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12 abril 2019

Os números secretos da Uber: US$ 1 bi no Brasil, US$ 11 bi no mundo

Saiu na Exame:

A Uber deu entrada na noite desta quinta-feira em seu aguardado IPO e, com isso, a empresa de transporte por aplicativo divulgou números até então inéditos sobre sua operação, incluindo mais detalhes sobre o Brasil.

Já se sabia que o Brasil era o segundo maior mercado da Uber no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Com os números divulgados hoje, é possível ter uma dimensão melhor das operações da empresa por aqui.

No Brasil, a empresa faturou 959 milhões de dólares no ano passado, um crescimento de 115% em relação a 2017. A longo prazo, o crescimento é impressionante no país, com o faturamento subindo 406% em relação a 2016. No mundo, a Uber teve faturamento de 11,3 bilhões de dólares em 2018 (crescimento de 149% em relação a 2017 e 318% desde 2016).

O número de usuários no mundo fechou 2018 em 91 milhões e cresceu 35% em relação a 2017. A Uber tem mais de 22 milhões de usuários no Brasil e mais de 600 mil motoristas parceiros, estando presente em mais de 100 cidades.

A Uber chegou ao Brasil em 2014, inicialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, para operar na Copa do Mundo de futebol daquele ano. No Brasil, as principais concorrentes são a brasileira 99 (comprada no ano passado pela chinesa Didi Chuxing) e a espanhola Cabify.

São Paulo também está entre os destaques do comunicado da empresa, estando entre as cinco maiores regiões metropolitanas onde a Uber opera. No ano passado, 24% do valor das corridas (sem descontar o percentual pago ao motorista) veio desta cinco regiões metropolitanas, que são, além de São Paulo, Los Angeles, Nova York, São Francisco e Londres.

Apesar de ser o segundo mercado da Uber no mundo, o Brasil ainda está longe dos Estados Unidos, país natal do serviço e que responde por mais de metade do faturamento da Uber no mundo. Em 2018, a empresa faturou 6 bilhões de dólares no país.
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Mas embora tenha crescido na casa dos três dígitos nos últimos anos, a Uber acredita que ainda está longe de atingir o máximo de seu potencial. A empresa aponta que somente 2% da população nos 63 países em que opera usou seus serviços no último trimestre de 2018. “Apesar de termos crescido em uma escala incomparável, só estamos começando”, afirma a empresa no documento.

O problema é que o ritmo de crescimento está diminuindo, em vez de aumentar. O faturamento do último trimestre de 2018, de 2,97 bilhões de dólares, foi praticamente igual ao do trimestre anterior, de 2,94 bilhões. Ou seja, para conquistar os 98% da população que falta, a empresa precisará voltar a acelerar. O dinheiro da abertura de capital pode ser uma boa oportunidade. A questão é que uma nova frente de investimentos em marketing e em promoções dificultaria ainda mais um desafio crônico da companhia: ganhar dinheiro.

O caminho da empresa até o IPO não foi fácil. O documento divulgado nesta quinta-feira mostra que a Uber teve 6,8 bilhões de dólares de prejuízo entre 2014 e 2018. Algo comum entre startups, mas, ainda assim, uma perda maior até mesmo que a da varejista Amazon em seus primeiros anos. Nos primeiros 17 trimestres (ou quatro anos) de operação, a empresa fundada por Jeff Bezos teve prejuízo de 2,8 bilhões de dólares.
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Mesmo após a abertura de capital, os desafios devem continuar. Os mercados de mobilidade pessoal, entrega de alimentos e logística para indústria são altamente competitivos, com rivais maduros, bem estabelecidos e com custos baixos em quase todos os grandes mercados da Uber.

Para se manter competitivo nesses mercados, a empresa corta as taxas de serviço e oferece incentivos aos motoristas e promoções aos consumidores. Assim, a empresa apresenta perdas significativas desde o início e não tem previsão de lucro.

“Esperamos que nossas despesas operacionais cresçam consideravelmente no futuro próximo e podemos não alcançar lucratividade”, escreveu a empresa.

O início dos processos para o IPO da Uber vem duas semanas depois de a Lyft, principal concorrente nos Estados Unidos, fazer sua oferta pública de ações. A Lyft foi a primeira de uma série de IPOs de empresas de tecnologia esperados para este ano. Mas desde o lançamento das ações, em 29 de março, a empresa vem vendo o valor dos papéis caírem dia após dia, com preocupação dos investidores sobre a potencial de lucratividade da empresa.

As ações da Lyft, inclusive, chegaram a seu menor patamar nesta quinta-feira, pressionadas pela proximidade do IPO da maior concorrente. A ação fechou o pregão a 60,12 dólares, quase 16,5% abaixo dos 72 dólares por ação da abertura de capital.

A Uber deve enfrentar os mesmos questionamentos e desconfiança dos investidores. Apesar do comunicado trazendo mais detalhes sobre as finanças da companhia, ainda não se sabe quanto custará uma ação da empresa: os números oficiais e o preço das ações devem ser divulgados somente no fim do mês, com a primeira oferta na bolsa vindo somente em maio.

A imprensa noticiou que a Uber espera arrecadar cerca de 10 bilhões de dólares com as ações lançadas no mercado, além de obter uma valorização de 90 a 100 bilhões de dólares, segundo o jornal Wall Street Journal. O jornal americano também aposta que as ações devem ficar entre 48 e 55 dólares.

Com o IPO, Uber e Lyft se lançam na corrida por usuários e investidores — mas ainda continuarão longe da corrida pelo lucro.

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