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17 setembro 2018

Filtro na Opinião

O jornal Wall Street Journal (via aqui) descobriu que alguns funcionários da empresa Amazon estão aceitando subornos para obter o e-mail das pessoas que fizeram uma crítica aos produtos de algumas empresas. Ou para apagar estas críticas. Uma opinião negativa pode ser prejudicial aos negócios de uma empresa que usa a Amazon para vender seus produtos.

A prática é bastante comum na China, onde cada opinião retirada do site custa 300 dólares. A empresa, logicamente, proíbe esta prática e começou uma investigação interna para apurar os funcionários.

O caso é interessante pois trata de incentivos e controle interno em uma grande empresa. Os mecanismos de controle da Amazon parecem que não estão funcionando adequadamente. Isto pode comprometer o esforço da empresa em obter, por parte do usuário, um feedback decente dos produtos.

Fraude na pesquisa da vacina

Existe um grupo de pessoas que acredita existir uma ligação entre autismo e a vacinação; talvez a pessoa mais conhecida seja a modelo e ex-playmate Jenny McCarthy.Esta crença começou com uma pesquisa científica que foi publicada em um periódico de alto impacto. Posteriormente, um repórter investigou o assunto e descobriu que a pesquisa era uma fraude:

“Quando entrevistei essa ativista, mãe de uma das crianças do estudo, vi que as informações que ela me passava não batiam com nenhum dos casos relatados na pesquisa. Achei estranho e fui procurar quem tinha financiado esse estudo. Foi então que descobri que Wakefield [o pesquisador] havia sido contratado por advogados para produzir dados contra a vacina para que eles pudessem ganhar dinheiro processando os fabricantes do produto”, resumiu Deer [a jornalista]

Mesmo assim, muitas pessoas ainda acreditam que a ligação seja real.Uma consequência deste fato é um novo aumento em algumas doenças, como sarampo, em vários países.

Curso Prático em Contabilidade

O método das partidas dobradas pode ser “imaginado” ou “considerado” como o registro em uma planilha dos eventos que ocorrem em uma empresa. Vamos mostrar como uma planilha eletrônica - como o Excel ou outra do gênero - consegue demonstrar os efeitos de cada lançamento para um dos eventos.

Para isto, iremos usar o exemplo apresentado no capítulo 3 do livro Curso Prático de Contabilidade, publicado pela Gen. O primeiro passo é preencher as linhas e as colunas com as contas que iremos usar. No exemplo: Caixa, Bancos, Duplicatas a Receber, Materiais de Consumo, Máquinas e Equipamentos, Contas a Pagar, Capital e Lucros Acumulados. Estas contas são digitadas na linha 1 e na coluna A, conforme está demonstrado a seguinte figura:

Evento 1 - Investimento de capital pelos sócios - no valor de R$20.000. Aqui nós temos que procurar a junção entre “Caixa” e “Capital”. Nós temos a célula H2 e a célula B8. Vamos adotar a seguinte convenção: a conta que vai ser creditada será a coluna (Crédito = Coluna) e a conta debitada será feita na linha (Débito = Linha). Assim, vamos debitar Caixa e creditar Capital, no valor de $20 mil. Veja na figura abaixo que apareceu $20 mil na célula H2, sendo na coluna o crédito e na linha o débito.

Evento 2 - Compra de materiais de consumo a prazo, no valor de R$1.500. Novamente, iremos creditar a coluna e debitar a linha. No livro explicamos como descobrir qual conta creditar e qual debitar: debitamos material de consumo e creditamos contas a pagar. Na planilha, a coluna escolhida será a de Contas a Pagar ou a coluna G; a linha será a de número 5, Materiais de Consumo. Assim, na célula G5, colocamos o valor de 1.500, conforme a figura a seguir:

Evento 3 - Pagamento do aluguel de uma sala, no valor de R$1.000. A conta de despesa de aluguel é aumentada em R$1.000, reduzindo o lucro acumulado neste valor; o caixa é reduzido em R$1.000, já que saiu dinheiro da empresa. Como iremos creditar Caixa, a coluna é a B e a linha é a de número 9, referente a Lucros Acumulados. Note, na figura abaixo, que não colocamos sinal negativo.

Os próximos eventos correspondem a uma repetição do que fizemos até aqui. Vamos listar estes eventos - cujo lançamento explicado com muitos detalhes, está no capítulo 3 do livro. Você pode fazer cada um deles na sua planilha. O resultado está na próxima figura:

Isto não parece nada com contabilidade. Mas vamos agora somar as colunas e as linhas. Veja como ficou:

Observe que a coluna B, de Caixa, tem uma soma de R$ 17.650, que corresponde aos lançamentos a crédito na conta Caixa. E que a linha 2, também de Caixa, tem uma soma de $20.150, que representa os lançamentos a débito na conta Caixa. Assim, R$ 20.150 menos R$ 17.650 temos um saldo de R$2.500, devedor, na conta Caixa. Podemos fazer isto para cada uma das contas e teremos o seguinte resultado:

Bancos = R$ 7.500, devedor
Duplicatas = R$ 2.500, devedor
M Consumo = R$ 1.500, devedor
Máquinas = R$ 7.500, devedor
Contas a Pagar = R$ 750, credor
Capital = R$ 20.000 credor
Lucros Acumulados = R$ 750, credor. (Além da conta Caixa, R$2.500, devedor).

Veja se você consegue obter os resultados que estão apresentados na última figura.

Para reflexão: o método que usamos na contabilidade é chamado de partidas dobradas, pois, a cada evento, temos um lançamento a crédito e um lançamento a débito. Aqui, para cada evento, só digitamos uma vez o valor. Isto significa que, por este nosso método de planilha, deixamos de ter as partidas dobradas? Além disso, qual critério você considera de mais fácil entendimento: os registros por razonetes ou esse apresentado aqui, por planilhas?

Raio-X do Orçamento de 2019




Fonte: aqui

Rir é o melhor remédio


16 setembro 2018

Emprego inútil

Um extrato de um texto de opinião da Bloomberg sobre a inutilidade de certos empregos:

Os fatores políticos também parecem cada vez mais desempenhar um papel importante na geração de lucros corporativos, à medida que novos regulamentos ajudam empresas estabelecidas (...)

David Graeber da London School of Economics argumenta em um livro recente que os mitos predominantes sobre a eficiência do capitalismo nos cegam para o fato de que grande parte da realidade econômica é moldada pela disputa por poder e status e não possui nenhuma função econômica.

É claro que a ideia de que os negócios podem ser um desperdício não é nova. Há trinta anos, o economista William Baumol sugeriu que o futuro do capitalismo poderia muito bem pertencer a empresas improdutivas, que usam o poder e a influência para lucrar sem necessariamente beneficiar a sociedade. Ele se preocupava com a ascensão de “empreendedores improdutivos” que compram rivais ou usam regulamentações para sufocar a concorrência, prosperando como parasitas em partes produtivas da economia. (...)

Xavier Gabaix, economista do MIT, mostrou que os indivíduos mais ricos (...) encontraram maneiras - como acesso a melhores informações, serviços jurídicos ou de planejamento tributário - para captar mais lucros provenientes do trabalho produtivo. Luigi Zingales argumentou que o comportamento das empresas mudou à medida que as corporações se tornaram tão grandes. As grandes corporações agora veem exercendo influência política por meio de doações de campanha ou lobbying como parte importante de assegurar sua vantagem econômica.

Em um ensaio há cinco anos, ele [David Graeber] fez a afirmação aparentemente bizarra de que talvez 30% de todos os empregos realmente não contribuem para a sociedade. Pode parecer uma afirmação desagradável, se não pelo fato de que um grande número de pessoas atestam voluntariamente a inutilidade de seus próprios empregos. Uma pesquisa realizada em 2015 no Reino Unido revelou que 37 por cento das pessoas sentiram que seus empregos “não deram uma contribuição significativa para o mundo”, e uma pesquisa posterior na Holanda encontrou 40 por cento dizendo a mesma coisa.

(...) Desde que escreveu seu ensaio, Graeber diz que ele foi contatado por centenas de pessoas dizendo concordar com ele - trabalham em empregos inúteis que poderiam ser eliminados sem absolutamente nenhuma perda para a sociedade - e os empregos vêm principalmente de recursos humanos, relações públicas, lobby ou telemarketing, ou em finanças e banca, consultoria, gestão e direito societário.  

Depois que li Against Education, de Bryan Caplan, senti um pouco nesta parcela de inutilidade. E agora, na quinta, dando aula para graduação, com muitos alunos no celular, sem prestar nenhuma atenção no que estava apresentando.

2020: o ano da próxima crise financeira mundial

Essas é a aposta de Roubini:


The current global expansion will likely continue into next year, given that the US is running large fiscal deficits, China is pursuing loose fiscal and credit policies, and Europe remains on a recovery path. But by 2020, the conditions will be ripe for a financial crisis, followed by a global recession.
There are 10 reasons for this.

 First, the fiscal-stimulus policies that are currently pushing the annual US growth rate above its 2% potential are unsustainable. By 2020, the stimulus will run out, and a modest fiscal drag will pull growth from 3% to slightly below 2%

Second, because the stimulus was poorly timed, the US economy is now overheating, and inflation is rising above target. The US Federal Reserve will thus continue to raise the federal funds rate from its current 2% to at least 3.5% by 2020, and that will likely push up short- and long-term interest rates as well as the US dollar.

Third, the Trump administration’s trade disputes with China, Europe, Mexico, Canada, and others will almost certainly escalate, leading to slower growth and higher inflation.

Fourth, other US policies will continue to add stagflationary pressure, prompting the Fed to raise interest rates higher still. The administration is restricting inward/outward investment and technology transfers, which will disrupt supply chains. It is restricting the immigrants who are needed to maintain growth as the US population ages. It is discouraging investments in the green economy. And it has no infrastructure policy to address supply-side bottlenecks.

Fifth, growth in the rest of the world will likely slow down – more so as other countries will see fit to retaliate against US protectionism. China must slow its growth to deal with overcapacity and excessive leverage; otherwise a hard landing will be triggered. And already-fragile emerging markets will continue to feel the pinch from protectionism and tightening monetary conditions in the US.

Sixth, Europe, too, will experience slower growth, owing to monetary-policy tightening and trade frictions. Moreover, populist policies in countries such as Italy may lead to an unsustainable debt dynamic within the eurozone. The still-unresolved “doom loop” between governments and banks holding public debt will amplify the existential problems of an incomplete monetary union with inadequate risk-sharing. Under these conditions, another global downturn could prompt Italy and other countries to exit the eurozone altogether

Seventh, US and global equity markets are frothy. Price-to-earnings ratios in the US are 50% above the historic average, private-equity valuations have become excessive, and government bonds are too expensive, given their low yields and negative term premia. And high-yield credit is also becoming increasingly expensive now that the US corporate-leverage rate has reached historic highs.
 Eighth, once a correction occurs, the risk of illiquidity and fire sales/undershooting will become more severe. There are reduced market-making and warehousing activities by broker-dealers. Excessive high-frequency/algorithmic trading will raise the likelihood of “flash crashes.” And fixed-income instruments have become more concentrated in open-ended exchange-traded and dedicated credit funds.

Ninth, Trump was already attacking the Fed when the growth rate was recently 4%. Just think about how he will behave in the 2020 election year, when growth likely will have fallen below 1% and job losses emerge. The temptation for Trump to “wag the dog” by manufacturing a foreign-policy crisis will be high, especially if the Democrats retake the House of Representatives this year.

Finally, once the perfect storm outlined above occurs, the policy tools for addressing it will be sorely lacking. The space for fiscal stimulus is already limited by massive public debt. The possibility for more unconventional monetary policies will be limited by bloated balance sheets and the lack of headroom to cut policy rates. And financial-sector bailouts will be intolerable in countries with resurgent populist movements and near-insolvent governments.

fonte: aqui

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Rir é o melhor remédio


15 setembro 2018

Sistema S

Aproveitando a postagem do Pedro, um texto sobre o Sistema S, um sorvedouro de dinheiro público, com pouca fiscalização e benefício duvidoso:

Já estava mais do que na hora de retomar o debate sobre a revisão dos recursos transferidos para o Sistema S, que inclui Senai, Sesi, Senac, Sebrae, Senar, entre outros. Uma máquina que consome mais de R$ 16,4 bilhões por ano. Dinheirama pública que fica à margem de fiscalização e de uma transparência responsável. Simplesmente não há prestação de contas. Uma caixa-preta ainda intocável. O Sebrae sozinho tem orçamento maior do que Rondônia, Sergipe, Tocantins, Acre, Roraima e Amapá arrecadam com ICMS – o seu principal tributo. Entre os municípios, só perde para as receitas obtidas por São Paulo e Rio de Janeiro.


Mais aqui

Estado Brasileiro é o Robin Hood às avessas


Fonte: Robin Hood in reverse’: the crisis in the Brazilian state

Rir é o melhor remédio








Fonte: Aqui

13 setembro 2018

Streaming para amigos

A empresa Tidal oferece serviço de streaming de música. Lançado em 2014, a empresa foi adquirida por Jay Z.

Em 2017, um jornal norueguês publicou informações dizendo que o número de assinantes era muito menor do que o anunciado publicamente. Algo como 850 mil assinantes versus 3 milhões, em março de 2016.

Mais de um ano depois, o mesmo jornal publicou um relato afirmando que os dados de dois albuns podem ter sido manipulados. O álbum de Kanye West foi tocado 250 milhões de vezes nos primeiros dez dias de lançamento em 2016, quando a empresa dizia ter 3 milhões de assinantes. Isto significaria que cada assinante escutaria em média 8 vezes por dia o álbum. Difícil de acreditar. Além disto, o álbum Lemonade, de Beyoncé, teria tocado 306 milhões de vezes nos primeiro quinze dias, o que significaria uma média diária bastante alta.

A manipulação dos números, levaria o pagamento em excesso para Beyoncé e Kanye West, em detrimento de outros artistas. A empresa negou. Beyoncé é mulher de Jay Z e Kanye West é seu amigo.

Turquia, crise e contabilidade

Com respeito a crise turca, uma das medidas de evitar uma crise maior é meramente contábil:

Os bancos propuseram regras para acelerar a reestruturação da dívida da empresa e permitir que os credores evitem contabilizar esses empréstimos como "empréstimos inadimplentes", uma medida que pode ajudar a evitar que as inadimplências se acumulem. Como ocorreu na Itália desde a crise da dívida soberana na Europa, os bancos tentarão estender os empréstimos indefinidamente para evitar buracos nos seus balanços patrimoniais.

Mas, ao contrário da Itália, a política pode ser uma grande restrição.

Condenado por escrever avaliações falsas

Os comentários de um livro, um filme, um restaurante ou um hotel são relevantes nos dias de hoje. Esta semana a justiça italiana prendeu um fraudador de comentários on-line. Serão nove meses de prisão por operar a PromoSalento, que vendia avaliações falsas para hotéis. Além disto, o empreendedor recebeu um multa de 9,3 mil dólares.

A empresa Tripadvisor considerou uma decisão histórica, pois seria a primeira vez que alguém é preso por escrever críticas falsas. A empresa investigou inicialmente o caso, repassou para as autoridades, que efetuaram a punição.

Melhorando como o governo gasta meu dinheiro

Três notícias recentes podem ter influencia sobre como o governo gasta o dinheiro do contribuinte. A primeira é que em 2016 o TCU considerou que a ECT (Correios) não pode ser contratada diretamente na prestação de serviços de logística sem licitação. O TCU entendia que os Correios não tem monopólio neste serviço e por isto a dispensa de licitação poderia violar a livre concorrência. Agora um ministro do Supremo decidiu que a ECT atende a lei para contratação direta. Poderia ser um notícia ruim, já que atrelaria todo serviço de logistica a uma empresa estatal que, em muitas situações, é ineficiente. A notícia é boa já que a dispensa não significa que exista um dever. A administração deve realizar um juízo de valor e decidir ou não pela licitação. Isto é interessante já que em alguns casos o processo de contratação pode ser tão honeroso que a dispensa pode compensar.

A segunda é que o mesmo TCU concluiu que o BNDES teve um prejuízo de 670 milhões de reais ao colocar dinheiro público no Bertin. As transações estranhas que ocorreram no BNDES estariam sob investigação do tribunal, que consideram que ocorreu um erro de avaliação.

A melhor notícia tem sua origem em Minas. A General Motors conseguiu uma liminar que determina a devolução de veículos, entregues em 2018, em razão do não pagamento do contrato. O governo estadual adquiriu 323 veículos em licitação por 24 milhões. Mas não pagou. Para evitar precatório e um governo que está com diversos atrasos de pagamentos, a empresa de automóveis entrou com uma ação judicial. Coincidência ou não, os veículos foram entregues antes do início da campanha do atual governador, que é candidato à reeleição. E este é um tema objeto de propaganda do candidato.

Por trás do raciocínio da GM, disse uma das fonte, estaria a tentativa de evitar um prejuízo maior, uma vez que atualmente o governo de Minas estaria agora pagando precatórios referentes a 2007. Apesar de a perspectiva de receber carros já rodados não ser a melhor solução para a companhia, a intenção seria vender os veículos o mais rapidamente possível para minimizar os prejuízos. A situação do governo é muito grave:

Nesta semana, a agência Reuters revelou que o governo mineiro deixou de repassar a bancos R$ 924 milhões referentes a valores emprestados a servidores estaduais, embora os recursos tenham sido descontados da folha de pagamento, segundo fontes dos setor bancário. (...)

Segundo fontes do setor financeiro, a prática do governo mineiro começou em novembro de 2017. Por isso, os bancos deixaram de conceder crédito a servidores estaduais. Em alguns casos passaram a debitar os valores referentes aos créditos devidos na conta corrente dos servidores.

P.S. O governo de Minas quitou a dívida com a GM. A estratégia funcionou.

Rir é o melhor remédio


Animais e casamento

12 setembro 2018

Desinformação na era da internet

Em 1917 H. L. Mencken publicou um artigo no New York Evening Mail lamentando que o 75o. aniversário da adoção da banheira nos Estados Unidos tenha passado sem qualquer notícia. Mencken detalhava a história da banheira nos Estados Unidos e a resistência médica a novidade. A história tem sido amplamente lida e citada, mas possui dois problemas. Primeiro, Mencken era um grande humorista, talvez um dos maiores de todos os tempos. Segundo, em 1926 o próprio autor confirmou que muito do que estava no texto era mentira. O exemplo é tão importante que possui uma entrada na Wikipedia para ele: Bathtub Hoax.

Em um artigo da PNAS, Granter e Papker Jr usam este exemplo para ilustrar os perigos da desinformação médica na era do Google. Parece muito antigo para ser um problema, mas Granter e Papker informam que muitos artigos com dados fraudulentos continuam sendo citados e apenas uma pequena parcela da citação (menos de 6%) reconhecia a fraude.

A desinformação ainda é um problema hoje, não só a despeito da tecnologia, mas também por causa dela. Aqui, propomos que a comunidade científica dedique mais recursos a abordagens tecnológicas que abordem a desinformação.

Ex-atleta diz ter sido subtraído em US$ 77 milhões

Durante anos, Kevin Garnett foi um jogador de basquete de destaque da NBA. Em 15 oportunidades foi convocado para o jogo das estrelas, que reúne os melhores jogadores da temporada. Agora, Garnett parece ter sido subtraído em 77 milhões de dólares. O jogador acusa o gerente de patrimônio, preso, e o ex-contador.

O engraçado é que o gerente de patrimônio também enganou Tim Duncan, tendo sido condenado por isto, e Duncan e Garnett se odiavam  nas quadras.

O roubo parece que contou com a participação dos bancos, que transferiram dinheiro de Garnett para a conta do gerente de patrimônio.

Situações como esta mostram como celebridades, que ganharam muito dinheiro no passado, perdem seu dinheiro, seja com gastos desnecessários ou por serem enganados por amigos e funcionários. 

Rostos e criatividade





Muita criatividade de Alexander Khokhlov

11 setembro 2018

Tese em formato de artigo

Eu faço parte de um programa de pós-graduação bastante criativo, modéstia a parte. Há anos, diante da restrição de doutores na área, criamos um curso em que quatro (depois três) universidades colaboravam entre si e que permitiu a formação de centenas de mestres e dezenas de doutores. Além de ser criativo no formato, o programa também foi criativo na sua finalização, onde as três universidades optaram, de forma bastante amigável, pela separação.

Na criação do programa da UnB decidimos que a tese de doutorado seria feita no formato de artigo. Algo pouco usual na nossa área, mas que já se torna uma realidade em diversos países. A duas primeiras teses, Rafael e Mariana, já assumiram este formato.

O que seria o formato de artigo? A tese tradicional corresponde a um grande assunto, dividido em uma introdução, uma extensa revisão bibliográfica, uma metodologia, seguida da análise dos dados e conclusão. Para impressionar, geralmente a tese deve ter um tamanho acima das cem páginas. O formato artigo é diferente; a tese é composta por vários artigos, que podem ser inéditos ou não. Isto já é um heresia, já que no meio acadêmico prevalece a noção de que deve existir ineditismo e originalidade. Além disto, estes artigos devem ter uma relação entre si, com uma introdução e conclusão para amarrar os artigos individuais. É possível que um dos artigos seja uma extensa revisão bibliográfica, mas não é obrigatório.

A grande vantagem deste formato é aproximar a tese de um artigo publicável. Acreditamos que o formato pode ajudar a tirar a tese do arquivo da biblioteca da instituição e ser divulgada em um periódico. Isto ajuda o doutorando a conseguir, de forma mais rápida, um currículo acadêmico.

Mas o formato artigo tem alguns desafios. Em primeiro lugar, é necessário vencer a resistência dos acadêmicos tradicionais. Em geral isto é possível diante da longa história de trabalhos que não foram publicados. Para um orientador, a dedicação sem um resultado de publicação é realmente frustrante. E este é provavelmente um grande critério que um professor orientador usa no momento de definir suas orientações: será que este aluno irá ajudar na publicação.

O segundo desafio é evitar a repetição. Se você está construindo três artigos sobre um mesmo assunto, é provável que parte das referências e da própria metodologia esteja repetida.

O terceiro desafio é o fato de que o artigo pode não ser aceito por um periódico. Isto gera uma insegurança no doutorando. Mas este aspecto foi bem abordado no link citado acima:

O importante é lembrar que a rejeição é uma parte normal do processo. A decisão nem sempre é sobre a qualidade do trabalho, mas seu encaixe no periódico naquele momento específico.

O quarto desafio é a relação com o orientador, que será diferente neste formato. Na tese tradicional, o trabalho, depois de aprovado, era transformado em artigo. Na minha experiência de orientador, já tive situações onde o orientando decidiu não publicar; o sentimento do orientador é de perda de tempo. Também já tive situações onde o orientando optou por publicar sozinho; respeito sempre esta decisão, mas se foi um aluno de mestrado, recusarei a orientação no doutorado. E já tive casos em que atuei como um orientador informal em que fui convidado a participar da publicação. Em alguns programas, como é o caso do doutorado da UnB, parte da publicação deve ser com o orientador, obrigatoriamente. Mas esta obrigação não existe no mestrado do programa. Caso o orientador participe do trabalho, conversando, dando ideias e/ou fazendo parte do trabalho é natural que seja considerado como autor do artigo.

O quinto desafio é a curva de aprendizagem do orientador. Estamos acostumados ao formato tradicional; o formato artigo possui diversos problemas - repetição, rejeição de publicação, distinguir pesquisas próximas, entre outros - que não sabemos ainda como lidar. Somente a experiência de orientação vai solucionar isto. Para o orientador é um novo recomeço, uma nova experiência.

Apesar dos desafios, creio que há grandes ganhos no formato artigo. Suas vantagens superam amplamente os desafios. Acredito que permita aumentar a produção de artigos originários dos trabalhos finais de curso.

Aqui uma postagem anterior sobre o mesmo assunto

Síndrome do impostor

A sindrome do impostor é a sensação que temos que estamos fora do lugar no nosso trabalho; é a sensação que temos que não estamos preparados para fazer o que estamos fazendo. É o nosso sentimento de fraude no trabalho que fazemos.

A pesar de haber demostrado su competencia en el día a día, las personas que sufren el síndrome del impostor están convencidas de que no merecen el puesto que tienen o el éxito que han conseguido. Cuando les va bien, piensan que es cuestión de suerte o coincidencia. Les cuesta trabajo creer en su talento y sienten que engañan a todo el mundo.

Parabéns se você já sentiu a síndrome do impostor. Sinal que tem um senso crítico razoável. E talvez seja uma condição prévia para aprender: reconhecer as suas limitações.

Morosidade da justiça brasileira 2

O problema da morosidade da justiça não decorre da falta de recursos. Pelo contrário: há muito dinheiro. Veja outra notícia sobre o assunto:

Se comparados com os vencimentos de juízes em outros países, porém, os contracheques do Judiciário brasileiro estão longe de ser modestos. Um estudo de 2016 da Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça (Cepej, na sigla em francês) mostra que, em 2014, um juiz da Suprema Corte dos países do bloco ganhava 4,5 vezes mais que a renda média de um trabalhador europeu. No Brasil, o salário-base de R$ 33,7 mil do Supremo Tribunal Federal corresponde a 16 vezes a renda média de um trabalhador do país (que era de R$ 2.154 no fim de 2017).

Em 2014, um magistrado da Suprema Corte de um país da União Europeia recebia, em média, 65,7 mil euros por ano. Ao câmbio de hoje, o valor equivaleria a cerca de R$ 287 mil - ou R$ 23,9 mil mensais.

Segundo a última edição do relatório Justiça em Números, produzido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil tem hoje cerca de 18 mil magistrados (juízes, desembargadores, ministros). Eles custam cada um, em média, R$ 47,7 mil por mês - incluindo salários, benefícios e auxílios. O custo de um magistrado é portanto quase 40 vezes a renda média do trabalhador brasileiro.

Se os salários no STF forem reajustados para R$ 39,3 mil, passarão a ser 39 vezes maiores que o salário mínimo previsto para 2019 - de R$ 998.


Morosidade da justiça brasileira

A morosidade da justiça brasileira é muito grande. A presença de recursos, prazos diversos e permissividade com a alegação de permitir a defesa ampla das partes é totalmente irracional.

Veja o caso de um processo julgado no início de setembro pelo STJ (via aqui), envolvendo a Estrela e a União. Neste processo, a empresa de brinquedos pede indenização por prejuízos com a mudança da alíquota de importação e abertura do mercado nacional em ... 1994. Há 24 anos o governo federal reduziu o imposto de importação, de 30% para 20%. A empresa alega que os produtos chineses invadiram o mercado e foi responsável pelo fechamento de fábricas.

O tribunal deu ganho de causa para o governo. O argumento de que a empresa sabia com antecedência da mudança na política industrial prevaleceu. A questão já ultrapassa a duas décadas e faz a alegria dos advogados - que “trabalharam” nestes 24 anos.

O problema poderia ser resolvido de duas formas: redução nas possibilidades de extensões de prazo e eliminação dos pedidos de vista. Eis o que diz a notícia:

O julgamento foi retomado no STJ com o voto-vista do ministro Benedito Gonçalves. O magistrado já havia acompanhado o relator, o ministro Gurgel de Faria. Mas resolveu pedir vista depois das manifestações dos demais integrantes da turma. 

Duas observações e que enfatizam a sugestão de eliminar os pedidos de vista:
1) os processos no STJ já são, há tempos, eletrônicos. Assim, o ministro Gonçalves poderia ter tido acesso ao processo a qualquer momento.
2) quem conhece os tribunais superiores em Brasília sabe que o trabalho de um ministro é feito principalmente pelos seus funcionários. Assim, quando um ministro pede vista a sua assessoria já deveria ter um posicionamento sobre o assunto.

Com estas duas medidas, os processos seriam mais céleres, reduzindo o que o país gasta com atividades que não agrega valor; no caso, rábulas.