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09 setembro 2020

Quando a análise incremental não é usada ...


Uma das lições básicas da disciplina de custo é que a análise da decisão é feita sob a ótica incremental (ou marginal). Assim, na decisão de continuar ou parar uma obra, a análise deveria ser feita verificando os custos de cada uma das situações. Aqueles valores que não se alteram, não deve ser levado em consideração. Básico. 

Mas em alguns casos percebemos como esta lição não foi apreendida (ou esquecem de forma proposital). Em uma reportagem sobre a usina Angra 3, o Estado de S Paulo toma a opinião de várias pessoas, incluindo o presidente da Eletronuclear. Eis o trecho que provoca calafrios:

A decisão de prosseguir com a obra justifica-se, em boa medida, pelo alto custo que teria a decisão de desistir de Angra 3. Guimarães [presidente da Eletronuclear] confirma que para abandonar o projeto a Eletronuclear teria de arcar com uma fatura da ordem de R$ 12 bilhões, somando financiamentos já sacados e contratos firmados com dezenas de fornecedores.

Ora, o financiamento irá existir, independente se a obra irá ou não continuar. Ou seja, é irrelevante para decisão. 

25 março 2014

Tecnologia e Custo Marginal

O texto, Avanço Tecnológico Desafia Capitalismo, de Jeremy Rifkin, publicado ontem no Estado de S Paulo, trata da tecnologia e o papel do custo marginal:

Estamos começando a testemunhar um paradoxo no coração do capitalismo. O dinamismo inerente de mercados competidores está baixando de tal forma os custos que muitos bens e serviços estão se tornando quase gratuitos, abundantes, e não mais sujeitos às forças do mercado. A revolução tecnológica está trazendo esses custos a quase zero.

Os primeiros indícios do paradoxo surgiram em 1999 quando o Napster desenvolveu uma rede permitindo que milhões de pessoas compartilhassem música de graça, causando estragos na indústria musical. Fenômenos parecidos abalaram seriamente as indústrias de publicação de jornais e livros.

A enorme redução dos custos marginais abalou esses setores e agora está começando a remodelar o setor de energia, a indústria de transformação e a educação. Apesar de os custos fixos da tecnologia de energia solar e eólica serem um tanto salgados, o custo de capturar cada unidade de energia depois de instalada é baixo. Este fenômeno penetrou até no setor manufatureiro. Milhares de amadores estão fazendo seus próprios produtos com impressoras de 3-D, software aberto e plástico reciclado como matéria-prima a um custo quase zero.

Por sua vez, mais de 6 milhões de estudantes estão matriculados em cursos online cujo conteúdo é distribuído a um custo marginal quase zero.

Observadores do setor reconhecem a realidade assustadora de uma economia com custo marginal quase zero, mas argumentam que produtos e serviços gratuitos atrairão um número suficiente de consumidores para comprar bens e serviços mais sofisticados, assegurando margens de lucros suficientes. Mas o número de pessoas dispostas a pagar pelos bens e serviços especiais é limitado.

Internet das coisas. Agora, o fenômeno está prestes a afetar a economia como um todo. Uma formidável nova infraestrutura de tecnologia – a internet das coisas – está surgindo com o potencial de empurrar boa parte da vida econômica para um custo marginal quase zero nas próximas duas décadas. Esta nova plataforma tecnológica está começando a conectar tudo e todos. Hoje, mais de 11 bilhões de sensores estão afixado em recursos naturais, linhas de produção, a rede elétrica, redes logísticas e fluxos de reciclagem, e implantados em casas, escritórios, lojas e veículos, alimentando uma enormidade de dados na internet de coisas. Em 2020, segundo projeções, seriam pelos menos 50 bilhões os sensores a ela conectados.

A questão não resolvida é como esta economia do futuro funcionará quando milhões de pessoas puderem fazer e compartilhar bens e serviços quase de graça? A resposta está na sociedade civil, que consiste de organizações sem fins lucrativos que atendem às coisas na vida que fazemos e compartilhamos como comunidade. Em termos monetários, são uma força poderosa. As receitas dessas organizações cresceram sólidos 41% de 2000 a 2010, mais que o dobro do crescimento do Produto Interno Bruto, que cresceu 16,4% no mesmo período. Em 2012, o setor sem fins lucrativos nos Estados Unidos respondeu por 5,5% do PIB.

Inclusão
O que torna a comunidade social mais relevante hoje é que estamos construindo uma infraestrutura de internet das coisas que aprimora colaboração e acesso universal, cruciais para a criação de capital social e marcar o início de uma economia solidária.
Esta abordagem colaborativa em vez de capitalista diz respeito mais ao acesso compartilhado que à propriedade privada. Por exemplo, 1,7 milhão de pessoas em todo o mundo integram serviços de compartilhamento de carros. Uma pesquisa recente revelou que o número de veículos possuídos por participantes desse sistema caiu pela metade após sua adesão o serviço, pois os membros preferiram acesso em vez de propriedade. Milhões de pessoas estão usando sites de mídias sociais, redes de redistribuição, aluguéis e cooperativas para compartilhar não somente carros, mas também casas, roupas, ferramentas, brinquedos e outros itens, a um custo marginal baixo ou quase nulo. A economia solidária teve receitas projetadas de US$ 3,5 bilhões em 2013.

O fenômeno do custo marginal nulo é particularmente impactante no mercado de trabalho, onde fábricas e escritórios sem trabalhadores, varejo virtual e redes automatizadas de logística e transporte estão prevalecendo. Não surpreende que as novas oportunidades de emprego estejam na comunidade cooperativa em campos que tendem a ser não lucrativos e fortalecem a infraestrutura social – educação, saúde, ajuda aos pobres, recuperação ambiental, atendimento infantil e atendimento a idosos, promoção das artes e recreação.

Nos Estados Unidos, o número de organizações sem fins lucrativos cresceu aproximadamente 25% entre 2001 e 2011, de 1,3 milhão para 1,6 milhão, enquanto as empresas com fins lucrativos cresceram apenas 0,5%. Nos EUA , Canadá e Grã-Bretanha, o emprego no setor sem fins lucrativos excede 10% da força de trabalho.

O sistema capitalista deve permanecer entre nós por muito tempo, ainda que com um papel mais delimitado, principalmente como agregador de serviços e soluções de rede e prosperando como um poderoso operador de nicho. Entramos em um mundo parcialmente fora dos mercados, onde estamos aprendendo a viver numa comunidade cada vez mais interdependente, cooperativa e global.