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05 janeiro 2020

Retratações

O RetractionWatch é um site especializado em monitorar as retratações na pesquisa científica. É um trabalho notável e já usamos algumas das notícias do site aqui no blog (aqui, aqui e aqui). Ao fazer um levantamento de 2019, o site computou mais de mil retratações. Na verdade, mais de 1.433 (até meados de dezembro).

O site também fez uma lista de dez casos interessantes, que foi publicado na The Scientist. Entre eles selecionamos os seguintes:

a) A retratação de Eric Potts-Kant tem um valor específico: 112 milhões de dólares. O pesquisador, quando vinculado a Duke University, usou dados falsos nas suas pesquisas. E estas pesquisas foram usadas para pedir ajuda pública para a escola. O governo não gostou e cobrou da universidade.

b) O periódico Journal of Fundamental and Applied Sciences teve 434 retratações. Em maio, a Clarivante tirou o periódico do Web of Science.

c) O coreano Cho Kuk publicou em 2009 um artigo no Korean Journal of Pathology em co-autoria com sua filha, que era primeira autora.O detalhe que sua filha estava no ensino médio. Tempos depois, a filha de Cho Kuk estudou na Pusan National University, onde foi reprovada por duas vezes nos exames e recebeu 10 mil dólares de auxílio financeiro.  

d) Em 2017 dois indianos publicaram um artigo no CrystalEngComm. O artigo tinha uma grande semelhança com um manuscrito submetido em outro periódico, Dalton Transactions, onde um dos autores tinha sido parecerista.

Número de autores

A quantidade de papers por número de autores revela um grande número de artigos com mais de mil autores. Parece exagero. Além disto, entre 2009 a 2013 versus 2014 a 2018, este número cresceu para mais de mil artigos. (Via aqui)

Rir é o melhor remédio

Reunião de família

04 janeiro 2020

Luca Pacioli: Father of Accounting

Um vídeo sobre Luca Pacioli. É um pouco antigo (veja os computadores que aparece), mas é bem interessante para quem gosta de história. Infelizmente, sem legendas em português.

Como Custos ajuda a explicar o setor de Streaming

Uma entrevista de Jimmy Iovine tem alguns detalhes interessantes. Iovine é executivo que ajudou a criar a empresa Beats e a Apple Music. Quando questionado sobre o maior problema do streaming de música (como Spotify, Apple Music, Amazon Music, entre outros) e afirmou que era a margem, que não aumenta. Fazendo uma comparação ele disse que na Netflix, ao contrário, “quanto mais assinantes você tiver, menor o custo”. Obviamente ele se refere ao custo unitário. E continua afirmando que “na transmissão de música, os custos seguem você”.

Isto é interessante pois lida com os conceitos básicos de custos: custo variável e custo fixo. O que Iovine disse é que no streaming de música, os custos são essencialmente variáveis. Ou seja, o que interessa é a margem de contribuição, que deve ser necessariamente positiva. Já na televisão, como é o caso da Netflix, as produções próprias fazem com que a existência dos custos associados ao produto exclusivo de cada canal possam ser absorvidos pelo preço. Assim, o aumento no número de assinantes permite a existência de uma economia de escala, que não existe na música.

No setor de música, Iovine destaca que os serviços são iguais. Assim, as músicas existentes na Amazon ou na Spotify são semelhantes. O mesmo parece não ocorrer na televisão: se gosto dos desenhos da Disney, tenho que assinar o streaming da Disney; se quero ver La Casa del Papel, devo assinar a Netflix. Em setores customizados, a guerra de preços pode ser fatal, já que não existe diferenciação no produto.

Ver a declaração dele aqui

Professor demitido por telegrama

Um professor, cujo nome revelaremos no final deste texto, venceu, no Tribunal Superior do Trabalho, um processo contra seu ex-empregador, a Fundação São Paulo-PUC (SP). Irá receber uma indenização de 50 mil reais. Eis a notícia, conforme divulgada no site do TST:

A Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho manteve a condenação da Fundação São Paulo-PUC (SP) ao pagamento de indenização de R$ 50 mil a um professor que teve sua dispensa comunicada por telegrama. Por maioria, o colegiado entendeu que a forma de dispensa do empregado, “com excelente reputação na empresa e sem qualquer falta ou advertência”, não foi apenas deselegante, mas despótica.

Natal

Na reclamação trabalhista, o professor disse que foi comunicado da dispensa sete dias antes do Natal de 2014. No telegrama, considerado “frio e trágico” pelo empregado, a fundação informava que havia decidido rescindir o contrato a partir de 17/12 e agradecia a colaboração do professor “no período de sua dedicação junto ao seu departamento”. Para ele, foi doloroso tratar de questões rescisórias e realizar exame demissional justamente durante o período de festas natalinas.

Padrão

Em contestação, a fundação afirmou que não houve qualquer irregularidade no fato de a dispensa ter ocorrido às vésperas do Natal e justificou a data com o fim do período letivo e com o agravamento da indisponibilidade de recursos orçamentários. Ainda de acordo com a fundação, a comunicação por telegrama é procedimento padrão, previsto em convenção coletiva de trabalho.

Consideração

O juízo da 60ª Vara do Trabalho de São Paulo (SP) julgou improcedente o pedido de indenização, mas o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região reformou a sentença para condenar a Fundação ao pagamento de R$ 50 mil ao empregado. Para o TRT, não foi apenas a dispensa, mas a atitude abusiva no ato que caracterizou lesão à honra e à imagem do professor.

Função social

Para o relator do caso no TST, ministro Cláudio Brandão, ao rejeitar o exame do recurso contra a condenação, a fundação “não deu ao seu direito potestativo a finalidade social que deveria ser respeitada, cometendo verdadeiro abuso de direito”. O ministro lembrou que o exercício da atividade econômica se condiciona à observância de princípios constitucionais, como a valorização do trabalho humano, a existência digna e de acordo com a justiça social e a função social da propriedade.

Na avaliação do relator, o empregador, ao despedir o empregado por meio de um simples telegrama, após uma vida dedicada à empresa, praticou ato lesivo à sua dignidade. Segundo ele, o ato da fundação configurou tratamento que não pode ser considerado meramente deselegante, mas sim despótico, “porque extrapolou os limites de tolerância de qualquer ser humano”.


O texto não revela o nome do professor, mas um link para o processo mostra que se trata de Rubens Fama, um nome bastante conhecido na área de finanças e contabilidade, com atuação em mercado de capitais, ativos intangíveis, estrutura de capital, governança corporativa e desempenho empresarial. (Atenção, não confundir com Eugenne Fama, da Universidade de Chicago)

Rir é o melhor remédio


03 janeiro 2020

A fuga de Ghosn

O ex-CEO da Nissan, Carlos Ghosn, fugiu do Japão na noite de domingo, após secretamente embarcar em dois aviões particulares para retornar à sua casa no Líbano.

Segundo Robert Allen, um professor da Tulane e especialista em segurança, estima-se que a fuga de Ghosn esteja na faixa de alguns milhões de dólares.

As descrições das pessoas que Ghosn contratou para coordenar a operação de fuga variaram. A Reuters se referiu a eles como uma "empresa de segurança privada", enquanto o Financial Times usou o termo "agentes de segurança privada". Quem planejou a fuga de Ghosn provavelmente era habilidoso, disse Allen, mas provavelmente não foi o trabalho de uma empresa de segurança respeitável, que não iria querer arriscar o dano de ser pego à reputação.

Para realizar esse tipo de operação de alto risco, você precisa planejá-lo de forma a minimizar suas chances de ser detectado. Isso significa viajar à noite e usar um aeroporto privado, o que permitiria ao passageiro embarcar em suas aeronaves mais rapidamente do que em um aeroporto público e evitar verificações de segurança extensas, disse Allen.

Adaptado de: aqui e aqui.

Ghosn na lista da Interpol

O Líbano recebeu um pedido de prisão da Interpol contra o ex-presidente da aliança Renault-Nissan Carlos Ghosn, o magnata do setor automotivo que fugiu do Japão para Beirute, anunciou o ministro da Justiça libanês nesta quinta-feira (2). [...]

Alvo de quatro acusações de crimes financeiros e em prisão domiciliar sob fiança desde abril de 2019, Ghosn vivia com certa liberdade de movimento no Japão, mas sob condições estritas.

O empresário teria conseguido escapar do país em um jatinho privado com a ajuda de uma empresa privada de segurança, segundo a Reuters, na última segunda (30). Ele mesmo divulgou um comunicado, afirmando que estava no Líbano, e que não fugiu da Justiça: "Escapei da injustiça".

Nascido no Brasil, ele também tem cidadania libanesa e francesa. [...]

Prisão de Ghosn
Carlos Ghosn foi preso no Japão no dia 19 de novembro de 2018 e, desde então, deixou a presidência do conselho das três montadoras que comandava: da Nissan, da Mitsubishi e da Renault.

Ele foi solto sob pagamento de fiança em março de 2019, após mais de 100 dias detido, mas acabou preso novamente em abril, por novas acusações das autoridades. No mesmo mês, foi solto após pagamento de fiança de US$ 4,5 milhões, valor equivalente a R$ 17,8 milhões. E agora aguardava o julgamento, previsto para 2020.

As circunstâncias da fuga ainda não estão claras. Ele teria usado um jato particular que decolou do aeroporto de Kansai, no oeste do Japão. Segundo a imprensa japonesa, uma aeronave deste modelo teria deixado o país no dia 29 de dezembro, às 23h, em direção a Istambul. A aterrissagem teria acontecido no aeroporto de Atatürk, fechado para voos comerciais.

Na mídia libanesa levantou-se a hipótese que Ghosn teria escapado escondido em uma caixa de instrumento depois de um concerto privado na sua residência. "É ficção pura", disse a mulher Carole, em conversa com a Reuters.

Pessoas próximas a Ghosn disseram ele foi recebido pelo presidente do Líbano, Michel Aoun.
Já em Beirute, Ghosn divulgou um comunicado em que afirmou que não será "mais ser refém de um sistema judicial japonês fraudulento em que se presume culpa, onde direitos humanos básicos são negados. Não fugi da justiça. Escapei da injustiça e da perseguição política. Agora posso finalmente me comunicar livremente com a mídia e estou ansioso para começar na próxima semana".

Nesta quinta-feira (2), a secretária de Estado francês para a Economia, Agnès Pannier-Runacher, declarou que o empresário não será extraditado se vier para a França. “A França nunca extradita seus cidadãos, então aplicaremos a Ghosn as mesmas regras que aplicamos para todos. Não é por isso que achamos que ele não deva ser julgado pela Justiça japonesa”, declarou, em entrevista ao canal BFMTV.

Fonte: aqui. Mais sobre Ghosn: aqui.

SEC e Não GAAP

Interessante a visão da SEC e do Iasb sobre as medidas não GAAP. Ambos entendem que o crescimento destas medidas é fruto de uma certa "incompetência" da contabilidade em dar informação de qualidade para as empresas que possuem alguns itens incomuns. Ambos estão preocupados com o assunto. 

O Iasb está focado em trabalhar melhor as demonstrações contábeis, em particular a DRE. Parece-me que a SEC tem uma postura um pouco mais rígida sobre o assunto: em uma palestra no mês passado, um contador da SEC criticou a WeWork por usar margem de contribuição como uma medida de desempenho melhor para a empresa, em lugar do resultado - no caso, prejuízo. 

Entretanto, tenho dúvidas se o objetivo das medidas não GAAP são legítimos, conforme afirmado aqui. O argumento é que as empresas com itens incomuns, como aquisições ou grandes amortizações que distorcem seus resultados, não possuem um boa medida de desempenho. Entretanto, isto não responde ao fato de que mesmo empresas que não se enquadram neste quesito usam medidas não GAAP.

Fazer previsão sobre o futuro

Uma das frases mais conhecidas sobre previsão é: "é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro". Mas a autoria da frase já foi atribuída ao físico Niels Bohr, ao produtor de cinema Samuel Goldwyn, ao lendário atleta Yogi Berra, ao escritor Mark Twain, ao profeta Nostradamus.

O Quote Investigator tentou traçar uma origem da frase. Tudo leva a crer que a frase é de origem dinamarquesa, do político, e defensor da Eugenia, Karl Kristian Steincke de 1948.

Custo x Qualidade de mensurar

Nem sempre gastar mais na tentativa de mensurar pode ser uma opção interessante. Veja o seguinte exemplo:

durante a Segunda Guerra Mundial, quando os Aliados quiseram etimar o número de tanques que estavam sendo produzidos na Alemanha. Estimativas puramente matemáticas com base nos números de série de tanques capturados previam que os alemães estavam produzindo 246 tanques por mês, enquanto as estimativos obtidas por meios de amplos (e sumamente arriscados) reconhecimentos aéreos sugeriam que o número estaria mais na ordem dos 1400. Depois da guerra, os registros alemães revelaram o número verdadeiro: 245.

Brian Christian e Tom Griffiths. Algoritmos para viver. p 219. Na nota de fim de livro tem-se o seguinte comentário:

Isto veio a ser conhecido como "O Problema do Tanque Alemão", e foi documentado em várias fontes. Ver, por exemplo, Gavyn Davies, "How a Statistical Formula Won the War", The Guardian, 19 jul. 2006 (...)

O princípio talvez não seja aplicável na contabilidade. Mas veja que chama a atenção para um aspecto importante: o custo da informação não significa qualidade.

Rir é o melhor remédio


02 janeiro 2020

Política Fiscal com Dívida Alta e Juros baixos

Resumo:

U.S. policymakers face a combination of high and rising federal debt and low current and projected interest rates on that debt. Rising future debt will reduce growth and impede efforts to enact new policy initiatives. Low interest rates reduce, but do not eliminate, these concerns. The federal fiscal outlook is unsustainable even with projected interest rates that remain below the growth rate for the next 30 years. Short-term policy responses should focus on investments that are preferably tax-financed rather than debt-financed. Most importantly, policymakers should enact a debt reduction plan that is gradually implemented over the medium- and longterm. This would avoid reducing aggregate demand significantly in the short-term and, if done well, could actually stimulate current consumption and production. It would stimulate growth in the long-term, provide fiscal insurance against higher interest rates or other adverse outcomes, give businesses and individuals clarity about future policy and time to adjust, and provide policymakers with assurance that they could consider new initiatives within a framework of sustainable fiscal policy.

Fonte: Fiscal policy with high debt and low interest ratesWilliam Gale

14 razões para continuar blogando

Ano novo e fazemos nossas promessas. Há dias postei dez razões para continuar blogando. Escrevi, no final, que poderia contar com ajuda dos leitores, acrescentando "11. Posso contar com a ajuda dos leitores". Recebi um comentário animador de Victor e outros dois de anonimos. E três outras sugestões de Polyana


1. tenho algo interessante para dizer para as pessoas
2. é uma forma de reter um conhecimento importante
3. as pessoas reconhecem o esforço
4. conhecemos pessoas
5. força a reflexão sobre diversos temas
6. aprendemos muito com aquilo que postamos
7. tenho liberdade para escolher temas das postagens
8. serve como material para escritos futuros
9. ajuda na exposição de ideias
10. é uma forma de ensinar
11. Posso contar com a ajudar dos leitores
12. É uma forma de estimular o pensamento de que a Contabilidade é muito mais que débito e crédito.
13.  Incentivar e inspirar outros blogueiros.
14. É muito legal! (como fui esquecer este?)

Preços

Desde o início do Plano Real, os preços no Brasil tiveram um aumento de 513%. Isto significa uma média de 7,5% ao ano. O interessante é a diferença no comportamento dos preços "livres" e daqueles "monitorados". Neste último grupo tem-se todos os produtos e serviços que são, de certa forma, tabelados: água, luz, IPTU, transporte público, planos de saúde, pedágios e outros. Ou seja, são produtos/serviços que o governo deveria ter o interesse social em controlar os preços.
A diferença aumenta com a estabilização efetiva, após 1997. E aumenta a partir de 2003, com o início do governo Lula.

Década dos Memes

O Estado de S Paulo fez um apanhado de 50 memes da década. Começa com o gemidão do zap, passa pela Nazaré confusa, "para nossa alegria", Nissim Ourfali e por aí vai. Confesso que alguns eu não lembrava, mas a maioria sim.

O BuzzFed também fez um apanhado da década. Na classificação 40 tem o "Come to Brazil". Em 35, a Nazaré confusa.

Aqui no blog temos aproveitado bastante dos memes. Eis um exemplo:


Rir é o melhor remédio

Tudo que você estudou caiu na prova

Que em 2020 você tenha muitos momentos como este.

01 janeiro 2020

Taxação Ótima com vieses comportamentais

Resumo:

This paper develops a theory of optimal taxation with behavioral agents. We use a general behavioral framework that encompasses a wide range of behavioral biases such as misperceptions, internalities and mental accounting. We revisit the three pillars of optimal taxation: Ramsey (linear commodity taxation to raise revenues and redistribute), Pigou (linear commodity taxation to correct externalities) and Mirrlees (nonlinear income taxation). We show how the canonical optimal tax formulas are modified and lead to a rich set of novel economic insights. We also show how to incorporate nudges in the optimal taxation frameworks, and jointly characterize optimal taxes and nudges. We explore the Diamond-Mirrlees productive efficiency result and the Atkinson-Stiglitz uniform commodity taxation proposition, and find that they are more likely to fail with behavioral agents. (JEL: D03, H21).


Farhi, Emmanuel, and Xavier Gabaix. 2020. "Optimal Taxation with Behavioral Agents." American Economic Review, 110 (1): 298-336.DOI: 10.1257/aer.20151079

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Queda de Isabel dos Santos

Isabel dos Santos nasceu em 1973 e é a mulher mais rica da África. Como ela conseguiu a fortuna? Sendo filha de José Eduardo dos Santos, que ficou no poder em Angola entre 1979 a 2017, Isabel teve bastante ajuda desta condição. Há controvérsia sobre o tamanho de sua fortuna, mas em 2013 foi estimada pela Forbes em 2 bilhões de dólares.

Com o término do governo de Santos, o poder de Isabel também sofreu. Desde 2018, o governo tem tentado executar Isabel por corrupção. No passado ela foi presidente da Petrobras de Angola, a Sonangol.

Agora, a justiça de Angola arrestou suas contas bancárias e participações em empresas angolanas. O Tribunal afirmou que está provado que Isabel foi favorecida nos seus negócios. Mas ela diz desconhecer o teor das acusações.