do acesso à informação.


 Eis o relato do Brasil:

O Brasil ficou em terceiro lugar, com um desempenho robusto. O arcabouço jurídico e institucional do país é marcado por fortes proteções constitucionais à liberdade de expressão, embora casos recentes revelem uma tendência a uma regulação mais intervencionista em resposta a danos online (reais ou percebidos). As perspectivas futuras dependem em grande parte de um novo projeto de lei sobre IA atualmente em discussão. Embora o projeto incorpore a liberdade de expressão e o pluralismo como princípios orientadores, também tem sido criticado por suas definições vagas e pelos potenciais efeitos inibidores sobre a liberdade de expressão. 

Rir é o melhor remédio


 Do Estado de S. Paulo de outubro de 2025. 

21 outubro 2025

O Nobel de Economia foi justo?

O controverso Nobel do ano passado parece que tem companhia. Isso se depender do ponto de vista do estatístico Gelman. Analisando os dados do artigo de 2005, denominado Competition and Innovation: An Inverted-U Relationship, de dois dos autores que recentemente receberam o Nobel em Economia de 2025, a conclusão não é boa. 


O texto original afirma existir uma relação entre concorrência de mercado e inovação, onde deveria ter um U invertido entre intensidade competitiva e inovação, sugerindo que até certo ponto a concorrência estimula a inovação.

Há várias questões metodológicas, como o uso de regressão de Poisson sobre dados que não são estritamente contagens. Na pesquisa original há 354 observações de 17 setores, entre 1973 e 1994. 

Eis o texto final de Gelman: 

Vendo por esse lado, toda a minha análise estatística com as transformações, as curvas quadráticas e a função de articulação foi uma perda de tempo, já que estou apenas fazendo uma análise sofisticada de dados ruins (ou, pelo menos, irrelevantes). Mas… resumir a informação estatística ainda tem valor em si. Minha análise levou apenas algumas horas, uma fração do tempo que os autores devem ter gasto preparando, analisando e interpretando seus dados. Acho importante, ao fazer análise estatística, dar o nosso melhor, neste caso levando em conta todas essas fontes de variação e incerteza.

Ou, colocando de outra forma, sim, teria sido aceitável descartar completamente os resultados publicados, dado os problemas com os dados. Mas alguns desses problemas só se tornaram aparentes depois que fiz aqueles gráficos mostrando as séries temporais de cada setor. Nesse ponto, todo o ajuste pode até ter sido uma perda de tempo — mas só pensei em fazer os gráficos porque estava tentando entender a adequação que parecia estranha.

IA afetando o mercado de trabalho: cartas de apresentação

Como a IA está influenciando o mercado de trabalho, mas não da forma como você está pensando:

Nós estudamos como a inteligência artificial generativa afeta o sinal transmitido no mercado de trabalho, analisando a introdução de uma ferramenta de redação de cartas de apresentação com IA na plataforma Freelancer.com. Nossos dados acompanham tanto o acesso à ferramenta quanto o uso em nível de candidatura. As estimativas de diferença-em-diferenças mostram que o acesso à ferramenta de IA aumentou o alinhamento textual entre cartas de apresentação e anúncios de vagas — o que chamamos de personalização da carta de apresentação — e elevou as chances de retorno das empresas. Trabalhadores com habilidades de escrita mais fracas antes da IA apresentaram maiores melhorias nas cartas, indicando que a IA funciona como substituto das próprias competências desses trabalhadores. Embora apenas uma minoria das candidaturas tenha usado a ferramenta, a correlação geral entre personalização da carta e retornos caiu em 51%, o que implica que as cartas de apresentação se tornaram sinais menos informativos da habilidade do trabalhador na era da IA. Os empregadores, por sua vez, passaram a se apoiar em sinais alternativos, como avaliações anteriores dos trabalhadores, que se tornaram mais preditivas para a contratação. Por fim, dentro do grupo tratado, observou-se que maior tempo gasto editando os rascunhos produzidos pela IA esteve associado a um maior sucesso em contratações. 

50 Cent ou melhor 109 Cent

Curtis James Jackson III é mais conhecido pelo nome artístico de 50 Cent. É um rapper, compositor, ator, diretor e empresário. O seu álbum Get Rich or Die Tryin' vendeu 13 milhões de cópias no mundo. Conforme a Wikipedia, o nome faz referência a um assaltante do Brooklyn, também conhecido como "50 Cent". O músico escolheu o nome "porque ele diz tudo que eu quero dizer. Eu sou o mesmo tipo de pessoa que 50 Cent foi." 

Mas achei interessante o gráfico abaixo, mostrando a evolução de 50 Cent ao longo do tempo:


O ano de 1995 foi quando ele escolheu seu nome artístico. Se em 1995 ele valia 50 Cent, agora, em 2025, ele vale 109 Cent, se fosse corrigido pela inflação. Ou, de outra maneira, aquele 50 Cent de 1995 teria um poder de compra hoje de 23 centavos. 

Uma nova rota da China para Europa

Há uma relação entre essa postagem e a anterior, sobre o Canal de Suez. Mas na anterior, falamos sobre o impacto da redução do trânsito de navios pelo Canal sobre as finanças públicas do governo do Egito. A principal razão é a questão da segurança dos navios.

Em busca de alternativas, a China está inaugurando uma nova rota marítima, usando o Ártico. Isso permite reduzir o tempo de viagem de um navio de carga, de 30 dias para 18 dias. E traz o ganho da segurança da rota, que não há guerras nem piratas. 

O trajeto é realizado pela empresa Haijie Shipping, partindo de Ningbo-Zhoushan, cruzando o Estreito de Bering, seguindo a costa norte da Rússia até portos como Hamburgo, Roterdã e Gdansk.

A seguir um mapa simplificado da nova rota (de preto) e a anterior (de vermelho):


 

Quando Segurança Vira Receita: O Caso do Canal de Suez


Eis aqui um exemplo de como o gasto em segurança pode ter efeitos diretos sobre as finanças públicas — e estamos falando especificamente das receitas. Normalmente associamos esse tipo de gasto apenas à despesa, uma saída de caixa que reduz os recursos disponíveis para outras atividades. Entretanto, a segurança pública pode também se revelar uma importante fonte de receita.

O Canal de Suez foi criado para encurtar a rota comercial entre países, servindo como um atalho para navios que iam da Europa para a Ásia e vice-versa. Sua construção foi épica e trouxe enormes benefícios ao comércio mundial. A alternativa disponível até hoje é contornar o continente africano, o que implica uma viagem mais longa e custosa.

Cada navio que cruza o canal paga uma taxa pelo seu uso. Essa cobrança se tornou uma relevante fonte de recursos — no passado para a empresa responsável pela obra e, nas últimas décadas, para o governo do Egito. Contudo, tensões regionais recentes aumentaram os riscos de utilizar o canal. A guerra em Gaza e os problemas no Golfo de Adem, incluindo ataques de piratas e terroristas, reduziram substancialmente a quantidade de navios que o atravessam. Segundo autoridades egípcias, antes, em média, 72 navios de grande porte passavam pelo canal diariamente; hoje esse número caiu para cerca de um terço, entre 25 e 30.

A menor movimentação implica queda na arrecadação das taxas de passagem, afetando diretamente as receitas do governo egípcio. Estima-se que as perdas tenham alcançado nove bilhões de dólares em apenas um ano devido à insegurança no Mar Vermelho. É claro que o aumento de custos também atinge o consumidor final dos produtos transportados, mas, para este, há alternativas possíveis. Já para o governo do Egito, a redução do tráfego no canal representa uma perda praticamente insubstituível.

Celular na escola

 


As pesquisas do NBER são, usualmente, de boa qualidade. Eis um novo estudo:

As proibições do uso de celulares nas escolas tornaram-se uma política popular nos últimos anos nos Estados Unidos, mas ainda se sabe muito pouco sobre seus efeitos nos resultados dos alunos. Neste estudo, buscamos preencher essa lacuna examinando os efeitos causais das proibições sobre as notas em testes, suspensões e faltas dos estudantes, utilizando dados detalhados em nível individual da Flórida e uma estratégia de pesquisa quase experimental baseada nas diferenças no uso de celulares antes da proibição, conforme medido pelos dados da Advan em nível de escola. Vários achados importantes surgem. Primeiro, mostramos que a aplicação das proibições ao uso de celulares nas escolas levou a um aumento significativo nas suspensões de alunos no curto prazo, especialmente entre estudantes negros, mas as ações disciplinares começaram a diminuir após o primeiro ano, sugerindo potencialmente um novo estado de equilíbrio após um período inicial de adaptação. Segundo, constatamos melhorias significativas nas notas dos alunos no segundo ano da proibição, depois desse período de ajuste inicial. Terceiro, os resultados sugerem que as proibições de celulares nas escolas reduzem significativamente as faltas injustificadas dos alunos, um efeito que pode explicar grande parte dos ganhos nas notas. Os efeitos das proibições de celulares são mais pronunciados no ensino fundamental II e no ensino médio, onde a posse de smartphones pelos estudantes é mais comum.

The Impact of Cellphone Bans in Schools on Student Outcomes: Evidence from Florida -- by David N. Figlio, Umut Özek . Imagem aqui

 

20 outubro 2025

AICPA quer que a Contabilidade seja STEM


Em muitos países, ser considerado parte da ciência STEM (abreviação de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) confere um status especial. Muitos acreditam que um país avança em termos de desenvolvimento ao privilegiar esse ramo do conhecimento. Eis o que diz a Wikipedia:

“Representa um amplo e interligado conjunto de campos que são cruciais para a inovação e o avanço tecnológico. Essas disciplinas são frequentemente agrupadas porque compartilham uma ênfase comum no pensamento crítico, na resolução de problemas e nas habilidades analíticas.”

Voltemos agora à contabilidade. Sempre houve o cuidado de afirmar que ela não é uma ciência exata. Apesar de parte de sua trajetória estar vinculada à matemática, trata-se de uma ciência social aplicada.

Pois agora a entidade que reúne os profissionais certificados dos Estados Unidos está pressionando para que essa “ciência social aplicada” seja reconhecida como parte dos programas de Educação em STEM pelo governo norte-americano. A partir de uma pesquisa conduzida pela AICPA, constatou-se que mais pessoas estariam inclinadas a cursar contabilidade se houvesse o selo STEM.

Isso faz sentido para você?  

19 outubro 2025

Quando o Remédio é Pior que a Doença: Reflexões sobre DPAs, Passivos e o Caso Arthur Andersen


Muitas vezes, quando uma empresa comete alguma irregularidade, a consequência é a criação de um passivo. Um desastre ambiental, uma falha em um produto não corrigida a tempo ou a conduta inadequada de um funcionário não coibida são exemplos dessas situações. Em vários casos, o valor do passivo pode ser tão elevado que compromete a continuidade da empresa.

Nessas circunstâncias, é importante que o governo avalie se realmente compensa punir a empresa. A punição pode, de fato, ter um efeito pedagógico, inibindo que outras companhias repitam a mesma conduta. No entanto, as consequências podem ser tão severas que acabam gerando efeitos indesejados a longo prazo.

Na contabilidade, um caso bastante conhecido é o da empresa de auditoria Arthur Andersen. No final dos anos 1990, a companhia cometeu diversos erros, incluindo a assinatura de balanços de empresas em situação questionável. Quando os órgãos de fiscalização passaram a investigar mais de perto, a direção da Arthur Andersen ordenou a destruição de provas, chegando a picotar papéis e jogá-los pela janela. Como resultado, a empresa foi obrigada a encerrar suas atividades. Porém, olhando para o mercado de auditoria, percebe-se que quatro grandes empresas são poucas para atender à demanda global. Assim, a punição “exemplar” acabou sendo prejudicial para o setor em todo o mundo.

Se a redução de cinco para quatro grandes empresas de auditoria já trouxe dificuldades, é fácil imaginar os impactos que teria a falência de mais uma delas, mesmo diante de abusos graves, como trapacear em exames de ética profissional, revelar segredos do governo para obter vantagens competitivas, contratar ex-fiscais públicos ou prestar serviços de baixa qualidade. Por mais grave que seja a infração, o fechamento de uma Big Four poderia ser um remédio pior do que a doença.

Foi para lidar com esse tipo de dilema que alguns países criaram instrumentos como o acordo de acusação diferida (DPA, na sigla em inglês) e o acordo de não acusação (NPA). Em vez de simplesmente punir o acusado, o promotor concorda em suavizar a pena em troca do cumprimento de determinadas condições. Se a empresa cometeu fraude, por exemplo, pode ser obrigada a pagar multas, implementar reformas internas ou cooperar com investigações. Vale destacar que tais instrumentos existem em países com sistemas de justiça consolidados, como o Canadá.

Recentemente, o programa Last Week Tonight, apresentado por John Oliver, na temporada 12, episódio 19, em agosto de 2025, trouxe diversos exemplos do uso do DPA. O programa alertou para os excessos, citando o caso da Boeing, que firmou um acordo após o acidente com o avião 737 MAX em 2021. O problema apontado foi que a empresa não estaria cumprindo as obrigações assumidas, levantando a possibilidade de novos acordos. Outras companhias também já se beneficiaram desse tipo de instrumento, como o JP Morgan (fraude), a SAP (suborno) e a General Motors (defeito de fabricação).

Do ponto de vista contábil, acordos como esse afetam diretamente a mensuração do passivo, geralmente reduzindo seu valor. Em outros países, a redução da punição pode ocorrer durante o processo judicial. Isso pode, aparentemente, estimular a corrupção, mas, na prática, gera desafios contábeis. Um exemplo: se a empresa já havia registrado um passivo superestimado antes do acordo, a assinatura pode gerar um ganho extraordinário no resultado. Outro cenário: se a companhia espera firmar um acordo e isso não acontece, pode parecer que ocorreu mais um erro — o de não reconhecer ou mensurar adequadamente o passivo.

No Brasil, embora não exista um instrumento idêntico ao DPA, há mecanismos jurídicos semelhantes. O acordo de leniência, firmado por órgãos públicos como a CGU e o Cade, busca estimular a cooperação empresarial. A colaboração premiada, voltada para pessoas físicas, também permite reduzir punições em troca de informações relevantes. Já o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) procura resolver questões de interesse público, como disputas trabalhistas ou ambientais.

Em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre a empresa Camargo Corrêa, o economista Cláudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B, destacou que a desorganização do setor de engenharia nacional não foi consequência direta da Operação Lava Jato. Segundo ele:

“É incorreto dizer isso. O fato é que a nossa legislação dificulta a separação entre o controlador/acionista e a companhia em questão. O certo era o acionista ser afastado e a empresa continuar operando com todos os seus ativos.”

Frischtak sugeriu que as ações da empresa fossem colocadas em uma escrow account (conta intermediária, mantida por agente de custódia) para indenizar os danos. Ele ressaltou que a lei deveria permitir essa separação, de modo a não penalizar a companhia em si, que poderia continuar operando. O problema reputacional, afirma, é fruto da conduta do controlador e de alguns gestores:

“Todos teriam de ser afastados, e deveria ser definida uma nova estrutura de gestão e governança. Isso teria evitado a desintegração do setor que vimos.”

18 outubro 2025

1800: Virada Mundial e Atraso Brasileiro


O início do século XIX marca um ponto de inflexão fundamental na história econômica e social. Como destaca Morong, autores como Robert Fogel, Francis Fukuyama e Deirdre McCloskey identificam nesse período a ruptura com a estagnação malthusiana e a consolidação de novas formas de organização política e econômica. Foi nesse momento que a Revolução Industrial começou a transformar a produção, garantindo uma abundância inédita, e que uma nova dignidade atribuída à inovação e à classe empreendedora impulsionou o crescimento econômico moderno.

No Brasil, entretanto, é lamentável constatar que nesse mesmo período mantivemos a opção pela monarquia, o que impediu uma evolução substancial da economia nacional. A corte foi sustentada à custa da riqueza extraída das províncias, como demonstra Jorge Caldeira em História da Riqueza no Brasil. Foi uma escolha que comprometeu nosso desenvolvimento. Uma postagem recente sobre a contabilidade desse momento pode ser encontrada no blog aqui.

Caricatura aqui 

Tributação e a contribuição da pesquisa contábil

Em tempos de reforma tributária, o texto a seguir pode servir de base para pesquisas futuras:

A tributação é uma ferramenta central da política econômica, com os governos utilizando cada vez mais a política fiscal tanto para estimular o crescimento econômico local quanto para regular empresas multinacionais. Revisamos a literatura empírica que estuda o efeito das políticas tributárias sobre o investimento, o emprego e outros resultados reais das empresas. Com base na teoria neoclássica dos impostos corporativos e do investimento em ativos tangíveis, propomos uma estrutura organizadora para nossa revisão que abrange o amplo conjunto de políticas tributárias e respostas empresariais examinadas na pesquisa contábil. Essa estrutura destaca quatro dimensões nas quais os estudiosos da contabilidade contribuem para a literatura: (i) documentar o papel dos incentivos de reporte financeiro como fator moderador das respostas reais das empresas; (ii) estudar as respostas de reporte em comparação às respostas reais; (iii) quantificar os efeitos reais das regulações sobre divulgação fiscal; e (iv) aprimorar a mensuração da condição tributária das empresas e das variáveis substitutas de investimento e emprego. Identificamos questões em aberto para pesquisas futuras e sugerimos novos contextos internacionais, federais e locais que possam ajudar a revelar os mecanismos subjacentes que impulsionam os fenômenos econômicos observados. Especificamente, incentivamos os pesquisadores a distinguir melhor entre as respostas reportadas e reais das empresas às mudanças tributárias e a aprimorar a mensuração desses resultados, especialmente em contextos relacionados à tributação ambiental ou em cenários nos quais a evasão fiscal e os resultados reais estejam estreitamente ligados.

Rir é o melhor remédio

Um empregado de um escritório resolveu escrever uma mensagem de Whatsapp para seu chefe, tentando conseguir, sutilmente, um aumento. A mensagem era a seguinte: 

Caro Bo$$

Na vida, todo$ nó$ preci$amo$ de alguma$ coisa$ com mai$ de$e$pero.

Acho que o $enhor deve$ compreender a$ necessidade$ de nó$ empregado$ que te$temo$ dado tanto $uporte, inclu$ive com muito $uor e $erviço para a firma.

Tenho certeza que o $enhor vai adivinhar o que quero dizer e re$ponder em breve.

Algumas horas depois, ele recebeu uma mensagem no seu celular: 

Caro,

Eu sei que você tem trabalhado bastante.

Mas NÃO é segredo que a firma NÃO anda tão bem ultimamente.

Você deve ter percebido que NÃO houve melhora nas finanças, e NÃO seria honesto prometer aumentos agora.

Os jornais dizem que a economia NÃO está estável e que NÃO se sabe se vem outra crise por aí.

Depois das eleições, talvez as coisas NÃO melhorem de imediato.

Por enquanto, NÃO tenho mais nada a acrescentar.

Acho que você já entendeu o que quero dizer.

Atenciosamente,

Adaptado daqui

17 outubro 2025

Veículo Elétrico e a depreciação


Quando surge uma nova tecnologia, a contabilidade precisa de algumas informações básicas para reconhecer e mensurar. De tempos em tempos, algo novo acontece no mundo das empresas e a contabilidade se vê diante do desafio de atribuir um valor a um ativo ou passivo. Mesmo situações já conhecidas podem desafiar o profissional em razão de um novo fato, como uma evolução tecnológica. Veja o caso do automóvel. Apesar de ser uma tecnologia com mais de um século de existência e de todo o conhecimento acumulado, o processo de mensuração pode se tornar um desafio quando surge alguma novidade no setor.

Esse foi o caso da popularização de um tipo diferente de automóvel, o veículo elétrico, ou EV na sigla em língua inglesa. Como o sucesso desse produto é muito recente, o valor contábil é determinado, a princípio, pelo preço de compra. Mas como depreciar o veículo elétrico? Essa é uma questão difícil de responder, pois a tecnologia é nova e boa parte do valor do ativo decorre da bateria. E ainda sabemos pouco sobre a vida útil da bateria de um veículo elétrico.

Algumas pistas, no entanto, começam a aparecer. Uma empresa indiana, a BluSmart, faliu e viu sua frota de veículos elétricos, adquiridos por 12 mil dólares, ir ao mercado por 3 mil dólares. É verdade que esse valor foi influenciado pela descontinuidade da empresa, mas outros exemplos parecem indicar que o problema realmente existe. Nos Estados Unidos, modelos da Tesla (gráfico) perderam 42% do valor em dois anos, enquanto veículos a combustão comparáveis apresentaram uma redução de apenas 20%. Uma tendência semelhante começa a surgir também no Reino Unido. 

Uma consequência disso é que empresas que possuem grandes frotas de veículos precisarão reconhecer a depreciação dos elétricos não pelas taxas usuais dos veículos a combustão, mas por um percentual maior. Caso contrário, o efeito aparecerá no momento da venda ou na realização de um teste de recuperabilidade decente – usei esse termo de propósito, pois não acredito que as empresas realizem esse procedimento de forma adequada.

Os efeitos já estão se manifestando na prática. Houve o caso reportado da Hertz, com um prejuízo de 2,9 bilhões de dólares em 2024, parte dele decorrente de seus EVs. A desconfiança aumenta quando se noticia que a BYD está realizando o seu maior recall, envolvendo mais de 115 mil veículos, devido a falhas no design e na instalação da bateria.

Um apanhado das notícias sugere que a taxa de depreciação de um EV deve girar em torno de 25% ao ano para representar com maior fidelidade a realidade. Quem sabe o desenvolvimento futuro permita trabalhar com uma percentagem menor nos próximos anos.

16 outubro 2025

IA não isenta de responsabilidade: o caso Deloitte na Austrália


O fato de alguém utilizar uma IA para elaborar uma pesquisa ou um trabalho não significa que os erros cometidos pelos algoritmos sejam automaticamente desculpados. Afinal, trata-se de falhas da própria pessoa que recorreu à IA sem realizar a necessária análise crítica.

Um exemplo recente demonstra bem isso: a tarefa pode até ser delegada a uma IA, mas a responsabilidade nunca é. Esse é um princípio antigo da administração que não deve ser esquecido. No ano passado, o governo australiano contratou a Deloitte para elaborar um estudo na área do mercado de trabalho. Vale lembrar que, anteriormente, o mesmo governo já havia enfrentado problemas com outra das chamadas big four, contratada para atuar na área tributária e que usava informações obtidas em seus serviços para ajudar clientes a reduzir o pagamento de impostos.

Menos de um ano depois, a Deloitte entregou o relatório, que foi disponibilizado publicamente pelo Department of Employment and Workplace Relations (DEWR). Um mês mais tarde, um pesquisador identificou problemas graves: citações de trabalhos acadêmicos inexistentes, referências falsas e até decisões judiciais que jamais ocorreram.

No início deste mês, uma nova versão do relatório foi publicada. Mas o estrago já estava feito. Afinal, a Deloitte havia recebido cerca de 290 mil dólares pelo serviço. Para conter o impacto em sua reputação, a empresa anunciou que restituiria parte do valor recebido. A Deloitte admitiu ter utilizado um modelo de IA, mas afirmou que as correções não alteram o conteúdo substancial do documento, nem suas conclusões e recomendações.

O episódio ganhou ampla repercussão na imprensa, com destaque para a cobertura do Australian Financial Review (AFR).

 

Bolsas de Produtividade do CNPq: inscrições abertas

Nesta semana (13/10) o CNPq abriu as inscrições para a "Chamada CNPq Nº 23/2025 Bolsas de Produtividade", com o objetivo de incentivar a produção científica, tecnológica e de informação.

As inscrições vão até 20/01/2026.

Leia mais: aqui

15 outubro 2025

Ainda blogando (e sonhando) depois de trinta mil

Queridos amigos e leitores, esta nova publicação vem com um entusiasmo especial: em quase vinte anos de blog, chegamos à postagem 30.000. Não tem como alcançar este número sem voltar ao passado e revisitar a estrada.

Ao pensar neste marco, algumas postagens se destacam.  Dois milhões”, sobre o marco de dois milhões de acessos, conta um pouco do início do blog, em 2006, e quando dois alunos entusiasmadíssimos,  o Pedro e a Isabel, foram convidados a participar. Quando a Isabel recebeu o convite, pulou de alegria, literalmente. Ela sentiu que fazer parte de uma equipe com pessoas tão inteligentes e criativas seria um ponto marcante em sua trajetória. O Pedro precisou se afastar para focar outras questões, mas a memória e o lugar permanecem.

A continuação daquela postagem é a intitulada “Fazer (e continuar) um blog é um ato de amor”, quando chegamos a três milhões de acessos. Algumas vezes acontecem coisas em nossas vidas e não sabemos se serão ou não grandiosas. Eu sempre senti que o blog seria importante pra mim, mas nunca imaginei que esses débitos e créditos da vida real seriam a ocupação mais estável, o interesse mais genuíno.

Na postagem “blogs acadêmicos morreram?” o professor César, ao falar sobre a motivação para blogar, destaca uma citação: “um [blog é] cérebro externo que dá sua “direção e recompensa de pastoreio de conhecimento”, permitindo que ele arquive as coisas que despertam sua curiosidade enquanto vagueia pela Internet.” E acrescenta que estar aqui ajuda a aperfeiçoar possíveis explicações em sala de aula, além de ser parte do processo de publicar e pesquisar, já que muitas ideias surgem exatamente quando se escreve. (Leia também: Por que os professores de contabilidade não blogam?)

Quanto à Isabel, escrever sempre foi o seu jeito de entender o mundo e por aqui ela aprendeu a transferir isso para outras partes da vida, em um mundo cheio de referências, ideias e variedade. Foi por aqui que ela se organizou e deixou grande parte do mestrado. E espera também, em breve, fazer uma simbiose com o doutorado. Porém os amigos que fizemos por aqui são, sem dúvida, a parte mais doce da recompensa.

Aqui é possível descobrir lados curiosos da contabilidade, que a vida profissional cotidiana não chega nem perto. Aqui também é possível aprender a olhar reportagens com um senso crítico diferente, acompanhando os textos com referências, provocações, críticas e observações. Aqui percebemos que dá pra misturar bem jornalismo e contabilidade. E entendemos que dá pra gostar de normas e de narrativas ao mesmo tempo. Foi seguindo dicas do blog que alguns se aventuraram por Mr. Robot, Breaking Bad, Malcolm Gladwell, Daniel Kahneman e tantas outras vozes que nos moldaram. Tanta coisa aconteceu por causa do blog...

Escrever é uma atividade tão viva, que começamos este texto com o propósito de refletir novamente sobre o porquê de blogar, mas a emoção nos levou por veredas imprevisíveis e chegamos aqui. Esse é, inclusive, um dos motivos de gostarmos tanto de ler o que é aqui publicado: os nossos “eus líricos”, perceber quando as nossas personalidades pulam das páginas. Como leitores, sentimos que blogs nos trazem o privilégio de espiar dentro da cabeça de mentes que admiramos.

Li em algum lugar, provavelmente aqui, que um blog é uma conversa que nunca termina. Enquanto houver algo que nos intrigue, uma história, uma dúvida, uma curiosidade, uma vontade de ensinar, continuaremos parando os nossos dias por outras 30 mil vezes para aparecer por aqui. E se você está por aqui lendo, é porque de alguma forma essa conversa é sua também.

E chegamos ao dia de hoje com a necessidade de reforçar o vínculo com o leitor. No tempo de IA, quando ficou muito prático fazer uma pergunta para o app no celular e obter uma resposta, ainda insistimos em entregar um conteúdo diverso, com comentários pessoais, e ligações do que ocorre no mundo com os débitos e créditos. Ainda queremos fazer planos e sonhos, como já fizemos nesses dezenove anos de postagens, que incluíam ter uma maior participação no Instagram, convidar outros amigos para ajudar na postagem, fazer um livro de piadas de contabilidade, um canal no youtube, repostagens do Rir é o Melhor Remédio no Instagram, entre outros tantos. Sim, não fizemos nada disso, mas sonhos não envelhecem. O fato de estarmos aqui, na trigésima milésima postagem, é prova que queremos mais.

Não procure uma razão racional para isso. O que gastamos de tempo e dinheiro – o blog tem despesa de hospedagem e outras – compensa, pois cada postagem contribui para que possamos atender a um apelo, que uma vez li em um livro, de caminhar na beleza.

Aqui estamos, escrevendo esta trigésima milésima postagem, a quatro mãos. E estaremos, quem sabe, escrevendo muitas outras.

Agradecemos imensamente a companhia.