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08 fevereiro 2018

Experimento natural

Um dos métodos mais interessantes em utilização por parte dos economistas é o chamado “experimento natural” (ou “experimento acidental”). Basicamente o pesquisador descobre um evento que permite comparar a situação antes e depois deste fato. Com as informações existentes, procura-se determinar se o evento/fato/acidente provocou algum efeito sobre a economia/sociedade. De certa forma, o experimento se aproxima do estudo de caso, pois geralmente trata-se de uma situação única, onde a generalização é mais difícil. Mas a grande quantidade de dados e a possibilidade de comparar o antes e o depois podem trazer conclusões muito mais sólidas que o estudo de caso. Além disto, possui uma grande vantagem sobre o experimento em laboratório, como o questionário (1), onde o pesquisador simplifica a realidade.

O grande problema do experimento acidental é descobrir este evento/fato/acidente. Nem sempre ele está disponível para o pesquisador usar em um determinado assunto.

Eis um caso muito interessante sobre os efeitos da prostituição sobre a sociedade (via aqui). Em um determinado período, a prostituição deixou de ser ilegal em Rhode Island (vide aqui um verbete da Wikipedia). Com isto, dois pesquisadores compararam as estatísticas existentes antes e depois da medida e descobriram que o mercado de trabalho aumentou (isto é uma conclusão fácil, já que não existe mais a figura do crime), mas reduziram as estatísticas de estupro, assim como a incidência de doença sexualmente transmissível. O percentual de redução deste dois últimos pontos foi bastante expressivo: 30% e mais de 40% .

Com o experimento acidental foi possível determinar um benefício para a descriminalização da prostituição para sociedade, algo que talvez não fosse possível com outro método de pesquisa.

(1) No livro Comportamento Inadequado, Richard Thaler faz uma interessante defesa do questionário como método de estudo na área de ciências sociais.

Presidente do conselho da Samsung é suspeito de evasão fiscal de US$ 7,5 mi

Ex-diretor da Samsung e um dos principais líderes empresariais da Coreia do Sul, Lee Kun-hee está sendo acusado de sonegação fiscal pela polícia do país. Ele é apontado como o responsável por liderar um esquema responsável pela evasão de mais de US$ 7,5 milhões em tributos que deveriam ser pagos ao governo.

Além disso, de acordo com a acusação formal registrada pelas autoridades do país nesta quinta-feira (08), o magnata estaria usando contas bancárias de funcionários e parceiros comerciais para escapar das cobranças. Por meio delas, ele teria movimentado mais de US$ 367 milhões de maneira ilícita, evitando o pagamento de impostos.

Esta é, na verdade, a segunda vez que Lee é acusado de um crime deste tipo. Em 2009, ele chegou a ser condenado por sonegação fiscal por motivo semelhante — ele estaria usando contas que pertencem a funcionários “de confiança” para fazer movimentações financeiras e investimentos, sem atrelar tais atos à sua identidade real. Na época, também, ele foi acusado de utilizar fundos da Samsung na reforma de residências próprias e de seus filhos.

O magnata, entretanto, não chegou a ser preso, tendo a sentença perdoada anos mais tarde devido a problemas graves de saúde. Agora, se inicia uma história semelhante, uma vez que Lee, que tem 76 anos de idade, está internado desde 2014 por complicações geradas por um ataque cardíaco. Atualmente, ele está em condição estável, mas sem previsão de quando pode voltar para casa.
O caso atual, inclusive, decorre da investigação que já acontece há nove anos. Após ter acesso a documentos relacionados às obras feitas nas casas da família Lee, a polícia foi capaz de localizar registros de movimentação irregular em 260 contas bancárias pertencentes ao magnata e também a 72 outros executivos, muitos deles da própria Samsung. O grupo teria deixado de agir desta forma em meados do ano passado.

Sua condição física fez com que a polícia sul-coreana, inclusive, iniciasse o processo à revelia, sem que Lee pudesse ser interrogado. O caso deve ser enviado, agora, aos procuradores gerais do país, de forma que os procedimentos legais possam seguir adiante, no que deve levar a mandados, interrogatórios, apreensões de documentos e até novas prisões.

Cenário complicado
As novas acusações, ainda, se unem a um panorama político complicado na Coreia do Sul. Após a deposição da presidente Park Geun-hye sob acusações de tráfico de influência e recebimento de propina, inclusive da família Lee e outros executivos da própria Samsung, o novo presidente, Moon Jae-in, prometeu dar um basta nos escândalos corporativos e pesar a mão sobre os acusados de crimes como lavagem de dinheiro, suborno e evasão fiscal. A ideia seria reduzir a pressão que tais magnatas possuem sobre o governo.

Nesse caso, entretanto, colocar as mãos em Lee pode ser complicado, justamente devido aos problemas de saúde do ex-diretor da Samsung. Além disso, nesta semana, o filho dele, Lee Jae-yong, também deixou a prisão após quase um ano atrás das grades. Ele está em liberdade condicional e teve sua pena de cinco anos reduzida para dois anos e meio pelo envolvimento no escândalo presidencial, além de crimes como evasão fiscal e tráfico de influência.

Apesar de pertencerem à segunda e terceira geração da família que criou a Samsung, nenhum dos dois está envolvido diretamente com a companhia. Lee Kun-hee atuou como presidente da empresa e fez parte de sua diretoria até 2008, quando saiu do posto devido às acusações de sonegação. Ele retornou em 2010, mas está afastado de suas responsabilidades desde que foi hospitalizado.

Já seu filho, Lee Jae-yong, foi vice-presidente de planejamento estratégico e CCO antes de assumir a vice-diretoria da companhia, estando, também, longe de suas atribuições devido às investigações da polícia e o cumprimento de sua sentença de prisão. Existe a possibilidade de que ele retorne ao trabalho, mesmo sob liberdade condicional, mas nem ele nem a própria Samsung confirmaram essa hipótese.

Fonte: Reuters

Foi mesmo a sonegação de impostos que parou Al Capone?

Em inglês, sem legendas

Rir é o melhor remédio


07 fevereiro 2018

Futebol e Fisco

Mais um jogador caiu nas garras do Fisco. Agora é o jogador chileno Sanchez que acordou com as autoridades espanholas 16 meses de prisão por uma fraude de um milhão de euros entre 2012 e 2013. O jogador não declarou as receitas com imagem enquanto era jogador do Barcelona. Obviamente o jogador não será preso, mas se comprometeu não cometer crime nos próximos dois anos.

Dados de e-mail para justiça não necessita de cooperação internacional

Em um caso na justiça, determinou-se que a Yahoo Brasil fornecesse informações de uma conta de e-mail. A empresa alegou que a informação armazenada em outro país, para ser fornecida para a justiça, necessitaria de um acordo de cooperação internacional. Isto parece muito estranho para a realidade do mundo atual, mas a Yahoo Brasil argumentou que era uma entidade distinta da Yahoo Incorporated, o que impediria a cumprimento da decisão judicial.

Agora o STJ decidiu que este argumento não tem validade. Segundo o entendimento do STJ, "a pessoa jurídica multinacional que opera no Brasil submete-se, necessariamente, às leis nacionais, razão pela qual é desnecessária a cooperação internacional para a obtenção dos dados requisitados."

Crime e desempenho de empresa

Um trabalho de três pesquisadores italianos analisou a consequência de se ter o crime organizado dentro da empresa. De uma maneira geral, seria esperado que a presença de diretores “contaminados” pelo crime organizado pudesse tornar a empresa mais lucrativa em razão das vantagens ilegais obtidas pelas ligações com a máfia. Mas os diretores contaminados podem piorar a rentabilidade, em razão do seu comportamento. Os autores usaram uma amostra de empresas, usando dados confidenciais de investigações realizadas no país europeu. Foram usadas informações de 16.382 empresas no período de 2006 a 2013. Se um diretor tivesse seu nome sendo investigado, o mesmo seria considerado “contaminado”. Cerca de 7% destas empresas tinham pelo menos um diretor contaminado, o que mostra um grande número de entidades com a participação (ou a suspeita de participação) de organizações criminosas. Essas empresas tinham menos caixa e eram menos rentáveis.

Oferecemos duas interpretações dessas principais descobertas.
Uma possibilidade é que as empresas utilizem políticas financeiras para reduzir o risco de expropriação, potencialmente promovido por diretores contaminados.
Outra possibilidade é que as empresas sejam completamente capturadas por esses diretores, que usam as empresas para lavrar dinheiro e gerenciar participações de caixa com o objetivo de minimizar o risco de detecção.
Além disso, nossas descobertas também sugerem que a presença de diretores contaminados piora a rentabilidade da empresa.

Uber e seu consumo

Em Uber’s Credit Card Is Bankrupting Restaurants… and It’s All Your Fault, Nick Abouzeid comenta a ofensiva da empresa Uber no ramo de carão de crédito. Aparentemente parece estranho uma empresa como a Uber concorrer em um mercado com diversos participantes. Além disto, as ofertas do cartão do Uber são “desconcertantes”.

a verdadeira intenção do Uber: combinar os dados de gastos com restaurante e o histórico de localização para ter o primeiro império de restaurantes do mundo com base em dados.

O objetivo, segundo Abouzeid, seria saber que restaurante você usa, quais os pratos que gosta, quanto gasta, entre outras informações. A empresa já sabe como você viaja na sua cidade mais do que a prefeitura. E agora vai saber seus padrões de consumo.

A insistência de Uber em superar a taxa de mercado para esses dados de gastos (pagando mais do que todos os outros cartões) empresta credibilidade ao argumento de que Uber realmente deseja os dados do seu cartão de crédito.

Eles realmente já tentaram adquirir este conjunto de dados exclusivo ... duas vezes . No final de 2016, Uber começou a pedir permissão para rastrear sua localização, mesmo quando você não está usando o aplicativo. No entanto, esta iniciativa polêmica acabou em agosto , talvez em antecipação ao anúncio do cartão de crédito Uber.

Além disso, Uber apenas reintroduziu " Ofertas locais " , uma maneira para os usuários obter passeios gratuitos, ligando seu cartão Visa para sua conta Uber. Este novo programa paga transparentemente os consumidores pelos dados da transação: não é por acaso que isso foi trazido apenas dois meses antes do cartão de crédito da Uber.

A empresa negou as intenções. A empresa tem um serviço, Uber Eats, de entregas e seu histórico de polêmicas é extenso. Mas a estratégia da empresa não é nova e é usada pelas administradores de cartão, varejistas, etc.

Narcisismo de estudantes

Um artigo publicado recentemente na RCO analisa a relação entre narcisismo de estudantes e seu desempenho. Um assunto muito importante:

O objetivo dessa pesquisa foi identificar se traços não patológicos de personalidade narcisista em estudantes de graduação de um curso de Ciências Contábeis estariam relacionados com o desempenho desses alunos. Estudantes que superestimam seu desempenho, uma característica de indivíduos narcisistas, vivem uma expectativa não realista que irão ter melhor desempenho que outros em diferentes atividades. Esse comportamento pode ser prejudicial no longo prazo, além de resultar em um constante esforço para que esta expectativa se torne realidade. Os dados foram coletados de uma amostra de 106 alunos de graduação em contabilidade que responderam um questionário contendo questões sobre traços de personalidade narcisista. Os resultados sugerem que quanto maior a presença desses traços narcisitas maiores as chances do desempenho atribuído pelo próprio estudante ser maior. Ao mesmo tempo, o nascisismo não influencia o desempenho real do aluno, o que sugere que esses traços de personalidade incluenciam apenas as expectativas, mas não o processo de aprendizado.

O Texto, uma co-autoria de Gerlando Lima, Bruna Camargos Avelino e Jacqueline Veneroso Alves da Cunha (Universidade de Illinois e UFMG) traz as implicação práticas:

A personalidade narcisista pode superestimar o desempenho acadêmico percebido, e está presente em diferentes níveis na graduação em contabilidade. Conhecer esses traços daria aos estudantes a capacidade de gerenciar suas próprias expectativas de desempenho acadêmico. Futuramente os mesmos traços podem levar a falsas expectativas profissionais, e por vezes violar limites éticos.

Destaque do Itau

Na semana que divulgou suas demonstrações contábeis, o Itau (e não mais Itaú Unibanco) fez a seguinte propaganda em alguns jornais brasileiros:
A base da notícia não foi o lucro da instituição, que seria a melhor medida de desempenho de uma entidade, mas a distribuição dos resultados, o foco do gráfico central. No gráfico, a entidade revela o destino do resultado, tendo por base a DVA. Isto é interessante por três motivos.

O primeiro é que a rigor uma instituição financeira não agrega valor para a economia. Este tipo de entidade tem uma importante função de canalizar os recursos para o setor produtivo.

O segundo aspecto é que a DVA não está entre as demonstrações contábeis obrigatórias exigidas pelo Iasb. Eis o que disse o auditor do Itau no exercício anterior:

As demonstrações consolidadas do valor adicionado (DVA) referentes ao exercício findo em 31 de dezembro de 2016, elaboradas sob a responsabilidade da administração do Consolidado, e apresentadas como informação suplementar para fins de IFRS, foram submetidas a procedimentos de auditoria executados em conjunto com a auditoria das demonstrações contábeis do Consolidado

O terceiro motivo é um juízo de valor e diz respeito ao fato de que nós, brasileiros, não aceitamos que as entidades tenham lucro. O lucro não é visto como resultado da competência e do esforço do empresário. Como eu disse, é um juízo de valor. Assim, em lugar de destacar o brilhante resultado de 2017, com um lucro de 24 bilhões de reais, o Itau prefere enfatizar o que ele adicionou para economia.

Rir é o melhor remédio

Custo perdido, segundo Dilbert:

Fonte: Aqui

06 fevereiro 2018

Falência da GE?

Recentemente a empresa GE anunciou um prejuízo trimestral e informou que estava sendo investigada pela SEC por problemas contábeis. Mais do que um escândalo contábil, o desempenho nos últimos anos da empresa pode induzir a provável falência da empresa. Isto é surpreendente para uma multinacional que figura entre as maiores empresas dos Estados Unidos há anos, com receitas de 124 bilhões de dólares, ativos de 365 bilhões e um patrimônio líquido de 76 bilhões. São quase 300 mil empregados e atuação em diversos setores.

Este blog fez uma análise da empresa da seguinte forma: se retirar o goodwill do ativo, o PL da empresa ficaria em 40 bilhões, negativo. O gráfico do preço das ações da empresa mostra, a partir de 2008, um crescimento até 2016, quando o preço começa a cair. Mas o preço da ação não garante que a empresa pode falir.

Usando este sítio obtive o Altman Z-Score. Este índice mede a chance de falência da empresa a partir de indicadores calculados por Altman. É uma medida controversa, mas muito usada na prática. O Z-Score da GE é de 1,41, estando na “distress zones”. Ou seja, há um risco efetivo de falência da empresa. Entre as empresas concorrentes, a GE é aquela que possui menor Z-Score, ou seja, com mais chances de falência.

Processo pela Auditoria da Steinhoff

Em dezembro postamos aqui sobre a empresa Steinhoff e seus problemas financeiros e contábeis. O caso chamou a atenção do regulador do mercado de capitais da África do Sul, sede da empresa. E agora entram em campo os advogados. Segundo notícia do Accountancy Age, a empresa de advocacia da holanda Barents Krans começou um processo contra a empresa. Mas como tem sido comum nos últimos tempos (e a exemplo do que ocorreu com a Petrobras), o caso também sobra para o auditor, no caso da Deloitte.

Segundo os advogados, a auditoria não informou as irregularidades contábeis que impediram a empresa de varejo de publicar suas demonstrações contábeis de 2016 e 2017. Além disto, o The Independent Regulatory Board for Auditors também está investigando o trabalho da Deloitte.

Apesar do processo ter começado na Holando, os acionistas de qualquer lugar do mundo podem participar. O advogado da BarentsKrans cita, como argumento, a queda nos preços das ações da empresa, de mais de 80% desde dezembro (gráfico acima). Isto demostraria que os problemas da empresa não eram de conhecimento do mercado. Além do processo, a Deloitte sofre com a desconfiança da própria Steinhoff, que contratou a PwC para revisar sua contabilidade.

Interesse de quem?

Como parte do acordo feito pela Petrobras nos Estados Unidos para encerrar a ação coletiva os acionistas, a empresa de auditoria PwC irá pagar 50 milhões de dólares. A PwC é o auditor da empresa. Os acionistas compraram ações da empresa entre 2010 e 2015.

Uma das frases, registrada neste site, é a seguinte:

"O acordo garante a prestação de contas para aqueles cujo dever é proteger os interesses dos acionistas, e não dos seus clientes corporativos" Jeremy Lieberman)

Marketing multinível

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