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15 fevereiro 2023

Ciência e fatos: comunicação para afetar as pessoas

Muitos cientistas pensam que basta fazer uma pesquisa de qualidade para que as pessoas fiquem convencidas de uma determinada posição. Mas segundo Anne Toomey, o que faz com que as pessoas mudem que ideia não são fatos, mas as redes sociais, os grupos e as histórias. 

Os cientistas costumam ser ensinados a "apenas seguir os fatos" ao comunicar seus resultados de pesquisa, particularmente em tópicos controversos. "Atender aos fatos" parece um conselho sólido e simples e, além disso, está fundamentado nos valores da ciência para ser o mais objetivo e baseado em evidências possível.


No entanto, é contra intuitivo (e não um pouco irônico) que, "perseguindo os fatos", ignoremos uma riqueza de evidências sobre uma comunicação científica eficaz. Em nosso zelo em comunicar as evidências da ciência, negligenciamos as evidências da comunicação científica.

Durante décadas, a comunicação científica se concentrou no compartilhamento dos "produtos" da ciência. Os cientistas são incentivados a "divulgar" dando palestras públicas, compartilhando resultados nas mídias sociais e conversando com repórteres. Na superfície, essas abordagens fazem sentido. Procuramos transmitir nossas mensagens para o maior público possível - afinal, esses são problemas globais que estamos enfrentando.

Mas essas estratégias são básicas em um "déficit" da comunicação científica. Por exemplo, o principal problema é que, como pessoas não são tão informadas para uma tomada de decisão eficaz. Esse modelo foi ampliado nos campos de comunicação científica, estudos de política e vigilância cognitiva, e substituições por modelos mais holísticos que enfatizam ou empelam a emoção, valores e instinto, e não a informação.

Entre os conselhos apresentados a necessidade de contar uma história. Isto ajuda a lembrar da mensagem, em lugar de um número frio. Parcerias com poetas e roteiristas pode ajudar na criatividade da comunicação científica. Isto sem falar na melhoria da qualidade dos dados gráficos. Outro conselho bastante interessante: use redes sociais em vez de plataformas de mídia nacionais. 

Os cientistas ficam compreensivelmente empolgados quando suas pesquisas são compartilhadas em grandes plataformas de mídia, como cobertura de notícias nacionais ou internacionais. Porém, estudos sobre como a informação se espalha questionam o valor da alta visibilidade para gerar mudanças. (...) essa visibilidade raramente resulta em mudanças generalizadas de comportamento. 

22 dezembro 2021

Nenhuma evidência

No Astral Codex uma crítica ao uso do termo "nenhuma evidência" por parte da comunicação científica (e também do jornalismo). O termo pode significar:

a) algo que é plausível ou provável, mas que ainda não foi verificado e por isto não temos certeza

b) algo onde temos evidências fortes de que é falso e por este motivo deve ser desmascarado como uma mentira.

O problema é que usamos o termo nos dois sentidos. Por exemplo, "não há evidências empíricas de que o uso do paraquedas ajuda a evitar lesões quando pulamos de um avião". Nesta frase, o sentido seria a letra "a", ou seja, sabemos sobre o assunto, mas ninguém fez um experimento científico para comprovar. Seria melhor dizer claramente isto, não? Outro exemplo, não há evidência de que Dom Pedro tinha baço. Este é o caso de algo que é provável, mas que não foi verificado. 

Resumindo, "não há evidência" não significa dizer "falso". 

Já na frase "não há evidência" de que o óleo de cobra funcione é nos termos da segunda alternativa. Aqui seria melhor dizer "é falso que o óleo de cobra funcione". 

As manchetes dos jornais mostram como o termo pode ser perigoso. "Não há evidência de que o Covid-19 pode ser transmitido pelo ar" ou "não há evidência de que o Covid seja transmitido entre humanos" correspondem a dizer que não tínhamos condições de afirmar naquele momento sobre este assunto. Isto deveria ser claro. Como afirma o blog, "sem evidência" é uma bandeira vermelha para a comunicação científica ruim. 

19 fevereiro 2021

Informator: uma parábola da era da informação


Quando Bob Fischer surgiu no mundo do xadrez, derrotando Donaldo Byrne, com 13 anos, naquela que é considerada a partida do século, o seu talento era inegável, mas enfrentava uma barreira: como melhorar seu nível. Nestes casos, as pessoas costumam estudar, mas a literatura de xadrez em língua inglesa, nos anos cinquenta do século XX, era restrita. Para contornar a situação, Fischer começou a estudar russo para conseguir entender os livros de xadrez publicados na antiga URSS. 

Na época da guerra fria, os principais jogadores de xadrez do mundo eram soviéticos ou dos países europeus sob a influência russa. Como eles jogavam bastante entre si, o desenvolvimento de um jogador de xadrez era obtido através de muito estudo e muita prática. Já os adversários ocidentais de Fischer estavam mais dispersos e não tinham a mesma qualidade. E Fischer não tinha acesso ao conhecimento soviético do xadrez e das partidas que eram jogadas do outro lado do muro de Berlim. 

A situação enfrentada por Fischer começa a mudar em 1966, quando foi publicado o primeiro número do Chess Informator. Uma criação de fortes jogadores iugoslavos, o Informator era publicado duas vezes ao ano e as principais partidas que foram jogadas nos últimos meses. Para criar o Informator, os criadores tiveram que superar duas barreiras. A primeira é a reunião das partidas que eram disputadas nos torneios; a segunda, estabelecer um processo de análise que fosse possível o entendimento em qualquer língua mundial. O primeiro problema era um típico problema de captação da informação; o segundo, de comunicação da informação.

Uma partida de xadrez tradicional é anotada por cada um dos jogadores. Ao final de cada partida, a anotação deve ser entregue para os organizadores dos jogos. Esta anotação era o documento de comprovação do resultado, sendo assinada pelos jogadores. Até o surgimento do Informator, muitas súmulas com os jogos se perdiam. É bem verdade que alguns jogadores possuem uma grande capacidade de lembrar os lances de cada partida, podendo reproduzir a partida posteriormente. Mas os demais praticantes não tinham, muitas vezes, acesso a estes jogos. 

O Informator começou a recolher as partidas disputadas e a divulgá-las mundialmente. Com o tempo, os jogadores também encaminhavam as planilhas com os lances para o editores do Informator. E também os organizadores dos torneios começaram a perceber como era interessante divulgar as partidas que aconteceram. Com persistência, o Informator resolveu o primeiro problema. 

O segundo é tornar a divulgação e a análise dos jogos acessíveis para todos. Quando um jogador move o peão do rei na quarta casa, nós anotamos P4R ou “Peão na casa 4 do Rei”. Assim, eu consigo anotar todos os lances de uma partida, indicando a peça que foi movimentada e a casa de destino. Dois problemas aqui, sendo um pequeno e outro enorme. O pequeno problema é que Rei em português é “R”, mas é K em inglês (de King) e assim por diante. O Informator resolveu este problema de língua substituindo a letra de rei pela figura do rei. Com isto estava resolvido a primeira parte. Mas outro problema era a análise. Quando analisamos um lance de xadrez, indicamos se o mesmo foi bom ou ruim, se existia uma alternativa melhor ou a razão de uma alternativa óbvia não ser boa o suficiente. Como “traduzir” isto para que todos os jogadores do mundo pudessem entender? O Informator “inventou” uma forma de comunicação genial para que a análise realizada fosse entendia por todos.

Se o lance era bom, o analista indicava uma exclamação como um sinal de qualidade do lance “!”; um lance melhor receberia duas exclamações e algo genial seria premiado por três exclamações. Um lance duvidoso receberia uma interrogação (?); lances onde há uma dúvida se seria bom ou não, mas era provável de ser um bom lance, teria uma anotação “!?”; sendo duvidoso, mas se o analista achasse que talvez não fosse bom, a anotação seria “?!” (atente para a inversão do sinal). E por aí vai. 

Com isto, a análise do jogo era fácil de acompanhar para quem fazia a tradução da linguagem de sinais do Informator. A publicação chamou a atenção do mundo. Era o grande manual do que acontecia no mundo do xadrez. Fischer, enquanto se preparava para vencer Spassky na Islândia, estudava as partidas do Informator. Se no início as partidas eram analisadas pelos editores do Informator, com o tempo, os maiores jogadores começaram a querer publicar sua análise. Pense em algum grande jogador de xadrez dos últimos 70 anos? Deve ter publicado uma análise no Informator: Fischer, Botvinnik, Karpov, Kasparov, Smyslov, Tal, Petrosian e Spassky, são alguns dos nomes. Petrosian, por exemplo, analisou 509 jogos para o Informator. Mais recentemente, Krmanik, Anand, Duda, Artemiev, entre tantos, contribuíram com sua análise.

Com o tempo, o Informator passou a selecionar os melhores jogos entre aqueles publicados, apresentar uma tabela com alguns finais, informar o resultado dos principais torneios, entre outras coisas. O número de partidas publicadas foi (ainda é) significativo. Somente Korchnoi teve 1709 partidas publicadas lá. A importância do Informator para o xadrez é tamanha que Kasparov declarou: Somos filhos do Informator. 

O Informator ainda existe. Seu site encontra-se aqui www.sahovski.com. Mas o Informator ficou ultrapassado pelas rápidas análises dos algoritmos. Pela base de dados enorme existente nos dias atuais na internet. Ultrapassado, talvez; mas nunca foi irrelevante. 

P.S. Comecei a escrever esta postagem inspirada em um texto do Chessbase. Terminei misturando algumas informações do texto com minhas lembranças pessoais. Cheguei a comprar alguns exemplares do Informator. Para quem algum dia sonhou em ser um bom jogador de xadrez, reproduzir as partidas do Informator era o máximo.

P.S.2 A ascensão e queda do Informator é muito parecida com outras situações, como os jornais, a televisão aberta e outras situações. 

06 junho 2018

Efeito da melhoria da comunicação

Muitas vezes, a resposta para uma questão atual pode estar no passado, em situações similares. Uma das questões intrigantes dos dias atuais é qual o efeito da melhoria do processo de comunicação, seja aumentando o número de informação ou através da mudança na forma como é feita, que pode, por exemplo, agilizar a disponibilidade para o usuário.

Imagine o efeito sobre a pessoas de ter uma informação de forma muito mais rápida. Como isto poderia mudar seu comportamento? É algo parecido como o que ocorreu nos últimos anos, quando a comunicação através da internet permitiu uma agilidade sem precedente para o usuário final. Os pesquisadores podem tentar entender os efeitos deste fato trabalhando com os dados atuais. Outra estratégia é buscar algo parecido que tenha ocorrido no passado e verificar os efeitos provocados.

Esta foi a decisão de duas economistas que analisaram o impacto da comunicação nos preços dos produtos. Isto parece ser um assunto bastante atual. Mas Réka Juhasz e Claudia Steinwender foram buscar um fato de ocorreu há mais de 150 anos: a inauguração de um cabo transatlântico, entre Nova Iorque e Liverpool. No início da segunda metade do século XIX, o algodão cultivado nos Estados Unidos era levado para a Inglaterra para ser processado nas fábricas inglesas. A informação do preço do produto praticado demorava dez dias para chegar entre uma cidade e outra. Com o cabo, a informação passa a chegar de maneira muito mais rápida. As pesquisas verificaram os efeitos na diferença do preço do algodão, entre os dois mercados. O gráfico mostra o que ocorreu com os mercados:

A linha no meio do gráfico mostra o momento da adoção da nova tecnologia. É perceptível como a volatilidade diminuiu após o processo. Mas não é somente isto,


First, we show that connection to the telegraph disproportionately increased trade in intermediate goods relative to final goods. (...) Second, adoption of the telegraph also facilitated international technology diffusion through the complementary mechanisms of importing machinery and acquiring knowledge of the production process and local demand through importing intermediates. These results shed light on how ICT facilitates the formation of global value chains and the diffusion of frontier technology.

05 dezembro 2013

Comunicação da Petrobras

(...) Quando informou em 30 de outubro que a diretoria havia apresentado uma proposta ao conselho, a Petrobras dizia textualmente: “a metodologia contempla reajuste automático do preço do diesel e da gasolina, em periodicidade a ser definida”. Embora houvesse uma ressalva de que a fórmula teria um mecanismo para impedir o repasse da volatilidade dos preços internacionais para o mercado interno, o termo “reajuste automático” estava lá, e apenas o período estava em discussão.

Quase um mês depois, quando anunciou a decisão sobre a aprovação da nova política de preços (que não parece tão nova), a estatal disse que deu início à implementação da política, dizendo que os parâmetros da metodologia seriam sigilosos.

Não mencionou que foi abandonada a ideia de reajuste automático, mas como ele não foi mencionado e o reajuste que deu início à política foi tímido, o mercado supôs que ele estava descartado.

Agora, após intervenção do órgão regulador do mercado de capitais, a Petrobras apresentou um esclarecimento para dizer que “a metodologia de precificação aplicada a partir de 23 de novembro contém parâmetros baseados em variáveis como preço de referência dos derivados no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à origem do derivado vendido, se no Brasil ou importado”.

(...) Embora não tenha ressaltado que a decisão contrariou a proposta apresentada inicialmente, a Petrobras disse hoje que os reajustes “não serão automáticos”, havendo uma banda de reajuste e cabendo à diretoria executiva, discricionariamente, aplicá-los “à luz da dinâmica dos mercados doméstico e internacional” (seja lá o que isso queira dizer). (...)

Petrobras tem aula de comunicação com controlador - Valor Econômico. Imagem: aqui

05 janeiro 2013

Descreva a sua tese em dois minutos

Do canal no YouTube do PHDComics:



Tashi deleg! University of Melbourne graduate student Sara Ciesielski explains how children growing up in the Sherpa culture learn a lot more than words from their elders.

Animation: Jorge Cham
Series Producer: Meg Rosenburg
Sara Ciesielski, U. Melbourne: "Language Development and Socialization in Sherpa"

22 outubro 2012

Ciência e Comunicação

"Passionate about helping scientists and engineers give outstanding presentations because science not communicated is science not done! Talk nerdy to me!"

Melissa Marshall



05 agosto 2008

Comunicação verbal

Segundo texto de David McCann (What a CFO Doesn't Say Can Hurt, CFO Magazine) pesquisa mostrou que durante as conferências onde as empresas anunciam os resultados, os executivos, involuntariamente, emitem dicas não verbais que informam, aos analistas e investidores, mais do que eles pretendem.

Esta pesquisa, denominada de "The Power of Voice: Managerial Affective States and Future Firm Performance" e conduzida por dois professors de contabilidade da Duke University (William Mayew e Mohan Venkatachalam), mostra que sinais não verbais, como entonação na voz, rapidez, volume e inflexão, além da forma como as palavras são pronunciadas, comunicam sentimentos e verdades.

Usando uma tecnologia de interpretação da voz, os pesquisadores determinaram se o executive apresentava um estado emocional positivo ou negativo.

Additionally, the professors calculated that 27 percent of executives who exhibit lower levels of negative emotion missed their earnings target in the next quarter. Those with higher levels of negative emotion missed 38 percent of the time.
Negative affective states also predict downward moves in stock returns over the following nine months. An investor who purchased stock in companies whose executives spoke with low negative emotion, and sold stock in companies whose executives spoke with high negative emotion, would earn a risk-adjusted return of about 9 percent over 180 days. Doing the opposite would result in a 9 percent loss.

No correlation is found between positive affective states and future performance, however.

On average, executives' non-verbal vocal cues are positive 10 percent of the time during earnings calls and negative 17 percent of the time, the research finds. (…)
Previous research has shown that negative words or pessimism in media reports and earnings press releases predict future stock returns, and that increased activity on popular Internet message boards correlates to return volatility, according to the paper. And several studies have shown that the tone of a person's voice leaks information about emotional states that is not revealed by verbal content or facial expressions.


Achei muito interessante a pesquisa. Nos últimos anos tenho dedicado parte da minha carreira acadêmica em estudar, de forma não convencional, situações onde o processo de comunicação pode exercer influência ou ser influenciado pelo desempenho da empresa. Relatórios de Administração e Fatos Relevantes, que são textos (e não números) podem emitir mensagens importantes sobre o desempenho da empresa. Acho que o estudo da conferência para imprensa (a exemplo da General Motors postada aqui) pode ser interessante para entender o processo de comunicação de uma empresa.
Agora, esta pesquisa abre uma outra perspectiva ao focar na comunicação verbal.