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21 janeiro 2013

Ciência e Corrupção

Science 4 January 2013:
vol. 339 no. 6115 pp. 30-32

You've just been elected to your nation's highest office! In your inaugural address, announce the biggest challenge facing your country today and how you will use science to address it.

In the 4 January 2013 issue, we ran excerpts from 14 of the many interesting responses we received. Below, you will find the full versions of those 14 essays (in the order they were printed) as well as the best (in alphabetical order) of the other submissions we received.

Would you like to participate in the sixth NextGen VOICES survey? To make your voice heard, go to http://scim.ag/NextGen6.

[...]

In developing growth, Brazil has been recognized as a significant exporter of new tendencies in music, art, and sports. The Brazilian scientific scenario is also changing; it produces half a million graduates and 10,000 PhDs a year, 10 times more than two decades ago, with a significantly increased scientific publication record. However, this nation has been confronting several matters of different natures. Besides all the problems that affect its population, such as unequal wealth distribution, tropical diseases, and drugs, corruption is probably the most important cause of the retard of the Brazilian economy, breaking the fast development. The idea of exchanging favors to reach the aim of a minority has been prospering in the Brazilian politics for a long time. The corruption stamp has marked several Brazilian governments. Indirectly, it kills more than cancer or AIDS. If these billions of reais (Brazilian currency) were invested in health, education, or science, certainly, the progress of this country would be faster than one could imagine. Basic scientific education for our youngsters, who will be the future politicians, would be the main strategy for a long-term action. Ideally, every high school should be directly associated with a research laboratory in which its masters and PhD students should be responsible for giving tutorials for the young apprentices. If we can implement the Max Perutz certainty that "in science truth always wins," maybe it will force national leaders to recognize that everybody plays on the same team and in the same World Cup.
Guilherme Martins Santos
Laboratory of Molecular Pharmacology, Department of Pharmaceutical Sciences, Faculty of Health Sciences, University of Brasília, Brazil. CEP 70910-900, Brazil.
E-mail: gsantos@unb.br

Boeing 2

A figura mostra a composição do Dreamliner, segundo a sua procedência. Estados Unidos, Canadá, Itália, Reino Unido, França, Suécia, Japão, Coréia e Austrália participam da produção

Boeing 1

A Boeing está enfrentando problemas com o programa 787 Dreamliner. Mas, como lembra Vipal Monga (em Boeing Accounting Method Could Smooth Out Dreamliner Problems, WSJ, 18 de jan de 2013) isto talvez não apareça nas demonstrações da empresa por conta da forma de contabilização, denominada Program Accounting System. Esta forma de contabilizar permite que a empresa distribua os custos de fazer um avião ao longo do ciclo de vida.

Em geral, os primeiros aviões possuem um custo unitário muito elevado. Isto ocorre em razão do custo de aprendizagem - que é elevado na indústria de aviação - assim como o elevado custo pré-operacional. Assim, a empresa pode distribuir os custos envolvendo os problemas com a aeronave por décadas. Para o usuário externo, é muito difícil encontrar estes efeitos já que a empresa faz uma estimativa do custo total de produção, do número de aeronaves que irá produzir e a distribuição disto ao longo do tempo. E estas informações não são claras.

Cruzeiro do Sul

Com R$ 28,3 milhões dá para comprar 566.821 cartões telefônicos de R$ 50. Se você tiver sorte de pegar uma promoção de R$ 0,05 o minuto, poderá falar por 9,5 milhões de horas. Ou 393 mil dias, que correspondem a 1.076 anos. Distribua os cartões a duas pessoas e eles poderiam falar ao telefone desde o descobrimento do Brasil até hoje.

O Banco Cruzeiro do Sul registrou a compra dessa montanha de cartões, usados para recarga de celular pré-pago, mas ninguém falou um minuto, segundo investigação da Polícia Federal.

A compra foi simulada para desviar R$ 28,3 milhões do caixa do banco, de acordo com a denúncia da procuradora Karen Louise Khan.

O truque para que os cartões virassem dinheiro desviado era simples, ainda de acordo com a polícia: os donos do Cruzeiro do Sul, a família Indio da Costa, também tinha o controle da empresa que vendia os cartões ao banco, a Vox Distribuidora de Cartões Telefônicos.

Dito de um jeito mais simples: o dinheiro saía do banco dos Indio da Costa e ia para uma empresa controlada pela mesma família. Como o banco estava quebrado, o dinheiro desviado saía da conta dos clientes.

O advogado de Luis Felippe e Luis Octavio, Roberto Podval, diz que vai provar a inocência de seus clientes na Justiça, mas não quis comentar as acusações sobre os cartões telefônicos.

(...) Em setembro de 2010, o banco e a Vox firmaram um contrato pelo qual o Cruzeiro do Sul decidiu comprar 25.500 cartões pré-pagos.

Depoimento à Polícia Federal de um funcionário da tesouraria, Alessandro Gonçalves de Oliveira, revelou que só 2.100 cartões foram entregues. "(...) a suposta aquisição de cartões telefônicos pré-pagos, na prática, jamais existiu", escreveu a procuradora na denúncia apresentada em dezembro.

Mesmo sem a entrega dos cartões, o banco usava esse contrato com a Vox para fazer retiradas semanais de R$ 250 mil da tesouraria do banco em dinheiro vivo.

Os saques não eram registrados na contabilidade oficial, mas no caixa-dois do banco, segundo a denúncia.

O dinheiro era entregue para Luis Felippe Indio da Costa e Luis Octavio Indio da Costa, os donos do banco, e diretores, segundo a procuradora. Os pagamentos à Vox também eram do tipo vai-e-volta, segundo a testemunha José Alfredo Lattaro: "Os recursos enviados à Vox voltavam em espécie para o banco em malotes". Segundo ele, os valores eram guardados no cofre, sem contabilidade.

Cartões telefônicos encobriram fraude no Cruzeiro do Sul, diz PF - MARIO CESAR CARVALHO - Folha de S Paulo - 20 de jan 2013

Axioma de House

O mundo se divide entre comprados e vendidos, que se revezam nessa posição, e todos mentem sobre a sua real condição. [Axioma de House]

Por Gustavo Franco

No mercado, como já observado, tudo se sabe. Entretanto, diferentemente do high society, onde o exibicionismo é a regra, no mercado os operadores estão mais para pragmáticos jogadores de pôquer ou para poetas fingidores como Fernando Pessoa, que chegam a fingir a dor que deveras sentem, e nada indicam sobre as dores (e posições) existentes e sentidas, apenas revelando as descritas na poesia.

As verdadeiras crenças e a efetiva natureza, montante e direção das apostas dos operadores de mercado, nunca serão reveladas corretamente diante de uma pergunta direta. Todos mentem, conforme o bordão criado pelo doutor Gregory House, o controvertido especialista em diagnósticos de uma das mais bem-sucedidas séries de televisão dos últimos tempos.

A verdade do mercado está sempre nas posições assumidas, nunca no discurso: o mercado só fala nos autos. E para evitar que a mentira – melhor dizendo, a desobrigação de dizer a verdade – fique evidente, os participantes do mercado recorrem a uma imagem muito popular, a “Muralha da China” (em inglês, the Chinese Wall), atrás da qual põem a falar a figura do “economista-chefe”, alguém que tem uma opinião sincera que não tem nenhuma relação com a do pessoal que opera.
A “Muralha da China” designa a separação que deveria existir, por exemplo, entre quem faz pesquisa econômica e publica suas recomendações vagas e inofensivas para os clientes (“os analistas”) e a tesouraria. Os primeiros são os estudiosos, os que escrevem relatórios, os que respondem aos questionários do BCB (Banco Central do Brasil) e os que fazem declarações públicas inteligentes e espirituosas, normalmente otimistas e cautelosas. A tesouraria, onde estão os operadores que têm o talão de cheques, não aparece, não fala, ninguém sabe de quem se trata e, graças à figura da “Muralha da China”, em nada se associa ao que diz o economista-chefe ou mesmo o presidente do banco.

Entre os que falam e os que operam parece haver uma lógica muito assemelhada ao que se conhece nos Estados Unidos como plausible deniability, expressão cuja tradução ao pé da letra seria “a capacidade de negar envolvimento de forma plausível”. Esse tema foi extensamente discutido no mundo jurídico anglo-saxão quando se investigou a atuação da CIA (agência central de inteligência americana) em diversos episódios controversos nos quais as cadeias de comando eram estabelecidas de forma deliberadamente informal, a fim de que a Autoridade máxima sempre pudesse negar de forma plausível que tivesse conhecimento de qualquer operação mais polêmica que de fato ordenou. É a mesma lógica, segundo dizem os ufólogos, pela qual as Autoridades dizem desconhecer as evidências de vida extraterrestre ocultas nos arquivos militares.

O fato é que, no mercado, sempre, em qualquer ocasião, metade da munição está com os comprados e a outra metade com os vendidos, se o preço está dado. Repare que isso não tem nada a ver com esperteza, assunto de que tratamos logo acima (n. 3, Axioma de Malan), a propósito da ignomínia e da capacitação dos participantes do mercado, mas com o ânimo comprador. O que se procura estabelecer neste tópico é que o mercado não tem nenhum viés nesse assunto, a despeito do que as instituições falam através de seus porta-vozes. O pessimismo seria uma ocorrência rara, se a verdade do mercado estivesse refletida nas manifestações institucionais. Na prática, há sempre uma metade do mundo pessimista, mas quem realmente está comprado, ou vendido, nunca se sabe, até porque, no momento seguinte, as instituições trocam de posição, a dança das cadeiras recomeça e o preço muda, ou não, e sempre uma metade acredita e a outra duvida.

Franco, Gustavo H. B. (2012). As leis secretas da economia. Zahar-Brasil. Kindle Edition. Dica de Pedro Correia.

20 janeiro 2013

Rir é o melhor remédio


Cruzeiro do Sul

A Justiça encontrou aparentes erros numa das duas denúncias contra os executivos do Banco Cruzeiro do Sul e pediu ao Ministério Público Federal que esclareça as divergências. Se forem comprovados os erros, pode ser que o caso todo seja anulado.

(...) Os erros foram apontados pelo juiz federal Márcio Ferro Catapani em manifestação enviada ao Ministério Público Federal no último dia 11. No texto, de 16 linhas, o juiz aponta quatro erros na acusação apresentada em dezembro pela procuradora federal Karen Louise Khan.

Segundo o juiz, a procuradora errou o nome de uma empresa envolvida num negócio com cartões telefônicos. Ela afirma que era a Verax Serviços Financeiros, enquanto a investigação da Polícia Federal aponta que a companhia envolvida chama-se Vox.

A procuradora, ainda de acordo com o juiz, incluiu na denúncia o nome de dois acusados no caso dos cartões que não aparecem nesse episódio na investigação da PF.

Os acusados são Marcelo Xandó Baptista e Márcio Serra Dreher. Os dois executivos eram da Verax Serviços Financeiros, não da Vox. A procuradora incluiu o nome de Baptista e Dreher num caso de manipulação de ações do banco na Bolsa de Valores, embora eles não apareçam na investigação desse episódio.

Por fim, Louise Khan denunciou dois executivos no episódio da manipulação das ações (Álvaro Luís Alves de Lima Otero e Amadeu Simões Lopes Azambuja), mas os nomes deles não aparecem na descrição dos fatos sobre esse caso, ainda segundo o juiz federal.

O juiz pediu o esclarecimento sobre os eventuais erros depois que o advogado Arnaldo Malheiros Filho enviou uma petição em que questionava alguns pontos da denúncia, entre os quais as medidas cautelares que a procuradora pedia contra os executivos. Uma das medidas pedidas era que os executivos fossem proibidos de ficar na rua após as 20h.

ANULAÇÃO

Três advogados do caso, ouvidos pela Folha sob condição de que seus nomes não fossem citados, dizem que os supostos erros devem gerar nulidade da ação contra os controladores do banco --Luis Felipe Indio da Costa e Luis Octavio Azeredo Lopes Indio da Costa-- e mais 15 executivos.

Os advogados Roberto Podval, que defende Luiz Felipe e Luis Octavio, e Arnaldo Malheiros Filho, advogado de Baptista e Dreher, não quiseram se pronunciar sobre os supostos erros.

O Ministério Público Federal diz que analisará o pedido do juiz para se pronunciar.

Fonte: Aqui

Robôs em restaurantes

Notícia publicada no Marginal Revolution comenta a abertura de um restaurante na China com o uso intensivo de robôs. São 20 robôs, como garçons e cozinheiros. Os robôs são capazes de preparar mais de 30 pratos.

Cada robô custa entre US$31 500 e 47 mil. Além disto, o restaurante investiu 790 mil dólares. Uma refeição média custa 10 dólares. Assumindo um custo de cada robô sendo 40 mil, o custo total seria 40 mil x 20 + 790 mil = 1590 mil. Ou seja, seriam necessários servir quase 160 mil refeições para recuperar o investimento. Vale a pena?

Ricos

Publicação americana listou líderes evangélicos com maior patrimônio do Brasil; Macedo aparece na primeira posição com 1,9 bilhão de reais

O bispo Edir Macedo é o pastor mais rico do Brasil, com um patrimônio avaliado em 950 milhões de dólares (1,9 bilhão de reais), de acordo com a revista Forbes. A publicação americana trouxe em sua edição desta quinzena uma matéria em que lista os pregadores evangélicos mais ricos do país. Com uma fortuna superior da relacionada aos outros listados, o líder da Igreja Universal do Reino de Deus, que possui templos também nos Estados Unidos, é apontado como o “símbolo do enriquecimento das igrejas evangélicas no Brasil”.

Em seguida, aparece um ex-discípulo de Macedo, o pastor Valdemiro Santiago. Ex-pregador da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdomiro fundou a própria instituição, a Igreja Mundial do Poder de Deus, que, atualmente, conta com 900.000 seguidores e 4.000 templos. O patrimônio de Valdomiro é estimado em 220 milhões de dólares (440 milhões de reais). Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, maior igreja pentecostal brasileira, figura na terceira posição, com a fortuna avaliada em 150 milhões de dólares (300 milhões de reais).

O ranking aponta ainda RR Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus (patrimônio avaliado em 250 milhões de reais), e os fundadores da Igreja Renascer em Cristo, "apóstolo" Estevam Hernandes Filho e sua esposa, "Bispa" Sonia. Com 1.000 igrejas no Brasil e no exterior, o patrimônio dos dois é avaliado em 65 milhões de dólares (130 milhões de reais).

A reportagem afirma que, em virtude da rentabilidade, ser um pastor evangélico no Brasil é “o sonho de muitas pessoas”. De acordo com a Forbes, para os pregadores, “as chances de ganhar na loteria celestial são maiores”.


Fonte: Veja, via aqui

SEC: Mary Jo White, nova líder?

A ex-procuradora federal Mary Jo White, que ganhou destaque nos Estados Unidos por perseguir terroristas em Nova York, é apontada como a provável escolha do governo Obama para liderar a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) do país, de acordo com pessoas familiarizadas ao governo.

White foi a primeira mulher a atuar como procuradora dos Estados Unidos em Manhattan. Se nomeada pela Casa Branca e confirmada pelo Senado, ela também será a primeira procuradora a chefiar a SEC, o que pode significar uma gestão mais severa em uma instituição manchada por erros de execução e prejudicada por um contexto de crise financeira.


Fonte: Aqui

Microeconomistas


ON THE face of it, economics has had a dreadful decade: it offered no prediction of the subprime or euro crises, and only bitter arguments over how to solve them. But alongside these failures, a small group of the world’s top microeconomists are quietly revolutionising the discipline. Working for big technology firms such as Google, Microsoft and eBay, they are changing the way business decisions are made and markets work.
Take, for example, the challenge of keeping costs down. An important input for a company like Yahoo! is internet bandwidth, which is bought at group level and distributed via an internal market. Demand for bandwidth is quite lumpy, with peaks and troughs at different times of the day. This creates a problem: because spikes in demand must be met, firms run with costly spare capacity much of the time.
This was one of the first questions that Preston McAfee, a former California Institute of Technology professor, looked at when he arrived at Yahoo! in 2007. Mr McAfee, who now works for Google, found that uses of bandwidth fall into two categories: urgent (displaying a web page) and delayable (backups and archiving). He showed how a two-part tariff (high prices when demand peaks, low ones otherwise) could shift less time-sensitive tasks to night-time, allowing Yahoo! to use costly bandwidth more efficiently.
The solution—two types of task, two prices—has intuitive appeal. But economists’ ideas on how to design markets can seem puzzling at first. One example is the question of how much detail an online car auctioneer should reveal about the condition of the vehicles on offer. Common sense would suggest some information—a car’s age and mileage—is essential, but that total transparency about other things (precise details on subpar paintwork) might deter buyers, lowering the auctioneer’s commissions. Academic theory suggests otherwise: in some types of auction more information always raises revenues.
To test the idea, Steve Tadelis of the University of California at Berkeley (now also working for eBay) and Florian Zettelmeyer of Northwestern University set up a trial, randomly splitting 8,000 cars into two groups. The first group were auctioned with standard information, including age and mileage. The second had a detailed report on the car’s paintwork. The results were striking: cars in the second group had better chances of a sale and sold for higher prices. This effect was most pronounced for cars in poorer condition: the probability of a sale rose by 23%, with prices up by 5%. The extra information meant that buyers were able to spot the type of car they wanted. Competition for cars rose, even the scruffier ones.
But more information is not always better. Studies show that shoppers overwhelmed by choice may simply walk away. Mr Tadelis tested whether it would be better to tailor eBay’s auctions to users’ experience level. The options for new users were narrowed, by removing sellers who are more difficult to assess (for example those who had less-than-perfect feedback on things like shipping times). When new users had a simpler list of sellers to choose from, the number of successful auctions rose and buyers were more likely to use eBay again. Tailoring the market meant gains for buyers, sellers and eBay.
The desire to use theory to challenge conventional thinking is one reason economists are valuable to firms, says Susan Athey, of Stanford University and Microsoft. When Ms Athey arrived at the software giant in 2007 it faced what was seen as an unavoidable trade-off: online advertising was good for revenues, but too much would deter users. If advertisers gained, users would lose. But economic theory challenges this, showing that if firms are dealing with two groups (advertisers and users, say), making one better off often benefits the other too.
Ms Athey and Microsoft’s computer scientists put that theory to work. One idea was to toughen the algorithm that determines whether an ad is shown. This means ads are displayed fewer times, so advertisers lose out in the short-term. But in the longer run, other forces come into play. More relevant ads improve the user experience, so user numbers rise. And better-targeted ads mean more users click on the advert, even if it is shown less often. Empirical evidence showed that although advertisers would respond only after some time, the eventual gain was worth the wait. Microsoft made the change.
Microeconomists have their sights on problems outside their home turf too. At the moment the policies picked by central banks and finance ministries are based on old news, since things like GDP, inflation and unemployment are measured with long lags. A team at Google headed by its chief economist, Hal Varian, is using search-engine data to provide more timely measures. Search terms like “job”, “benefits” and “solitaire” are closely correlated with unemployment claims (see chart). These types of relationship help construct new indexes that offer a real-time picture of the economy. If policymakers start to use these in a systematic way, their decisions could be based on how the economy looked yesterday, rather than months ago. 

19 janeiro 2013

Rir é o melhor remédio


Fato da Semana


Fato: A abordagem conceitual do IPSASB

Qual a relevância disto? O setor público sempre esteve atrás na normatização contábil. As principais novidades demoram a chegar para as entidades governamentais. Enquanto a estrutura conceitual já existe, e tem sido usado, no setor privado há anos, somente agora se pode dizer que o setor público possui – parte, é verdade – sua estrutura conceitual.

O International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB)  é uma entidade independente, ligada ao IFAC. Esta entidade é responsável por normas contábeis do setor público. Apesar do foco do IPSASB ser o setor público, as normas emanadas tem por base as IFRS do Iasb, confirmando uma tendência de aproximar o que se faz na contabilidadepública da contabilidade empresarial.

Para embasar as normas, o IPSASB está trabalhando na estrutura conceitual. Nesta semana esta entidade divulgou a primeira parte do trabalho. Para o IPSASB o setor público deve adotar o regime de competência, deve usar as características qualitativas já aprovadas pelo Iasb (que corresponde ao CPC 00), deve preparar as demonstrações para os usuários dos serviços públicos, os fornecedores de recursos e os representantes, com a finalidade de tomar decisão e prestar contas.

Positivo ou Negativo? – Positivo muito embora talvez neste caso o endosso fosse a atitude mais sensata. Mas talvez ainda exista a necessidade de mostrar que o setor público possui peculiaridades, sendo necessária norma específica – mesmo que seja baseada no Iasb. Outro ponto positivo é que a emissão de uma norma como esta evitaria certas “aventuras intelectuais” no setor público.

Desdobramentos – Será que o Brasil irá adotar? Talvez sim, pois trata de um documento abrangente. Mas não tenhamos ilusões: em 2010, Nelson Machado, então homem forte do governo para este assunto, afirmou, para um jornal brasileiro que a adoção das normas de contabilidade pública seria seletiva: somente aquelas que interessavam ao governo seriam adotadas. Talvez o CFC e o Ibracon traduzam as normas. 

Outros candidatos fortes a fato da semana: as baixas contábeis de empresas como a Rio Tinto; a possibilidade de aproveitar crédito tributário nos bancos brasileiros para atingir a meta do Basileia 3; e a discussão sobre a contabilidade criativa das contas públicas (mas isto jáfoi fato da semana passada)

Teste da Semana


Este é um teste para verificar se você acompanhou de perto os principais eventos do mundo contábil. As respostas estão nos comentários.

1 – “os derivativos são armas financeiras de destruição em massa”. Quem disse esta frase?
Ben Bernarke, presidente do FED
Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu
Warren Buffet, bilionário

2 – Estamos perto da cerimônia do Oscar. Tão tradicional como a entrega das estatuetas é a participação de contadores da seguinte empresa para assegurar a lisura do processo
Deloitte
Ernst Young
PwC

3 – Giovani Pereira é um contador que foi notícia esta semana. Trata-se do contador
Da empresa de Rose
Da Petrobras
De Carlinhos Cachoeira

4 – Para enquadrar alguns bancos nos limites impostos pelo acordo de Basileia 3, o Banco Central está estudando
Autorizar o uso da reavaliação nos bancos
Converter créditos tributários em capital
Permitir que devedores duvidosos não seja levado a resultado

5 – Depois de meses, uma auditoria que estava trabalhando no BVA chegou ao número de 1,5 bilhão de reais. Trata-se
Do total do passivo a descoberto
Do valor que não foi contabilizado
Dos direitos dos acionistas após o pagamento do passivo

6 – Ao investigar os problemas bancários durante a crise financeira, este país está debatendo o papel das normas internacionais na própria crise
Estados Unidos
França
Reino Unido

7 – O BNDES poderá fazer uma baixa contábil de 700 milhões de reais por investimentos para consolidar o setor de
Construção Civil
Laticínios
Proteínas

8 – O anúncio de uma baixa de 14 milhões bilhões de dólares foi manchete nos jornais internacionais. A empresa que anunciou a baixa é
Facebook
Herbalife
Rio Tinto

9 – Durante a semana, muitos textos sobre a contabilidade criativa do Tesouro Nacional. Uma importante mídia internacional atacou o governo brasileiro pelas medidas recentemente tomadas:
A rede de notícias Bloomberg
A rede de televisão CNN
A revista inglesa The Economist

10 – Ao analisar o desempenho da Groupon, um executivo justificou os problemas a partir de comportamento do mercado. Esta empresa teve perda na cotação das ações em mais de 70%. A principal causa dos problemas nas ações:
Foi realmente o comportamento do mercado
Foi uma investigação do congresso dos EUA
Foram os problemas com os controles internos e a contabilidade

Conferência de Bretton Woods

Por que ler hoje transcrições dos debates que aconteceram na conferência de Bretton Woods, de 1º a 22 de julho de 1944? Valerá a pena, se forem transcrições do que delegados disseram em reuniões de trabalho sem preocupar-se com a divulgação – não prevista – de suas opiniões e argumentos. Será possível captar, assim, sinais de reveladora espontaneidade e pormenores inéditos, esquecidos no tempo. Essa oportunidade é dada agora pelo livro “The Bretton Woods Transcripts”, editado pelos economistas Kurt Schuler e Andrew Rosenberg, publicado pelo Center for Financial Stability (CFS), com sede em Nova York.

As transcrições não são completas, mas parecem ser fiéis, tanto quanto se possa esperar de eficiência das estenografas e datilógrafas que registravam os debates durante a conferência, realizada em Bretton Woods, nas montanhas de New Hampshire, Estados Unidos – que resultou nos acordos para criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (o Banco Mundial de hoje). Num e-book de 800 páginas, as transcrições integram uma plataforma eletrônica de estudo e pesquisa, o “Bretton Woods Project“, sob responsabilidade de Schuler (não confundir com o Bretton Woods Project, de Londres, que faz o acompanhamento crítico das atividades do FMI e do Banco Mundial).

Foram acrescentados hiperlinks para documentos referenciados nas transcrições. Sumários introduzem as reuniões das comissões e dos respectivos comitês de trabalho (a Comissão I, do FMI, era presidida pelo americano Harry Dexter White; a Comissão II, do Banco Mundial, pelo britânico John Maynard Keynes; a Comissão III, de outros meios de cooperação financeira, pelo mexicano Eduardo Suárez). Há muitas anotações explicativas e notas historiográficas, mais de 3 mil páginas de documentos históricos e detalhes, que não se encontram no livro, sobre a conferência e seus participantes, além de material de “background” inédito e fotografias.

Informações suplementares às transcrições alcançam níveis surpreendentes de reconstituição de fatos e pormenores dos entornos da conferência, a começar pela cuidadosa organização do encontro. São reproduzidos memorandos com regras para uso de vales-refeições, o catálogo de ramais telefônicos dos delegados, a meticulosa orientação para transporte por ônibus entre o Mount Washington, onde a conferência era realizada, e outros hotéis próximos, que também hospedavam delegados (a economia de guerra não permitia o uso de automóveis). Podem-se ler os boletins diários distribuídos aos delegados com detalhada descrição do andamento da guerra (a invasão da Normandia pelas forças aliadas tinha apenas um mês).

Schuler, que tem sua principal atividade como economista do Escritório de Assuntos Internacionais do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, também é, no tempo livre, pesquisador sênior do CFS. Foi nessa condição que encontrou as transcrições, por acaso, na biblioteca do Tesouro. Eram quatro volumes, que os bibliotecários também não sabiam estar ali, numa seção de itens a serem catalogados. Durante mais de um ano, Schuler conduziu a edição do livro, com a participação de Rosenberg, pesquisador associado do CFS. Ele soube depois que havia outras transcrições – um conjunto, nos arquivos do FMI, aparentemente idêntico ao do Tesouro, na forma de cópias fotostáticas, também reunidas em quatro volumes; e o que parecem ser originais, em páginas soltas, nos Arquivos Nacionais, em Washington. A diferença entre os registros encadernados é que os do Tesouro trazem, em várias páginas, o nome de Harry Dexter White, chefe da delegação americana em Bretton Woods, a quem teriam pertencido, enquanto nos do FMI o nome em destaque é de Edward Bernstein, assistente de White.

O “Bretton Woods Project” transpira história, particularmente, a de antigos e repetidos enredos de divergências de interesses de países em diferentes níveis de importância política e econômica – mesmo que fossem Estados Unidos e Reino Unido. Desde muito antes de Bretton Woods, americanos e britânicos estiveram conectados no empenho por desenhar um novo sistema financeiro internacional para o pós-guerra, mas dissociavam-se no alcance, filosofia e funções das instituições que imaginavam para administrar o arranjo reformista.

Em abril de 1943, White, assistente especial do secretário do Tesouro dos Estados Unidos (Henry Morgenthau Jr.), e Keynes, conselheiro do Tesouro do Reino Unido, autorizaram a publicação dos textos de suas respectivas propostas de reforma (formuladas inicialmente em 1942), para que recebessem sugestões de um número restrito de países. Transcorreria mais um ano, e em abril de 1944 chegava-se aos termos de uma manifestação conjunta, o “joint statement of experts on the establishment of an international monetary fund”, com as bases do que deveria ser discutido na conferência de julho, em Bretton Woods. O predomínio das diretrizes da proposta de White no “joint statement” já dizia quem era quem na orientação do assunto. Os Estados Unidos, maior economia e maiores credores internacionais, donos de 60% das reservas de ouro do mundo, estabeleceriam os termos de qualquer entendimento final. E assim foi.

“Plus ça change, plus c’est la même chose”, diz Jacques de Larosière, ex-diretor-gerente do FMI (1978-1987), no prefácio que assina para o livro. Seu ceticismo é dirigido para várias situações em que, naquelas três semanas de muita conversa de corredores e longas sessões de trabalho, propostas de países menores eram seguidamente derrubadas por pressão dos maiores, Estados Unidos à frente. De Larosière valoriza a qualidade dos debates – “vigorosos e substantivos” – mas também diz (uma ponta de sarcasmo?), referindo-se àquelas pretensões frustradas, que em certos momentos as discussões parecem bastante “modernas”, por se assemelharem às de que os países hoje ditos de mercado emergente participam em foros internacionais. O prefácio termina com uma sugestão sutil, pode-se interpretar assim, de que a linha das costuras de política e economia sempre será dada pela incerteza, ou pelo acaso: “Bretton Woods foi o resultado de uma tempestade perfeita: alguns grandes problemas; um conjunto de ideias que levaram a um consenso; um grupo de participantes preparados e capazes; e um líder, os Estados Unidos, preparado para liderar. Hoje, não vemos uma tempestade perfeita como essa no horizonte. Mas, de novo, também não se pretende fazer previsões meteorológicas”.

Teria sido tudo teatralização produzida para sacramentar o que já estava acertado entre americanos e britânicos, tanto para o que havia para se decidir como para o que se faria depois da conferência?
Houve muita preparação, desde anos antes – e, embora outros países fossem ouvidos em vários pontos do trajeto, o domínio dos Estados Unidos e do Reino Unido, sobretudo dos americanos, com todo o poder econômico e político já então aumentado na progressão da guerra, sempre foi marcante e inconteste. Não seria estranho a esse entendimento de supremacia compartida o empenho de White e de Keynes em evitar votações e induzir consensos – os latino-americanos, quase metade do número de delegados, poderiam formar maioria incômoda só com uns poucos europeus. Não seria de desprezar também a contribuição muito pessoal de Keynes. O chefe da delegação britânica falava bastante depressa, para desconforto declarado de muitos delegados, e procurava contornar eventuais inclinações para se ir à votação concedendo apenas uma breve pausa para manifestação de objeções, e logo dava o assunto por encerrado.

Essa é uma interpretação. Schuler tem outra, mais elaborada. “Os delegados entendiam que decidir importantes questões estritamente por votos, em vez de antes obter consenso, seria contraproducente, e há discussão sobre esse ponto nas transcrições. A maior parte do capital do FMI e do Banco Mundial viria dos países de economias maiores, que poderiam recusar-se a participar se vencidos em votações por economias menores.” E havia um outro lado: “As grandes economias entendiam que as economias menores poderiam também se recusar a participar se as maiores tentassem impor decisões. Estava claro então que, sem consenso que unisse grandes e pequenos, nem o FMI nem o Banco Mundial seriam as instituições verdadeiramente mundiais que os países participantes pretendiam que fossem. A conferência foi um primeiro passo para se ver se consensos poderiam ser alcançados. Depois que o FMI e o Banco Mundial iniciaram suas operações, de fato operaram, e em larga medida continuaram a operar, à base de consenso”.

Não parecem teatrais os longos debates provocados pela China, por exemplo, que, ao lado de outros países (Holanda, Índia, Grécia, Canadá, Egito e El Salvador) viu sair vencedora sua proposta de que remessas financeiras de imigrantes, desde que moderadas, não fossem incluídas como item sujeito a controles, na conta de capitais, como pretendia a União Soviética (com apoio de Cuba, Bolívia e França). Tem cores vigorosas e substantivas, para usar a adjetivação de De Larosière, a confrontação de posições na questão de envolvimento do FMI em acordos sobre dívidas de guerra, com o que Estados Unidos e Reino Unido não concordavam (e a ideia acabou rejeitada). Em outras passagens, lê-se a argumentação insistente de países que pretendiam ter quotas maiores no capital do FMI, o que significaria mais poder de voto, ou que pressionam para obter redução de sua contribuição em ouro. As propostas foram rejeitadas, assim como a que colocava representantes do Oriente Médio e da América Latina entre os diretores executivos do Fundo. A delegação da Índia aparece afrontando a soberania britânica mais de uma vez.

Representantes do Brasil, chefiados pelo ministro da Fazenda, Artur de Souza Costa, aparecem como participantes de debates em vários pontos das transcrições – entre eles, Eugenio Gudin, membro do Conselho Econômico e Financeiro e do Comitê de Planejamento Econômico da Presidência da República, e Octávio Gouvêa de Bulhões, funcionário da divisão de estudos econômicos e financeiros do Ministério da Fazenda. O diplomata Roberto de Oliveira Campos, então segundo secretário da embaixada em Washington, tinha funções de assessor.

Costa presidia o comitê 3 da Comissão 1, incumbido da “Organização e gestão do Fundo”. A distinção conferida ao Brasil se devia, segundo Schuler, ao fato de “os organizadores da conferência desejarem que houvesse ampla participação, e não a dominação por uns poucos países”. Daí, “o cuidado de assegurar que funções importantes, como a presidência de comitês, fossem entregues a vários países, como o Brasil, já então uma grande economia entre aqueles que chamaríamos hoje de mercados emergentes”. Não parece improvável, contudo, que também tivessem influído a contribuição do governo Vargas para o esforço de guerra dos aliados na Europa e a permissão para que os americanos usassem portos e aeroportos do Nordeste.

Schuler menciona o relator do comitê, o tcheco Ervin Hexner, entre alguns delegados particularmente bem preparados, intelectualmente, que se destacavam nos debates, mesmo pertencendo a pequenos países. Também tinham essa qualidade, “e influíam sobre a opinião de outros delegados”, o grego Kryiaks Varvaressos e o norueguês Wilhelm Keilhau (como relatores, sintetizavam o que acontecia nos comitês para conhecimento dos integrantes das comissões 1 e 2, do FMI e do Banco Mundial). Schuler também considera elogiável o trabalho de Luís Machado, de Cuba.

Sobre Souza Costa – “experiente em assuntos financeiros e falando um bom inglês” -, a opinião de Schuler é de que, como presidente do comitê, tinha atuação bastante discreta (“light touch”, como disse em entrevista ao Valor). Mantinha os trabalhos dentro da agenda, “mas preferia deixar para os delegados mais ativos e para o relator Hexner a incumbência de moldar o debate”. Algo a ver, talvez, com o que diria Eugenio Gudin em depoimento a pesquisadores do CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas, anos depois, relembrando Bretton Woods: “Quem trabalhava de fato, acompanhando as sessões, éramos o Bulhões e eu” (citado em “Atuação da delegação brasileira na formulação do acordo internacional de Bretton Woods, 1942-1944″, de Daniel de Pinho Barreiros, 2009).

Roberto Campos, anos depois, iria referir-se a Costa como alguém pouco afeito ao uso da língua inglesa e “de escassas letras econômicas, mas de extraordinário bom senso prático” (em “Eugênio Gudin Visto por Seus Contemporâneos” (FGV, 1979).

À vista dessa opinião atribuída a Campos, informada pelo Valor, Schuler disse ser possível concluir, então, que o inglês de Costa seria pelo menos de nível “intermediário alto”. Ou seja, “bom o suficiente para expressar-se em pronunciamentos curtos, mas talvez não suficiente para fazer longos discursos de improviso”. Nas transcrições, Costa aparece justamente expressando-se em intervenções curtas. De todo modo, pode-se supor que, como orientação geral de trabalho, estenografas e datilógrafas procurassem acomodar o teor das falas dos delegados segundo as melhores formas do idioma.

A União Soviética produziria um momento especialmente peculiar. Depois de assinar os acordos de constituição do FMI e do Banco ad referendum, recusou adesão ao requisito de transparência, que obrigava à comunicação regular de informações econômicas, e não se tornou membro das instituições, por decisão de Stálin. A Rússia só o faria em 1992, depois do colapso da União Soviética [Schuler registra que a conferência teve apenas uma mulher como delegada, uma certa L. Gouseva, "tão obscura que não conseguimos descobrir seu primeiro nome". Talvez seja ela a presença feminina em foto que reúne delegados soviéticos e americanos. Não é vista em outra foto, de todos os delegados à conferência.]


Enquanto isso, o chefe da delegação americana, Harry Dexter White (seu superior, o secretário do Tesouro, Henry Morgenthau Jr., presidia a conferência), entendia-se com os soviéticos muito amigavelmente, e desde bem antes da conferência: passou à história sob suspeita de espionar para a URSS.O chefe da delegação brasileira, ministro Artur de Souza Costa, tinha atuação bastante discreta – era “light touch”, diz Kurt Schuler.

“White não era formalmente um espião, no sentido de estar na folha de pagamentos dos soviéticos, receber ordens de agentes de inteligência soviéticos ou fazer relatórios a um mensageiro regularmente”, diz Schuler. “No entanto, transmitiu informações sigilosas para os soviéticos e valeu-se de sua posição [no governo americano] para proteger pessoas suspeitas de espionagem, que, soube-se depois, de fato eram espiãs.”

White não estava sozinho. Nathan Gregory Silvermaster, assistente da delegação americana, nascido na Rússia, é outro nome envolvido em espionagem para os soviéticos. Na época da conferência, trabalhava no Departamento do Tesouro. Seria o chefe de um grupo de espiões infiltrados na Casa Branca e nos Departamentos de Guerra, de Justiça e de Agricultura. Dois outros espiões eram membros do secretariado da conferência, segundo Schuler: Virginius Frank Coe, principal encarregado da área técnica, e William Ludwig “Lud” Ullman.

Nas anotações de James Boughton, historiador oficial do FMI, White acreditava que os interesses dos Estados Unidos e da União Soviética convergiam. “Ele era um internacionalista [condição que explicaria suas relações com os soviéticos]. Assim como o presidente Roosevelt e o secretário do Tesouro Morgenthau, acreditava que nenhum país poderia alcançar prosperidade, a menos que outros países também prosperassem, e que o equilíbrio do crescimento econômico global requeria cooperação entre governos. Roosevelt recomendou a seus auxiliares que tratassem os soviéticos exatamente como qualquer outro aliado, e White assim fez.” A parte fundamental do empenho de White para obter a cooperação desejada consistiria em trazer a União Soviética para o FMI e o Banco, propósito que buscava desde bem antes de Bretton Woods.

Quando o Fundo entrou em operação, em 1946, o presidente Truman fez de White o primeiro diretor executivo americano. Sua saúde deteriorou-se rapidamente e ele renunciou um ano mais tarde. Morreu de ataque cardíaco, em agosto de 1948, três dias depois de seu dramático testemunho perante o Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara dos Representantes, quando negou ter de algum modo atuado em desfavor dos interesses dos Estados Unidos.

Keynes já havia morrido, em abril de 1946, aos 62 anos, também de um ataque cardíaco. Ainda durante a conferência – e enquanto Londres continuava sob os bombardeios alemães -, o chefe da delegação britânica sofreu um primeiro ataque, mas leve. Jornais alemães, mal informados, publicaram seu obituário.

Fica-se sabendo também, no livro, que outras razões, além das de segurança – próprias de tempos de guerra, em que se procurava resguardar a capital, Washington, de algum transtorno -, determinaram a escolha das montanhas de Bretton Woods para localização da conferência. Interessado em garantir apoio bipartidário aos acordos que viriam a ser assinados, o presidente Roosevelt atendeu a um pedido do senador Charles Tobey, de New Hampshire, líder dos republicanos no comitê de moeda e bancos do Senado, cuja aprovação seria fundamental. Tobey, que tinha um oponente na eleição primária republicana, sugeriu que a conferência fosse realizada em seu Estado como forma de mostrar-se influente aos olhos dos eleitores.


Também teria pesado, ainda que acessoriamente, o fato de que, ao contrário de muitos hotéis “resort” da época, o Mount Washington aceitava hóspedes judeus – e eram muitos os judeus, entre delegados e pessoal de “staff”. Não se sabe até que ponto teria influído um pedido de Keynes a White: ele preferia não passar pelo calor sufocante do verão em Washington, numa época em que o uso de ar condicionado ainda era pouco difundido. Escreveu para White em maio de 1944: “Pelo amor de Deus, não nos leve para Washington em julho. Seria um ato de extrema hostilidade”. Afora quaisquer outras considerações de ordem logística, a escolha do lugar precisamente pela liberalidade quando à origem dos hóspedes sempre fará lembrar que Keynes não escondia certa indisposição para com os judeus.

Nas transcrições, Keynes é uma presença menor do que aquilo que foi de fato sua participação em Bretton Woods, observa Schuler. Estenografas transcreveram apenas uma das nove reuniões da Comissão II, que ele presidia, enquanto cobriam todas as nove reuniões da Comissão I, do FMI, presidida por White. A ideia de criação do Banco, na verdade, sempre foi tratada de modo subordinado durante a conferência. Já no convite para participação no encontro, enviado pelo presidente Roosevelt aos governos de 44 países, era mencionada como não mais que uma possibilidade. O FMI estaria em primeiro lugar.

De todo modo, “é possível notar o contraste evidente entre os estilos de Keynes e de White”, comenta Schuler. “White se expressava metodicamente, num ritmo em que os delegados podiam acompanhar. Keynes falava com extrema rapidez, saltando de um ponto para outro do esboço do acordo do Banco, porque era capaz de reter mentalmente todas as cláusulas de um modo que provavelmente nenhum outro delegado podia. Henry Bitterman, secretário de um dos comitês da Comissão II, diria depois que outros delegados consideravam o estilo de Keynes, como presidente, um tanto confuso.”

As estenografas contratadas para registrar os debates ganhariam expressão própria como personagens da história de Bretton Woods, ao atuarem como aliadas informais de White. Para permitir que a conferência mantivesse foco sobre o acordo do FMI (interesse primordial dos Estados Unidos), a Comissão II e respectivos comitês não iniciaram seus trabalhos até que a conferência tivesse vencido sua primeira metade, lê-se no livro. Como a Comissão II era secundária em relação à Comissão I, a secretaria da conferência enviava estenografas para a Comissão I quando não as havia em número suficiente para acompanhar os trabalhos das duas comissões ao mesmo tempo. Como consequência, restou uma única transcrição da segunda reunião da Comissão II e nenhuma transcrição das reuniões de seus comitês.

Pode-se imaginar Keynes circulando entre uma comissão e outra com seus 2 metros de altura e a passos proporcionalmente largos. White ficava vários centímetros abaixo. Keynes também aparece na primeira, segunda e terceira reuniões da Comissão I. É possível que tenha feito algumas das observações atribuídas a delegados do Reino Unido quando não se especificam seus nomes.

O estilo do barão Keynes tinha, como seria de esperar, traços típicos de um lorde. O economista Gail Makinen falou a Schuler a respeito de uma conversa que tivera com Jacques Polak, membro da delegação holandesa à conferência (que depois ganharia projeção no FMI). Makinen perguntou: “Você conheceu Keynes”? Respondeu Polak: “Sim, mas não sei se Keynes me conheceu”. É de notar também que o modesto título de conselheiro econômico do chanceler do Erário contrastava com o papel central desempenhado por Keynes na gestão das finanças de guerra do Reino Unido, atribuição que o levou a ser indicado para ser o negociador-chefe em Bretton Woods.

Estados Unidos e Reino Unido foram os protagonistas inquestionáveis daqueles dias de julho de 1944 nas montanhas de New Hampshire, como haviam sido em ocasiões anteriores, num encadear de movimentos em que outros países tinham participação claramente secundária – enquanto americanos e britânicos, já com White e Keynes à frente, procuravam entender-se sobre o que poderia ser um sistema de cooperação e reconstrução econômica internacional para o pós-guerra.

A proposta de criação de um fundo internacional de estabilização (o Plano White, dos americanos) e a de uma espécie de câmara de compensações internacionais (o Plano Keynes) tinham sido apresentadas a um grupo de países em Washington, para recolhimento de sugestões, em reuniões que se estenderam de 15 de maio a 17 de junho de 1943. Nasceria ali a declaração conjunta (o “joint statement”), consolidada por técnicos americanos, britânicos e soviéticos, que propunha a criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco para a Reconstrução e o Desenvolvimento (a palavra “Internacional” seria acrescentada em Bretton Woods).

Estava tudo pronto para a convocação da conferência de Bretton Woods pelo presidente Roosevelt. Mas o secretário de Estado americano, Cordell Hull, entendeu que, como a declaração tratava de questões monetárias de modo ainda genérico e, também, porque não se tinha chegado a consenso a respeito de vários aspectos, principalmente entre os defensores do Plano Keynes, decidiu convocar uma nova reunião, já então com a presença de vários dos países que estariam em Bretton Woods. Esperava-se, assim evitar que fossem levadas para a conferência questões com arestas demasiado evidentes, o que poria em risco o pretendido caráter de congraçamento e legitimação da conferência. Essa segunda reunião foi realizada em Atlantic City, Nova Jersey, Estados Unidos, de 26 a 30 de junho de 1944. (Nas duas ocasiões, o Brasil foi representado por Octávio Gouvêa de Bulhões.)

Então, não se partiu do zero, em Bretton Woods, nem estaria tudo, em todos os pormenores, decidido por antecipação. Segundo Schuler, em Atlantic City, algumas ideias básicas a respeito da criação do FMI e do Banco ganharam conformação concreta. “Ainda faria parte do trabalho de Bretton Woods, porém, aceitar ou rejeitar aquelas propostas, e acrescentar detalhes nas áreas em que a reunião de Atlantic City não tivesse oferecido propostas suficientes, em número ou especificidade.”

Schuler diz que as próprias transcrições ajudam a compreender que, exatamente por esses antecedentes, “a conferência conseguiu tão bons resultados, com delegados bem preparados, que focavam questões essenciais e geralmente evitavam fazer longas digressões” – além do que “trabalhavam duro, de 9 da manhã até, às vezes, 3 da madrugada seguinte”.

Estendido o trabalho a esse ponto, já teria partido o último ônibus, de 1h30, que levava americanos e chineses retardatários do hotel Mount Washington para Crawford House, onde estavam hospedados (os brasileiros tinham sido acomodados no próprio Mount Washington Hotel, como se vê na lista de ramais telefônicos). Haveria certamente alguma solução para emergências como essa e outras, eventuais, mas seriam sempre exceções. Warren Kelchner, secretário-geral da conferência, tratou do assunto num comunicado em que lembrava as condições difíceis de tempos de guerra, que tornavam impossível prover transporte individual a qualquer hora. “Naturalmente, seria muito mais satisfatório ter uma frota de automóveis ou de táxis à disposição, mas isso está absolutamente fora de questão”.

Nas longas reuniões dos comitês, ou nos corredores, uma pergunta deve ter sido discutida mais de uma vez: vamos para o consenso? Na opinião de Schuler, as decisões tomadas por consenso e não por votação, sempre que possível, prática até hoje adotada no FMI e no Banco Mundial, “contribuiriam para sua inusual adaptabilidade”: mesmo com muito mais membros do que na fundação, “mantiveram-se capazes de agir rápida e conclusivamente”.

O que não significa, evidentemente, que os países menores estejam sempre satisfeitos com decisões a que são levados, às vezes por consenso inescapável, em situações de alta voltagem política, como aconteceu o tempo todo em Bretton Woods.

O sistema de paridades fixas ajustáveis entre moedas – que, a rigor, nunca funcionou em perfeita consonância com as regras fixadas em Bretton Woods, negligenciadas principalmente por países mais assoberbados por disfunções econômicas trazidas pela guerra – acabou ruindo em agosto de 1971, quando o governo de Richard Nixon anunciou que os Estados Unidos não mais garantiriam (essa era a base do sistema) a conversibilidade do dólar em ouro à taxa estabelecida (de US$ 34 por onça-troy). Washington movia-se por razões praticamente somente suas, associadas à conjugação de elevada inflação e perda de competitividade nos mercados internacionais. Foi o sinal para outras moedas também entrarem em regime de flutuação administrada. Pode-se ver aí um país-líder que se curva a contingências determinantes do declínio de sua hegemonia. Ou, ao contrário, seria um país que, sobrepondo seus interesses a quaisquer outros, afirma sua hegemonia. Em qualquer caso, se estará falando de política e de cenários econômicos em constante e, frequentemente, inesperada mutação.

A julgar pelo fracasso do sistema de Bretton Woods, estaria claro que a economia internacional tende a mover-se por interesses esparsos e desconexos, sem uma coordenação eficaz para a superação de crises como a atual, e outras que certamente virão?

“Uma coordenação de políticas macroeconômicas nacionais só é possível em duas circunstâncias: identidade de objetivos entre os líderes nacionais ou hegemonia de um país sobre o resto do grupo, que lhe permita impor suas próprias soluções sobre o coletivo”, disse ao Valor o economista Fernando Cardim de Carvalho. “A primeira circunstância é, fundamentalmente, uma utopia. Mesmo quando enfrentam problemas comuns, como no caso de uma crise global como a que a economia mundial vive desde 2008, cada país tenta sair dela por si mesmo, inclusive ao preço de impor problemas adicionais aos vizinhos. Isso ocorreu, por exemplo, na década de 1930, quando a política cambial serviu de instrumento para exportação de desemprego, através da imposição de desvalorizações cambiais unilaterais que visavam aumentar exportações e cortar importações, no que ficou conhecido como a política de tornar seu vizinho um mendigo (“beggar thy neighbor”). Bretton Woods foi um exemplo da segunda circunstância. A hegemonia dos Estados Unidos, país vitorioso entre os vitoriosos da Segunda Guerra, era indisputada e permitiu à delegação americana ditar as regras do acordo que foi assinado em 1944.”

Fonte: aqui

Por que mesmo você ainda trabalha no Brasil?

Ah, as inconsistências do sistema de financiamento da ciência no Brasil. Meu laboratório nunca esteve mais produtivo; nosso trabalho na PNAS, um de OITO publicados em revistas internacionais este ano (e, aliás, o segundo na PNAS deste ano) acabou de sair, com um baita reconhecimento mundo afora; e então... descubro que nosso projeto de pesquisa não teve seus recursos renovados pelo CNPq para o ano que vem. Veja bem: não foi pedido de auxílio novo, e sim de renovação de um projeto super bem sucedido. O comunicado oficial diz que "sua proposta (...) teve o seu mérito reconhecido. No entanto, na análise comparativa com as demais propostas, o seu pedido não alcançou classificação que permitisse o atendimento."
Pensei em escrever para o CNPq para pedir reconsideração, mas depois que olhei a lista de agraciados, estou quase mudando de ideia: no meu comitê de avaliação (morfologia), foram agraciados TODOS nossos professores titulares no Instituto, e mais dois ou três professores seniores. Até aqui é "só" coincidência entre titulação e aprovação. Mas aí começam as estórias de horror nada científico no Facebook, como relatos de pesquisadores que têm seu projeto repetidamente recusados sob seu próprio nome, MAS quando submetem o mesmo projeto com o nome do chefe sênior, professor titular, diretor disto e daquilo... o projeto miraculosamente é aprovado.

Aiai. Se eu entrar com recurso e ganhar, daqui a três anos estarei novamente competindo em pé de desigualdade com meus colegas titulares. Mas se eu não entrar com recurso agora, concorro de novo ano que vem, quando eles não estarão concorrendo, e quem sabe assim minhas chances de uma disputa mais justa, por produtividade, serão maiores... É, fazer ciência no Brasil também tem dessas. Que se dane a produtividade, se você não é a bola da vez.

O irônico é que, enquanto o CNPq acha que o nosso projeto não é digno de ter seus recursos renovados, a revista Science teve uma repercussão tão grande em seu site da matéria que eles publicaram sobre nosso artigo na PNAS que me convidou para participar do chat semanal deles esta semana, na quinta-feira dia 8 de novembro, de 17:45 - 19:45 horário de Brasília, em http://news.sciencemag.org/sciencelive

Aliás, tem sido realmente instrutivo ver a repercussão na mídia desse nosso trabalho. Mundo afora, vários jornais comentaram, e o posdoc polonês no meu laboratório diz que foi o assunto da semana passada por lá (ele deve estar exagerando um pouco, mas de qualquer forma fico honradíssima). No Brasil, até a revista Claudia vai fazer uma matéria a respeito. A Fundação James McDonnell, nos EUA, nosso maior financiador, ficou felicíssima com a notícia. Mas os sites da Faperj e do CNPq? Nem mencionaram o assunto. Não recebi qualquer contato de jornalistas deles - que eu sei que existem, e recebem os mesmo press releases que os jornalistas estrangeiros que me ligaram até no meio da noite deles para conseguir uma entrevista, como foi o caso de uma estação de rádio na Nova Zelândia.

Esta tem sido minha "vingança", ou no mínimo meu consolo: eu tenho reconhecimento... fora do meu país. No momento, por exemplo, estou em Cancun com todas as despesas pagas pelo IBRO para dar um curso e uma de seis ou oito palestras plenárias na reunião internacional da Federação de Sociedades de Neurociência da América Latina. Ano que vem dou palestra em uma reunião em Cambridge, e serei uma de seis palestrantes convidados, também com tudo pago, na Reunião Europeia sobre Glia, em Berlin.

Ou seja: os estrangeiros me chamam para representar nossa ciência lá fora - mas o CNPq não acha que meu projeto é prioritário o suficiente para merecer continuar sendo financiado. Então tá. Meu marido, que é americano, está começando a me perguntar "por que mesmo você ainda trabalha no Brasil???" Vamos ver quanto tempo eu duro...


O CNPq não acha meu trabalho digno de financiamento!

18 janeiro 2013

Unlock Your Papers

Por Raquel Recuero

Esse é um post longo, mas é uma reflexão que eu achei que valia a pena dividir com todos. :)
Um dos grandes desafios, para os acadêmicos, é a publicação de seu trabalho. Aqui no Brasil, praticamente toda a avaliação do desempenho dos pesquisadores é feita com base nisso. A CAPES, por exemplo, qualifica os periódicos em extratos que definem onde os pesquisadores devem publicar, num sistema chamado Qualis (A1, A2... B1, B2... e C, que é a pior classificação). Por algum motivo, essas categorias são baseadas numa proporção do total de periódicos de cada área (assim, por exemplo, apenas 25% dos periódicos de uma área X podem ser A, dos quais apenas 25% podem ser A1 e, uma vez atingida essa proporcionalidade mesmo que um novo periódico atinja as condições de A, só sobe se alguém descer). Essa avaliação é baseada em critérios particulares de cada área (assim, um MESMO periódico pode ser, por exemplo, A1 para uma área e C para outra), que nem sempre são iguais ou parecidos. Do mesmo modo, apenas periódicos onde os membros de Programas de Pós Graduação das áreas publicam são imediatamente avaliados pelo Qualis. Há também um Qualis para livros, o qual funciona de forma parecida. Ou seja, o sistema é péssimo e não faz qualquer sentido na minha visão. Minha opinião particular sobre esse tipo de avaliação sempre foi essa. Assim, por exemplo, pesquisadores como eu, que transitam em várias áreas, acabam sempre tendo uma avaliação ruim de suas publicações, porque nem todas estão "na área" (sim, se vc publicar fora da "área", sua publicação pode não ser avaliada). Do mesmo modo, se eu publicar em um periódico "não avaliado" na área (internacional, por exemplo), corro o risco do mesmo não ser avaliado (e a publicação não contar nada) ou ainda receber um "C" (o que piora a situação).

Além disso, há outro problema. Em muitas áreas, a maioria dos periódicos A são periódicos "fechados", ou seja, cujo conteúdo é fechado, só podemos acessá-los pagando (sério, às vezes é uma quantidade absurda de dinheiro, como 30 dólares por UM ARTIGO) ou via portal de periódicos (onde governo e universidades pagam para que os pesquisadores tenham acesso). Outras tantas vezes, esse artigo está preso numa revista impressa, de circulação limitada e que, uma vez terminada a edição, não circula mais. Eu, por exemplo, já cansei de bater de frente com um artigo muito interessante e relevante para o meu trabalho, mas publicado em uma base fechada que não se tinha acesso. Durante o doutorado, vasculhava a internet procurando por alguma pobre alma que tivesse publicado uma versão PDF de algum artigo publicado num periódico impresso que não existia em biblioteca alguma.

Tudo isso para dizer o seguinte: Eu penso que todos os acadêmicos têm um compromisso com a sociedade. Sim, porque essa sociedade direta ou indiretamente pagou pela sua formação e pela sua pesquisa. E nesse compromisso está implícito que o seu trabalho precisa circular, precisa estar disponível e as pessoas precisam ter acesso. E por isso, desde o tempo do meu mestrado, quando primeiro fiz esse blog, lá em 2001, comecei a disponibilizar tudo o que eu publicava. Na época, muitos colegas me diziam chocados que eu estaria "dando dicas" do meu trabalho no blog e que este perderia a originalidade, que eu teria meus artigos "roubados" se colocasse online, etc. etc. Em 2009, quando lancei o meu primeiro livro, consegui um acordo com a editora para disponibilizá-lo na íntegra online (valeu, Cubo.cc!). As mesmas críticas voltaram. Disseram que meu livro não ia vender na versão impressa (sério, se eu fizesse pesquisa para ficar rica, tava frita), que ia ser mal avaliado porque "ebook nao conta nada para a CAPES", etc. etc. Vejam, nem sempre eu consigo publicar tudo em versão aberta. Meu segundo livro, por exemplo, não rolou porque não consegui patrocínio. E nem sempre consigo publicar em periódicos versão aberta (embora, dentro do possível, eu procure disponibilizar alguma versão sem copyright do trabalho nesse site). Mas sempre foi um esforço da minha parte e uma política que eu procurei seguir.images.jpgNa sexta-feira, a Internet foi varrida pela notícia do suicídio do Aaron Swartz. O cara era um hacker e ativista, co-fundador do Reddit, um dos criadores do #STOPSOPA e que, dentre vários problemas, estava sendo processado pelo MIT, pelo JSTOR e pelo governo dos EUA por um crime incrível: Um belo dia, ele foi no MIT, hackeou a rede, baixou milhares de artigos cientiíficos que eram mantidos "fechados" no JSTOR e disponibilizou online (aliás, devo dizer que um dos artigos que eu mais precisei pra tese que eu mais me ralei pra encontrar estava no JSTOR e eu só consegui "pirata"). O julgamento criminal previa uma pena de até 35 anos de prisão pelo "crime". E por muitos amigos/conhecidos do Aaron, foi considerado um dos fatores motivadores para o seu suicídio, principalmente pela perseguição que ele sofreu do sistema jurídico americano. Independentemente do papel que o processo teve ou não no caso, ele é mais um fato para fazer com que os acadêmicos pensem (e repensem) suas políticas de publicação, e suas políticas de avaliação. Para mim, é em parte a motivação para escrever esse texto. O conhecimento e a pesquisa devem ser livres e nós, acadêmicos, precisamos começar a pressionar as revistas pela liberação do conteúdo online, fazer um esforço pela publicação do nosso material online e incentivar a circulação da produção de pesquisa.E um pequeno passo é colocar aquilo que produzimos disponível.  E procurar publicar em periódicos abertos, sejam eles A, B ou C e pressionar os nossos órgãos de avaliação para que periódicos abertos recebam uma avaliação positiva.
Nesse sentido, ontem alguns acadêmicos iniciaram uma campanha denominada #PDFTribute, em homenagem ao Aaron, solicitando aos demais que publicassem seu conteúdo online e disponibilizassem o link no Twitter. A lista de artigos que foi disponibilizada está aqui. :-) Então vamos lá gente, libertem seus papers! 

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

Abordagem Conceitual no Setor Público

O International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB) é a entidade internacional responsável pelo desenvolvimento de padrões contábeis para o setor público. O IPSASB é parte do IFAC , uma organização internacional dos contadores de 127 países, com 167 membros, incluindo o Brasil (que está representado pelo CFC e pelo Ibracon).

As normas de contabilidade pública emanadas pelo IPSASB são denominadas de International Public Sector Accounting Standards (IPSASs) e são baseadas nas normas do Iasb.

Recentemente o IPSASB colocou em audiência pública um texto com definições conceituais de diversos termos, como ativo, passivo, receitas e despesas. Agora foi divulgada a primeira parte da abordagem conceitual, denominada de Conceptual Framework for General Purpose Financial Reporting by Public Sector Entities.

Esta abordagem conceitual corresponde ao que conhecemos no Brasil como CPC 00. É a abordagem conceitual para o setor público. Isto torna o documento relevante para a área pública, principalmente pelo fato de que o documento pode ser aplicado para todos os tipos de governo. O documento é composto de quatro capítulos. O primeiro trata da função e autoridade da abordagem conceitual; o segundo, dos objetivos e finalidades dos relatórios financeiros; o terceiro, as características qualitativas da informação; e o último capítulo refere-se aos relatórios da entidade.

O documento possui 48 páginas e iremos destacar quatro pontos importantes do mesmo.

Regime de Competência – A Estrutura Conceitual faz uma opção firme pelo regime de competência. Em nenhum momento é considerada a possibilidade de adoção do regime de caixa ou misto. Isto tem implicações, como a necessidade de implantar sistemas de custeio.

Usuário – O documento indica que os principais usuários são aqueles que recebem o serviço, os que fornecem recursos e os representantes.

Objetivo – Os relatórios financeiros preparados no setor público possuem dois objetivos: a prestação de contas (accountability) e decisão dos usuários.

Características Qualitativas – O documento indica seis características qualitativas da informação para o setor público: relevância, representação fidedigna, compreensibilidade, tempestividade, comparabilidade e verificabilidade. As duas primeiras (relevância e representação fidedigna) são consideradas características fundamentais; as demais, de melhoria. Tal qual a estrutura conceitual do Iasb (e, por consequência, do CPC 00). Ademais, são apresentadas três restrições as características: materialidade, custo benefício e um balanço apropriado entre as características qualitativas.

Groupon

O jornal Estado de S Paulo entrevistou Patrick Schmidt, vice-presidente do Groupon na América Latina (14 de janeiro de 2013, N4). A terceira pergunta foi:

Por que as ações do Groupon caíram tanto desde o IPO?
Não há dúvida de que frustamos nossas expectativas. Mas, para entender o que aconteceu, você precisa olhar duas regiões. A Europa, que é nosso segundo maior território, teve um 2012 muito ruim. A região teve crescimento negativo, trimestre sobre trimestre. Na América do Norte, nosso maior e mais antigo mercado, tivemos um ótimo crescimento. A principal razão é que começamos a usar algumas tecnologias bem mais cedo. [E o texto segue falando do bom desempenho nos EUA]

Em primeiro lugar, a resposta aparente da pergunta é o desempenho ruim da Europa. Mas isto é incoerente, já que o crescimento na América do Norte foi ótimo. Se foi "ótimo", isto deveria ser suficiente para compensar o desempenho na Europa.

Em segundo, e mais importante, esta não é a resposta correta da pergunta. Em agosto de 2011 divulgamos no blog um texto de Jonathan Weil mostrando que a empresa usava medidas "estranhas" nas demonstrações contábeis. Em 28 de setembro, postamos a notícia de uma revisão na receita da empresa. Em abril de 2012 a empresa revisou receitas e resultados. Dias depois, num "teste" mostramos como a empresa reconhecia a receita. Nesta época, a empresa tinha perdido metade do valor de mercado em razão dos problemas com a contabilidade. Diante dos problemas, a empresa contrata, em setembro, um novo contador. Em resumo, as ações caíram em razão dos problemas contábeis.

As ações caíram 72% em 2012, estando a empresa entre as mais "problemáticas" do mercado dos EUA.

Baixa na Rio Tinto

A empresa Rio Tinto atua no setor de mineração, com receita de 60 bilhões de dólares por ano. São quase 120 bilhões de ativos, com investimentos em diversas partes do mundo. A empresa anunciou uma baixa contábil de 14 bilhões. Junto com o anúncio, a saída do executivo, Albanese, que foi responsável por uma série de investimentos polêmicos, muitos deles durante a alta de preços dos commodities.

BNDES

O plano do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de criar uma gigante do leite enfrenta sérios problemas. O Valor apurou que o banco estatal deve fazer uma baixa contábil da ordem de R$ 700 milhões relativa à operação da LBR - Lácteos Brasil em seu próximo balanço, a ser divulgado até março. Na prática, o BNDES assume que o investimento feito em 2011 para criar a LBR dificilmente será recuperado. Procurada, a instituição não comentou a informação.(...)

Como um dos principais acionistas da Bom Gosto, o BNDES patrocinou a criação da LBR com um aporte de R$ 700 milhões em 27 de janeiro de 2011. Do montante investido pelo banco, R$ 450 milhões entraram no caixa da LBR via aumento de capital e outros R$ 250 milhões com a subscrição de debêntures conversíveis. O banco estatal detém uma fatia de 30,28% no capital da empresa por meio de seu braço de participações, o BNDESPar. [1]

(...) Mas os planos da LBR fizeram água em pouco tempo. Com dificuldades para capturar as sinergias esperadas [2] com a fusão e um emaranhado de 16 marcas, sendo 12 delas apenas de leite longa vida (UHT), a companhia pôs em curso uma estratégia que já levou à suspensão de pelo menos cinco marcas e ao fechamento de 11 fábricas até dezembro, segundo fontes familiarizadas com a empresa. [3] (...)

Em 2011, ano de sua criação, a LBR registrou um resultado desastroso. Conforme balanço publicado no Diário Oficial do Estado de Goiás em 20 de abril do ano passado, a empresa amargou um prejuízo líquido (atribuído aos acionistas [4]) de R$ 305,5 milhões. No período, a receita líquida da LBR atingiu R$ 2,2 bilhões. (...)


Em crise, LBR deve gerar baixa contábil no balanço do BNDES - 17 de Janeiro de 2013 - Valor Econômico - Luiz Henrique Mendes e Janice Kiss

[1] É dinheiro público.
[2] Esta palavra é tão perigosa e sempre pronunciada no momento da operação.
[3] Observe duas consequências ruins da ação do BNDES: concentração do mercado e demissão de funcionários das fábricas fechadas. E aparentemente isto não foi feito para melhorar a eficiência do setor.
[4] Não entendi este trecho.

Des(acordo) ortográfico

Quem cravou essa expressão – (des)acordo ortográfico – foi o conhecido professor Pasquale Cipro Neto. E agora a presidente Dilma resolveu adiar para 2016 a oficialização da nova ortografia. Segundo Cipro Neto, o “(des)acordo ortográfico é um verdadeiro horror”. Penso que o acordo acertou numas coisas, errou em outras e conseguiu estabelecer confusões várias. 

Acho bom acabar com o trema. Acho realista botar no alfabeto as letras k, w, y. Primeiro porque tais letras não são mais estrangeiras. Segundo porque grande parte da população inventou nomes exóticos para os filhos com y, w e k, como se estivessem recuperando o tupi-guarani por meio do inglês. Mas é um equívoco não diferenciar o verbo “pára” da preposição “para”. Faz falta. E não faz sentido ter que escrever “antirreligioso” sem hífen, com os dois erres, e botar hífen em “hiper-requintado”.

Mas, além dessas minúcias, as falácias do acordo estão nos seus pressupostos. Vejamos:

1) “Melhorar o intercâmbio cultural entre os países em que se fala o português.”
 Isto é falso. O intercâmbio cultural entre o Brasil e outros seis países de língua portuguesa existirá não por causa da presença/ausência de um trema, um hífen ou acento diferencial. O intercâmbio cultural só existirá se o Ministério da Cultura e o Itamaraty tiverem uma política cultural. Não têm. Vivem de expedientes e improvisações. Testemunhei isto de perto durante os seis anos em que dirigi a Fundação Biblioteca Nacional. Não há projetos, nem coordenação. Com todas as dificuldades, o pequenino Portugal faz mais pela divulgação de sua cultura do que nosso gigante adormecido. 

2) “Reduzir o custo econômico da produção e tradução de livros.”
Outra falácia. As editoras gastaram fortunas reeditando livros na nova ortografia. As dificuldades linguísticas não acabam tirando ou botando acentos. As principais dificuldades da língua são naturais e não têm solução. São regionalidades inevitáveis. Cada língua cria seu vocabulário, sua semântica e até variações sintáticas. Se esse quesito fosse verdadeiro, Guimarães Rosa jamais seria lido em Portugal e na África. 

3) “Facilitar a difusão bibliográfica e das novas tecnologias.”
Isto é uma abstração. Primeiro porque os acentos e hifens nunca atrapalharam o entendimento em português. Em segundo lugar, assim como o latim era a língua em que até recentemente os filósofos e cientistas se comunicavam, hoje o inglês é esse esperanto universal. Onde há pesquisa avançada criam-se termos, por isso a grande maioria das palavras importantes em tecnologia são em inglês. Nem o francês nem o alemão podem concorrer com o inglês neste campo.

4) “Aproximar as nações de língua portuguesa.”
Outro equívoco. Não é a ausência do hífen, do acento diferencial e do trema que vai nos redimir culturalmente. O que separa o Brasil dos demais países de língua portuguesa é a incúria brasileira. Nossas novelas de televisão, a música popular e a literatura que chegam a Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Portugal, e não representam nem 10% do que se pode fazer ordenadamente. Aliás, os industriais, os exportadores, os comerciantes brasileiros que se instalaram na África e na Ásia teriam muito que ensinar aos intelectuais. Tais empresários nem sabem o que é hífen e tremem ao usar o trema, no entanto…


[...]

Fonte; aqui

Frases

"O IASB é subsidiado pelas quatro grandes empresas de contabilidade e por grandes empresas, incluindo bancos ... Ele tem sua própria agenda política. "Ele não tem a independência dos interesses organizados e não introduziu qualquer norma que obrigue os bancos a revelar seus veículos especiais, as estruturas offshore ou mesmo de suas práticas de preços de transferência".

Prem Sikka - professor de contabilidade da Inglaterra - durante depoimento à comissão que está investigando a crise financeira.

The Economist e a Contabilidade Criativa

A admiração da opinião pública internacional pela economia brasileira parece cada vez menor. Na edição que chega nesta quinta-feira às bancas na Europa, a revista "The Economist" lança mais uma série de duras críticas ao governo de Dilma Rousseff. Ao questionar os recentes artifícios usados pela equipe econômica nas contas públicas, a revista diz que "a mudança na meta (de superávit primário) seria uma alternativa melhor do que recorrer à contabilidade criativa".

Com o título "Números errados", a reportagem da revista diz que os dados econômicos "decepcionantes" não param de ser divulgados no Brasil. Depois do fraco Produto Interno Bruto (PIB) apresentado em novembro, o governo de Dilma Rousseff agora "admite que só atingiu a meta de superávit primário" após "omitir algumas despesas em infraestrutura", "antecipar dividendos de estatais" e "atacar o fundo soberano".
Além disso, a revista diz que outra má notícia veio com a inflação que, agora, traz ainda mais "escuridão" ao cenário. Para a The Economist, se o governo não tivesse segurado os preços da gasolina e do transporte público, a inflação de 2012 teria chegado "mais perto de 6,5%", o teto da meta do regime de inflação no Brasil. "Em 2013, esses preços tendem a subir", diz a reportagem.

Para a revista, a resposta do governo brasileiro ao cenário negativo alimenta temores de que o Brasil pode estar ingressando em um período de inflação mais alta com crescimento baixo. "Atingida pela crítica, Dilma Rousseff ressalta que o Brasil ainda cresce mais rápido que a Europa. Isso é verdade, mas a maioria das outras economias emergentes, incluindo a América Latina, está melhor", pondera a publicação.

A manobra nas contas públicas desaponta, diz a revista, mas não chega a ser uma surpresa. A reportagem lembra que a equipe econômica já usou expediente semelhante em 2010 em uma "complicada troca de títulos entre o Tesouro Nacional e a Petrobras" que "magicamente adicionou 0,9% do PIB ao superávit". "Provavelmente, o Brasil poderia executar um superávit primário menor sem arriscar sua reputação duramente conquistada com a sobriedade fiscal. Mudar a meta seria uma maneira melhor de fazer isso do que recorrer à contabilidade criativa".

A revista demonstra, ainda, preocupação com um possível enfraquecimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O risco, diz o texto, é que com uma eleição presidencial em 2014 "as autoridades farão o que for preciso para atender sua previsão de crescimento de 4% este ano".

The Economist critica 'contabilidade criativa' do Brasil
Por Fernando Nakagawa, correspondente