Translate

Mostrando postagens com marcador gatekeeper. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador gatekeeper. Mostrar todas as postagens

16 dezembro 2025

Cartão vermelho para reguladores como UEFA


Em abril de 2021 doze clubes da Europa, os mais ricos, anunciaram a intenção de formar uma competição fora da estrutura da UEFA, a entidade responsável por gerenciar o futebol europeu. Com os protestos dos fãs e o apoio de políticos, a UEFA e a FIFA ameaçaram os clubes com sanções severas. Em poucos dias, os clubes recuaram. 

No entanto, o assunto chamou a atenção do Tribunal de Justiça Europeu (TJE) em razão do papel da FIFA e da UEFA como guardiãs, reguladoras e participantes comerciais, o que gera conflito de interesse nas diferentes funções. O Tribunal passou a buscar a lei da concorrência em regulamentos específicos, atuando na fiscalização da estrutura das federações de futebol. Seu entendimento era que o poder de autorização da FIFA e da UEFA infringia a lei da Comunidade Europeia por não ter critérios transparentes nem salvaguardas processuais, funcionando como um bloqueio indevido à concorrência e à inovação.

Eis um trecho que discute o assunto:

O que [a lei de concorrência] exige é que o exercício do poder de gatekeeper [guardiã] seja limitado por padrões substantivos e salvaguardas processuais. As decisões de autorização devem basear-se em critérios transparentes, objetivos, não discriminatórios e proporcionais; as partes afetadas devem ter acesso a uma revisão judicial eficaz; e as federações não podem usar a sua posição reguladora para proteger os seus interesses comerciais da concorrência por rivais inovadores, privando assim os consumidores de maior escolha ou formatos mais inovadores. [...] O que começou como uma recalibração da abordagem da lei de concorrência à governação desportiva está a cristalizar-se num quadro doutrinário mais vasto para limitar os atores privados que ocupam posições de gatekeeper de facto. A função quase-constitucional que a lei de concorrência da UE agora desempenha pode revelar-se relevante onde quer que entidades privadas exerçam autoridade quase-pública. 

Fiquei imaginando se isso poderia aplicar, algum dia, a Fundação IFRS. Trata de uma entidade privada que está regulando a contabilidade, mas também tem participação comercial nos produtos gerados, na medida que cobra do usuário externo o acesso as informações. Devemos lembrar que a FIFA é uma entidade sem fins lucrativos, mas que funciona como um monopólio do esporte.