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12 abril 2014

Entrevista: O desafio das restrições orçamentárias

Nós não entrevistamos o professor César, mas achamos mais que válido publicar aqui a realizada pelo pessoal da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília. Esperamos que gostem!


O desafio das restrições orçamentárias
Hugo Costa - Da Secretaria de Comunicação da UnB

As cifras para manter uma instituição do tamanho da Universidade de Brasília impressionam. A Lei Orçamentária Anual, elaborada pelo Poder Executivo, prevê R$ 1,55 bilhão para o funcionamento da UnB em 2014. O número expressivo se apequena quando as contas vêm pela frente. Descontadas as despesas com pagamento de pessoal, encargos e gastos correntes, sobram cerca de R$ 90 milhões. Esses recursos são insuficientes para honrar compromissos e garantir os investimentos necessários nos campi. A estimativa de gestores é de que o déficit deste ano alcance R$ 120 milhões.

Para gerir orçamento tão complexo, a universidade conta com a experiência do professor e administrador César Augusto Tibúrcio. Decano de Planejamento e Orçamento há três meses, o docente dirigiu a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, coordenou programa de pós-graduação e criou curso de especialização em Gestão Universitária. O novo compromisso profissional é avaliado por Tibúrcio como “um desafio enorme, aliado pelo sentimento de poder contribuir com a universidade”.

Em entrevista à Secretaria de Comunicação, o decano ressalta a necessidade de economizar, respeitar acordos e manter bom relacionamento com o governo federal. César Tibúrcio explica os esforços para fechar as contas e fala sobre receitas produzidas na UnB, universidade federal que mais dispõe de recursos próprios.

O orçamento federal demorou a ser aprovado em 2013. A universidade e muitos órgãos tiveram que trabalhar com receitas fracionadas e estimadas, os chamados duodécimos. Este ano a situação está melhor?
Em alguns pontos sim. Não tivemos os duodécimos, o que facilitou. Mas temos problemas decorrentes das finanças públicas do país. A dificuldade do governo em conseguir alcançar metas tem de alguma forma refletido em nosso orçamento. Isso de certa forma já era esperado. Ano passado o governo teve uma série de receitas que não vão se repetir este ano, como o caso dos leilões realizado. Este ano, pelo contrário, o governo tem os gastos que naturalmente vão acontecer pela Copa do Mundo e é ano eleitoral, quando tradicionalmente há elevação de despesas.

Quanto as receitas próprias representam no orçamento da universidade?
O orçamento da universidade para este ano é de R$ 1,55 bilhão, o segundo maior entre as instituições de ensino federais. É um valor substancial. De receita própria, temos cerca de R$ 400 milhões. Ou seja, 25 % do total do orçamento. A maior proporção entre todas as universidades.

O que constitui essa receita?
Sobretudo arrecadações do Cespe, do CDT e alugueis. Essa receita própria não significa que temos todo esse recurso para a universidade. Parte dela já tem despesa comprometida. O Cespe, por exemplo, utiliza dessa receita para a estrutura necessária para a realização de concursos e seleções. Não se trata de uma receita livre.

Como tem ocorrido o repasse dos recursos?
O Ministério da Educação tem liberado as receitas pouco a pouco, principalmente as de custeio. Temos que solicitar regularmente as cotas necessárias para os gastos da universidade. Há um montante definido, mas que não está totalmente disponível. Em março, por exemplo, foram repassadas três parcelas.

Qual o tamanho do déficit da universidade?
Ano passado havia uma projeção de déficit de R$120 milhões para 2014. Mas essa estimativa já sofre alterações. Há gastos que não esperávamos, mas também percebemos receitas subestimadas. Ainda não sabemos precisamente o tamanho do déficit.

O que fazer para equacionar essa conta?
Precisamos pedir recursos ao MEC para cobrir essa diferença, como fizemos no ano passado, e buscar fontes de financiamento que pudermos lançar mão. E, na medida do possível, reduzir gastos.

O Projeto Esplanada Sustentável (PES) foi concebido pelo governo para auxiliar na redução de gastos. Como está a implantação dessa iniciativa na UnB?
Ele está implantado em termos de acompanhamento de informação. Há uma perspectiva de revisar e aprimorar o projeto em nível nacional.

O que mais a gestão pode fazer para economizar?
A redução de certos tipos de pagamento tem auxiliado. Há também a repactuação de contratos de terceirizados. Iniciativas importantes têm sido feitas e precisam ser estimuladas. A prefeitura, por exemplo, tem conseguido economias substâncias com gastos de telefonia.

As receitas destinadas a investimentos se concentram em que áreas?
Em edificações, reformas, compras de equipamentos, aquisição de softwares. Mas o mais relevante são as novas construções.

O senhor gostaria de fazer alguma consideração sobre o início do trabalho no decanato?
Assumi o cargo depois de mais de um ano de gestão do professor Carlos Alberto Torres. Encontrei uma situação mais estabilizada. É importante destacar o trabalho realizado pelo professor. Ele recuperou atividades que daremos prosseguimento. Entre elas a publicação de anuários estatísticos e a apuração de custos nas unidades. Estamos também refazendo o planejamento estratégico, com a ajuda de especialistas, e vamos adotar nova gestão de processos, o que pode ter um impacto muito positivo na universidade. E também seguimos com as atividades de rotina. Entregamos agora no final de março dois relatórios complexos que começaram a ser elaborados em janeiro.

Como tem sido a transição das atividades acadêmicas para as administrativas?
São áreas bem diferentes. É um desafio enorme, aliado pelo sentimento de poder contribuir com a universidade. Isso é o mais importante.

Rir é o melhor remédio






Teste da semana

Este é um teste para verificar se o leitor está atento ao que foi notícia sobre a contabilidade durante a semana:

1. Em um estudo sobre o local de realização das assembleias de acionistas, Li e Yerkman perceberam que quanto mais longe da sede fosse o local marcado para o evento, piores eram os resultados analisados. Isso é um exemplo de:
Evidenciação negativa, ligada à teoria elaborada por Zimmerman
Evidenciação Ops!
Evidenciação Lie To Me
Evidenciação evasiva-criativa

2 O índice Big Mac é um grande conhecido aqui no blog. Nesta semana apresentamos outro índice relacionado ao preço de roupas. Que índice foi esse?
Forever 21
Zara
C&A
Dolce & Gabanna

3 Na postagem sobre a história da contabilidade fomos apresentados a um jogador de futebol que, aos 20 anos, pretendia terminar o curso de contabilidade. Quem foi ele? Uma dica: isso ocorreu na época da Copa do Mundo de 1978.
Paolo Rossi, o carrasco que desclassificou o Brasil
Mário Kempes, jogador da Argentina eleito chuteira de ouro da Copa de 78
Dominique Rocheteau, um dos maiores artilheiros da história do Paris SG
Antonio Cabrini, eleito melhor jogador jovem da Copa de 78

4 O IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação) comparou 30 países com maior carga tributária em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e verificou se o que é arrecadado por essas nações volta aos contribuintes em serviços de qualidade. O Brasil ficou pela quinta vez na pior posição. Quais Estados Soberanos ficaram nas primeiras posições?
Estados Unidos, Austrália, Coréia do Sul
Reino Unido, Japão, Alemanha
Estados Unidos, França, Itália
Reino Unido, França, Alemanha

5 Com base no gráfico que apresentou o Índice de Progresso Social foi possível perceber que o país com o pior desempenho foi:
Coréia do Norte
Chad
Brasil
Rússia

6 O livro resenhado esta semana se referia que autor frequentemente citado no blog?
Malcolm Gladwell
Dan Ariely
Daniel Pink
Thomas Friedman

7 Qual será o forma estimada como campeã de gastos com propaganda até 2016?
Revistas e jornais, somados os impressos e os virtuais
Internet móvel e televisão
Rádio e cinema
Mídias sociais

8) Quais empresas geraram a Strategy&?
PwC e Booz & Co
Deloitte e YMCA
Disney e DreamWorks
DreamWorks e Comcast





Respostas: 1) Ops; 2) Zara; 3) Rossi; 4)EUA, Austrália, Coréia do Sul; 5) Chad; 6) Gladwell; 7)Internet móvel e televisão; 8) PwC e Booz

Se acertou 7 = Excelente; 6 = Pode melhorar; 5 e 4 = Médio; Menos que 4 = Poxa, apareça mais por aqui!

Fato da Semana

Fato da Semana: Erro da pesquisa do Ipea. Apesar de o reconhecimento da falha ter ocorrido por volta do dia 4 de abril, nesta semana foram observadas as reações relacionadas.

Qual a Relevância disto? A recente discussão relacionada com a pesquisa divulgada do Ipea permite chamar atenção para alguns erros usuais que um pesquisador comete. Ressaltamos alguns: (i) É sempre necessário rever os dados: refazer os passos, repetir os procedimentos de alguma outra forma, se possível; (ii) é importante considerar viés amostral: 2/3 dos entrevistados eram mulheres e para uma pesquisa daquele tipo e porte houve clara distorção amostral; (iii) é importantíssimo tomar cuidado com a forma como os questionários são elaborados de forma com que a pergunta não induza a respostas: além da pergunta “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas “ induzir a uma resposta, o termo “atacada” possui mais de um significado; (iv) Evite certa metodologia de pesquisa se você não tem intimidade com ela: faça outro tipo de pesquisa, contrate alguém ou estude até dominar os assuntos e ferramentas necessários para o desenvolvimento de um trabalho com qualidade; (v) Assim que houver suspeita de um erro, procure imediatamente a retratação: o período entre a divulgação da pesquisa e a retratação do erro foi espaçado o suficiente para lançar dúvidas quanto, não apenas a veracidade da pesquisa, como também da retratação, além da dúvida relacionada à capacidade do Instituto em realizar pesquisas e verificar dados analisados.

Positivo ou negativo? Explosivamente negativo. No contexto do blog ressaltamos o prejuízo causado a qualquer ciência e aos pesquisadores .

Desdobramentos: Por muito tempo teremos que ouvir comentários relacionando os erros do Ipea a qualquer resultado científico apresentado. Esperamos que, com o tempo, haja o lado positivo de algumas pessoas descobrirem que há (sim, há!) pesquisa no Brasil e talvez a profissão possa ser valorizada e formalmente reconhecida.

Suzana Herculano-Houzel: o que faz o cérebro humano tão especial?

Finalmente! A palestra da "neurocientista de plantão", Suzana Herculano-Houxel, no TED com legendas em português. *.*

11 abril 2014

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

Questionário: participação da sociedade na gestão governamental



Pesquisa sobre a participação da sociedade na gestão governamental, participe! Clique aqui.

Listas: As maiores bilheterias do cinema em todos os tempos

Fonte: Aqui (Valores sem correção da inflação)

Frase

Ele [Simon Kuper, especialista em futebol e co-autor de Soccernomics] também aponta a verdadeira razão por que os países ainda sediam eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, apesar do custo - os eventos são divertidos e eles fazem as pessoas felizes.

Fonte: Aqui

eSports

Um grande número de pessoas está assistindo outras pessoas jogarem games (gráfico acima). Isto é denominado eSports e já foi reconhecido como uma atividade esportiva pelo governo dos EUA.


Quem assiste os outros jogarem argumenta que isto permite “aprender novos movimentos e melhorar seu jogo”. Mas isto não faz sentido. Se, por exemplo, assisto a uma partida de xadrez não tem a ilusão que irá melhorar seu jogo de baixa qualidade. De igual modo, quando assisto a uma partida de futebol do meu time não irei melhorar minhas parcas habilidades neste esporte. 

Rodízio na Europa

No início de abril a Comunidade Europeia aprovou um conjunto de regras para serem aplicadas ao mercado de auditoria (aqui, aqui e aqui) .

A proposta original era mais dura. De qualquer forma, estes países da Europa decidiram que as empresas devem renovar suas auditorias em períodos regulares. Assim, aqueles caos onde uma mesma empresa tinha a mesma auditoria por mais de cem anos não irá ocorrer mais.

10 abril 2014

Rir é o melhor remédio

Isto ainda vai acabar mal...





Decisão e Taxa de Desconto

Quando estudamos matemática financeira aprendemos que o fator de desconto das decisões cresce exponencialmente com o passar do tempo. Uma consequência disto é que um investimento que traz retorno em um ano terá uma atratividade maior que outro investimento, com os mesmos valores, que tem retornos em dez anos. Neste modelo bastante conhecido, antecipar recebimentos e postergar pagamentos seria a decisão mais racional.

Entretanto, as pesquisas na área comportamental tem mostrado que as pessoas não tomam decisão desta forma. Ao contrário do que aprendemos na matemática financeira, a taxa de desconto não é constante no tempo. Seria, em lugar disto, “quase-hiperbólica”. Se tivermos dois investimentos, com mesma taxa de desconto e mesmo valor presente, a decisão racional seria indiferente. Na vida real, as pessoas tendem a dar um peso maior para o fluxo que ocorre mais cedo. Assim, se você oferecer para um indivíduo $1.000 hoje ou $1.200 em um ano, as pessoas tendem a escolher a primeira opção. Peça aqui a preferência pela recompensa antecipada. Mas se a escolha for $1.000 daqui a dez anos ou $1.200 em onze anos, a preferência será a segunda opção.

Uma conhecida experiência relacionada com o desconto hiperbólico ocorreu com crianças de quatro anos. Elas eram colocadas num recinto com um prato e um doce marshmallow. Prometia as crianças se não tocassem no doce receberiam o doce em dobro em alguns minutos. Este experimento pode ver visto a seguir:

Algumas crianças tiveram muita dificuldade em resistir à tentação; outras, não conseguiram. A dificuldade delas é visível no vídeo. Para as crianças, a taxa de desconto é muito alta; assim, comer dois pedaços mais tarde tinha um desconto muito alto, fazendo valer a pena aproveitar um pedaço imediatamente.

A questão da taxa de desconto está, portanto, relacionada com nossas decisões diárias. A tatuagem é outro caso onde entender a questão do desconto pode ajudar a explicar a propagação. Sendo uma atitude irreversível, a tatuagem deveria ter uma elevada taxa de desconto. Mas as pessoas parecem subestimar a chance dos gostos mudarem no futuro. As pessoas que fazem isto são mais prováveis de optarem pela tatuagem.

Leia mais
Hyperbolic discounting. Wikipedia
Dynamic inconsistency. Wikipedia
MISCHEL, W., SHODA, Y., RODRIGUEZ, M., (1989), Delay of Gratification in Children, Science; May 26, 1989.
DE PAOLA, Maria; SCOPPA, Vincenzo. Procrastination, Academic Sucess and the effectiveness of a Remedial Program. Iza Discussion Paper 8021, março de 2014
Tattos, Options e Cognitives Biases. Stumbling And Mumbling 

PwC e Booz & Co


A PwC anunciou a compra da consultoria estratégica Booz & Co em um negócio avaliado em USD 1 bilhao. O acordo foi anunciado como uma “fusao” apesar da diferença entre as receitas anuais globais da PwC (USD 32,1 bi) e da Booz (USD 1 bi) ser gritante. A intençãoé melhorar os serviços de consultoria da PwC.

Informações do G1 detalham que:
A Booz & Company passa a se chamar "Strategy&" (a pronúncia, explica o comunicado, é Strategy and).
Segundo a consultoria, juntas, PwC e Strategy& irão oferecer ao mercado uma "solução completa que vai desde a concepção até a execução".
O Conselho da PwC Strategy& será presidido por Tony Poulter, sócio da PwC e líder global da Consultoria de Negócios, e terá o sócio Otavio Maia como membro. Cesare Mainardi será o CEO da Strategy&, após desempenhar esta mesma função nos últimos dois anos à frente da Booz & Company.
A PwC possui mais de 180 mil funcionários e uma rede de escritórios em 157 países. A Booz, por sua vez, tem 57 escritórios e 3 mil funcionários globalmente.

Gráfico: gastos com propaganda


Via The Wall Street Journal

I don't speak no english: A falha do Ciência Sem Fronteiras

A gente já leu no blog que muita verba foi remanejada para o Ciência Sem Fronteiras, aí vamos ler o jornal e nos deparamos com uma falha épica: os alunos são devolvidos ao Brasil por não saerem inglês. Eu sabia que eles não sabiam, você sabia que eles não sabiam, a Capes sabia que eles não sabiam. Alguém me explica a lógica de tudo isso?

Foi publicado no Globo (grifo nosso):
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação (MEC), está convocando pelo menos 110 bolsistas do Ciência sem Fronteiras (CsF) a voltarem ao Brasil sem realizarem estágio. São 84 estudantes fazendo intercâmbio em universidades no Canadá e 26 em instituições da Austrália, que não atingiram proficiência em inglês, desde que viajaram, há seis meses.
Segundo o comunicado enviado pela Capes aos alunos, eles devem regressar ao Brasil ao fim do curso de inglês em abril para retormar as atividades em universidades brasileiras, já que não alcançaram “nível de conhecimento linguístico ou rendimento necessários para ingresso no semestre acadêmico”.
Os universitários em questão não foram aprovados originalmente para universidades canadenses e australianas. Eles haviam sido selecionados para estudar em Portugal, em um edital de 2012. No entanto, em abril de 2013, o MEC cancelou o convênio com instituições portuguesas pelo CsF para estimular o aprendizado de uma segunda língua.
Na época, a Capes divulgou que os estudantes inscritos para bolsas de estudos em Portugal poderiam transferir as inscrições para Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá, França, Alemanha, Itália ou Irlanda. Ainda segundo a Capes, 9.691 candidatos que apresentaram pontuação acima de 600 pontos no Enem tinham qualificação condizente com os critérios do programa e não era “viável alocar esse elevado número de estudantes nas instituições portuguesas”.
Para os estudantes que transferiram suas inscrições em universidades portuguesas para outros países não foi exigido o nível de proficiência em idiomas pedido nos editais específicos para os demais programas.

Os alunos foram aprovados para cursos em Portugal, a Capes os enviou para outro país para incentivar o aprendizado do inglês, eles não atingiram o nível desejado... De quem é a culpa?

A minha reação natural?


Listas: As maiores cidades do mundo

Fonte: Aqui

09 abril 2014

Rir é o melhor remédio

Toda propaganda criativa é um pouco exagerada...






Resenha: Davi e Golias

Malcolm Gladwell é um conhecido autor de divulgação cientifica. Ele escreveu Fora de Série, O Ponto da Virada, Blink, entre outros sucessos. Seus livros ocupam a lista dos mais vendidos em diversos países. Em geral Gladwell toma um assunto e conta casos da vida real para comprovar seu ponto de vista, além de apresentar pesquisas científicas sobre o assunto.

Davi e Golias segue a mesma receita dos livros anteriores. Neste livro Gladwell explora a luta entre o lado mais fraco e o lado mais forte. Segundo o autor, em situações de guerra entre países, o exército mais forte geralmente derrota o mais fraco. As exceções na história ocorreram quando o lado mais fraco não utilizou a estratégia convencional. Este é o mantra de Gladwell para esta obra: se for enfrentar um “gigante” não utilize a forma tradicional de luta. No caso dos países em confronto, quando o lado mais fraco usou a criatividade para combater o inimigo, o percentual de sucesso aumentou. O autor usa a história de Davi, que mesmo sendo mais fraco, não enfrentou Golias com as armas que o gigante estava acostumado a usar, mas escolheu uma pedra e uma funda para derrotá-lo. Davi sabia que sua vantagem era a flexibilidade e a rapidez.

Ao longo dos capítulos, o autor conta histórias da luta contra o câncer, o crime numa cidade grande, o bombardeio alemão, a perseguição aos judeus, os brancos da Klu Klux Kan e as equipes de basquetebol. A ideia é sempre a mesma: adote uma abordagem pouco usual para aumentar suas chances com o Golias.

Vale a Pena? A leitura do livro é agradável, como sempre. Mas Gladwell parece forçar um pouco em alguns casos. Na metade do livro o leitor talvez fique sem entender como aquele caso enquadra na obra. Não é o melhor dele, mas certamente é um bom livro.


GLADWELL, Malcolm. Davi e Golias. Sextante, 2014.

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Submarino
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SouBarato.com.br

Evidenciação – A obra foi adquirida com recursos do autor da resenha.

Gráfico: Índice de Progresso Social



Índice de Progresso Social - uma mensuração não econômica de bem estar.

Desemprego em 1930




Via @ClassicPix

Listas: Países que mais piratearam Game of Thrones (1o. episódio da 4a. Temporada)


O episódio transmitido pela HBO de Game of Thrones no domingo foi o mais assistido desde The Sopranos, em 2007. E o mais pirateado episódio de todos os tempos: um milhão de downloads nas primeiras 12 horas. Anteriormente, um executivo da HBO declarou que esta conquista é melhor que o Emmy.

A participação de cada país depende de como a série é transmitida. Na Austrália, somente a Foxtel transmite.

08 abril 2014

Rir é o melhor remédio

Casas estranhas:


Fonte: aqui, aqui e aqui

Crianças com medo de matemática

Tunisia, Argentina, Brazil and Thailand are home to some of the world’s most math-phobic 15-year-olds.
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Levels of “mathematics anxiety” in those countries were the highest among the nations tracked by the OECD as part of the Program for International Student Assessment (PISA) tests that the organization coordinates.
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The chart below shows Tunisian teenagers are most anxious about math among those tested, and the Netherlands as the least, with the Czechs and Slovaks closest to the OECD average.
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-Tunisian-kids-are-some-of-the-world-s-most-anxious-about-math-OECD-index-of-math-anxiety_chartbuilder (1)
The OECD concocted this index based on responses to a series of questions students around the world were asked as part of the PISA exams. The questions were intended to gauge the level of stress students felt about math. Here’s an example.
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I-get-very-tense-when-I-have-to-do-mathematics-homework-PISA-respondents-that-agree-or-strongly-agree_chartbuilder (1)
Why bother measuring math anxiety? Because it tends to be associated with poor performance in mathematicsSome believe this is because the mind is so occupied with worrying about math that it has less bandwidth to actually work on the math problems at hand. The result? Students choke.
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It’s worth noting that while high levels of math anxiety are associated with low performance, the converse isn’t true. In other words, low levels of anxiety are not linked with high performance in mathematics. In fact, the students from top-performing countries in mathematics—such as China, Singapore and Korea—are slightly more anxious about math than the average OECD student.
+

The key to math success seems to be combining a manageable amount of worry with a tendency toward perseverance and a belief in hard work. The PISA exam also presented a series of questions to students that attempted to gauge their level of perseverance. The OECD laid out their findings on those topics here.
+

Students who reported that they continue to work on tasks until everything is perfect, remain interested in the tasks they start, do not give up easily when confronted with a problem, and, when confronted with a problem, do more than is expected of them, have higher scores in mathematics than students who reported lower levels of perseverance.

Rir é o melhor remédio

O que podemos aprender com o Ipea?

A recente discussão relacionada com a pesquisa divulgada do Ipea permite chamar atenção para alguns erros usuais que um pesquisador comete.

Em primeiro lugar, é necessário sempre rever os dados. Tudo leva a crer que o erro decorreu de uma troca numa planilha Excel, que levou ao exagero das respostas. É sempre bom verificar novamente os passos que fizemos antes de chegar à tabela final. Se for o caso, fazer um levantamento em outra planilha (ou até mesmo manual) nunca é demais.

Segundo, a pesquisa tinha um sério viés amostral. Do universo pesquisado, de mais de 3 mil pessoas, dois terços eram do sexo feminino. Para o tipo de pergunta, a amostra era claramente enviesada. Muitas vezes fazemos pesquisa com a amostra que temos disponível, como uma turma de sala de aula, mas para um instituto com recurso, a distorção na amostra é muito condenável.

Terceiro, a pergunta muito defeituosa, que induzia a resposta. “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” é uma frase muito mal construída. O termo “atacada” possui mais de um significado e induz a uma resposta.

Quarto, se você não tem intimidade com números, evite-os. Ou contrate alguém para ajuda-lo ou peça ajuda a alguém. O mesmo é válido para construção de um questionário ou de uma planilha de dados. Ou faça outro tipo de pesquisa. Ou estude, até adquirir intimidade com os números.


Quinto, assim que desconfiar do erro, imediatamente procure a retratação. O período entre a divulgação da pesquisa e o reconhecimento do erro foi muito grande, o que lança dúvida sobre a capacidade da instituição de fazer uma verificação nos dados de uma pesquisa. 

Pior retorno para população

Pela quinta vez consecutiva, o Brasil é o país que proporciona o pior retorno de valores arrecadados com tributos em qualidade de vida para a sua população. A conclusão consta de estudo do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação) que compara 30 países com maior carga tributária em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e verifica se o que é arrecadado por essas nações volta aos contribuintes em serviços de qualidade. Estados Unidos, Austrália e Coreia do Sul ocupam respectivamente as primeiras posições do ranking. O Brasil está em 30º lugar, atrás da Argentina (24º) e do Uruguai (13º), quando se analisa o retorno de tributos em qualidade de vida para a sociedade

Fonte: aqui

07 abril 2014

Concurso

A Universidade de Brasília está contratando, por concurso, três professores efetivos com dedicação exclusiva. Poderão se inscrever ao certame, graduados em contabilidade com mestrado ou doutorado em contabilidade ou áreas afins. O período de inscrição irá de 7 de abril a 29 de abril de 2014. O edital pode ser obtido aqui.

Rir é o melhor remédio

Fonte: aqui

Listas: Felicidade dos jovens

 Os países onde os jovens são mais felizes
No gráfico, as cores verdes são países com maior felicidade; vermelho, infelicidade

História da Contabilidade: o final dos anos 70

Já postamos aqui no blog sobre a década de 70. No seu início, as normas do Banco Central e as resoluções do CFC mudaram a face da auditoria brasileira. Além disto, precederam as mudanças contábeis da lei 6.404, já em1976.

Nesta postagem iremos comentar sobre os anos finais da década de setenta. A rigor não ocorreu nenhum grande evento neste curto período de tempo. Mas a pesquisa em documentos daquele período é possível perceber a consolidação de algumas empresas especializadas em treinamento contábil, entre as quais o IOB, IOPEC, Mapa Fiscal entre outras (1). Estas entidades promovem uma serie de cursos de aperfeiçoamento, com assuntos como contabilidade custos, correção monetária e análise de balanços. Nestes cursos, a presença de nomes ainda hoje conhecidos: Eliseu Martins, Sérgio de Iudicidus, Edson Riccio e Dante Matarazzo. Além disto, surge a Fipecafi, uma fundação de apoio do departamento de contabilidade da USP.

Mas a pesquisa revela algumas surpresas interessantes, que listarei a seguir.

Primeiros balanços com a correção monetária

A Lei 6.404 trouxe o mecanismo da correção monetária, bastante inovador (2). Entretanto este sistema de correção será incompreendido durante anos. No primeiro semestre de 1979 apresentaram uma redução no lucro. Veja o que disse uma reportagem do jornal Estado de S Paulo daquele período:

A redução das margens de lucro é porém mais aparente que real, segundo analistas do mercado de capitais. Em grande parte a contabilidade caiu em consequência dos critérios contábeis introduzidos pela lei das Sociedades Anônimas e que praticamente criou um novo conceito de lucro, ao permitir a correção monetária do balanço (3).

Poderíamos contrapor as grandes bobagens das afirmações acima. Mas basicamente é possível afirmar que o lucro é realmente existente e considera as perdas e ganhos monetários com a inflação daquele momento.

Profissão Contábil
A atuação do CFC no início da década, com aprovação de normas de auditoria, permitiu um fortalecimento desta entidade. Mas no final da década, alguns percalços. Uma proposta de Lelio Lauretti teve destaque e por pouco não interferiu nas atribuições do contabilista, em prol dos economistas (4). Lauretti defendia que as informações contábeis deveriam estar acompanhadas do certificado de auditoria contábil e de um parecer de análise econômico-financeira, assinado por um economista sem vinculo com a empresa, mas registrado no conselho.

Ao mesmo tempo, o Conselho Federal de Educação rechaça a proposta de unificar os currículos dos cursos de Economia, Administração e Contabilidade (5). Segundo este conselho, os cursos devem ser paralelos. O Conselho Federal de Educação respondeu a uma preocupação do Conselho de Economia sobre uma pretendida unificação dos currículos.

Computador na Contabilidade
O computador ter sido introduzido na contabilidade brasileira no início do século, através da importação das máquinas Hollerith (6), que ajudavam na folha de pagamento, por exemplo. Mas no final da década de 79 surgem os primeiros computadores pessoais, que ainda não seriam usados na nossa área. Mas já existia uma popularização das máquinas; alguns escritórios de contabilidade, mais avançados, já faziam a contabilidade por contador.

Junto com isto, começa a existir uma preocupação com a auditoria neste tipo de ambiente. Nesta época surgem os primeiros encontros de profissionais que debatem estes assuntos. Em junho de 1979 ocorreu uma conferência do Instituto of Internal Audits nos Estados Unidos, que contou com a participação do professor Loureiro Gil (7).

Um aspecto interessante que encontrei nas minhas pesquisas:

Foi em 1950 que ocorreu a primeira incursão dessa empresa [IBM] na utilização do computador na indústria privada, com o lançamento de uma série de máquinas de contabilidade chamada CPC. (8)

Contabilidade e Futebol
Finalmente, para distração do leitor, dois casos curiosos envolvendo futebol. O primeiro diz respeito ao jogador Clodoaldo, que atuava no Santos e foi titular da seleção de 70. Comentando sobre o jogador, que estava prestes de sair do Santos, o presidente do clube, Rubens Quintas, fez o seguinte comentário:

Não posso rescindir o contrato, ao mesmo tempo, dar passe livre ao Clodoaldo. Afinal, consta na contabilidade do clube que o “passe” de Clodoaldo custou 1,3 milhão de cruzeiros [moeda da época], quando todos sabem que ele veio de graça para o Santos. Quer dizer, quando o clube sofria prejuízos, os ex-dirigentes lançavam em cima do Clodô (9)

Entendeu? Confesso que também não entendi nada.

Outro aspecto curioso. Ao comentar sobre a Copa do Mundo de 1978, mais especificamente do grupo 1, que tinha Argentina, França, Hungria e Itália, um texto jornalístico procurou fez uma reportagem sobre um jovem artilheiro que tinha sido comprado recentemente por cinco milhões de dólares pela Juventus. Filho de uma família de classe média de Arezzo, o jogador planejava terminar, nos próximos meses, aos 20 anos de idade, o curso de contabilidade. Afirmava ele:

Afinal, sou jovem e preciso cuidar do meu futuro (10)

Nome do artilheiro: o carrasco Paolo Rossi (11), que brilharia na copa de 1982, no estádio de Sariá (12).

Referências
(1) Estas empresas também criavam material didático para o profissional. O Mapa Fiscal chegou a venda a Enciclopedia Contábil Mapa Fiscal. Anunciada como uma ideia inédita que estaria revolucionando o mundo da contabilidade, continha três mil fichas, “com todos os lançamentos contábeis existentes”. Vide, por exemplo, propaganda O Estado de S Paulo, 28 de setembro de 1978, ed. 31.760, p. 39.
(2) Vide sobre ele em NIYAMA, Jorge Katsumi; SILVA, César A. Tibúrcio. Teoria da Contabilidade, São Paulo: Atlas, 2013.
(3) Correção reduz lucro aparente de banco em 79. O Estado de S Paulo, 29 de agosto de 1979, ed. 32042, p. 21.
(4) LAURETTI, Lelio. A defesa do parecer de análise econômica. O Estado de S Paulo, 10 de julho de 1979, ed 32076, p. 66.
(5) Alterado critério para o diploma. O Estado de S. Paulo, 29 de agosto de 1979, ed 32042, p. 10.
(6) Comentamos sobre isto na postagem em homenagem a Valetim. Vide aqui
(7) EUA: congresso sobre auditorias em computador. O Estado de S Paulo, 1 de abril de 1979, ed 31916, p. 55.
(8) FREGNI, Edson. Computação eletrônica. O Estado de S Paulo, 25 de novembro de 1979, ed 32117, p. 231. Grifo nosso, destacando a coincidência (será?) entre o nome da máquina e a entidade contábil.
(9) Clodô rescinde o seu contrato. O Estado de S Paulo, ed. 32066, 26 de setembro de 1979, p. 22.
(10) Um artilheiro que condena a própria fama. O Estado de S Paulo, ed. 31.660, 2 de junho de 1978, p. 20.
(11) Vide aqui.

(12) Vide aqui

Entrevista com Samuel Pessoa



Samuel Pessoa, um físico que leciona economia, estreitou as relações com o PSDB na campanha presidencial deste ano. O senador Aécio Neves, candidato dado como certo para a legenda, anunciou que ele é um de seus assessores. Pessoa faz duras críticas à atual política econômica: "eu chamo de ensaio nacional desenvolvimentista - foi uma tragédia para o País e tem de ser revertido", diz. Na sua avaliação, a reversão deve ser seguida reformas que possam dar eficiência ao Estado sem que seu tamanho seja reduzido: "A sociedade quer educação, sistema de aposentadoria, programas sociais - é impossível reduzir o Estado", disse na entrevista que segue. 

Como o senhor esta vendo o atual momento da economia?

Samuel Pessoa: Vou falar o que repito em todo lugar porque acho importante. Quando se olha a formulação de política econômica no Brasil, eu acho que há duas agendas muito diferentes. A partir do final do segundo mantado do governo Lula, passamos a ter duas agendas. Uma é muito anterior ao governo Lula. É uma agenda que está com a gente desde a democratização - uma agenda estrutural. Há outra agenda, que veio de 2009 para cá. Ela está associada a saída do ministro Antonio Palocci e a ida do ministro Guido Mantega (no Ministério da Fazenda). Isso aconteceu em 2006. O ministro Mantega teve muito senso de oportunidade e habilidade política para implantar a agenda dele aos poucos, conforme os fatos fossem permitindo. Em 2009, depois da crise, foi o grande momento em que ele pode trazer para a formulação da política econômica uma nova agenda. A primeira agenda estrutural eu chamo de contrato social da redemocratização. A segunda agenda - da equipe econômica do Mantega e da presidente Dilma e do final do governo Lula - eu chamo de ensaio nacional desenvolvimentista. Eu separo muito bem essas duas agendas. Acho que essa segunda é petista puro sangue. Acho que o Palocci, dentro daquele grupo político, talvez seja a excepcionalidade e parece que esse grupo político do PT tem um visão muito favorável ao nacional desenvolvimentismo e a esse conjunto de políticas econômicas - se bem que, posso estar exagerando, porque houve um período do governo Lula em que havia muita continuidade e que esse tema da agenda nacional desenvolvimentista não tinha proeminência. A outra agenda, a estrutural, é uma opção que a sociedade brasileira fez na Constituição, lá em 88. Está materializada no texto constitucional e essa opção vem sendo referendada e repactuada a cada eleição desde então. Ela expressa o desejo da nossa sociedade de construir um Estado de bem estar social muito abrangente, nos moldes dos países da Europa continental. Esse desenho esta no nosso texto constitucional. Neste aspecto, não há nenhuma diferenciação entre nenhum grupo política em atuação no Brasil. Em particular, eu acho que isso não distingue tucanos de petistas. O que inclui? Política de valorização do salário mínimo. Abono salarial, que é um programa lá do governo Sarney (José Sarney, ex-presidente da república). A aposentadoria rural. A Lei orgânica da assistência social. Renda mensal vitalícia. O programa bolsa família. A universalização da saúde. Mais recentemente, algumas iniciativas muito interessantes, como ProUni, Fies (programas de financiamento para o ensino superior) e todo um esforço de educação técnica. É um desejo da nossa sociedade avançar na questão da equidade. Com mais ou menos eficácia - tem programas que fazem sentido e outros que não fazem - isso é uma discussão. Mas esse é o pacote que o eleitor quer. O que cada governo faz é muito em função do que está na agenda desse pacto. A segunda agenda, não. Ela tem uma diferença grande. É uma agenda para colocar o Estado - o setor público - interferindo no desenvolvimento econômico. É o Estado decidindo a alocação de capital. É o Estado fazendo microgerenciamento das políticas de impostos e das tarifas de importação para incentivar alguns setores escolhidos segundo certos critérios. É o Estado fazendo microgerenciamento da política de intermediação financeira. Além disso, tenta adotar teorias heterodoxas sobre o processo inflacionário que acabam interferindo na liberdade do Banco Central e tendo um impacto sobre a inflação. É uma agenda grande. Começou no governo Lula, antes de 2009. Mexe nos graus de independência das agências reguladoras. Coloca uma parte grande da regulação de volta para os ministérios e, além de colocar de volta para os ministérios, passa a ter muita discricionariedade na regulação de diversos setores da economia. Ou seja: ao invés de usar um sistema de regras e procedimentos, pesos e contra pesos, passamos a ter a mão pesada do Estado. A gente vê isso no setor de petróleo, no setor de energia elétrica. Até na reformulação do marco ferroviário, com a ideia de separação vertical - que eu acho que não vai funcionar. Foi uma má ideia. Tem uma lista longa. Esse pacote não é da sociedade. É um pacote de um grupo de pessoas que está no centro da formulação da política econômica e que avalia que essas medidas são necessárias para acelerar o crescimento econômico. A minha avaliação é que esse ensaio nacional desenvolvimentista deu errado. Deu tudo errado. Foi uma tragédia para o País. Foi adotado por motivos ideológicos e acho que ele tem de ser revertido. 

[...]

Mas como resolver?

Samuel Pessoa: A solução não está na economia. A solução é política - e os políticos terão que resolver. O que a economia diz é: ou repactuamos, para que o gasto cresça mais lentamente, ou aumentamos a carga tributária, o que é legítimo, ou não fazemos nada e se soluciona com inflação - o que eu acho que a sociedade não quer. Mas nós que atuamos na área econômica temos apenas um papel, uma função: informar direito. Vamos pegar as manifestações do ano passado. A sociedade mostrou ter uma leitura diferente da minha e acho que essa leitura é muito equivocada. As sociedade acredita que dá para resolver todos os problemas do Estado combatendo a corrupção e suas ineficiências. Isso não é verdade. Combater a corrupção e as ineficiências do Estado é muito importante e precisa ser feito. É mais importante ainda quando se lembra que houve o ensaio nacional desenvolvimentista e destruição na governança de diversos setores da nossa economia - no setor de petróleo, no de energia, nas agências reguladoras. Construíram-se muitas ineficiências ao longo de anos de governo petista. Sendo bem específico: a gente gasta com o INSS algo como 7,5% do PIB. Tem uma tabela do Mansueto que todo ano a gente atualiza. Essa conta aumentou 3 pontos porcentuais do PIB nos últimos 20 anos. Essa conta não é cara porque tem um monte de falecidos ganhando indevidamente o benefício. Ou porque um monte de gente fraudou e está ganhando indevidamente o benefício. Ou porque um monte de gente que tem direito ao benefício conseguiu fraudar e recebe um benefício maior do que a regra permite. Isso deve existi em toda parte. Deve existir no Estados Unidos. É bem possível que seja um pouco pior no Brasil. Mas isso não representa o grosso. Medidas de gestão para resolver esses problemas não resolvem a questão estrutural - o fato de o contrato social requerer que o gasto público cresça a uma velocidade maior que o crescimento do PIB. Esse problema é estrutural. Essa questão vai ser tratada na esfera política, envolvendo executivo e legislativo. Os técnicos têm pouco a dizer a esse respeito.

Mas qual é a sua opinião - como compatibilizar a agenda social com a necessidade de financiamento público?

Samuel Pessoa: O processo eleitoral é que vai dizer o que fazer. A forma como a sociedade se pronunciar, a forma como o debate entre candidato e sociedade ocorrer é que vai dizer. Se eu disser o que quero, não vou falar como economista, vou falar como cidadão. Aliás, gente, eu não sou economista. Eu sou professor de economia e sou físico -- e apenas formado em física. Ser físico é para poucos. Não é o meu caso, infelizmente. Então, posso falar pelo cidadão Samuel, que é rico - todos nós aqui fazemos parte do 1% da sociedade mais rica. Até hoje, eu me penitencio pela aquela ida ao Senado, travestido de técnico. No fundo eu representava o cidadão. Isso me entristece até hoje. Eu confundi as duas personas. Por isso, acredito que agora não é momento para eu falar. Algum candidato contrario ao Aécio pode pegar alguma coisa que eu falar e apresentar em um programa para dizer: está vendo? O Aécio quer fazer isso. Um dos assessores dele disse que ele deve fazer isso.

Publicaram hoje uma entrevista do Aécio em que ele toca sobre vários pontos da economia. Dois deles chamam a atenção: ele acha que é preciso manter a política do salário mínimo e que o gasto não deve cresce acima do crescimento do PIB. Ele disse isso. Qual a tua opinião?

Samuel Pessoa: A política do salário mínimo e os atuais critérios de elegibilidade do INSS gera um dinâmica da previdência em que o crescimento é maior que o PIB. Tem sido assim nos últimos anos. Deve ter alguma ineficiência. É possível melhorar os mecanismos de controle. Mas não é isso que vai resolver. Para manter isso intacto, será preciso mexer em outras rubricas para que o gasto como um todo não cresça. Isso pode ser feito. Mas é preciso ver com o senador o que ele tem na cabeça. Eu acho que a aproximação do debate eleitoral, essas questões vão ser tratadas.

Olhando para a outra agenda, a nacional desenvolvimentista que o sr. criticou muito, o que é preciso mudar?

Samuel Pessoa: É preciso reduzir os créditos do Tesouro para bancos públicos. Foi um excesso. Foram os anos 70 voltando. O Geisel voltando. Parece um trem fantasma. É preciso consertar os preços. Novamente, isso também é um trem fantasma. Nos anos 70, na hiperinflação da redemocratização, por várias vezes, tentamos controlar preços segurando tarifa pública. Fizemos isso desde os anos 50. Nunca deu certo. O preço precisa ser real. Mas dizem: ahhhh, mas tem o problema da pobreza. Sim, mas o problema de pobreza a gente cuida com os mecanismos corretos - com um bolsa família, que é um instrumento poderoso, espetacular, que precisa ser valorizado e reforçado o tempo todo. Para mim, o presidente Lula marcou um enorme gol quando unificou os programas sociais, aumentou e potencializou os benefícios. Teve um impacto muito importante. As pessoas precisam ter uma garantia mínima de vida, sim, mas você faz isso com política de salário mínimo, com bolsa família, que dão uma renda para as pessoas. Mas os preços, da gasolina, da energia, precisam ser corretos. Isso precisa ser desfeito. Não gosto da política de desoneração. Acho que o senador tem uma opinião diferente da minha nesse aspecto. Eu sou um fiscalista. Acho muito ruim ter um superávit primário mais baixo quando as condições de endividamento do Estado não permitem. Acho muito ruim o risco-país, desde outubro, ter aberto 100 pontos em relação a México, Chile, Peru. Acho muito ruim a gente começar a fazer conta: será que essa dívida vai começar a crescer feito bola de neve? E eu acho que isso foi gerado por uma política desastrada de desoneração tributária. Tirando a desoneração sobre salário e sobre cesta básica, que têm benefícios óbvios e já deveriam ter sido adotadas há muito tempo, sou contrário as desonerações tópicas para esse ou aquele setor. A gente precisa reforçar a posição fiscal. O princípio de uma macroeconomia em ordem é um setor pública em ordem. A gente entrou numa crise muito profunda em 2008 e 2009 e houve muita competência por parte da equipe do ministro Mantega para enfrentar aquele episódio e tirar o País da crise. Um dos instrumentos adotados foi a política de desoneração. Eu acho que até exageram nos instrumentos contracíclicos em 2009. Não precisava de tudo que foi feito. Mas reproduzir a prática em 2011, 2012 foi um erro gigantesco. A economia brasileira já estava vivenciando uma realidade totalmente diferente. Por causa dessa política desastrada de desonerações ficamos com os ônus sem ter os bônus. O Tesouro Nacional ficou com os ônus, mas o País não teve os bônus da política. Também aumentaram imposto de importação, mas isso caiu. Foi uma boa medida cair. A gente agora via ter de enfrentar a inflação com uma posição fiscal sólida e um Banco Central independente. Uma boa medida é tentar passar no Congresso a independência formal do Banco Central.

[...]

Excluindo essa agenda que o sr. considera desastrosa, o que deve ser colocado no lugar para elevar o crescimento?

Samuel Pessoa: O tema crescimento também tem dois aspectos. Há um aspecto político. Crescer dói. Não é fácil. A China cresce 7% ao ano. Vai lá ver se está todo mundo feliz com aquele crescimento. A taxa de poupança de uma família chinesa é de 50% da renda. Poupando 50% da renda dá para crescer muito. Pergunta: a sociedade brasileira que poupar isso para crescer mais rápido? Ou tem outra escolha? Quer crescer mais lentamente? Esse são temas para os quais o profissional de economia não tem nada a dizer. Não é bom. Não é ruim. É uma escolha da sociedade. Isso bate no contrato social da redemocratização. Eu tenho dito, tenho escrito várias vezes - a sociedade brasileiro escolheu crescer pouco. Quer cresce de maneira mais sólida. A agenda da sociedade brasileira hoje não é crescimento. É equidade. O Brasil tem crescido e tem melhorado, mas no nosso ritmo, atendendo às nossas demandas. Por outro lado, o ensaio nacional desenvolvimentista piorou a situação, porque ele tira a eficiência da economia. Uma parte do nosso baixo crescimento é um padrão de escolha da sociedade. Mas outra parte do baixo crescimento, mais recente, no meu entender, vem da eficiência econômica e dos erros de política econômica que foram cometidos seguidamente a partir de 2009. Se for revertido, o Brasil cresce mais. Vou até dar a minha conta porque esse é um debate que temos feito. O Brasil está crescendo hoje 2 pontos porcentuais a menos do que crescia antes. O mundo cresce 0,6 a menos. A América Latina cresce 0,7 a menos. Nós estamos crescendo 2 a menos. Alguma coisa que aconteceu e fez com que a nossa desaceleração fosse muito maior do que a desaceleração do resto do mundo. É verdade que as economias estão interligadas e que o ciclo mundial é sincronizado, principalmente agora que o mundo é globalizado. O ciclo do Brasil é igual ao ciclo do mundo. Mas a gente abaixou mais. Por que? Bom, 0,6 ponto porcentual de queda foi provocada pelo mundo. E o resto? Você tem o esgotamento do fator trabalho, que deve explicar cerca de meio ponto porcentual de queda. Mas tem cerca de um ponto porcentual de perda - talvez um pouco menos - que no meu entender vem da ineficiência econômica e de uma certa desorganização que existe na economia. São as consequências na mudança do regime econômico que o ministro Mantega chamou de a nova matriz econômica. Isso está tirando um ponto porcentual do crescimento. Talvez a minha conta esteja exagerada e não seja tudo isso - seja 0,7 ou 0,8. Revertendo essa política, voltando ao regime anterior e avançando a partir de onde a gente estava antes, isso muda. O FHC não é o fim dos tempos. Ele fez o que era possível naquela janela de oportunidade nos oito anos que teve. Ele deixou muita coisa a ser feita. Nos primeiros anos do governo Lula, o País avançou muito, principalmente na área de crédito. Mas temos agora que desfazer as coisas erradas e continuar naquela toada.

O para frente nessa toada inclui o que?

Samuel Pessoa: Para atender as ruas, uma parte do trabalho é melhorar a eficiência do Estado. Essa é uma agenda que está parada. Falei isso inúmeras vezes. Desde o primeiro mandato de FHC, quando se fez muita coisa. Bresser Pereira passou pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Depois a Claudia Costin deu continuidade. Mas até pela complexidade dos temas tratados no segundo mandato de FHC, essa agenda ficou um pouco parada. O governo petista não conseguiu tocar essa agenda. A questão da reforma administrativa inclui dar ao Estado instrumentos de gestão para fazer com que as pessoas que passaram no concurso público, mas que sejam funcionários ruins, possam ser demitidas Hoje o cara só é mau funcionário público se roubar. Se ele tiver um desempenho ruim que penalize a comunidade, ele fica. Essa é uma questão fundamental para atender as demandas das ruas. Foi uma pena o longo ciclo petista não trazer nenhum reflexão nessa direção. Gastaram muito tempo destruindo coisas que funcionavam bem. Um exemplo: o marcado regulatório do petróleo. Gastou-se energia do setor público que poderia ser endereçada para outros temas. No âmbito estadual, o Aécio, dentro do que é possível fazer com legislação estadual, fez muita coisa em Minas Gerais. Essa é uma agenda importantíssima para que se possa melhorar os serviços de saúde, educação e segurança. A gente não vai melhorar saúde, educação e segurança colocando mais dinheiro. Talvez até precise gastar um pouco mais com saúde, mas a questão, de forma geral, não é mais dinheiro. É preciso usar melhor o dinheiro - mas para usar melhor o dinheiro é preciso olhar o Estado por dentro. Tem também a eterna agenda da reforma tributária. A presidente Dilma reconheceu e os economistas que trabalham com ela estão cientes e se esforçaram para levar adiante. No entanto, acredito que perdemos uma chance preciosa. O ensaio nacional desenvolvimentista destruiu a situação fiscal. Só para vocês terem uma ideia. O primário recorrente neste ano, desconsiderando receitas extraordinárias, provavelmente vai ser 0,8 % do PIB. O primário em 2002 era 3%. Um pouco mais que isso. O ano de 2002 terminou com déficit de transações correntes acho que um pouquinho abaixo de 2 pontos porcentuais. Este ano vai fechar em 4 ou 3,9. O fiscal, além da perda da transparência e outros efeitos ruins, piorou muito. A gente perdeu a oportunidade de usar o espaço fiscal que tínhamos lá atrás para fazer um reforma tributária, negociando com os estados. Foi trágico. Quiseram reinventar o Geisel, ao invés de usar esse espaço fiscal para fazer a reforma tributária, que é muito importante. Agora, essa reforma tributária só vai sair se o executivo quiser muito e se ele tiver espaço fiscal, para poder liderar o processo. 


Quando o senhor fala que elevar a eficiência do Estado, considera a possibilidade de reduzir o seu tamanho retomando as privatizações? 


Samuel Pessoa: Quando a gente fala de tamanho do Estado também temos duas agendas - totalmente diferentes. Acho impossível diminuir o Estado Brasileiro. A sociedade não quer diminuir o Estado - e a sua escolha é legítima. A sociedade quer saúde pública, universal, integral. Quer educação pública. Quer um sistema abrangente de aposentadoria. Quer um sistema abrangente de seguros público - abono salarial, seguro desemprego - e programas sociais. Como a sociedade quer tudo isso, é impossível reduzir o Estado. Nesta dimensão, o Estado só vai mudar, se a sociedade mudar. Como eu acho que ela não vai mudar, o Estado não vai diminuir. Isso não está em discussão. Eu como cidadão posso gostar mais de um Estado grande ou pequeno. Posso preferir a Suécia aos Estados Unidos. A sociedade brasileira já tomou a sua decisão - prefere a Suécia. Essa escolha não está em xeque. Não é isso que se discute nessa eleição. O que se discute é modelo de intervenção na economia. Eu acho que é preciso mudar a intervenção direta na regulação da economia. Isso é um desastre.

Para o Brasil ser Suécia, precisa de qual modelo de crescimento?

Samuel Pessoa: Uma vez eu pensei nisso. Acho que o modelo nosso modelo é meio nosso. Há o modelo anglo saxão, que é pouco welfare e tem pouca intervenção direta do Estado na economia. Há o modelo europeu que é muito welfare e tem uma regulação mais dura do Estado. Há o modelo oriental, muito pouco welfare, mas com muita regulação. O nosso é único. Muito welfare e com uma regulação menor na economia. Acho que isso é possível e tem condições de gerar crescimento econômico. Talvez seja um modelo parecido com países como a Austrália.