Terminou ontem o torneio de candidatos que apontou o desafiante ao título de campeão mundial de xadrez. Com três russos (Grischuck, o ex-desafiante Karjakin e o ex-campeão mundial Kramnik), o azerbaijão Mamedyarov, o armênio Aronian, dois “estadunidenses” (So, de origem filipina, e Caruana, nascido nos EUA e com origem italiana) e o chinês Ding, a disputa foi emociante até a última rodada.
Num sistema de todos jogando contra todos, tanto de pretas quanto de brancas, foram 14 rodadas, com 4 jogos cada, com partidas de longa duração ou xadrez “pensado”. Nas primeiras rodadas, o ex-campeão Kramnik tomou a ponta, com boas vitórias. Isto tornava a disputa interessante, já que tinha ocorrido uma troca nada amigável de twiters entre Giri - o “segundo” (ou o conselheiro) de Kramnik - e Carlsen, a atual campeão e provavelmente o maior jogador de todos os tempos. Mas logo depois, uma sequência de derrotas, fez com que o torneio fosse dominado pelo azerbaijão Mamedyarov e o americano Caruana.
Na 12a. rodada, os líderes perderam e na penúltima existiam cinco potenciais vencedores: Grischuck, Karjakin, que liderava, Mamedyarov, Caruana e Ding. Na penúltima, Grischuck sai do páreo, Karjakin perde a liderança, que passa a ser ocupada por Caruana.
O italo-americano Caruana, que lembra Harry Potter, começa a última rodada com 50% de chance de ganhar o torneio. Enquanto as outras partidas prevalece o empate, Caruana vence seu confronto, terminando o torneio em primeiro lugar, com cinco vitórias, oito empates e uma derrota. Pela primeira vez, desde Fisher, os Estados Unidos podem emplacar um campeão mundial. Entretanto, Carlsen, o atual campeão, chega como favorito.
Caruana nasceu em 1992 e obteve o título de grande mestre em 2007. Em 2014 chegou a obter um ranking muito bom de 2844, mas antes do torneio sua pontuação era de 2784, a oitava posição entre os jogadores em atividade. Com o torneio, deve ir para 2804 de rating, o terceiro do mundo. Já Carlsen há muito é o melhor do mundo, seja no xadrez clássico, no rápido e na blitz. Entre eles, foram 10 vitórias de Caruana (22%), 19 empates e 17 vitórias de Carlsen (ou 37%). Baseado no rating, em uma partida Caruana tem 15,5 % de chance de vencer, 26,3% de perder e 58,2% de empate.
A disputa irá ocorrer no final do ano, em Berlim. Mas é preciso ter cuidado em apontar favoritos. No último desafio, Carlsen era muito favorito em relação ao russo Karjakin e teve dificuldades em continuar com o título. Nestes momentos, os “frios e calculistas” jogadores de xadrez mostram sua face humana. A exemplo de Aronian, um dos favoritos do torneio de candidatos, mas que após as primeiras derrotas fez um torneio horroroso para os seus padrões. Típico de um ser humano, que sente as consequências da derrota. Por isto, os torneios de xadrez são tão fascinantes.
28 março 2018
27 março 2018
Pós-graduação e saúde mental
Nos últimos anos foram publicadas diversas pesquisas que alertam sobre o estado de saúde mental dos alunos de doutorado. Um exemplo recente é o trabalho que acaba de sair na Nature Biotechnology, apontando que os doutorandos são seis vezes mais propensos a desenvolverem ansiedade e depressão em comparação com a população geral. Segundo esse trabalho, dirigido pelo pesquisador Nathan Vanderford, da Universidade de Kentucky (EUA), isto significa que 39% dos candidatos a doutor sofrem de depressão moderada ou severa, frente a 6% da população geral.
Poderíamos pensar que esses resultados se devem a cortes nas condições de trabalho, ou que sejam algo intrínseco a empregos altamente competitivos, sejam ou não doutorados; entretanto, outro estudo, este realizado pela Universidade de Gent (Flandres, Bélgica), conclui que os doutorandos, em comparação com outros grupos profissionais com alta formação, sofrem com maior frequência sintomas de deterioração na sua saúde mental. “Esta é uma publicação muito importante, porque progressivamente estamos compreendendo que existem problemas de saúde mental entre os doutorandos, e estudos como este nos ajudam a entender melhor suas causas”, afirma Vanderford.
Para aprofundar esse tema, Katia Levecque, pesquisadora da Universidade de Gent e primeira autora do estudo belga, reuniu uma amostra de 3.659 doutorandos de universidades flamengas, que seguem um programa muito similar ao do resto da Europa e Estados Unidos, e quantificou a frequência com que os alunos afirmaram ter experimentado nas últimas semanas algum entre 12 sinais associados ao estresse e, potencialmente, a problemas psiquiátricos (especialmente a depressão). Entre essas características estão sentir-se infeliz ou deprimido, sob pressão constante, perda de autoconfiança ou insônia devido às preocupações.
Os resultados foram que 41% dos doutorandos se sentiam sob pressão constante, 30% deprimidos ou infelizes, e 16% se sentiam inúteis. Além disso, metade deles relatavam conviver com pelo menos 2 dos 12 sinais avaliados no teste.
[...]
O estudo também examina se entre os doutorandos existem condições que aumentem as possibilidades de ter ou desenvolver um problema psiquiátrico. Levecque conclui, por exemplo, que o desenvolvimento desses sintomas é independente da disciplina do doutorado, sejam ciências, ciências sociais, humanidades, ciências aplicadas ou ciências biomédicas. Não ocorre o mesmo quanto ao gênero, já que as mulheres que fazem doutorado têm 27% mais possibilidades de sofrerem problemas psiquiátricos que os homens.
Outro fator que pode influir na saúde do estudante, nesse caso tanto negativa quanto positivamente, é o tipo de orientador: a saúde mental dos doutorandos era melhor do que o normal quando tinham um mentor cuja liderança lhes inspirava. Pelo contrário, outros estilos de liderança eram neutras, ou no caso dos orientadores que se abstinham de dirigir ou guiar o doutorando — um tipo de liderança laissez-faire — seus orientandos tinham 8% mais chances de desenvolverem sofrimento psicológico. “Mas, além do estilo de liderança, há outros fatores importantes, como o nível de pressão no ambiente profissional, o próprio controle sobre o ritmo de trabalho ou quando fazer pausas, que também estão relacionadas com o orientador. Por isso o orientador é relevante tanto direta como indiretamente para a saúde mental dos doutorandos”, detalha a pesquisadora.
Leia a reportagem completa: aqui.
Enviado pelo professor Cláudio Moreira, a quem agradecemos.
Poderíamos pensar que esses resultados se devem a cortes nas condições de trabalho, ou que sejam algo intrínseco a empregos altamente competitivos, sejam ou não doutorados; entretanto, outro estudo, este realizado pela Universidade de Gent (Flandres, Bélgica), conclui que os doutorandos, em comparação com outros grupos profissionais com alta formação, sofrem com maior frequência sintomas de deterioração na sua saúde mental. “Esta é uma publicação muito importante, porque progressivamente estamos compreendendo que existem problemas de saúde mental entre os doutorandos, e estudos como este nos ajudam a entender melhor suas causas”, afirma Vanderford.
Para aprofundar esse tema, Katia Levecque, pesquisadora da Universidade de Gent e primeira autora do estudo belga, reuniu uma amostra de 3.659 doutorandos de universidades flamengas, que seguem um programa muito similar ao do resto da Europa e Estados Unidos, e quantificou a frequência com que os alunos afirmaram ter experimentado nas últimas semanas algum entre 12 sinais associados ao estresse e, potencialmente, a problemas psiquiátricos (especialmente a depressão). Entre essas características estão sentir-se infeliz ou deprimido, sob pressão constante, perda de autoconfiança ou insônia devido às preocupações.
Os resultados foram que 41% dos doutorandos se sentiam sob pressão constante, 30% deprimidos ou infelizes, e 16% se sentiam inúteis. Além disso, metade deles relatavam conviver com pelo menos 2 dos 12 sinais avaliados no teste.
[...]
O estudo também examina se entre os doutorandos existem condições que aumentem as possibilidades de ter ou desenvolver um problema psiquiátrico. Levecque conclui, por exemplo, que o desenvolvimento desses sintomas é independente da disciplina do doutorado, sejam ciências, ciências sociais, humanidades, ciências aplicadas ou ciências biomédicas. Não ocorre o mesmo quanto ao gênero, já que as mulheres que fazem doutorado têm 27% mais possibilidades de sofrerem problemas psiquiátricos que os homens.
Outro fator que pode influir na saúde do estudante, nesse caso tanto negativa quanto positivamente, é o tipo de orientador: a saúde mental dos doutorandos era melhor do que o normal quando tinham um mentor cuja liderança lhes inspirava. Pelo contrário, outros estilos de liderança eram neutras, ou no caso dos orientadores que se abstinham de dirigir ou guiar o doutorando — um tipo de liderança laissez-faire — seus orientandos tinham 8% mais chances de desenvolverem sofrimento psicológico. “Mas, além do estilo de liderança, há outros fatores importantes, como o nível de pressão no ambiente profissional, o próprio controle sobre o ritmo de trabalho ou quando fazer pausas, que também estão relacionadas com o orientador. Por isso o orientador é relevante tanto direta como indiretamente para a saúde mental dos doutorandos”, detalha a pesquisadora.
Leia a reportagem completa: aqui.
Enviado pelo professor Cláudio Moreira, a quem agradecemos.
Viés de sobrevivência e o empreendedorismo
É muito comum textos enaltecendo o empreendedorismo de alguns, indicando que qualquer um pode ser um sucesso como empresário. Este é o exemplo do texto de 22 de março do Valor Econômico, com o título de “sucesso de startups anima acadêmicos a empreenderem” (Jacílio Saraiva, p. B2). O título já resume a tônica do texto: qualquer um pode ser empreendedor de sucesso.
Um problema deste tipo de texto é não considerar o viés de sobrevivência. Provavelmente o jornalista entrevistou algum empresário que ainda não fechou as portas. Isto dá um ideia errada de que o mundo dos negócios é feito de sucesso, quando na realidade o fracasso é a regra mais comum.
Outro ponto crucial é imaginar que todo mundo deve ser um empreendedor. Como destaca este um texto do El País: Nos estamos maleducando al pensar que todo el mundo tiene que ser emprendedor” . Nem todos as ideias novas são geniais e não basta ter uma ideia genial para ser um empreendedor de sucesso.
Os Políticos não são Burros
Alguns modelos econômicos sugerem que as pessoas que decidem pela política geralmente são menos competentes e, por este motivo, fazem esta escolha. Assim, em lugar de usar seus neurônios para uma atividade acadêmica ou criar uma empresa e ser um empresário de sucesso, o político resolve fazer uma atividade desprezada pelos mais aptos da sociedade. Também há uma idéia de que os políticos não traduzem uma representação da sociedade.
Usando uma grande quantidade de informações, cinco pesquisadores concluíram que “os políticos não são burros”. Além disto, a democracia representaria uma “meritocracia inclusiva”, já que os políticos realmente representam a população. Talvez a conclusão mais surpreendente seja que em média os políticos são mais inteligentes e melhores que a população que eles representam. Em uma família, em um processo de triagem, o filho ou a filha mais inteligente terá mais possibilidade de ser político (a).
Isto realmente é surpreendente, já que geralmente acreditamos que os políticos são incompetentes e pouco representativos. Segundo a análise realizada por Dal Bó, Finan, Folke, Persson e Rickne, pesquisadores da Universidade da Califórnia, de Estocolmo e de Uppsala, na pesquisa intitulada “Who becomes a Politician”, o processo de triagem dos partidos, a competência individual e uma representação social são características do sistema democrático:
Uma implicação ampla desses fatos é que é possível para a democracia gerar liderança competente e socialmente representativa.
Apesar da pesquisa ter sido realizada na Suécia, com os dados locais, baseado na experiência brasileira e sendo imparcial, podemos realmente dizer que os políticos não são burros.
Fonte: Dal Bó, E., Finan, F., Folke, O., Persson, T., & Rickne, J. (2017). Who Becomes a Politician?. The Quarterly Journal of Economics, 132(4), 1877-1914. (Foto, Cynthia Nixon, atriz, que decidiu ser candidata a governadora)
Leia também aqui
Usando uma grande quantidade de informações, cinco pesquisadores concluíram que “os políticos não são burros”. Além disto, a democracia representaria uma “meritocracia inclusiva”, já que os políticos realmente representam a população. Talvez a conclusão mais surpreendente seja que em média os políticos são mais inteligentes e melhores que a população que eles representam. Em uma família, em um processo de triagem, o filho ou a filha mais inteligente terá mais possibilidade de ser político (a).
Isto realmente é surpreendente, já que geralmente acreditamos que os políticos são incompetentes e pouco representativos. Segundo a análise realizada por Dal Bó, Finan, Folke, Persson e Rickne, pesquisadores da Universidade da Califórnia, de Estocolmo e de Uppsala, na pesquisa intitulada “Who becomes a Politician”, o processo de triagem dos partidos, a competência individual e uma representação social são características do sistema democrático:
Uma implicação ampla desses fatos é que é possível para a democracia gerar liderança competente e socialmente representativa.
Apesar da pesquisa ter sido realizada na Suécia, com os dados locais, baseado na experiência brasileira e sendo imparcial, podemos realmente dizer que os políticos não são burros.
Fonte: Dal Bó, E., Finan, F., Folke, O., Persson, T., & Rickne, J. (2017). Who Becomes a Politician?. The Quarterly Journal of Economics, 132(4), 1877-1914. (Foto, Cynthia Nixon, atriz, que decidiu ser candidata a governadora)
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26 março 2018
Ironia: Facebook pede desculpas nos jornais
Não passou desapercebido. Diante da crise do Facebook, a empresa decidiu usar um canal de comunicação com o público mais "confiável": recorreu à mídia tradicional para pedir desculpas. O Facebook usou anúncios de página inteira em jornais, como New York Times, Wall Street Journal, Washington Post e em 6 jornais britânicos
No texto, Zuckerberg diz:
“nós temos a responsabilidade de proteger suas informações. Se não conseguimos fazer isso, nao merecemos”. “Vc deve ter ouvido falar de um app de quiz desenvolvido por um pesquisador de uma universidade que vazou dados do Facebook de milhões de pessoas em 2014. Isso foi uma quebra de confiança, e peço desculpas por não termos feito mais naquela época. Agora estamos tomando medidas para assegurar que isso não aconteça de novo”.
No texto, Zuckerberg diz:
“nós temos a responsabilidade de proteger suas informações. Se não conseguimos fazer isso, nao merecemos”. “Vc deve ter ouvido falar de um app de quiz desenvolvido por um pesquisador de uma universidade que vazou dados do Facebook de milhões de pessoas em 2014. Isso foi uma quebra de confiança, e peço desculpas por não termos feito mais naquela época. Agora estamos tomando medidas para assegurar que isso não aconteça de novo”.
Por que temos poucos contadores charlatães?
Um texto de Berk e van Binsbergen (2017) tem-se um estudo da relação entre regulamentação e a presença de charlatães. Tradicionalmente as pesquisas mostram que entre a presença de licença (caso do contador) e da certificação (caso de finanças), o primeiro caso nunca é preferível, nem para oferta nem para demanda.
Antes de detalhar este ponto, é necessário entender a diferença entre licença e certificação. Na licença, temos uma exigência para exercer a profissão. Isto ocorre com o médico, o advogado e o contador, por exemplo. Já na certificação, os trabalhadores podem exercer a profissão, mas o certificado é como uma informação (sinalização) para o mercado sobre a sua “competência”. Qualquer pessoa pode ser um diretor financeiro, mas um CPA informa que estudou para isto. A certificação, além de separar os charlatães das pessoas qualificadas, não reduz a concorrência, o que é positivo para os clientes e também para os trabalhadores. Caso o objetivo seja somente aumentar o salário do profissional, o licenciamento é preferível à certificação, já que divulga informações assim como diminui a concorrência.
Berk e van Binsbergen mostram que profissões onde existem grupos fracos, com grande oferta de trabalhadores hábeis e período de treinamento menor, com menos sinais com respeito à habilidade do profissional, são mais propensos aos “charlatães”. Compare, por exemplo, o cardiologista com o massaterapista. O cardiologista precisa de anos de estudos e são poucos os habilitados a tal; já o segundo não precisa de muitos estudos. A presença de “charlatães” será maior no segundo grupo.
Os autores analisam várias profissionais e, usando dados dos Estados Unidos, constatam que os contadores possuem maiores custos de oportunidades (a chance de um deles perder algo por um erro é muito maior que um médico, por exemplo), elevados padrões,
suggesting that the profession is likely to feature fewer charlatans.
Antes de detalhar este ponto, é necessário entender a diferença entre licença e certificação. Na licença, temos uma exigência para exercer a profissão. Isto ocorre com o médico, o advogado e o contador, por exemplo. Já na certificação, os trabalhadores podem exercer a profissão, mas o certificado é como uma informação (sinalização) para o mercado sobre a sua “competência”. Qualquer pessoa pode ser um diretor financeiro, mas um CPA informa que estudou para isto. A certificação, além de separar os charlatães das pessoas qualificadas, não reduz a concorrência, o que é positivo para os clientes e também para os trabalhadores. Caso o objetivo seja somente aumentar o salário do profissional, o licenciamento é preferível à certificação, já que divulga informações assim como diminui a concorrência.
Berk e van Binsbergen mostram que profissões onde existem grupos fracos, com grande oferta de trabalhadores hábeis e período de treinamento menor, com menos sinais com respeito à habilidade do profissional, são mais propensos aos “charlatães”. Compare, por exemplo, o cardiologista com o massaterapista. O cardiologista precisa de anos de estudos e são poucos os habilitados a tal; já o segundo não precisa de muitos estudos. A presença de “charlatães” será maior no segundo grupo.
Os autores analisam várias profissionais e, usando dados dos Estados Unidos, constatam que os contadores possuem maiores custos de oportunidades (a chance de um deles perder algo por um erro é muito maior que um médico, por exemplo), elevados padrões,
suggesting that the profession is likely to feature fewer charlatans.
Escola do Trabalhador
(...) Lançada em novembro de 2017 pelo Ministério do Trabalho, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), a escola tem 126.480 pessoas cadastradas, com um total de 181.372 matrículas, já que um mesmo estudante pode fazer mais de um curso. Dos 21 cursos já disponíveis, o de Inglês Aplicado ao Trabalho é o que tem mais conclusões até agora: serão entregues 3.768 certificados, o equivalente a 11,8% do total de 32.038 matrículas na disciplina.
Para os interessados, aqui a relação de cursos. Deste autor, Análise de Investimentos & Demonstrações Contábeis e Sua Análise. De Fernanda Rodrigues e Mariana Guerra, Elaboração de Folha de Pagamento nas Empresas.
Para os interessados, aqui a relação de cursos. Deste autor, Análise de Investimentos & Demonstrações Contábeis e Sua Análise. De Fernanda Rodrigues e Mariana Guerra, Elaboração de Folha de Pagamento nas Empresas.
Rir é o melhor remédio
Quando alguém pinta em um muro algo que não deveria ser publicado, nada melhor que um bom disfarce. Em Berlim, um símbolo que não deixa saudade foi retirado de maneira discreta dos muros:
25 março 2018
Blockchain e a Gestão Pública
Já comentamos sobre o impacto do Blockchain na contabilidade, positivo e negativo. O trecho do texto a seguir é no primeiro grupo:
(...) qualquer entidade integrante da Administração Pública poderá acessar facilmente todos esses dados, tal como numa pesquisa feita no Google, mesmo não sendo ela a responsável pela guarda ou emissão de tais documentos. Será possível a conexão de informações entre as Administrações, coisa que hoje não ocorre.
Portanto, facilita-se a vida dos licitantes que não terão mais a atual dificuldade de colher toda essa documentação, bem como garante à Administração a veracidade dos dados aos quais terá acesso. Pense em não correr risco de falsificação de documentos, certidões fora de validade, etc.
Quanto à capacidade técnica dos licitantes, por exemplo, de empresas de engenharia, a Administração licitante poderá acessar o acervo técnico registrado na entidade profissional competente, poderá verificar como se deu o andamento do serviço ou obra realizado para outras Administrações, ao invés de exigir atestados.
Provavelmente cheguemos a um nível de especialização dessa tecnologia nas licitações que passe a ser desnecessária a fase de habilitação, podendo-se ir direto à disputa de preços.
(...) qualquer entidade integrante da Administração Pública poderá acessar facilmente todos esses dados, tal como numa pesquisa feita no Google, mesmo não sendo ela a responsável pela guarda ou emissão de tais documentos. Será possível a conexão de informações entre as Administrações, coisa que hoje não ocorre.
Portanto, facilita-se a vida dos licitantes que não terão mais a atual dificuldade de colher toda essa documentação, bem como garante à Administração a veracidade dos dados aos quais terá acesso. Pense em não correr risco de falsificação de documentos, certidões fora de validade, etc.
Quanto à capacidade técnica dos licitantes, por exemplo, de empresas de engenharia, a Administração licitante poderá acessar o acervo técnico registrado na entidade profissional competente, poderá verificar como se deu o andamento do serviço ou obra realizado para outras Administrações, ao invés de exigir atestados.
Provavelmente cheguemos a um nível de especialização dessa tecnologia nas licitações que passe a ser desnecessária a fase de habilitação, podendo-se ir direto à disputa de preços.
Recebendo sem trabalhar
Um jornal de Portugal relata um caso interessante que ocorreu na cidade espanhola de Valência. Dez anos em ir trabalhar, Recio foi demitido em 2017. Durante o período recebeu salário, mas não irá a julgamento:
O funcionário do Arquivo Geral e Fotográfico de Valência que esteve 10 anos sem ir trabalhar, apesar de continuar a receber salário – cerca de 50 mil euros por ano – não cometeu qualquer crime, concluiu o Ministério Público (MP) espanhol, que decidiu arquivar a queixa com o argumento de que Carles Recio alertou os seus superiores para a sua situação e que estes o ignoraram.
A visão do Ministério Público é que Recio informou o que estava ocorrendo para seus superiores, que não fizeram nada.
O funcionário do Arquivo Geral e Fotográfico de Valência que esteve 10 anos sem ir trabalhar, apesar de continuar a receber salário – cerca de 50 mil euros por ano – não cometeu qualquer crime, concluiu o Ministério Público (MP) espanhol, que decidiu arquivar a queixa com o argumento de que Carles Recio alertou os seus superiores para a sua situação e que estes o ignoraram.
A visão do Ministério Público é que Recio informou o que estava ocorrendo para seus superiores, que não fizeram nada.
24 março 2018
Mercado de Trabalho: quem perdeu menos nos últimos 50 meses
Ao longo dos últimos meses o país contratou mais de 440 mil profissionais em contabilidade. O problema é que foram demitidos 481 mil, um resultado negativo de quase 41 mil trabalhadores a menos nas empresas brasileiras. Esta estatística engloba desde o início de 2014. Entretanto, a crise mesmo começou em 2015, prolongando por 2016 e 2017. Em 2016 foram destruídas quase 23 mil vagas e em 2017 quase 11 mil vagas. Ou seja, o ritmo parece da crise parece ter diminuído em 2017.
Apesar da crise não ter sido tão intensa em 2017, foi neste ano que a diferença salarial entre quem foi mandado para rua e quem teve a sorte de ter sido contratado foi maior: 18,6% de corte no salário em 2017, versus 16% do ano anterior. Em um ano, só na área contábil, foram 3 bilhões de reais a menos que deixaram de ser pagos.
Outro fato que podemos obter com os dados do mercado formal de trabalho é que a idade média do trabalhador admitido cresceu, assim como a idade média do demitido. Assim, depois de demitir os mais novos, as empresas estão contratando alguns profissionais com mais experiência, que terminam por aceitar um salário menor. Mas quem é o empregado que foi atingido pela crise? Inicialmente os mais novos e inexperientes; depois, com o passar do tempo, os mais antigos, talvez por falta de opção nas empresas.
Os dados também mostram que 2/3 da redução das vagas atingiram o sexo feminino. Mas isto não significa uma discriminação por gênero no momento da demissão, já que este é o percentual do mercado das mulheres no setor contábil.
Em 2015 a crise atingiu os contadores e auditores, com uma redução de mais de 5 mil vagas, poupando os técnicos (1,3 mil) e escriturários (2,4 mil). No ano seguinte, muitos escriturários perderam o emprego: 15 mil versus 6 mil entre contadores e auditores e 1,6 mil técnicos. Em 2017 foram extintas 5,1 mil vagas de contadores e auditores e 4,4 mil de escriturários, além de 1,4 mil vagas de técnicos. Parece que os técnicos não sofreram tanto com a crise mais isto não é verdadeiro: a sua proporção está diminuindo ao longo das últimas duas décadas, sendo hoje a menor ocupação entre as três.
Mas deixei para o final a grande surpresa: quem foi menos afetado pela crise? Os dados mostram que um estrato dos trabalhadores teve um aumento, pequeno é verdade, entre 2014 a 2018: os trabalhadores com curso superior. A soma entre admitidos e demitidos foi de 141, positivo, graças, principalmente, ao ano de 2014. Em 2017 o resultado foi de -225, reduzido diante o grande número de trabalhadores nesta categoria. E nos dois primeiros meses de 2018 tem-se um valor de 1.881 novas vagas criadas. Parece que o diploma está ajudando nesta crise.
Apesar da crise não ter sido tão intensa em 2017, foi neste ano que a diferença salarial entre quem foi mandado para rua e quem teve a sorte de ter sido contratado foi maior: 18,6% de corte no salário em 2017, versus 16% do ano anterior. Em um ano, só na área contábil, foram 3 bilhões de reais a menos que deixaram de ser pagos.
Outro fato que podemos obter com os dados do mercado formal de trabalho é que a idade média do trabalhador admitido cresceu, assim como a idade média do demitido. Assim, depois de demitir os mais novos, as empresas estão contratando alguns profissionais com mais experiência, que terminam por aceitar um salário menor. Mas quem é o empregado que foi atingido pela crise? Inicialmente os mais novos e inexperientes; depois, com o passar do tempo, os mais antigos, talvez por falta de opção nas empresas.
Os dados também mostram que 2/3 da redução das vagas atingiram o sexo feminino. Mas isto não significa uma discriminação por gênero no momento da demissão, já que este é o percentual do mercado das mulheres no setor contábil.
Em 2015 a crise atingiu os contadores e auditores, com uma redução de mais de 5 mil vagas, poupando os técnicos (1,3 mil) e escriturários (2,4 mil). No ano seguinte, muitos escriturários perderam o emprego: 15 mil versus 6 mil entre contadores e auditores e 1,6 mil técnicos. Em 2017 foram extintas 5,1 mil vagas de contadores e auditores e 4,4 mil de escriturários, além de 1,4 mil vagas de técnicos. Parece que os técnicos não sofreram tanto com a crise mais isto não é verdadeiro: a sua proporção está diminuindo ao longo das últimas duas décadas, sendo hoje a menor ocupação entre as três.
Mas deixei para o final a grande surpresa: quem foi menos afetado pela crise? Os dados mostram que um estrato dos trabalhadores teve um aumento, pequeno é verdade, entre 2014 a 2018: os trabalhadores com curso superior. A soma entre admitidos e demitidos foi de 141, positivo, graças, principalmente, ao ano de 2014. Em 2017 o resultado foi de -225, reduzido diante o grande número de trabalhadores nesta categoria. E nos dois primeiros meses de 2018 tem-se um valor de 1.881 novas vagas criadas. Parece que o diploma está ajudando nesta crise.
Mercado de Trabalho em Fevereiro
O governo divulgou ontem os dados do mercado de trabalho formal. Como tem sido praxe, este blog faz uma compilação do mercado de trabalho contábil para apresentar aos leitores. Os dados divulgados ontem dizem respeito ao mês de fevereiro de 2018. Em poucas palavras, o resultado quase foi um empate entre admitidos e demitidos: 9194 novos contratados versus 9204 demitidos. A análise comparativa revela que foi um bom resultado: desde que começou a crise no emprego no setor contábil, foi o melhor resultado de fevereiro: no ano passado reduziu em 1.109 o número de vagas; em fevereiro de 2016 foram -4.194; e em 2015 o resultado do mês foi de -973.
O resultado só não foi melhor quando comparamos com o desempenho da economia, que em fevereiro contratou mais que demitiu. O gráfico abaixo faz uma comparação entre o desempenho do país e o setor contábil desde 2014. É possível notar que nos últimos meses parece que a economia voltou a contratar, mas não o setor contábil. Duas são as possíveis explicações: ocorreu uma mudança estrutural no setor, com a informatização de certas tarefas, ou existe uma defasagem na recuperação da atividade meio.
Como tem sido usual, o a diferença salarial entre o empregado demitido e o admitido ficou acima de 20%. Isto significa dizer que o novo contratado estaria recebendo 20% a menos que aquele que foi demitido. Já o tempo de emprego do demitido está recuando, depois de apresentar um clara tendência de aumento em 2017.
No mês de fevereiro, o saldo da movimentação foi desfavorável para as mulheres (-153 versus 143 positivo dos homens), mas ao longo da série histórica não tem sido observado um viés na demissão de um ou outro gênero. Em termos de grau de instrução, somente aqueles com curso superior tiveram um valor positivo e este é um ponto que merece destaque.
O resultado só não foi melhor quando comparamos com o desempenho da economia, que em fevereiro contratou mais que demitiu. O gráfico abaixo faz uma comparação entre o desempenho do país e o setor contábil desde 2014. É possível notar que nos últimos meses parece que a economia voltou a contratar, mas não o setor contábil. Duas são as possíveis explicações: ocorreu uma mudança estrutural no setor, com a informatização de certas tarefas, ou existe uma defasagem na recuperação da atividade meio.
Como tem sido usual, o a diferença salarial entre o empregado demitido e o admitido ficou acima de 20%. Isto significa dizer que o novo contratado estaria recebendo 20% a menos que aquele que foi demitido. Já o tempo de emprego do demitido está recuando, depois de apresentar um clara tendência de aumento em 2017.
No mês de fevereiro, o saldo da movimentação foi desfavorável para as mulheres (-153 versus 143 positivo dos homens), mas ao longo da série histórica não tem sido observado um viés na demissão de um ou outro gênero. Em termos de grau de instrução, somente aqueles com curso superior tiveram um valor positivo e este é um ponto que merece destaque.
23 março 2018
Baby Nobel
A Medalha Clark é dada pela American Economic Association a pesquisadores jovens na área de economia. É considerada, com exagero, o "Baby Nobel". A seguir a relação dos ganhadores:
2017: Dave Donaldson
2016: Yuliy Sannikov
2015: Roland Fryer
2014: Matthew Gentzkow
2013: Raj Chetty
2012: Amy Finkelstein
2011: Jonathan Levin
2010: Esther Duflo (foto)
2009: Emmanuel Saez
2007: Susan C. Athey
2005: Daron Acemoglu
2003: Steven Levitt = do Freakonmics
2001: Matthew Rabin
1999: Andrei Shleifer
1997: Kevin M. Murphy
1995: David Card
1993: Lawrence H. Summers
1991: Paul R. Krugman = venceu em 2008
1989: David M. Kreps
1987: Sanford J. Grossman =
1985: Jerry A. Hausman
1983: James J. Heckman = vencem em 2000
1981: A. Michael Spence = venceu em 2001
1979: Joseph E. Stiglitz = venceu em 2001
1977: Martin S. Feldstein
1975: Daniel McFadden = venceu em 2000
1973: Franklin M. Fisher
1971: Dale W. Jorgenson
1969: Marc Leon Nerlove
1967: Gary S. Becker = venceu em 1992
1965: Zvi Griliches
1963: Hendrik S. Houthakker
1961: Robert M. Solow = venceu em 1987
1959: Lawrence R. Klein = venceu em 1980
1957: Kenneth J. Arrow = venceu em 1972. Talvez o maior economista do século XX
1955: James Tobin = venceu em 1981
1953: No Award
1951: Milton Friedman = venceu em 1976
1949: Kenneth E. Boulding
1947: Paul A. Samuelson = venceu em 1970
2017: Dave Donaldson
2016: Yuliy Sannikov
2015: Roland Fryer
2014: Matthew Gentzkow
2013: Raj Chetty
2012: Amy Finkelstein
2011: Jonathan Levin
2010: Esther Duflo (foto)
2009: Emmanuel Saez
2007: Susan C. Athey
2005: Daron Acemoglu
2003: Steven Levitt = do Freakonmics
2001: Matthew Rabin
1999: Andrei Shleifer
1997: Kevin M. Murphy
1995: David Card
1993: Lawrence H. Summers
1991: Paul R. Krugman = venceu em 2008
1989: David M. Kreps
1987: Sanford J. Grossman =
1985: Jerry A. Hausman
1983: James J. Heckman = vencem em 2000
1981: A. Michael Spence = venceu em 2001
1979: Joseph E. Stiglitz = venceu em 2001
1977: Martin S. Feldstein
1975: Daniel McFadden = venceu em 2000
1973: Franklin M. Fisher
1971: Dale W. Jorgenson
1969: Marc Leon Nerlove
1967: Gary S. Becker = venceu em 1992
1965: Zvi Griliches
1963: Hendrik S. Houthakker
1961: Robert M. Solow = venceu em 1987
1959: Lawrence R. Klein = venceu em 1980
1957: Kenneth J. Arrow = venceu em 1972. Talvez o maior economista do século XX
1955: James Tobin = venceu em 1981
1953: No Award
1951: Milton Friedman = venceu em 1976
1949: Kenneth E. Boulding
1947: Paul A. Samuelson = venceu em 1970
22 março 2018
Uma solução para a crise de replicação?
Butera e List propuseram uma abordagem diferente para tentar contornar a crise de replicabilidade existente em ciências sociais. Muitas pesquisas que são divulgadas não são replicadas, o que impede de verificar se o método estava correto, se a amostra não era enviesada, se os pesquisadores não cometeram erros ou manipularam os resultados ou fizeram realmente a pesquisa, entre outros problemas. O assunto tem sido discutido extensamente e para que se interessar tem um site que apresenta algumas considerações interessantes: Replication Index. Outro endereço interessante, que aponta pesquisas que tiveram que se retratar é este aqui.
Os autores citados fizeram uma pesquisa e descobriram que aumentando a incerteza tem-se um aumento na cooperação entre as pessoas. Uma conclusão interessante. Mas em lugar de encaminhar o artigo para um periódico, com revisão por pares, Butera e List colocaram os dados online e fizeram uma promessa de não submeter para publicação. Em lugar disto, ofereceram co-autoria para algum interessado que replicasse o estudo. Neste segundo artigo, aí sim, seria submetido a um periódico.
Vide: Butera, L., & List, J. A. (2017). An economic approach to alleviate the crises of confidence in science: With an application to the public goods game (No. w23335). National Bureau of Economic Research.
Os autores citados fizeram uma pesquisa e descobriram que aumentando a incerteza tem-se um aumento na cooperação entre as pessoas. Uma conclusão interessante. Mas em lugar de encaminhar o artigo para um periódico, com revisão por pares, Butera e List colocaram os dados online e fizeram uma promessa de não submeter para publicação. Em lugar disto, ofereceram co-autoria para algum interessado que replicasse o estudo. Neste segundo artigo, aí sim, seria submetido a um periódico.
Vide: Butera, L., & List, J. A. (2017). An economic approach to alleviate the crises of confidence in science: With an application to the public goods game (No. w23335). National Bureau of Economic Research.
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