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13 fevereiro 2009

Voluntários em fins lucrativos

(...) No entanto, recrutar voluntários para iniciativas com fins lucrativos pode criar problemas. Durante séculos, os seres humanos aprenderam a distinguir duas economias: a social e a de mercado. Os convidados para um jantar, por exemplo, satisfazem as obrigações sociais levando aos seus anfitriões uma garrafa de vinho. Mas Dan Ariely, professor de economia comportamental da Fuqua School of Business da Duke University e autor do livro "Previsivelmente Irracional: Como as Situações do Dia-a-Dia Influenciam Nossas Decisões", diz que seria uma intromissão chocante da economia de mercado se os convidados levassem aos anfitriões um cheque, em vez do vinho.

Os administradores que trabalham na economia da mão-de-obra gratuita precisam ter esses dois mundos em mente. Recrutar trabalhadores apelando para seu lado social e invocando sua generosidade ou espírito comunitário, para depois ganhar dinheiro em cima deles, pode desencadear uma reação adversa. Isso pode manchar suas reputações na mesma velocidade que um voluntário furioso leva para atualizar seu blog. "Trata-se de uma linha muito delicada", diz Ariely, "e o ambiente de trabalho moderno está bem no meio." (...)

(Tradução de Mário Zamarian) Onde ninguém trabalha por dinheiro
12/2/2009 - Valor Econômico

10 dezembro 2008

Terceiro setor e Mercado Financeiro

A crise financeira trouxe uma discussão interessante sobre a gestão de tesouraria das entidades não financeiras. Algumas empresas sofreram prejuízos no mercado de capitais, quando seu objeto social não era o investimento em instrumentos financeiros. Este é o caso de empresas como Aracruz e Votorantim, no Brasil, que sofreram grandes perdas no mercado de derivativos.

O assunto fica mais interessante quando estamos lidando com entidades do terceiro setor. Estas entidades podem usar a gestão financeira para obter uma rentabilidade mínima com seus ativos de maior liquidez, fazendo investimentos no mercado de capitais. Mas seria justo correr o risco com estas aplicações? Considere o caso da Harvard, uma universidade com investimentos no curto prazo expressivos. Segundo a noticia do WSJ – abaixo – as perdas são expressivas em razão da crise financeira.


Universidades dos EUA têm perdas financeiras
John Hechinger, The Wall Street Journal - 4/12/2008

O fundo de doações da Universidade de Harvard já teve perdas de 22% de seus investimentos desde o fim do ano fiscal da escola, em junho, numa mostra do abalo provocado pela crise financeira nas instituições de ensino superior dos Estados Unidos.

O fundo de doações de Harvard, o maior de todas as universidades americanas, manteve-se em US$ 36,9 bilhões até 30 de junho, o que significa que as perdas somam quase US$ 8 bilhões. Isso é mais do que o total de recursos dos fundos de doações de todas universidades do país, exceto seis, segundo os mais recentes números oficiais.
(...)
Em Harvard, os diretores da instituição disseram que previam um declínio de 30% no valor dos investimentos para o ano fiscal. Segundo a universidade, sua maior perda anual foi de 12,2%, no ano fiscal encerrado em 30 de junho de 1974, quando os recursos ficaram abaixo de US$ 1 bilhão e os fundos diminuíram drasticamente a contribuição para as operações acadêmicas. Atualmente, o rendimento do fundo de doações financia 35% do orçamento de US$ de 3,5 bilhões de Harvard.

09 dezembro 2008

Filantropia e a origem da MP

Filantropia: ministério não julgava processos
O Globo – 6/12/2008 , p. 14 - Leila Suwwan

BRASÍLIA. Uma inspeção feita pela Controladoria Geral da União (CGU) e um levantamento do Ministério Público Federal (MPF) mostram que o Ministério da Previdência foi o principal responsável pelo acúmulo de processos e recursos de entidades filantrópicas não julgados pelo governo. Segundo o MPF, pelo menos 479 processos já estavam prontos para julgamento final na Previdência, mas ficaram na gaveta. A falta de tempo para julgar esses casos foi uma das justificativas apresentadas pelo Executivo para editar a medida provisória que anistiou as filantrópicas.

Segundo o levantamento da CGU, a Previdência mantinha sem julgamento 742 processos de filantrópicas. Alguns casos estavam na gaveta desde 2002, mas a maioria é do período de 2006 e 2007, gestões dos ex-ministros Nelson Machado e Luiz Marinho.

Nas pilhas de documentos estão contestações que variam de filantrópicas suspeitas de fraude e corrupção na investigação da Operação Fariseu da PF até parceiras estratégicas do governo, como os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês, ambos prestigiados em evento pelo presidente Lula uma semana após a assinatura da MP.

Para técnicos do Ministério Público, não houve vontade política para tomar as decisões, especialmente porque a maioria dos pareceres pediam a cassação dos certificados de filantropia, passo que remove a última barreira para que a Receita Federal possa cobrar dívidas milionárias de entidades que fraudaram as exigências ou descumpriram as obrigações.

(...) E, em julho, os ministros de Previdência, Educação, Saúde e Desenvolvimento Social criaram uma força-tarefa para limpar o estoque, que aumentou para 928 processos.

O esforço rendeu pareceres finais para no mínimo 479 processos, referentes a 103 hospitais, 53 entidades de assistência social e outras 23 filantrópicas. Estavam todos aguardando despacho do ministro Pimentel, alguns há meses, quando a MP 446 jogou todo o trabalho no lixo. E deixou a Receita de mãos atadas, já que refazer recursos demoraria anos, e as dívidas começam a prescrever neste mês. Com a MP, todas essas entidades tiveram seus certificados de filantrópicas renovados ou restaurados, sem qualquer análise.

A maioria dos pareceres era pela cassação do diploma de filantrópica. Uma amostra obtida pelo MPF de 23 pareceres engavetados na Previdência indica que os recursos eram protelatórios: todos eram a favor da anulação dos respectivos certificados. E antes da força-tarefa atuar, 11 processos chegaram a ser julgados em 2008. Outra vez, todos anularam os certificados.

24 novembro 2008

LBV e Filantropia

No jornal O Globo:

Sete anos depois de protagonizar um dos maiores escândalos da filantropia brasileira, a Legião da Boa Vontade (LBV) tem hoje um histórico "limpo", graças à brecha jurídica que anulou todas as provas que apontavam para desvio de recursos e outras irregularidades, informa a repórter Leila Suwwan na edição desta segunda-feira do Globo. Há dois anos, sem alarde, conseguiu recuperar seu certificado de entidade beneficente (Cebas) e garantir a isenção tributária retroativa. E agora, com a edição da MP da Filantropia pelo governo, ganhou mais uma benesse: 15 recursos que ameaçavam a atual proteção contra as cobranças foram sumariamente extintos, sem chance de recurso pela União.

A brecha usada pelos advogados da LBV foi a falta de notificação, com três dias de antecedência, das diligências realizadas pelo INSS.
Brecha jurídica anula processo da LBV - O Globo - 24/11/2008



O que fez a LBV? O jornal faz um resumo dos problemas que foram encontrados na entidade no passado:


Numa série de reportagens publicadas a partir de março de 2001 — Prêmio Esso de Reportagem —, O GLOBO mostrou que a Legião da Boa Vontade (LBV), maior entidade não-governamental do país, desviava parte dos R$215 milhões que arrecadava anualmente para a assistência a crianças e idosos carentes a fim de garantir mordomias a seus dirigentes. O diretor-presidente da entidade, José de Paiva Netto, era o principal favorecido. Ele tinha à sua disposição seis moradias de luxo, algumas com piscina, circuito interno de TV e segurança, além de carros importados e jatinhos fretados.

O GLOBO também revelou o resultado de uma fiscalização extraordinária do INSS no ano anterior, que encontrou irregularidades em 350 das 400 unidades da LBV no país. Segundo a fiscalização, só em 2000 a LBV sonegou R$2 milhões em contribuições previdenciárias que ela descontou de seus 5.450 funcionários e não repassou ao INSS.

Além disso, a LBV devia mais R$8,4 milhões ao INSS referentes a períodos anteriores ao ano de 2000, e R$4,5 milhões pelo não recolhimento do FGTS de seus empregados. Foi constatado ainda que a entidade remunerava indiretamente seus dirigentes, o que é proibido por lei. Os fiscais comprovaram ainda que a LBV usou notas fiscais frias para justificar despesas de R$2,6 milhões. Segundo a fiscalização, a contabilidade da LBV registrava que as despesas em programas sociais não passaram de 3,5% do total gasto em 1999.

Em conseqüência da série de reportagens, a LBV teve o registro de entidade filantrópica cassado pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Em junho de 2001, o conselho indeferiu o pedido de renovação do registro de entidade filantrópica por irregularidades fiscais.
Império de mordomias

13 novembro 2008

Filantropia e Custos

Sarah Murray (em Charity begins in the office, Financial Times, 11/11/2008, USA Ed1, 08. Aqui http://money.ninemsn.com.au/article.aspx?id=664131 também) mostra a questão de medidas de eficiência para as entidades do terceiro setor.

O foco no custo indireto como medida de eficiência causa problemas para este setor. A questão é doadores preocupam-se com custos administrativos e geralmente usam uma taxa de 20% como parâmetro, informa Murray. Mas isto impede a aplicação de recursos em sistemas de informação ou planejamento estratégico, pois aumentaria estes custos.

29 outubro 2008

Gratuidade, Filantropia e Hospitais

Antes, para obter o título de filantropia, essas instituições precisavam realizar um certo número de atendimentos gratuitos à população (o equivalente a 20% de suas receitas). Agora, devem oferecer "conhecimento e capacidade técnica" para qualificar o SUS (Sistema Único de Saúde) -como pesquisas científicas, projetos de inovação tecnológica e treinamento de gestores e médicos.

A nova regra já vale, em São Paulo, para os hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, do Coração e Samaritano, e, em Porto Alegre, para o hospital Moinhos de Vento. Juntos, deverão somar no próximo ano perto de R$ 240 milhões em isenções tributárias.

(...) As regras especiais para os hospitais de ponta foram criadas em 2006 e regulamentadas em 2007. Na semana que vem, o ministro José Gomes Temporão anunciará os 120 projetos que servirão de contrapartida para as isenções tributárias dos seis hospitais de ponta.

"É um novo padrão de relacionamento entre o SUS e o sistema privado", disse anteontem o ministro.

O Hospital do Coração, por exemplo, fará um trabalho de telemedicina. Os eletrocardiogramas realizados dentro das ambulâncias do Samu de todo o Brasil serão analisados em tempo real pelo hospital.

Cirurgias

Os hospitais dizem que pode haver uma redução no número de atendimentos gratuitos feitos atualmente. O Ministério da Saúde, porém, afirma que fechou acordos com as instituições para que isso não ocorra.

O Hospital do Coração realiza cerca de 350 cirurgias cardíacas gratuitamente a cada ano. Era assim que cumpria sua cota de 20%. Metade das cirurgias continuará sendo feita dessa maneira. A outra metade deverá ser feita por meio do SUS (paga pelo governo federal).

O presidente da Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Brasil, Antônio Brito, também elogia as mudanças. Elas, no entanto, não afetam as Santas Casas, que, para ter o título de filantropia, precisam reservar 60% de seus atendimentos a pacientes do SUS. "O governo olhou para os hospitais de ponta, mas se esqueceu das Santas Casas, que estão sucateadas."

Nova regra de filantropia gera mais controle, diz ministério
Folha de São Paulo - 29/10/2008
RICARDO WESTIN - MÁRCIO PINHO

12 setembro 2008

IPO do Terceiro setor

A The Economist de 11 de setembro mostra a existência de uma organização do terceiro setor que está fazendo uma IPO (initial public offering). No texto Non-profit capitalism a revista informa que a organização Do Something, que promove o voluntariado entre jovens, irá fazer uma IPO para obter 8 milhões para dobrar as atividades da organização. O prospecto da organização é igual a de outras empresas, somente não faz promesa quanto ao lucro.
A entidade promete, no entanto, um expressivo retorno social do investimento. Quem participar da IPO terá direito a voto.

10 setembro 2008

O valor de Harvard

Estimativa apresentada aqui mostra que o lucro anual de Harvard é de 9,33 bilhões de dólares. É isso mesmo. Somente no licensiamento da marca, que inclui a produção de camisetas, a universidade recebe 150 milhões. Mais 615 milhões são doações recebidas de pessoas como Bill Gates, David Rockefeller, Príncipe Talal e outros.

Com sua carteira de investimento a universidade está conseguindo obter um retorno de 23% ao ano, que é a principal fonte do seu lucro (estimativa de 7,9 bilhões)
Em outras palavras, o lucro de Harvard é maior que muita empresa conhecida e poderosa.

25 agosto 2008

Clubes e Contabilidade 2

Investimentos
Perda do passe estimulou criatividade dos clubes
28/07/2008
Valor Econômico

Parece difícil, mas a situação dos clubes de futebol é ainda pior do que sugerem os principais números que vieram a público nos últimos anos, depois que as entidades desportivas profissionais passaram a ser obrigadas a divulgar as demonstrações financeiras. O fato é que os clubes lançaram mão dos mais variados artifícios para cobrir o rombo aberto nos balanços com o fim da famigerada "Lei do Passe", derrubada em 1998 pela "Lei Pelé". Perder o direito sobre os atletas foi um baque e tanto para entidades que já estavam em dificuldades e, em muitos casos, tinham sérios problemas de gestão.
Some-se a isso o constrangimento de publicar os números pelos padrões da Lei das Sociedades por Ações, uma exigência da nova lei, que pretendia equiparar clubes a empresas.
A solução foi buscar formas de preencher as lacunas - e as alternativas encontradas vão das mais conservadoras às mais ousadas.
A equiparação de debêntures (um título de renda fixa) a ações pelos ex-administradores do Vasco da Gama é um caso a ser estudado pelas escolas de contabilidade e é de longe a solução mais criativa. De forma geral, os clubes foram mais conservadores, usando brechas da própria lei societária. Empresas em dificuldades adoravam fazer "reserva de reavaliação", um "lifting" contábil que eleva o patrimônio e dá aparência mais saudável a contas raquíticas.
Alvo de sérias críticas dos acadêmicos, o artifício foi extinto no fim de 2007, na reforma da Lei das S.A. Um estudo feito pelo Valor com as demonstrações financeiras de 2007 de 25 clubes brasileiros mostra que 20 deles traziam essas reservas, num total de R$ 1,6 bilhão. O patrimônio líquido somado desses clubes era de R$ 636,2 milhões - não é preciso ser contador para saber que há mais "reservas" do que patrimônio nessa história.
O problema da reavaliação de ativos (como terrenos e estádios de futebol) é que ela mina a estrutura do balanço - o custo histórico - atualizando o valor dos bens. Há ainda o problema da qualificação de quem faz o trabalho, os critérios adotados e a curiosa tendência de o valor sempre ser para mais. Os contadores brincam que nunca viram reavaliação reduzir os ativos.
Flamengo e Fluminense têm reavaliações respeitáveis - R$ 197,6 milhões e R$ 264,8 milhões, respectivamente -, o que, no caso do clube da Gávea, não impediu que o patrimônio ficasse negativo (passivos maiores que os ativos). O tricolor, com R$ 22 milhões no patrimônio (apesar de ter a maior reavaliação da amostra), não está longe disso, já que os prejuízos também pesam na conta. E de prejuízo os clubes cariocas entendem: foram R$ 211,7 milhões em 2007, 70% do total registrado pelos 25 clubes avaliados pelo Valor. O Fluminense representa 45%. O que fazer diante do que parece ser inevitável? O Fluminense planeja reduzir as dívidas trabalhista, cível e bancária. No final de 2007, as dívidas do clube, entre curto e longo prazo, somavam R$ 288 milhões, segundo cálculos de Humberto Palma, superintendente de planejamento e controle.
A dívida trabalhista é a maior e a que mais preocupa. Soma R$ 89,5 milhões, entre curto e longo prazos e provisões. Em abril, o Fluminense foi excluído do chamado ato trabalhista, um acordo pelo qual se organizou uma fila de credores na Justiça. O acordo definia que um percentual das receitas do clube iria diretamente para o Judiciário para pagar os credores, evitando penhoras judiciais. Ao ser excluído, o clube ficou com uma dívida de R$ 40 milhões em execução."Chamamos os credores e estamos fazendo acordos com cada um", diz Palma. No dia 18 de julho, ele contabilizava 30 acordos homologados e outros 20 acordos informais. Outra frente aberta pelo clube refere-se à dívida tributária. Palma afirma que o clube assinou uma confissão de dívida, o que lhe permitiu ingressar na Timemania, programa do governo para que os clubes paguem as dívidas em atraso. No balanço de 2007, o Fluminense declara como exigível a longo prazo, dentro passivo, R$ 114,6 milhões com a Timemania. Palma reconhece que as provisões para contingências fiscais, cíveis e trabalhistas, de R$ 70 milhões, tiveram impacto negativo no balanço de 2007. Segundo ele, o clube também está buscando alongar o perfil da dívida bancária, hoje com vencimento médio entre 120 e 180 dias, para um prazo de dois a três anos. O clube ainda quer aumentar o peso da bilheteria, marketing e venda de jogadores na receita. Hoje 50% da receita vêm das transmissões dos jogos. Os clubes do futebol profissional do Rio têm pouca receita com sócios, e o campeonato estadual é deficitário. Entre janeiro e abril, a receita dos clubes tende a cair em função da redução de bilheteria.
O balanço do Flamengo, em 2007, mostra uma dívida de R$ 295 milhões. O clube teve receita de R$ 89,4 milhões e um déficit de R$ 59,2 milhões. Luiz Gomes Martins Junior, superintendente de finanças, disse que o clube vem reconhecendo as dívidas no balanço. Para 2008, a previsão é faturar R$ 100 milhões, número que poderá chegar a R$ 150 milhões em 2009, diz Martins. A receita subirá, segundo ele, com venda de jogadores e renovação de patrocínios.
O Valor procurou o Botafogo, mas o presidente do clube, Bebeto de Freitas, não quis falar sobre a situação financeira do clube.

Contabilidade e Clubes de futebol

A seguir uma reportagem interessante, publicada no dia 16 de julho de 2008, no Valor Econômico. O texto informa, de uma maneira geral, os problemas de alguns grandes clubes brasileiros. O caminho não seria a sua transformação em empresas?

Receita cresce, mas números ainda são pouco confiáveis
Valor Econômico

Já são cinco anos de publicação obrigatória de balanços pelos clubes de futebol no Brasil e ainda são cometidas faltas graves no quesito de obediência às regras e aos princípios contábeis.
Das 25 demonstrações financeiras que o Valor conseguiu obter em jornais e na internet, quase 70% vieram com ressalvas variadas dos auditores independentes que assinam os balanços.
O auditor faz uma ressalva quando discorda de algo que encontrou nas contas, e geralmente é preciso fazer ajustes para que os números estejam de acordo com as normas contábeis.
As restrições dos auditores vão desde a comum falta de reservas [sic] para fazer frente a disputas fiscais e trabalhistas - que costuma aparecer com freqüência nos balanços de empresas - até situações mais esdrúxulas como falta de controle sobre os bens do clube e até o registro da marca no patrimônio.
Alguns balanços trazem múltiplas ressalvas, como o do Botafogo, assinado pela Indep Auditores. São cinco, entre elas a prática do clube de não debitar dos estoques o uso de material esportivo e a inexistência de controle patrimonial.
Na prática, esse cipoal de senões torna o entendimento dos números um trabalho para especialistas. Se forem feitas todas as correções, como tirar do patrimônio do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense o valor de R$ 36,6 milhões relativo à marca "Grêmio" - algo sem "previsão nem aceitação pelas práticas adotadas no Brasil", lembra a Mog & Berleze Auditores -, ainda assim ficaria difícil avaliar a situação dos clubes. Em alguns casos, os auditores não conseguiram sequer checar os números, por falta absoluta de registros. É os que eles chamam de "limitação de escopo", algo pior que uma ressalva, já que não foi possível sequer discordar.
Apesar da espessa cortina de fumaça, não resta dúvida que a situação dos clubes em 2007 continua muito difícil. O clubes são obrigados por lei a publicar seus números desde 2002 e, dois anos depois, o Conselho Federal de Contabilidade divulgou um conjunto de normas específico para o esporte, na tentativa de padronizar as informações.
O objetivo não foi totalmente alcançado, porque ainda é preciso um grande número de ajustes para se conseguir juntar os números para comparação numa tabela como a que o Valor publica acima. O que é quase automático no caso dos balanços das companhias abertas torna-se uma operação de risco quando se trata das demonstrações dos clubes de futebol. Nessa confusão de números, a "Timemania", um programa de salvamento do governo federal que deu aos times 240 meses para pagar seus débitos em atraso, é mais um problema a ser destrinchado pelo aventureiro que ousar decifrar o mundo financeiro dos clubes de futebol.
Com um problema crônico de endividamento e, em grande parte, sem dinheiro em caixa, os clubes correram para registrar a nova facilidade dada pelo governo. Pelo levantamento do Valor, são quase R$ 1 bilhão em dívidas, considerando apenas os 25 clubes da amostra, que teoricamente serão pagas em suaves parcelas de 240 meses.
Os auditores não gostaram do que viram e ressalvaram parte desses números porque ainda não há confirmação dos órgão credores - Receita Federal, Instituto Nacional de Seguro Social, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Ou seja, os cartolas não combinaram com os zagueiros.
Os números apresentados pelos clubes também levantam sérias dúvidas sobre a viabilidade do Timemania. Instituído no ano passado, a loteria começou a funcionar neste ano, com arrecadação ainda modesta. A idéia é que o apostador escolha o nome de seu time e o dinheiro é destinado ao pagamento das dívidas, sem passar pelo caixa do clube.
Pode funcionar, mas depende do tamanho da dívida, porque o clube vai ter que completar o que faltar de sua parcela mensal. Neste ano, os clubes ganharam um bônus e complemento está limitado a R$ 50 mil. A partir do ano que vem, teoricamente, o clube será excluído do programa se não conseguir completar sua parcela. Apesar de todas as facilidades, clubes altamente endividados como o Flamengo vão ter sérias dificuldades para honrar os pagamentos. Mas alguém imagina o Timemania sem o clube de maior torcida no país? O levantamento com os balanços mostra que os clubes aumentaram significativamente suas receitas em 2007, mas o resultado foi ruim - em grande influenciado por uma grande provisão para contingências feito pelo Fluminense. Enquanto a receita total cresceu 32%, para R$ 1,3 bilhão, o déficit apresentando cresceu 60%, para R$ 295,5 milhões.
A receita com venda de atletas dobrou no período, para R$ 459,3 milhões.
No entanto, nem tudo é desanimador entre as quatro linhas do balanço. Há claramente um esforço dos clubes em apresentar informações com transparência. O Corinthians, depois da crise com o fundo MSI que provocou a troca de comando, veio com um balanço mais completo. Os rivais São Paulo, Palmeiras e Santos já publicam demonstrações de fluxo de caixa [sic], algo que muitas empresas de capital aberto só passarão a fazer no ano que vem, por força da lei [sic].

22 agosto 2008

Cruz Vermelha com problemas contábeis nos Estados Unidos

Uma reportagem do The Wall Street Journal (Philanthropy: Red Cross, Strained by Deficit, Could Use Some Relief of Its Own, Mike Spector, 21/08/2008, A8) mostra os problemas gerenciais da Cruz Vermelha dos Estados Unidos. Esta instituição ainda é a entidade de escolha de muitos quando existe uma calamidade. Mas escândalos e problemas administrativos são questões importantes.

Atualmente o deficit é de 200 milhões e existe um empréstimo de 4 milhões de dólares para vítimas do Dolly, um furacão, embora as doações deveriam cobrir os custos.

Recentemente a entidade cortou mil empregos. O ex-administrador renunciou depois de um escândalo sexual. Como conseqûência, doações cairam para 700 milhões (é bem verdade que em 2007 não ocorreu nenhum desastre natural, que tende a aumentar o volume de doações).

Os concorrentes (como o Exército da Salvação) estão mais ativos na questão da doação.

In fall 2005, critics blasted the Red Cross for taking too long to aid victims of Katrina. Victims complained of calling busy telephone hot lines and standing in hours-long lines for aid, only to leave empty-handed. As the storm ravaged New Orleans, the Red Cross borrowed relief money -- more than $400 million -- for the first time. In December of that year, CEO Marsha Evans resigned amid clashes with the board.

Another continuing obstacle: Red Cross headquarters uses a different accounting system from many of its local chapters. That means it can take months for top executives to get data from chapters on donations and other revenue. A Red Cross spokesman says integration of financial and accounting systems is "well under way."

In May 2007, Congress approved an overhaul of the Red Cross's governance, halving the size of its board starting in 2009. Critics often blamed the board for the charity's unfocused strategy and constant executive turnover. Ms. McGovern, the new CEO, said she believes stronger communication about the Red Cross's storied brand can get fund raising on track. Most Americans, she notes, don't realize that 93% of the some 70,000 disasters the Red Cross responds to each year are neighborhood fires. The charity's work with injured soldiers also isn't well known, she says.

20 agosto 2008

Contabilidade e política

A divulgação da primeira prestação de contas parcial das eleições deste ano mostra que 72% do dinheiro doado aos 11 candidatos à Prefeitura de São Paulo foi feito de forma indireta, o que dificultará -e, em alguns casos, impossibilitará- a futura identificação entre doador e candidato.

Dos R$ 9,047 milhões reunidos pelas candidaturas, R$ 6,5 milhões entrou por meio desse mecanismo, popularizado nos últimos anos, no meio político, como forma de atender a empresas que não querem ter o nome associado aos políticos para os quais contribui. (...)

A legislação eleitoral permite que as doações sejam feitas dessa forma. "É uma doação indireta. Dificulta a contabilização, mas não é irregular. (...) Acho que é feito para dificultar mesmo. Não chega a ser uma ocultação da contabilidade, mas dificulta (...) saber exatamente quem está doando, quem não está doando", afirmou o procurador-regional eleitoral de São Paulo, Luiz Carlos Gonçalves.

O "drible" para não ter o nome vinculado diretamente ao candidato funciona assim: as empresas ou pessoas físicas que quiserem fazer doações aos candidatos a prefeito podem fazer de quatro maneiras:

1) diretamente para o próprio candidato, o que "carimba" claramente a doação como "dinheiro da empresa tal para o candidato tal"; 2) ao "comitê financeiro municipal para prefeito", o que também "carimba" a doação; 3) ao "comitê financeiro municipal único"; ou 4) ao partido político.

As duas últimas opções dificultam muito ou inviabilizam completamente a identificação de qual empresa ou pessoa doou para cada candidato. Isso ocorre porque, ao repassar a doação ao candidato, o "comitê financeiro municipal único" e o partido político não precisam fazer, em suas prestações de contas, a ligação clara entre doador e beneficiário. Geralmente, eles misturam todas as doações em uma coluna de receitas e, então, listam a coluna de despesas, sem estabelecer uma ligação clara entre elas.

Além disso, enquanto os candidatos e os comitês apresentam suas prestações de contas em um período curto após as eleições, a dos partidos políticos é entregue somente em abril do ano seguinte. (...)

Doações "ocultas" somam 72% da verba de candidatos em SP
Folha de São Paulo - 20/08/2008
RANIER BRAGON

05 agosto 2008

Terceiro setor

Uma reportagem interessante sobre a contabilidade do terceiro setor na Singapura.

Segundo o Straits Times (One set of accounting rules for all charities?, Theresa Tan, 5 de agosto de 2008) está sendo proposto uma compilação das normas contábeis para as entidades do terceiro setor (charities), condensando os vários documentos existentes.

Uma das propostas é redefinir o tamanho da entidade. Atualmente as entidades são classificadas pelo lucro. Faz sentido?

Não seria um erro de tradução (income) pois uma notícia próxima (Accounting standards proposed for charities, Lee U-Wen, 5/8/2008) foi publicada no Business Times Singapore. Veja o trecho:

Among the key proposals is the use of a charity's income or expenditure as a basis to determine its size. Currently, charities are classified as large and non-large charities based on their annual income. Those with an income of $10 million and above are defined as large.

17 junho 2008

Auditoria de ONGs

TCE faz pente-fino em repasses de verba para ONGs
Fausto Macedo
O Estado de São Paulo - 17/06/2008

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo deu início a um pente-fino nos processos de repasse de dinheiro público para organizações sociais e organizações sociais de interesse público, popularmente chamadas de ONGs (organizações não-governamentais). A auditoria mira o exercício de 2007, ano em que dezenas de prefeituras efetuaram 8.932 transferências que somaram R$ 798 milhões em favor das entidades. A projeção para 2008 é que esse montante alcance R$ 1,6 bilhão, valor que inclui liberações também do governo estadual.

Para executar a mais ampla investigação já realizada sobre ONGs, o TCE criou o Sistema de Repasses Públicos ao Terceiro Setor (SisRTS), por meio do qual os auditores começaram a inspecionar as organizações em suas próprias sedes para constatação de atividade, consulta de livros de contabilidade e cruzamento de dados relativos ao fluxo de caixa - entrada e saída de dinheiro.

(...) Os fiscais devem apurar se os valores recebidos foram contabilizados e depositados em instituição financeira, se existe registro e controle de atendimentos, se o conselho fiscal da entidade é atuante, se a estrutura física é adequada. Também vão checar se o objetivo social é compatível com a natureza dessas transferências, se a entidade apresentou plano de trabalho e se as atividades desenvolvidas e os valores despendidos atendem a esse programa. (...)

15 junho 2008

Ativos dos museus

A questão da contabilidade dos museus é interessante. Como considerar um quadro como ativo? Em 'Heritage assets' scheme could see Stonehenge appearing on the books, Jennifer Hughes (Financial Times, 14/06/2008, London Ed2, p. 04) informa que UK Accounting Standards Board - que é responsável pelas normas contábeis na Inglaterra para o terceiro setor, propôs regras para evidenciação dos ativos e seu potencial valor:

Previous attempts to make museums account more clearly for their holdings have met with fierce opposition and this week's proposal is, in fact, a rare second draft after parts of its predecessor drew criticism.

The ASB's argument centres around the fact that heritage assets, be they ancient artefacts or vintage cars, are just that - assets - which have an economic value to the institution that holds them and should therefore appear in the books, at least in the footnotes.

But museums and galleries claim that producing values for each of their holdings is a time-consuming and costly process and of little benefit to anyone.

The National Gallery, for example, last year reported balance sheet assets of just £318m, of which heritage assets made up £65m, courtesy of a change to the rules in 2001 that forced institutions to report acquisitions and disposals after that date.

Its footnotes, however, made clear its disapproval. "The collection . . . is inalienable, unique, irreplaceable, ancient, fragile and very valuable. It is truly 'priceless' in that it cannot be valued meaningfully," it added.

Accountants are divided on the issue. Most appreciate the theoretical value of putting assets clearly on the books but concede the practical difficulties in these cases.

"Does Stonehenge have a value? I bet Disney would buy it. But would that value really mean anything? Probably not," said Ken Wild, national director of accounting at Deloitte.

"There are those who say there's no point putting some things in when so much will still be off the books, but is it then right that none of it appears when it clearly has some economic value."

Museums have made much of the fact that it is hard to find a proper value and even where there are markets, such as for paintings, prices are still subjective.

"I'm not sure a numerical value really adds much unless you were planning to sell," said Steve Taylor, a valuation specialist at Ernst & Young.

"You could end up trying to use cash flow from gate receipts, or some other measure for something like the Rosetta Stone [a tablet that unlocked the meaning of Egyptian hieroglyphics]. But what if there was a terrorist attack on London and there were less tourists? Would reported values then fall?"

13 maio 2008

Por que as pessoas ignoram os Genocídios?

Paul Slovic, da University of Oregon, faz essa pergunta na sua pesquisa "If I look at the mass I Will never act": Psychic numbing and genocide, para o Judgment and Decision Making (volume 2, número 2, abril de 2007, p. 79-95). somente no século XX tivemos vários genocídeos:

Armenia (1915)
Ucraine (1932-1933)
Holocausto Nazista (World War II)
Bangladesh (1971)
Cambodia (1975-1979)
Ex-Iugoslavia (1990s)
Ruanda (1994)
Zimbabwe (2000)
Congo (Hoje)
Darfur (Hoje)

Enquanto isso os jornais dedicam páginas para o caso Isabella. Faz sentido? Slovic mostra uma pesquisa de arrecadação de fundos onde três abordagens foram usadas. Na primeira, a campanha apresentava um depoimento pessoal de um garoto, com foto e descrição pessoal. A segunda estratégia era apresentar estatísticas sobre pessoas que necessitavam de ajuda. A terceira estratégia era uma combinação das duas, ou seja, um depoimento pessoal com estatísticas. O resultado da campanhas está na figura:




As pessoas contribuiram mais quando existia uma narração pessoal. Isso faz sentido?

04 abril 2008

Hospitais não lucrativos


"Hospitais sem fins lucrativos, originalmente criados para servir aos pobres, transformaram-se em máquinas de ganhar dinheiro." Assim começa uma reportagem do The Wall Street Journal (Nonprofit Hospitals, Once For the Poor, Strike It Rich --- With Tax Breaks, They Outperform For-Profit Rivals, John Carreyrou & Barbara Martinez, 4/4/2008, A1, aqui)

Estas questões refletem na área tributária, na remuneração dos executivos e na contabilidade.

17 março 2008

Doações de executivos


Os principais executivos das empresas tornam, muitas vezes, grandes doadores de ações da sua empresa para as fundações de sua família pouco antes do preço das ações cair drasticamente, de acordo com um novo estudo de um professor New York University. Como resultado, os executivos podem usar o máximo possível da dedução fiscal e escapar de impostos. (...)


Study Says Gifts of Stock Precede Sharp Price Dips
By STEPHANIE STROM
The New York Times – 5/3/2008 - Late Edition – Final - 10

10 janeiro 2008

Direito Canônico e Contabiidade

Uma notícia interessante da Espanha sobre a questão de evidenciação numa universidade católica da Espanha. O bispado solicitou que uma pessoa informasse a contabilidade, que não atendeu. A Igreja abriu um processo canônico.

El Derecho Canónico podría decidir otra controversia sobre las cuentas de la UCAM
La Verdad - 10/1/2008

Las cuentas de la Universidad Católica se han convertido en otra controversia, en paralelo, entre el obispo de la Diócesis de Cartagena y el presidente de la Fundación San Antonio. Hasta tal punto de que se podría iniciar un proceso canónico para respaldar la pretensión del Obispado de que José Luis Mendoza le informe sobre la contabilidad de la institución académica, cuya gestión está encomendada a la Fundación. Este último no atendió el primer requerimiento de monseñor Reig Plà para entregarle las cuentas, argumentando que la Diócesis está informada puntualmente cada año de la gestión económica a través de la memoria de la Universidad Católica. José Luis Mendoza señaló ayer, al ser preguntado por La Verdad, que no tenía conocimiento de que se hubiera abierto un proceso canónico sobre este asunto, sobre el que no quiso pronunciarse. Apuntó que «las relaciones con el Obispado son cordiales».

Un proceso canónico se abre en el seno de la Iglesia para dirimir cuestiones totalmente internas, que no tienen trascendencia civil. Es una figura recogida dentro del Derecho Procesal Canónico que tiene como objetivo resolver una duda. Los miembros del tribunal constituido al efecto tienen como finalidad adecuarse a la verdad objetiva. El proceso termina con una sentencia. La mayoría de casos que se dirimen están referidos a las nulidades matrimoniales. Ayer no fue posible conocer la opinión de la Diócesis al respecto. Otras fuentes conocedoras del caso apuntaron que dicho proceso se había iniciado a instancias del Obispado.