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16 maio 2018

Resenha: Against the Education

Bryan Caplan já deixa claro o principal ponto do livro no seu título, The Case Against the Education : Why the Education System Is a Waste of Time and Money. Caplan reconhece que a educação é uma grande indústria, mas rejeita a ideia da teoria do capital humano de que a educação ensina algo útil e que isto já é suficiente para sua defesa. É algo difícil de aceitar, já que estamos acostumados ao bombardeio incessante daqueles que defendem o sistema educacional vigente. É importante notar que Caplan é contra o “sistema” atual, que obriga o aluno a aprender sobre o reino monera, a cinemática, os arranjos, o bizantino, as coníferas e os polímeros, entre outras inúmeras coisas. Veja a lista anterior e tente lembrar dos seis itens listados se você recorda da metade deles ou se você sabe associar cada termo a disciplina. Uma dica: todos são conteúdos obrigatórios de disciplinas ensinadas no ensino médio. Provavelmente você não irá conseguir lembrar o significado da maioria dos termos e talvez até nem saiba mais em qual disciplina você estudou cada um deles. Isto seria um forte indício que o conteúdo que fomos obrigado a estudar para obter a aprovação nas disciplinas do segundo grau era boa parte desnecessário. Para Caplan, no segundo grau, basta alguns conhecimentos de matemática e de línguas (no caso dele, o inglês). Assim, o sistema de de educação é uma grande perda de tempo e dinheiro. Os alunos estudam história durante longos anos, mas somente professores de história precisam de história no seu trabalho; inglês é a língua universal, mas no nosso currículo temos a opção de aprender espanhol; poucos trabalhos exigem matemática complexa, mas na graduação, inclusive de contabilidade, enfatizamos o ensino da derivada.

O autor defende a ideia de que a educação é antes de tudo uma sinalização. Qual a finalidade de aprender tanta coisa inútil se no mercado de trabalho as pessoas são pagas para ler, escrever e pensar? Segundo Caplan, os alunos gastam horas estudando coisas inúteis para o mercado de trabalho moderno, existindo uma total falta de conexão entre o conteúdo ensinado nas escolas e o que o mercado de trabalho necessita. Uma possível explicação é que o professor ensina aquilo que sabe - isto é realmente verdadeiro - e que existe grupos de pressão que tentam criar uma reserva de mercado tornando certos conteúdos obrigatórios. Este último ponto não está explicito no livro, mas é possível inferir a partir dos argumentos do autor. Já que o governo delegou ao sistema educacional a tarefa de determinar o que cada pessoa irá aprender, isto permite que apareça a possibilidade de tornar obrigatório o ensino de filosofia no segundo grau, por exemplo. Ou quem sabe educação financeira. Estes conteúdos não serão uteis para os alunos, mas criam um campo de trabalho gigantesco para os bacharéis em filosofia ou em economia.

Mas a crítica de Caplan esbarra na constatação de que a educação é cada vez mais importante. A teoria da sinalização tem resposta para isto: a educação é um sinal de esforço, conformidade às regras (ou submissão às expectativas sociais) e um sinal dispendioso e caro, que permite separar as pessoas. Isto também ajuda a explicar um aspecto curioso, já constatado em pesquisas empíricas: um garçom com graduação em história tem uma salário superior a um garçom sem graduação. Apesar deste resultado não fazer sentido, sob a ótica da teoria da sinalização isto é bastante plausível. Os bares, como todas as empresas, buscam empregados inteligentes, conscienciosos e conformitas. E o fato da pessoa ter feito uma graduação sinaliza estas características. Diante da existência de diversos candidatos a garçom, os bares favorecem os candidatos com graduação, apesar da irrelevância no trabalho do currículo acadêmico. Na etapa da contratação, a credencial “ter graduação” é importante.

Outro fato destacada por Caplan é que a educação é um caminho para a prosperidade individual, mas que não consegue explicar o crescimento econômico. Isto é realmente difícil de aceitar, mas a argumentação do autor é que não há uma relação causa e efeito entre educação e crescimento econômico. Ou seja, para um país crescer ele NÃO precisa investir em educação. Segundo Caplan, há uma causação reversa entre crescimento econômico e educação; ou seja, com o crescimento, as pessoas irão procurar a educação e não a educação conduz ao crescimento econômico, como somos induzidos a acreditar. Realmente é difícil de acreditar, mas se você ficou pelo menos curioso, leia o livro. Se você não acredita no que ele disse, leia os argumentos do autor para que possa ter uma visão diferenciada dos argumentos.

Vale a pena? Esta leitura é um grande teste. Não que seja difícil; pelo contrário, o livro possui uma linguagem bastante didática. Mas os argumentos são convincentes demais e o autor está sempre embasado em boas pesquisas científicas. Tenho certeza que este livro irá mudar a forma como você enxerga a educação. Mas é preciso coragem para enfrentar os argumentos.

Sobre os assuntos destacados no início do texto, Reino monera = biologia; cinemática = física, arranjo = matemática, bizantino = história, coníferas = geografia e polímeros = química.

Rir é o melhor remédio

(Foto de 1941)

15 maio 2018

Proteção contra predadores


Protection from predators from American Economic Association on Vimeo.

O vídeo mostra o que ocorre a um país quando o governo não mantém a lei e a ordem. Usando dados mundiais, uma pesquisa mostrou o efeito disto sobre as empresas.

Seria o polvo um ET?

Trinta e três cientistas (é isto mesmo, 33) publicaram um artigo científico no Progress in Biophysics and Biologia Molecular e aventaram a hipótese do polvo ser um alienígena vindo do espaço.

A possibilidade decorre da rapidez de sua evolução na Terra, elevada complexidade dos genes, cérebro grande, sistema nervoso sofisticado, olhos com semelhança a uma máquina fotográfica, camuflagem instantânea, entre outros. Via aqui

A adoção das normas internacionais aumentou os honorários do auditor

Durante a fase de antecedeu a adoção das normas internacionais de contabilidade era nítido o interesse das Big Four no processo. Seus melhores quadros saíram em defesa da decisão do Brasil de adotar a IFRS. Não que isto tenha sido bom ou ruim, mas era perceptível a torcida. Além disto e conforme já postamos diversas vezes neste blog, as empresas de auditoria são patrocinadoras importantes do Iasb, sendo que boa parte do orçamento desta entidade é tem sua origem nas Big Four.

A razão disto é fácil de entender: a adoção das normas internacionais representava uma grande oportunidade de expansão destas empresas de auditoria, podendo contar com a economia de escala e de escopo, além do aumento da receita.
Um trabalho de três pesquisadores cearenses mostraram o efeito da adoção das normas internacionais nos honorários de auditoria. Usando uma série histórica de 2009 a 2016 e analisando as cem maiores empresas brasileiras, Márcia Cunha, Lorena Mello e Paolo Araújo mostraram que a adoção das normas aumentaram os honorários em média de 9% no período. Os valores pagos foram devidamente corrigidos pela inflação e a pesquisa mostra ainda dois aspectos importantes: que os honorários são maiores quando se contrata uma Big Four e que o rodízio tende a reduzir esta influência.

Fonte: Da CUNHA, Marcia Gabrielle Fontinele; MELLO, Lorena Costa Oliveria; ARAUJO, Paolo G Lima. O Impacto das Normas Internacionais de Contabilidade nos Honorários dos Auditores Independentes das Companhias Brasileiras. RAGC, v. 6, n. 22, 2018.

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Primeira classe da Air France em 1957:





13 maio 2018

Presença do gênero feminino entre os discentes

Objetivo: apesar de existirem movimentos em direção à igualdade de gêneros quanto ao acesso à educação e às oportunidades no mercado de trabalho, a escassa presença da mulher em profissões que no passado eram, predominantemente, masculinas ainda pode persistir. Assim, este estudo objetiva verificar a presença do gênero feminino entre os discentes dos programas de pós-graduação em Ciências Contábeis do Brasil, no período de 2010 a 2016.

Método: na Plataforma Sucupira, foram selecionados os 26 cursos de mestrado acadêmico, os 5 de mestrado profissional e os 13 de doutorado em Ciências Contábeis credenciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e com dados disponíveis para a pesquisa até 2016. Nesses, identificou-se um total de 3.013 discentes ingressantes, 2.058 de mestrado acadêmico, 530 de mestrado profissional e 451 de doutorado.

Resultados: os resultados da pesquisa indicam que o número de discentes do gênero feminino ingressantes nos programas de pós-graduação em Ciências Contábeis no Brasil são inferiores ao de discentes do gênero masculino, no período analisado, com visíveis diferenças regionais.

Contribuições: conclui-se que a presença do gênero feminino entre os discentes dos programas pesquisados tem evoluído, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançar a igualdade de gêneros, o que é especialmente relevante se for considerado que isso pode se refletir em posteriores oportunidades de trabalho, uma lacuna de pesquisa a ser investigada.


Presença do Gênero Feminino entre os Discentes dos Programas de Pós-Graduação de Ciências Contábeis no Brasil
Daniele Cristina Bernd, Marcielle Anzilago, Ilse Maria Beuren

Fonte: Aqui

Space X - Parte 2

Recentemente postamos como a questão dos custos pode influenciar substancialmente a SpaceX.

A SpaceX é uma empresa de transporte espacial, fundada por Elon Musk. Um dos objetivos é a colonização de Marte. Mas enquanto isto, a empresa está desenvolvendo foguetes para colocar cargas na órbita terrestre, incluindo satélites.

As conquistas da SpaceX incluem o primeiro foguete de combustível líquido com financiamento privado a chegar à órbita da Terra (Falcon 1 em 2008); a primeira empresa com financiamento privado a lançar, orbitar e recuperar uma nave espacial (Dragon em 2010); a primeira empresa privada a enviar uma nave espacial para a Estação Espacial Internacional (EEI) (Dragon em 2012); o primeiro pouso propulsivo de um foguete orbital (Falcon 9 em 2015); e a primeira reutilização de um foguete orbital (Falcon 9 em 2017).

A agência espacial dos Estados Unidos tem interesse em usar, futuramente, os foguetes da empresa para levar astronautas. Na postagem comentamos que um dos focos da empresa é a redução dos custos, através da reutilização dos foguetes e seus componentes. Mas o futuro da empresa pode depender de outros aspectos. O foguete Falcon 9 é bastante eficiente em termos de força/impulso. Isto significa que cargas mais pesadas podem ser transportadas. Em outras palavras, mais receitas. E também pode ajudar a reduzir o custo total. Ou redução do preço, permitindo o acesso de novos clientes.

Além disto, parece que há uma melhoria na probabilidade de pouso; isto significa maior reutilização dos componentes. Algumas peças poderão ser reutilizadas de 10 a 100 vezes. Outro aspecto interessante: um foguete pode levar semanas, em lugar de meses, para ser usado. Isto se deve ao material usado na construção dos foguetes e ao trabalho necessário para preparar para um nova missão.

Rir é o melhor remédio

É velha, mas ...

Quanto é 2+2, segundo algumas profissões:

Engenheiro: A resposta está entre 3,98 e 4,02

Corretor imobiliário: Eu vou resolver isso depois que você concordar em me pagar 1% da resposta.

Matemático: Em 3 horas posso demonstrar a minha prova que revelará a resposta que todos procuraram.

Filósofo: Este problema é solucionável.

Dentista: Se você não escová-los corretamente, haverá apenas 3.

Assistente social: Eu não sei a resposta, mas estou feliz por termos discutido a questão.

Advogado: No caso de Nerd vs HMRC, 2 + 2 foi considerado como sendo 4

Político: Essa não é a verdadeira questão.

Comerciante de câmbio: você está comprando ou vendendo?

Médico: vou pedir uns exames e depois você marcar outra consulta

Consultor: para responder é necessário a elaboração de um plano estratégico seguido de ...

Contadores: O que você quer que seja?

12 maio 2018

Frase

Para aqueles que defendem mais verbas para a educação no Brasil:

Consider that Brazil is proportionately the fourth largest spender on secondary education measured against the wealthy Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) economies, and ranks just behind the Netherlands (and ahead of the U.S.) on public university spending.

Desafio aos leitores

Veja um problema de contabilidade e/ou matemática, a partir de uma notícia de jornal (Procuradoria do Estado do Rio tenta evitar parcelamento de dívida em 2.097 anos, Renata Batista, O Estado de S.Paulo, 10 Maio 2018). Os elementos são esses:

A Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ) está brigando na justiça para evitar que uma empresa parcele em 2.097 anos uma dívida tributária. O recurso visa também garantir que a empresa possa ser acionada criminalmente, já que ela simulou de forma irregular milhões de reais em crédito fiscal sem lastro. (...) A situação foi criada depois que uma decisão da 11ª Vara de Fazenda Pública autorizou a empresa F’Na é Ouro Gestão de Franchising e Negócios, que atuou até 2012 na distribuição de bebidas para o grupo Petrópolis, a limitar as parcelas mensais de uma dívida de R$ 1,1 bilhão a 2% do seu faturamento.


Qual o valor do faturamento da empresa?

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11 maio 2018

GM da Coréia

A GM da Coréia do Sul, uma empresa com participação do governo do país asiático (17%), ameaçou pedir falência em razão dos problemas estruturais. Depois de um acordo com os sindicatos, que implicou na concessão salarial e na redução no número de funcionários em quase 3 mil (de um total de 16 mil), a empresa divulgou esperar que a unidade volte a ter lucro. O banco de fomento da Coréia disse que este resultado pode demorar, em razão de uma diligência feita por uma afiliada da PwC, em uma análise mais pessimista.

O prejuízo líquido anual da GM Coréia aumentou para US $ 1,1 bilhão no ano passado, seu quarto ano consecutivo em vermelho, depois que a decisão da GM de retirar sua marca Chevy da Europa levou à redução das exportações para o principal mercado de exportação.

Para evitar a falência da GM da Coréia os principais acionistas concordaram com um pacote de resgate de 7 bilhões de dólares, sendo um pouco mais de 10% do governo coreano. Pelo acordo, a GM não pode fechar a fábrica nos próximos dez anos.

Desde que os problemas da filial coreana foram divulgados, as ações da GM caíram no mercado acionário (gráfico).

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Efeito do escândalo

No início de 2017 a empresa de telecomunicações BT descobriu uma fraude envolvendo a filial italiana. O preço das ações caiu em 18%. Alguns meses depois, a empresa anunciou que a PwC deixaria a função de auditor. Uma investigação descobriu práticas contábeis inadequadas envolvendo receita, compras e leasing.

Agora, a BT anunciou medidas para reduzir custos, o que inclui a demissão de 13 mil pessoas, de um total de mais de 100 mil empregados, além da mudança de sede.

Muralha da China e o Popular

Durante 30 anos, a empresa PwC auditou o Banco Popular, uma instituição financeira espanhola. Em nenhum momento, a empresa de auditoria fez ressalva na contabilidade do Popular. O sexto maior banco da Espanha começou a apresentar problemas em 2017. Em poucos dias, o Popular foi adquirido pelo Santander por um euro.

No balanço de 2016, com prejuízo de 3,5 bilhões, a PwC só apresentou uma parágrafo de ênfase. Depois de vendio ao Santander, o Popular teve um prejuízo divulgado de 12,2 bilhões e a PwC, neste momento, fez um parecer mais realista. A empresa de auditoria ainda está sendo investigada sobre possíveis crimes cometidos no trabalho no Popular. A PwC também é a empresa que faz a auditoria no Santander.

O jornal El País revelou que durante a crise do Popular, um outro banco, o BBVA, analisou a possibilidade de fazer uma oferta. No mês de maio de 2017, o BBVA analisou o Popular; e entre os dias 4 e 6 de junho novamente discutiu esta possibilidade. O Popular foi liquidado entre os dias 6 e 7 de junho. O BBVA decidiu não fazer uma oferta em razão

un gran déficit de provisiones para cubrir los créditos inmobiliarios y los de pymes, así como un gran riesgo por los posibles litigios legales de los afectados, por los créditos fiscales y por otros riesgos genéricos.

El BBVA calculó que, para absorber al Popular, necesitaba una ampliación de capital de 13.900 millones, casi el doble de la cantidad que precisó el Santander para adquirirlo.

Um fato importante nesta análise. Segundo o El País, o BBVA contou com a assessoria de um empresa de auditoria. Quem?

Fuentes de PwC y del BBVA no hicieron comentarios sobre esta cuestión por motivos de confidencialidad en sus contratos de colaboración. Esta colaboración no es ilegal ya que las auditoras tienen otros departamentos que realizan trabajos de asesoría y trabajan con el principio de “muralla china”, es decir, sin comunicación de información.

10 maio 2018

Auditoria de algoritmo

Já sabemos que os algoritmos são construidos, em muitos casos, baseados na experiência prévia. Por este motivo, muitas vezes estão incorporados nas linhas de código preconceitos e falhas, o que pode levar a um aumento da desigualdade e, até, uma ameaça a democracia. O que ocorreu com as eleições dos Estados Unidos e o Facebook é um alerta desses problemas.

Uma solução para corrigir isto é um processo de auditoria. Neste caso, as empresas abrem sua tecnologia para avaliação. O lado negativo é revelar segredos existentes nos algoritmos. Mesmo assim,

as empresas estão começando a empregar auditorias algorítmicas para ajudá-las a pensar nesses sistemas (...) A Deloitte desenvolveuuma prática para ajudar as empresas a gerenciar o risco algorítmico, e a Accenture também relata aconselhando clientes sobre o tópico.

O´Neill, autora de Weapons of Math Destruction e do site Mathbabe, criou uma matriz ética que ajuda as empresas a pensarem nos efeitos dos algoritmos. A matriz olha aspectos como transparência e justiça presente nos algoritmos.

Aquisição inadequada da Steinhoff

Contamos, em postagens anteriores, as peripécias da Steinhoff. Atuando no mercado de varejo, a empresa, com sede na África do Sul, apresentou problemas financeiros no final de 2017. A questão também envolvia o trabalho do auditor.

Um capítulo na história da Steinhoff foi a aquisição da Mattress Firm, uma empresa com mais de 3600 lojas em 48 estados dos Estados Unidos. A Mattress, um varejo de colchões, foi construída a partir da aquisição de diversas empresas pequenas. Em 2016, a empresa foi adquirida pela Steinhoff por 3,8 bilhões. Chris Bryant, da Bloomberg, chama a atenção para este grande erro da empresa Steinhoff.

1) A Mattress era uma empresa fortemente endividada, com 1,3 bilhão de US$ de dívida líquida, sem computar o leasing fora de balanço
2) O prêmio pago, de 115%, foi absurdamente elevado
3) A margem operacional da Mattress tem uma tendência de queda, mesmo com o crescimento acelerado da receita
4) O crescimento da receita é decorrente das aquisições realizadas e não da conquista do mercado. Na realidade, o mercado começou a ter concorrência das vendas online e os concorrentes estavam reduzindo a presença física, enquanto a a Mattress fazia esta expansão
5) O due dilligence durou somente cinco dias
6) Muitas lojas estavam localizadas no mesmo mercado, existindo um claro problema de canibalismo
7) Decisões erradas de marketing, envolvendo mudança de nome de loja e retirada de um produto popular das opções de venda

A parte interessante do comentário de Bryant refere-se a uma nota explicativa que a Mattress divulgou referente a uma ação contra dois gestores antigos. Segundo a empresa, estes administradores, em conluio com um corretor imobiliário, montaram um esquema de fraude, suborno e propina, envolvendo a descoberta de lojas para alugar, contratos elevados de locação e abertura de lojas desnecessárias (fotografia). Isto é um claro sinal de falta de controle.

E a Steinhoff tinha esta informação quando comprou a Mattress, já que o problema foi divulgado nas notas explicativas.

Agora , a Steinhoff terá que fechar lojas da Mattress, o que deverá ter efeitos nos resultados da empresa. E lidar com um ágio elevado, pago em 2016, na aquisição da loja de colchões.

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Fotografias diversas da internet:

Conhecendo a futura ex-esposa
Turista tira fotografia da pichação em Barcelona
Segurança no trabalho é tudo

09 maio 2018

O primeiro trimestre da Petrobras

A Petrobras divulgou os resultados do primeiro trimestre de 2018 (aqui, aqui e aqui). De uma maneira geral, a atual gestão da Petrobras tem dois aspectos positivos que a credenciam: sorte e um parâmetro comparativo bastante favorável.

Desde que Parente assumiu a empresa, a Petrobras teve, em alguns momentos, a seu favor, o câmbio favorável, que permitiu manter sob controle sua dívida. Agora, o preço internacional do petróleo parece voltar a aumentar, o que pode ajudar a atual gestão nas melhorias implantadas de controle da dívida e redução dos investimentos inadequados. Para completar, a gestão atual tem como parâmetro de comparação duas gestões desastrosas da empresa, marcada por investimentos de péssima qualidade e um grande esquema de corrupção.

O resultado divulgado nesta semana mostra uma empresa mais enxuta, com menor endividamento e que começa a ter resultados positivos. O gráfico abaixo apresenta o comportamento da receita da empresa desde 2010, corrigido pela inflação. A empresa atingiu, entre o final de 2013 e o final de 2014, o auge, quando, a receita chegou, a preços de hoje, a receita ultrapassou a casa de 100 bilhões de reais por trimestre. Desde então, a empresa reduziu sua receita em um quarto do valor, através de um processo de venda de diversos ativos. Além disto, a recessão na economia brasileira também ajudou no valor menor da receita da empresa.


Ao mesmo tempo, a redução nas amortizações dos investimentos realizados nas gestões passadas parecem ter terminado. Entre 2014 a 2017 a Petrobras levou para resultado 116 bilhões de reais (não corrigidos), o que representa algo em torno de 15% dos ativos. Neste período, o prejuízo acumulado da empresa, sem a correção da inflação, chegou a 70 bilhões ou 77 bilhões. Mais do que os valores, o destaque no resultado líquido foi a decisão da empresa em fazer as amortizações de maneira parcela e alguns trimestres, o que aumentou a variabilidade do resultado, conforme gráfico abaixo.


Como resultado do teste de impairment e das decisões de vendas de ativos, o ativo da empresa, que no passado chegou a marca de 1 trilhão de reais, a preços de hoje, agora é quase 200 bilhões de reais a menos. E tem-se mantido neste novo patamar há mais de dois anos.



Uma empresa menor, com menos faturamente, menos investimento e menos caixa. Antes da crise, a empresa chegou a ter quase 100 bilhões nominais (R$130 bilhões a preços de hoje) de dinheiro e aplicações de curto prazo. Este valor atingiu a menos de 30 bilhões e, pelo terceiro trimestre consecutivo, mostrou um crescimento. A quantidade de recursos em caixa é crucial para uma empresa endividada, como a Petrobras, e que precisa negociar com as instituições financeiras. Ao mesmo, permite uma maior autonomia para a sua administração.


O grande problema da empresa ainda é o grande volume de dívida. A situação hoje é bem melhor que há três anos, quando a soma dos empréstimos e financiamentos, menos o valor do caixa, atingiu a mais de 400 bilhões de reais (preços de hoje), bem perto da metade do valor dos ativos. Existem empresas mais endividadas no mercado, mas o problema destes números é que estamos falando do conceito de dívida líquida, geralmente um valor mais favorável para a empresa, pois não considera as dívidas de operação.

Esta situação fez com que a Petrobras ficasse conhecida com o nada honroso título de “empresa mais endividada do mundo”. Desde então, o caixa aumentou, o dólar manteve-se razoavelmente estável - uma parcela expressiva da dívida da empresa é em moeda estrangeira - e o peso da dívida está caindo. Assim, em termos relativos, a Petrobras hoje é claramente menos endividada que a empresa de três ou quatro anos atrás, quando ficou claro os problemas de gestão da estatal.


Apesar dos problemas, durante todo este período a estatal conseguiu obter caixa com as suas operações. Ao contrário do lucro, que tem sido uma medida de desempenho instável no tempo, o caixa operacional tem ficado um pouco acima dos 20 bilhões de reais há muitos trimestres. Assim, a recuperação do lucro, ocorrida no último trimeste, já era algo esperado, diante deste caixa das operações.


Mesmo assim, os investidores devem ter ficado surpresos com os números do primeiro trimestre. Desde sua divulgação, o preço da ação da empresa subiu. Bom para os acionistas, que poderão começar a receber dividendos da empresa.