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25 setembro 2014

Curso de Contabilidade Básica: Empresa e Política

Seriamos inocentes se acreditássemos que uma empresa, através de seus gestores, não tenta exercer influencia política. A defesa dos interesses ocorre de diversas formas em parte pela grande dependência que a economia brasileira tem do Estado. Em suma, as conexões políticas são importantes para o próprio desempenho das empresas.

Por este motivo, não é surpreendente saber que algumas empresas fazem doações milionárias para certos candidatos. Entre estas empresas, a JBS foi aquela que mais fez doações nas eleições de 2014 (pelo menos por enquanto). Nós iremos mostrar quais as razões que levaram a JBS a fazer estas doações.

Inicialmente é importante destacar que a JBS é uma empresa que atua no abate e processamento de carnes e produtos derivados. Ou seja, não é uma empresa que possua no governo seu principal cliente. Mas, o mercado de carnes é regulado pela Anvisa, que fiscaliza as condições deste abate e processamento. Além disto, o Ministério do Trabalho também pode ter um poder sobre a empresa, quando interfere nas condições de trabalho nas fazendas e abatedouros.

Um segundo aspecto relevante é que a JBS é uma empresa com uma receita de R$30 bilhões por trimestre. O fato de ser uma das maiores empresas faz com que qualquer valor doado seja relevante em termos absolutos, mas talvez não seja expressivo em termos relativos. Conforme publicado pelo jornal Valor Econômico em 23 de setembro de 2014, a empresa tinha desembolsado R$113 milhões para as eleições. Isto representava 35% do total de doações realizadas por grandes grupos econômicos. O jornal afirma que isto corresponde a 51% dos dividendos distribuídos, mas esta comparação não é muito justa com a empresa, já que o valor dos dividendos pagos depende do lucro e a política de retenção (ou não) deste lucro. De qualquer forma, os valores pagos nas eleições representam 0,4% da receita. Mas, por outro lado, R$113 milhões é 28% do imposto de renda do segundo trimestre do ano.

O ponto crucial é tentar entender a razão pelo volume de doação realizado pela Friboi. Afirmamos que não é a receita, já que o governo não é o seu principal cliente. Entretanto, uma grande parcela da receita é originária da exportação. Neste caso, o governo pode ser “bonzinho” para a empresa com uma política de incentivo à exportação.

Mas observando o balanço patrimonial da empresa, do final do segundo trimestre de 2014, encontramos um ponto interessante:

De um ativo de 71 bilhões de reais, a parcela de empréstimos e financiamentos corresponde a quase 50%. Parte deste ativo é proveniente dos bancos estatais.

Mais uma informação. O Tribunal de Contas da União solicitou ao BNDES, um banco do governo que financia empresas, a informar sobre os investimentos realizados no frigorífico. Na página da empresa encontra-se a seguinte informação:

Assim, 35% do capital são provenientes do governo. Será necessária mais explicação para o excessivo volume de doações. (Por sinal, proporcionalmente, das doações R$113 milhões, R$40 milhões são provenientes do próprio governo. Não seria o caso de proibir doações de empresas com participação expressiva do governo no capital?)

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