10 setembro 2011
Portugal
Um estudo de três pesquisadores da Carnegie Mellon University discute a razão da crise em Portugal. Para os pesquisadores, o problema está na baixa produtividade. Esta, por sua vez, é conseqüência das distorções no mercado de trabalho e do tamanho das empresas.
Com respeito ao mercado de trabalho, os pesquisadores destacam que em Portugal é muito difícil despedir trabalhadores por justa causa, reduzir salários e benefícios e os tribunais são orientados para o trabalhador.
[Em Portugal, quando] as empresas crescem em tamanho, elas enfrentam um crescente conjunto de regras, regulamentos e mandatos (...)
O economista e a crise
Muito interessante este artigo de Paul Krugman no Eastern Economic Journal. Ele comenta sobre a profissão dos economistas e suas relações com as recentes crises econômicas. O artigo é excelente, mas a conclusão mostra o "desespero" de Krugman:
"What we really need is a change in the destructive social dynamics that brought us to this point. And I wish I knew how to do that. But my problem is obvious: I’m an economist, and it seems that we need some kind of sociologist to solve our profession’s problems."
09 setembro 2011
Custo da Copa
(Fonte: aqui). Somente o custo do ar condicionado (é isto mesmo) será de 30 bilhões de libras.
Ouro da Venezuela
Hugo Chavez anunciou recentemente que pretendia tirar 211 toneladas de ouro físico que estava na Europa. Felix Salmon faz uma análise interessante sobre as consequências disto, em termo de segurança e seguro.
Venezuela precisaria para transportar o ouro em várias viagens, disseram operadores, uma vez que o alto valor do ouro significa que seria impossível para segurar uma única aeronave carregando 211 toneladas. Que pode demorar cerca de 40 carregamentos para mover o ouro de volta a Caracas
A tarefa é complexa e a logística será difícil. A última vez que um grande carregamento foi transportado foi em 1936, quando a Espanha transportou ouro de Madri para Moscou em troca de armas.
A maior parte do ouro era trocada por armas russo, com a União Soviética mantendo 2,1% dos fundos sob a forma de comissões e corretagens, e um 1,2% adicionais na forma de transporte, depósito, fusão, refino e despesas.
Isto significa que só de despesa o país irá pagar 3,3% do valor. Isto significa 400 milhões de dólares ou mais. Em razão das características do produto, o seguro desta operação seria também problemático. Um roubo de um dos carregamentos poderia render 300 milhões de dólares para os aventureiros. (E seriam cerca de 40 carregamentos).
Mas Chavez possui mais alternativas. Uma delas é pagar alguma despesa com ouro, com a condição que a pessoa que recebe a quantia retire no Banco da Inglaterra com um desconto. Mas isto seria uma opção muito elegante e muito mercado para ele.
Custo do 11 de Setembro
Fonte: aqui
Correios
Pressionados por uma queda de 18% no volume de correspondência só nos últimos dez anos e por uma folha de pagamento que hoje consome 80% de sua receita, o Serviço de Correios dos EUA está prestes a quebrar.
Em audiência ontem no Senado americano, a estatal pediu autorização para demitir 120 mil de seus 574 mil funcionários ou 20% de um quadro que já havia encolhido 26% de 2001 para cá.
Segundo reportagem do "New York Times", a empresa pode ficar sem caixa para pagar empregados e combustível para seus veículos já em janeiro ou fevereiro, fechando as portas.
Antes disso, porém, há expectativa de um calote de US$ 5,5 (R$ 8,8 bilhões) no seguro-saúde de funcionários aposentados, cuja conta vence no fim deste mês.
"Se o Congresso não fizer nada, daremos calote", disse o diretor do USPS (sigla para Serviço Postal dos EUA), Patrick Donahoe, ao "Times".
Donahoe pediu ao Senado permissão para demitir, fechar 10% das agências e, em último caso, deixar de fazer entregas aos sábados.
Uma série de ajustes foi feita aos serviços ao longo da última década, depois que a internet passou a substituir os Correios tanto na troca de correspondências pessoais como na mala direta.
Os catálogos ainda entopem as caixas postais americanas, mas com a preferência por spams, a quantidade vem caindo rapidamente. Projeções do USPS indicam que neste ano, o volume de correspondência já deve ser 2,3% menor do que em 2010.
Outro filão que os Correios americano perdem é o das contas, com mais gente aderindo aos boletos on-line.
Para piorar, a estatal não diversificou seus serviços. A única exceção aberta foi a confecção de passaportes, também pouco rentável.
No Brasil e em países europeus, as agências passaram a oferecer serviços bancários; e em lugares como a Suíça, o serviço postal chega até a vender eletrônicos e material de escritório.
Por fim, pesa o ônus trabalhista: os Correios nos EUA têm um quadro de funcionários altamente sindicalizado, e muitos contratos incluem cláusulas contra demissão sem justa causa e programas de pensões generosos.
Apesar do enxugamento drástico na última década, os custos não se comparam aos da concorrência no cálculo do "New York Times", a FedEx consome 32% de sua receita com salários.
De olho nesse gasto, entre as medidas debatidas pelo Congresso no Dia do Trabalho, está um saque no fundo de pensões dos funcionários.
Fonte: Aqui
Fraude
Eis um caso interessante de falta de controle interno de uma entidade:
O ex-vice-presidente do Citigroup, Gary Foster, se declarou nesta terça-feira culpado de se apropriar ilicitamente de mais de US$ 22 milhões em fundos do banco que transferiu para sua conta privada entre 2003 e 2010, segundo confirmou sua advogada Isabelle Kirshner à Agência Efe.
Foster, de 35 anos, admitiu perante o juiz federal Eric Vitaliano, do Tribunal do Distrito Leste de Nova York, que durante esse período retirou mais de US$ 22 milhões, uma quantia superior aos US$ 19 milhões pelos quais tinha sido acusado pela promotoria, disse Isabelle.
A advogada também afirmou que seu cliente "reconhece a gravidade de suas ações e está preparado para assumir sua total responsabilidade por elas".
Foster foi posto em liberdade pagando uma fiança de US$ 800 mil até que o juiz decida a data de sua sentença. O ex-vice-presidente do Citigroup enfrenta uma condenação máxima de 30 anos de prisão, embora o promotor do caso, Michael Yaeger, deva pedir para ele uma pena de oito a 10 anos.
Detido em junho no aeroporto internacional John F. Kennedy de Nova York, ao retornar de férias de Bangcoc, Foster foi acusado de ter enriquecido por meio de transferências ilegais de contas do Citigroup e de sua conta privada no banco rival JPMorgan Chase.
INVESTIGAÇÃO
O FBI (polícia federal americana) garante que o banqueiro desfalcou a entidade financeira do seu cargo na tesouraria, que supervisiona as transações interbancárias do grupo, e em uma ocasião transferiu para sua conta pessoal US$ 3,9 milhões procedentes de uma filial em Baltimore (Maryland).
Segundo detalha nesta terça-feira o "New York Post", o dinheiro foi gasto em luxuosos imóveis, como uma mansão em Nova Jersey, estimada em US$ 6 milhões, e um apartamento de quase US$ 2 milhões em Nova York --este último localizado em frente ao escritório da própria Citi em Nova York.
Gary Foster começou a trabalhar para o banco em 1999, saindo em janeiro de 2011, antes que começasse a ser investigado pelo resultado de uma auditoria interna que revelou o rombo de US$ 19 milhões.
Ao contrário do Brasil, Alemanha quer menos Estados
No Brasil, tramitam atualmente na Câmara projetos para a criação de seis novos Estados, como Mato Grosso do Norte, Maranhão do Sul ou Tapajós e Carajás, no atual Pará. Na Alemanha a tendência é inversa: vários dos 16 Estados atuais poderão ser fundidos no futuro, formando unidades maiores.
Entre as possíveis fusões, está a criação de um mega-estado na ex-Alemanha Oriental, que se chamaria Alemanha Central, e a união de três ou quatro Estados no norte do país, formando a Alemanha do Norte. Além disso, Berlim poderá se unir a Brandenburgo, o Estado que circunda o território da capital alemã, e no sudoeste do país fala-se em um “casamento” entre os Estados da Renânia-Palatinado e Saarland.
Vantagens econômicas
A redução do número de Estados é defendida veementemente por economistas e pelo empresariado alemão. As fusões poderiam cortar custos administrativos, diminuir a máquina estatal e tornar os novos Estados mais competitivos – as regiões cooperariam entre si, em vez de ficarem brigando por investimentos.
Os maiores empecilhos até agora são de fundo cultural: os moradores dos Estados alemães têm uma forte identidade regional.Isso ocorre apesar das atuais fronteiras estaduais terem sido criadas pelas forças de ocupação americanas, francesas, inglesas e russas depois da Segunda Guerra.
Manfred Nitsch, economista da Universidade Livre de Berlim, disse em entrevista à BBC Brasil que a situação na Alemanha é diferente do que ocorre no Brasil, já que a área dos Estados é menor.
Além disso, a população está diminuindo, o que significa que há cada vez menos gente para ser governada, diz Nitsch.
Como no Brasil, na Alemanha também são necessários plebiscitos para mudar as fronteiras dos Estados. Apesar das animosidades regionais, analistas apostam que, no longo prazo, o número de Estados alemães vai mesmo diminuir por causa das fortes razões econômicas para as fusões estaduais.
Fonte: BBC Brasil - Marcelo Crescenti
08 setembro 2011
A carga tributária indireta
05 de setembro de 2011
O sistema tributário brasileiro é oneroso demais e afeta a competitividade do produto nacional não apenas por causa da existência de vários tributos, com diferentes bases de cálculo e alíquotas altas, mas também porque suas regras impõem custos adicionais aos contribuintes.
A necessidade de recolhimento dos tributos devidos antes do recebimento do pagamento pela venda que gerou a tributação, por exemplo, tem um efeito nocivo sobre o fluxo de caixa de mais de 40% das empresas industriais.
O prazo de que as indústrias dispõem para recolher o tributo é menor do que o prazo que muitas delas concedem a seus clientes para o pagamento do produto vendido. Embora esse descompasso tenha um alto custo financeiro para as empresas, o ônus adicional não entra no cômputo da carga tributária brasileira - que é muito mais alta do que a de países com grau de desenvolvimento econômico comparável ao nosso, já equivale à de muitas economias ricas e continua a crescer. Se entrasse, a carga seria ainda maior.
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 594 empresas de diferentes portes constatou que, para 41,1% delas, o prazo médio para o recebimento pela venda é de 46 dias, mas os tributos que mais afetam seu fluxo de caixa - como as contribuições previdenciárias, o PIS e a Cofins, entre os tributos federais, e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o principal tributo estadual - precisam ser recolhidos no prazo máximo de 40 dias. O descasamento de prazos aumenta as necessidades de capital de giro das empresas, o que lhes impõe maior custo financeiro.
O tributo que mais pesa no fluxo de caixa de mais da metade das indústrias (53,1% das empresas consultadas) é o ICMS, pois, além de ser o que exige o maior recolhimento em valor, é também o que tem o menor prazo de pagamento.
"Os tributos têm um peso grande sobre o faturamento", observou o economista da CNI Mário Sérgio Carraro. Daí a importância de o governo rever os prazos para seu recolhimento, de modo a torná-los, no mínimo, igual ao prazo no qual as indústrias recebem o pagamento das vendas que geraram o tributo.
Esta é mais uma das características nocivas do sistema tributário brasileiro. Outra, já bem conhecida dos contribuintes, pois lhes impõe um custo direto, é o aumento da carga tributária nos últimos 15 anos. De 28,4% do PIB brasileiro em 1995, a carga tributária já representa hoje mais de 34% de tudo o que o País produz.
Essa carga registrou ligeira redução em 2009, ano em que, para reduzir o impacto da crise global sobre a economia brasileira, o governo ofereceu benefícios fiscais a diversos segmentos. Mas, com a vigorosa retomada da atividade econômica no ano passado, a carga tributária voltou a crescer.
A maioria da população, porém, não percebe bem o peso dos impostos na sua vida cotidiana e muito menos os malefícios da tributação excessiva.
O sistema tributário brasileiro tem características que dificultam essa percepção. Embora representem quase 40% do total arrecadado pelos três níveis de governo, os tributos indiretos, muitos cobrados em cascata, não são "visíveis" para a maioria da população, que não é informada adequadamente sobre o valor dos impostos que paga.
Há, além do ônus financeiro do descompasso entre recolhimento do tributo e recebimento da venda, outros custos que o sistema tributário impõe à economia. Sua complexidade, a frequente mudança de suas regras e sua burocracia excessiva exigem das empresas a manutenção de grandes equipes para acompanhar as alterações da legislação e assegurar o cumprimento das obrigações tributárias.
Pesquisas internacionais recentes constataram que, no Brasil, são consumidas cerca de 2.600 horas de trabalho por ano para o pagamento de tributos, enquanto nos países mais desenvolvidos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico gastam-se, em média, 216 horas por ano.Os gastos das empresas brasileiras com a burocracia tributária são estimados em cerca R$ 20 bilhões por ano. Também este é um custo do sistema tributário que não entra no cômputo da carga tributária.
Viajando num custo irrecuperável
O Sr.Smith tinha recentemente chegado a St. Louis num voo comercial numa viagem de negócios de dois dias de duração. Ao chegar lá, descobriu que o avião particular de sua empresa havia chegado no dia anterior e sairia no mesmo dia em que ele estava marcado para voltar.. O Sr. Smith imediatamente obteve reembolso de sua passagem aérea de 200 dólares e combinou o seu regresso no avião da empresa.Voou para casa sentindo-se muito bem por ter economizado 200 dólares para a sua empresa e por ter voltado sem atraso.
Aproximadamente duas semanas mais tarde, porém, o chefe do Sr. Smith lhe perguntou por que o departamento havia sido cobrado 400 dólares por suas viagem de volta quando a passagem aérea custava apenas 200 dólares. O Sr. Smith explicou que "o avião da empresa estava regressando de qualquer maneira, e havia vários assentos vazios".
Como poderia a tentativa do Sr. Smith de poupar 200 dólares à sua empresa acabar "custando" 400 dólares ao seu departamento?O problema é que Smith reconheceu algo que o sistema de alocação de custos de sua empresa não era capaz de reconhecer:a saber, que a vasta maioria dos custos associados a levar o avião de volta para casa já eram irrecuperáveis e, portanto, inevitáveis no momento em que ele tomou a decisão de regressar.Ao não ser capaz de distinguir entre custos irrecuperáveis e evitáveis, o sistema de alocação de custos estava levando a empresa e seus administradores a tomarem decisões antieconômicas.
Agora está claro por que o Sr. Smith estava tão frustado no dia em que o encontrei em St. Louis. O avião de sua empresa estava parado no pátio com vários assentos vazios, e estava pronto para decolar para o mesmo destino. No entanto, de jeito nenhum iria embora Smith viajar naquele avião, mesmo que aquela fosse "a melhor decisão empresarial".
Fonte: Dennis L. Weisman, " How Allocation Systems Can Led Managers Astray", "Journal of Cost Management 5,n.1,pg.4
Pílulas de efeito placebo
A mais nova adepta dessa versão é a empresa de administração de shopping centers BR Malls. A companhia quer adicionar ao seu estatuto social uma cláusula que obriga a realização de uma oferta pelo investidor que alcançar 20% do capital, pelo maior preço pago pelo papel nos últimos 12 meses. Com capital integralmente pulverizado, a empresa não conseguiu quórum para aprovar a medida na assembleia agendada para 1º de setembro e deve tentar novamente em uma segunda convocação.
Assim como a BR Malls, a Gafisa, cujas ações também estão totalmente dispersas na bolsa, adotou em junho regra semelhante, com gatilho para oferta em 30% e preço estabelecido em laudo com base no valor econômico.
De alguma maneira, ambas se parecem com o que a BM&FBovespa tentou, mas não conseguiu aprovar na reforma do Novo Mercado, quando pretendia padronizar para as que não tinham pílula uma regra que obrigaria oferta com gatilho de 30%, pelo maior preço pago pelo ofertante nos últimos 12 meses.
Por conta disso, Carlos Alberto Rebello, diretor de regulamentação da BM&FBovespa, explicou que essas pílulas são chamadas de "placebo". "Elas não têm veneno", disse ele, referindo-se aos elevados prêmios previstos para as ofertas da onda anterior das pílulas, adotadas no boom das aberturas de capital de 2007. "Essas mais novas não são barreiras instransponíveis para compra da empresa", acredita. Para o executivo, nas versões mais modernas, as pílulas democratizam o "ímpeto de compra".
A Ultrapar, que migrou para o Novo Mercado em agosto, chegou com a pílula placebo, com gatilho de 20%. Ao fazer a conversão de preferenciais para ordinárias, a controladora Ultra ficou com apenas 24% do capital.
Na opinião de Carlos Motta, advogado do escritório Tauil & Chequer em associação com o Mayer Brown LLP, as pílulas que foram adotadas após as aberturas de capital partiram da administração da companhia, que buscam um conforto adicional para gerir os negócios com mais tranquilidade - sem tanto risco de uma oferta ou da formação de um novo controle que os afaste da administração.
Quando surgiram, em 2004, com a abertura de capital da Natura, as pílulas praticamente impediam que um investidor alcançasse uma participação relevante no capital da empresa. A própria Natura, contudo, foi a primeira a flexibilizar a sua pílula, retirando o veneno (prêmio) e adotando a versão "placebo", logo na época em que a BM&FBovespa fazia audiências sobre a reforma do Novo Mercado.
Na primeira onda, as pílulas serviam para convencer controladores, que temiam perder o comando do negócio, a abrir capital. Eram uma garantia de que nenhum investidor rivalizaria com eles em poder. Nessa nova temporada de adoção, essas cláusulas estão protegendo, em geral, as administrações. A preocupação, quando uma companhia quer adotar algo do tipo, deve ser se a gestão não está buscando um "encastelamento" - assegurar sua permanência à frente do negócio independentemente dos resultados apresentados aos investidores.
Na opinião de Pedro Rudge, sócio da Leblon Equities, gatilhos próximos de 20% são restritivos demais para investidores que estiverem interessados em formar uma grande posição numa companhia sem que isso signifique a busca pelo controle. Na opinião dele, o percentual de 30% sugerido pela BM&FBovespa no ano passado era mais razoável. O melhor, contudo, seria não ter nada. "Seria ótimo porque é o cenário de seleção natural. Só sofre oferta companhia mal administrada."
De qualquer forma, os especialistas não negam que as novas pílulas são mais bem redigidas e oferecem menos problemas potenciais. Alguns acreditam, inclusive, que só por elas se assegura que uma companhia listada no Novo Mercado e de capital pulverizado receba uma oferta por todo o capital. Caso contrário, a empresa poderia ou ter a formação de um novo bloco de controle sem oferta nenhuma ou receber uma proposta para apenas uma parcela do capital que garanta o controle.
Tanto que algumas companhias que chegaram ao mercado agora, sem um controlador definido e sem pílula de veneno, listam a situação como um fator de risco. É o caso, por exemplo, da Brazil Pharma. A companhia descreve a possibilidade de formação de alianças ou acordos entre acionistas que poderiam, inclusive, mudar a administração, as políticas e a estratégias do negócio.
A despeito de todas as discussões em torno das pílulas de veneno, elas ainda não foram testadas na prática. A empresa de telefonia GVT foi a que chegou mais próximo disso. Mas a Vivendi, para o lançamento de sua proposta de compra, solicitou a dispensa do cumprimento da regra e foi atendida.
Num outro caso, o da Cremer, por exemplo, a situação foi diferente. A companhia tinha pílula de veneno e capital pulverizado. Ainda em 2008, alguns acionistas solicitaram que ela fosse retirada e foram atendidos, com aprovação da mudança do estatuto em assembleia. Logo em seguida, um grupo de fundos assumiu o conselho de administração da empresa para fazer modificações e reformas na gestão.
Na opinião do jurista Modesto Carvalhosa, as pílulas brasileiras são "macunaímicas" porque só existem aqui e tinham por objetivo cobrir lacunas da Lei das Sociedades por Ações, feita apenas para o cenário de existência do controlador. Ele acredita que essas cláusulas ainda serão alvo de muitos problemas, pois ferem o princípio da livre negociação.
Otávio Yazbek, diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), disse que atualmente a autarquia não vê necessidade de regular as pílulas. Segundo ele, sem casos práticos, não há como prever os problemas potenciais, até mesmo porque há uma grande diversidade de modelos.
Fonte:Graziella Valenti - Valor Econômico
Falências
07 setembro 2011
Mercados eficientes também são instáveis
O artigo intitulado : Efficiency and Stability in Complex Financial , examina como a estabilidade do mercado evolui à medida que o mercado se aproxima do ideal de eficiência forte. Ou seja,os agentes econômicos são totalmente racionais, não há problemas com informação assimétrica etc.No entanto, mesmo neste cenário, os autores consideram que o equilíbrio se torna mais instável quando o mercado se aproxima da eficiência forte. Assim, mercados eficientes também são instáveis. Além disso, o estudo faz uma conclusão bastante intrigante e contrária ao pensamento econômico padrão:
[The results suggest} that information efficiency might be a necessary condition for bubble phenomena - induced by the behavior of non-informed traders.
Um outro estudo aborda a mesma questão de uma forma diferente.Os autores analisaram de forma explícita, como a proliferação de instrumentos financeiros (derivativos) fornece mais meios para a diversificação e compartilhamento de riscos e leva o mercado a um estado de eficiência. Assim, esse estado é o que os físicos chamam de "estado crítico", que caracterizado por a susceptibilidade de pequenas a extremas perturbações.Assim, qualquer pequeno "ruído" desperta flutuações enormes. Novamente, os trilhos da eficiência têm como rastro a instabilidade.Conforme afirmam os autores:
This suggests that the hypothesis of Arbitrage Pricing Theory (the notion that arbitrage works to keep market in an efficient state) may not be compatible with a stable market dynamics.
Em suma, os dois papers mostram que a eficiência traz consigo a instabilidade.
Lego explica a crise do Euro
Legenda:
1.The toreador in a floppy hat, and the F1 driver with his helmet, represent Spain, Italy and the rest of the Euro Periphery.
2.The three men with helmets, shields, and medieval weaponry represent the CDU, CSU and FDP parties in Germany.
3.The blue-and-white sailor boy is Finland. Obvs.
4.The woman with an oversized carrot and her friend in overalls with a shovel represent the Social Democrats and Greens.
5.Wotan represents the Bundesbank.
6.The piggy bank is the IMF.
7.The grey-haired Banque chap is the ECB.
8.The chap in the red bib is Poland.
9.The artists are France.
10.The angry chef, the sweeper with a broom, the airline pilot, and the rest of the motley crew at bottom left, represent EU taxpayers in Core countries.
11.The storm troopers are the EU Commission and Euro Group Finance Ministers, chaired by Jose Manuel Barroso and Jean- Claude Juncker.
12.The monocled banker and his assistant are EU bondholders and shareholders.
Mais informações e explicações detalhadas aqui.
Modelos de banco central
Os Estados Unidos, por sinal, não praticavam nem praticam o regime de metas para a inflação, e atribuem um mandato amplo à política monetária, que, além da estabilidade de preços, deve também zelar pelo crescimento/emprego, bem como conter as taxas de juros de longo prazo. Dessa forma, fica difícil atribuir ao regime de metas a responsabilidade pela crise.
Não obstante, o pós-crise tem ensejado um aumento do experimentalismo entre os bancos centrais, inclusive os que praticavam o regime de metas para a inflação. Isso deriva de cobranças da sociedade por ações que mitiguem os efeitos da crise, o que tende a se intensificar à medida que a margem de manobra da política fiscal se estreita.
Uma das características gerais desse experimentalismo é a maior tolerância para com a inflação. Certos bancos centrais, aparentemente abstraindo as lições do desastre macroeconômico dos anos 1970, parecem crer que vale a pena aceitar taxas de inflação mais altas por mais tempo, no afã de evitar maiores declínios da atividade.
Isso é verdade mesmo em economias como o Reino Unido, nas quais problemas setoriais, como a falta de competitividade de segmentos do setor industrial, parecem bem impermeáveis aos efeitos da política monetária. A propósito, o modelo britânico combina certo grau de leniência na política monetária com um genuíno e severo ajuste fiscal, implementado por um governo que visa reduzir o tamanho do Estado.
Um dos experimentos mais curiosos ocorre na Turquia. Naquele país, o banco central, ainda que nominalmente continue implementando um regime de metas para a inflação, aproveitou a crise para alterar profundamente o arcabouço da política monetária.
Em especial, o Banco Central turco adicionou a doses robustas de leniência inflacionária uma estratégia de redução “estrutural” das taxas de juros. Estas, que estavam em 16,75% ao ano em outubro de 2008, encontram-se em 5% ao ano (para depósitos no BC) e 8% (para empréstimos) atualmente, com expectativas de inflação de 6,8% para os próximos 12 meses. Com isso, a taxa de juros real, que era de 7,4%, passou para algo entre -1,7% e 1,1% ao ano. O controle da demanda tem sido conduzido basicamente por meio de uma bateria de medidas de controle de crédito.
A política do BC turco tem sido bem-sucedida em reduzir a taxa real de juros -por quanto tempo, não se sabe. Tal posição, que certos analistas atribuem às preferências políticas do atual governo, de orientação religiosa, tem contribuído para reduzir a atratividade dos investimentos denominados em liras turcas.
De fato, a moeda teve depreciação de 15% neste ano -mesmo assim, as elevações de custos têm erodido os potenciais ganhos de competitividade daí derivados.
De resto, os resultados do experimento turco têm deixado bastante a desejar.
Do ponto de vista da situação econômica interna, apesar dos expressivos cortes das taxas de juros na crise, o PIB teve crescimento médio de apenas 1,4% em 2008-10, com contração de quase 5% em 2009.
Por sua vez, a inflação média foi de 7,7% entre 2008 e 2010, e deve mostrar aceleração no corrente ano, segundo as projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional). No que se refere ao setor externo, o deficit em conta-corrente, que havia baixado de 5,7% para 2,3% do PIB entre 2008 e 2009, voltou a se ampliar nos últimos anos, e, segundo os economistas do FMI, pode chegar a 8% do PIB em 2011 -embora esse resultado seja muito influenciado pelas importações de energia.
Não será surpresa se os resultados do experimentalismo turco se mostrarem decepcionantes.
Afinal, a maioria dos economistas há de reconhecer que não existem soluções macroeconômicas para problemas estruturais, como investimento insuficiente na qualificação da mão de obra e treinamento, logística deficiente e taxa de poupança baixa.
Fonte: MARIO MESQUITA, 45, doutor em economia pela Universidade de Oxford, escreve às quartas-feiras, a cada 14 dias, para a Folha de S.Paulo

















