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13 agosto 2013

Rir é o melhor remédio

Fonte: aqui

Contabilidade e Dólar 2

O novo patamar do dólar, acima de R$ 2,25, deve levar outras companhias com receita e dívidas em dólar a adotar a contabilidade de hedge para amenizar o efeito da desvalorização do real em suas contas, dizem analistas. Para esses profissionais, uma dessas companhias deve ser a Vale, cujo lucro líquido no segundo trimestre deste ano, de US$ 424 milhões, ficou abaixo das expectativas de mercado e foi 84% menor que o verificado no mesmo período de 2012.

O presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse anteontem, em teleconferência com analistas e investidores, que a empresa decidiu não usar no segundo trimestre a prática para não parecer uma medida "casuística". Ele admitiu, porém, que a empresa avalia o uso da prática como forma de minimizar a volatilidade de seu lucro contábil.

Estudos preliminares da companhia apontam que a adoção do programa com relação ao passivo financeiro líquido reduziria a perda com variação cambial em aproximadamente US$ 2 bilhões no segundo trimestre.

Para Álvaro Bandeira, sócio da gestora de recursos Órama, a tendência é as companhias buscarem mecanismos dentro do novo padrão contábil que reduzam a volatilidade do câmbio em seus balanços.

"Não importa muito a tendência do câmbio, pois as empresas, de alguma maneira, vão encontrar uma forma de se proteger. O problema está na volatilidade. Isso é que acaba com as previsões de fluxos", afirmou. Segundo ele, a volatilidade acaba inibindo investimentos.

Segundo César Lauro, responsável pela área de gestão de riscos da Capitânia, a adoção da contabilidade de hedge para a dívida em moeda estrangeira por companhias como a Petrobrás tende a aumentar o interesse de outros grupos pela prática. Lauro explica que esse é um processo lento, que exige alinhamento interno com o conselho de administração e fiscal, bem como o estudo das consequências desse artifício no médio e longo prazos. "O resultado da variação cambial não registrado hoje fica represado no patrimônio líquido e será registrado no futuro", diz.

Na contramão. A Marfrig, entretanto, não cogita adotar a contabilidade de hedge tão cedo. O presidente da Seara Foods e futuro presidente (CEO) da Marfrig, Sergio Rial, afirmou que "a prática contábil tem uma série de vantagens, mas operacionalmente é complicado". Em teleconferência, ele disse que "o mercado é inteligente o suficiente para entender a volatilidade cambial nos resultados".

Foi justamente a desvalorização do real e seu efeito negativo na dívida em moeda americana o grande causador do prejuízo líquido de R$ 159,9 milhões da Marfrig no segundo trimestre - que exclui, por exemplo, a Seara Brasil, vendida à JBS.

Outra empresa do setor de alimentos, a BRF, já adota a contabilidade de hedge desde 2010. Conforme a empresa, "a prática contábil segue possibilitando reduções significativas na exposição líquida de balanço em moeda estrangeira, em sincronia entre os fluxos das obrigações em dólar e os embarques de exportação".

No segundo trimestre, a empresa registrou lucro líquido de R$ 208 milhões, montante 3.163% maior que os R$ 6 milhões do mesmo período de 2012. Já a Vanguarda Agro adota a contabilidade de hedge desde 1º de agosto. /


Com dólar alto, mais empresas devem recorrer ao 'hedge' - 10 de agosto de 2013 - O Estado de S.Paulo

Contabilidade e Dólar 1

As empresas que adotaram a prática de contabilidade de hedge conseguiram diminuir o impacto da alta do dólar em seus resultados do segundo trimestre de 2013. Entre as companhias que optaram pelo recurso estão Braskem e Petrobrás. Já Vale e Marfrig, que preferiram não adotar a prática, tiveram resultados piores do que os antecipados, principalmente por causa do câmbio.

A contabilidade de hedge usa as exportações como proteção contra a variação da dívida em moeda estrangeira, já que a alta em uma linha compensa a queda da outra. O efeito da variação cambial sobre a dívida em moeda estrangeira não é totalmente contabilizada no resultado financeiro da companhia, mas no patrimônio líquido. Apenas uma parcela da variação da dívida é transferida para o resultado, mas este montante corresponde ao valor que pode ser compensado pelas exportações faturadas naquele período. "Este impacto é reconhecido de forma escalonada, conforme for compensado pela receita", explica o professor de finanças do Insper, Michael Viriato.

O lucro líquido da Petrobrás, que adota a prática desde maio, somou R$ 6,201 bilhões no segundo trimestre, revertendo o prejuízo líquido de R$ 1,346 bilhão registrado em igual período de 2012. O resultado da petrolífera ficou 24% acima das estimativas dos analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Sem o hedge, esperava-se até que a companhia amargasse amargar resultado negativo - o JP Morgan, por exemplo, previa antes prejuízo acima de R$ 2 bilhões no segundo trimestre.

Ao anunciar a adoção da prática contábil, estatal afirmou que "o hedge permite que os resultados contábeis sejam melhor alinhados à realidade econômica e operacional da companhia". No entanto, para alguns analistas, a prática melhora os resultados da estatal, mas de forma artificial, o que reduz a transparência das informações.

Para a Braskem, o prejuízo líquido de R$ 128 milhões do segundo trimestre de 2013 poderia ter sido mais de oito vezes maior não fosse a adoção do hedge desde maio. Somente em maio, o dólar subiu 7,24%, encerrando a R$ 2,147. A escalada da moeda americana frente ao real continuou, e já está no patamar acima de R$ 2,25. Sem a mudança contábil, o prejuízo da petroquímica teria alcançado R$ 1,082 bilhão.

Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) à época da transição para o padrão internacional de contabilidade (IFRS) no Brasil, Eliseu Martins diz que a adoção da contabilidade hedge é importante para eliminar o descasamento contábil entre os efeitos benéficos da valorização do câmbio na receita de empresas exportadoras, que tende a demorar mais para aparecer, e o imediato peso negativo sobre a dívida em moeda estrangeira das companhias.

"Aqui a perda vai ser postergada para acompanhar o reconhecimento dos ganhos com as exportações. Do ponto de vista de informação ao mercado, o balanço fica com melhor qualidade", avalia. Martins diz que o uso do hedge ainda não foi incorporado à cultura empresarial brasileira e ganha espaço apenas quando o câmbio fica "nervoso".

Perigos. Para Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora, a adoção da contabilidade de hedge visa principalmente melhorar a última linha do balanço - garantindo, assim, melhores dividendos aos acionistas. "Por isso, é importante pra o investidor olhar outros aspectos, especialmente a geração de caixa, pois a contabilidade de hedge distorce a comparação com períodos anteriores."

Em relação à Braskem, analistas preveem que, com a contabilidade de hedge, a petroquímica deve melhorar o seu resultado anual e, assim retomar a distribuição de dividendos num futuro próximo.

O professor Eliseu Martins explica que o hedge está dentro das regras contábeis internacionais e são autorizadas no Brasil pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mas lembra que as companhias precisam saber bem o motivo da adoção desse tipo de contabilidade. "É uma prática contábil opcional, mas deve ser adotada de forma consistente. Voltar atrás pode pegar mal e levar a questionamentos da CVM e de acionistas."

O especialista diz ainda que o International Accounting Standards Board (Iasb), órgão que define as regras IFRS, prepara uma minuta para aumentar o uso de políticas de hedge contábil globalmente. A perspectiva é de que ela entre em audiência em 2014. / EULINA OLIVEIRA - O Estado de S.Paulo - COM INFORMAÇÕES DA REUTERS, COLABORARAM MARIANA DURÃO E MÔNICA CIARELLI, DO RIO - 11 de agosto de 2013

Erro no Edital

O edital de licitação do complexo de linhas de transmissão, que liga as hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, até Araraquara (SP), com cerca de 2.375 quilômetros de extensão, não estabeleceu nenhuma especificação sobre os equipamentos que deveriam ser utilizados. As empresas tiveram liberdade para escolher o tipo de material a ser utilizado. Com isso, os sistemas das usinas e do complexo de transmissão são incompatíveis.

Erro em edital das hidrelétricas do Madeira vai custar R$ 100 milhões - MÔNICA TAVARES - O Globo

12 agosto 2013

Rir é o melhor remédio

Espanha e Alemanha

História da Contabilidade Os avanços no início do século XX

A história da contabilidade brasileira apresentou uma grande evolução no início do século XX. Alguns fatos marcantes são listados a seguir:

Criação do Ensino Técnico
A criação da Escola Prática de Comércio Alvares Penteado significou o início do ensino técnico de contabilidade no Brasil. Logo a seguir, a Associação Cristã de Moços cria, durante um breve período, um curso noturno (1). Outras escolas foram criadas a seguir, indicando um crescimento na demanda por profissionais com formação de maior qualidade.

Criação da Revista Brasileira de Contabilidade
Apesar de não ser o primeiro periódico sobre o assunto publicado no Brasil, a criação da Revista representou um fato relevante. Sua periodicidade inicial era mensal e contava com artigos técnicos escritos pelos maiores nomes da contabilidade brasileira do período. Apesar de ser uma publicação paulista, as vendas desta Revista alcançaram outras cidades, como é o caso de Vitória (2).

Estabelecimento das primeiras empresas estrangeiras de contabilidade
Em 1911 já estava estabelecida no Brasil a Ball, Baker, Cornish & Co., uma empresa de contadores certificados londrina, com sede na rua da Quitanda 12, na cidade de São Paulo. Esta empresa abriu uma filial no Rio de Janeiro e em Santos (3). A presença destas empresas é o prenúncio que a contabilidade brasileira passa a sofrer influencia da escola anglo-saxônica, em lugar da escola lusitana, prevalecente mesmo após a independência brasileira (4).

Reunião de profissionais
Nesta época passa a acontecer encontros entre profissionais contadores. Especial destaque a criação do Instituto Brasileiro de Contadores Fiscaes (5) e as reuniões entre os contadores das estradas de ferro, que ocorriam com certa regularidade no período (6). É interessante notar que a congregação de profissionais da área já era comum em outros países, onde no século XIX já foram criadas entidades com esta finalidade.

Fortalecimento de um grupo de profissionais com um perfil mais técnico
Surge um grupo de pessoas com um perfil técnico para o ensino e discussão da contabilidade no Brasil. Estas pessoas começam a serem reconhecidas como especialistas na área, como é o caso de Carlos de Carvalho. Carvalho escreveu diversos livros, publicou artigos na Revista Brasileira de Contabilidade, foi secretário do tesouro do Estado de São Paulo e professor de algumas escolas técnicas.

Adoção das partidas dobradas na área pública
Após experiências iniciais fracassadas no Paraná, o Estado de São Paulo consegue adotar as partidas dobradas (7). Logo após, outras unidades da federação também passam a usar este método, culminando com a opção do governo federal.

Reconhecimento do termo Contadores
Ainda existia uma confusão quanto a denominação da profissão, mas fica cada vez mais evidente que o contador é superior ao guarda-livros. No Almanak Administrativo o verbete de Contadores aponta os termos Comptables, Accountants e Rechnungsfuhrer e indica ao leitor o verbete “peritos de contabilidade” (8). Algumas escolas de comércio passam a conceder o título de guarda-livros para aqueles que fizessem um ano de estudo e de contador para os que completassem dois anos (9).

Além disto, a lei 2.024, de 17 de dezembro de 1908, reforma a lei sobre falências e reconhece a existência deste termo no seu artigo 65.


(1) O Estado de S. Paulo, 21 de dezembro de 1917, p. 5, conforme discurso de Antonio Miguel Pinto, diretor da Escola de Contabilidade Carlos de Carvalho, na formatura de colação de grau dos contadores.
(2) Diário da Manhã, ed. 004, 1917, p. 2, por exemplo.
(3) Jornal do Brasil, 31 de maio de 1911, p. 1. Posteriormente esta empresa juntou-se a Pannell Kerr Forster que, por sua vez, em 2013, foi fundida com a BDO. Ver http://www.icaew.com/en/library/subject-gateways/accounting-history/resources/whats-in-a-name/pannell-kerr-forster. A escolha de Santos como filial decorre a atividade de exportação de commodities, particularmente café, feita por esta cidade.
(4) Em 1913 uma sociedade de Paris, concedeu o título de membro de honra a Carlos de Carvalho, talvez o mais conhecido profissional da área naquela época. Isto é um sinal de troca de informação e experiência com outros países. Vide O Estado de S. Paulo, 8 de agosto de 1913, p. 7. (Curiosidade: fazem cem anos que isto ocorreu).
(5) conforme postagem anterior sobre o assunto.
(6) Vide, por exemplo, Correio Paulistano, 28 de maio de 1915, ed. 18629, p.3. Não tenho notícias precisas sobre os assuntos tratados nestas reuniões, que caberia uma investigação histórica mais aprofundada.
(7) Vide postagem anterior sobre o assunto.
(8) Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial, Rio de Janeiro, 1915, p. 1150.
(9) Este é o caso da Escola de Contabilidade, mais tarde Escola de Contabilidade Carlos Carvalho, localizada na rua Direita. Vide Correio Paulistano, 15 de junho de 1915, ed. 18647, p. 9. Apesar disto, o número de alunos formados nestes cursos era muito reduzido ainda, conforme se pode perceber pela lista de alunos publicada nos jornais da época. Vide, por exemplo, Correio Paulistano, 8 de dezembro de 1915, ed. 18823, p. 6. Nesta mesma edição anuncia-se a mudança do nome da Escola de Contabilidade, homenageando o “emérito publicista e reformador da escripturação publica no Brasil”.

O jurista que calculava

O Jurista que Calculava
 
Artigo de Gustavo Ribeiro* e Ivo T. Gico Jr.** para o Jornal da Ciência


É muito difundida a história do "Homem que Calculava", não só no Brasil, mas nos inúmeros países em que a obra foi traduzida e publicada desde os anos 1930s. Menos conhecido é o fato de o livro ser de autoria de um brasileiro: Júlio César de Mello e Souza, educador e matemático. Júlio, mais conhecido por seu heterônimo, Malba Tahan, buscou despertar nas pessoas o interesse pela matemática ao narrar as aventuras de Beremiz Samir, em sua peregrinação pelas cercanias de Bagdá.

Beremiz, o matemático persa, era reiteradamente exposto a uma série de problemas solucionáveis por suas excepcionais habilidades de contagem visual e memorização, pela aritmética, álgebra e geometria. Forneceu com precisão o número de folhas em uma árvore, de camelos em um pátio e de pássaros em um grande viveiro. Igualmente destacáveis foram suas soluções sobre a divisão de uma herança de trinta e cinco camelos entre três árabes e de como dividir as moedas de ouro recebida por ele e outro peregrino, como recompensa pelo pão dado a um Xeique que agonizava no deserto. De forma singular, Beremiz também defrontou-se com a problemática de como reduzir, pela metade, a pena de prisão perpétua aplicada a um ardiloso contrabandista da época. Tudo com soluções simples e, muitas vezes, contra-intuitivas.

Os juristas de hoje aprenderiam muito sobre o rigor do raciocínio lógico e da necessidade de soluções simples e pragmáticas com Malba Tahan. O herói de outrora não mencionava o direito ou as ciências econômicas, mas as soluções por ele propostas para problemas envolvendo a noção de justiça, escassez e cálculos eram interdisciplinares.

A busca pela Justiça no direito, na tradição jurídica brasileira, não se aproximou de qualquer ciência social, muito menos da economia ou da matemática. As bases morais da justiça e de seu significado encontrariam respaldo nas construções filosóficas (clássicas, da antiguidade, modernas e pós-modernas) ou meramente dogmáticas. Orienta-se a formação dos juristas, nos bancos das escolas, no sentido de evitar quantificar "justiça" ou mesmo de enfrentar escolhas diante de problemas envolvendo recursos escassos. Trazer o domínio das técnicas de outras ciências para o direito, desvirtua-o, diriam alguns, pois deixa clara a necessidade de uma escolha.

Todavia, o direito é, de uma perspectiva mais objetiva e pragmática, técnica que regula o comportamento humano. A economia, por sua vez, é a ciência que estuda como o ser humano toma decisões e se comporta em um mundo de recursos escassos e suas consequências. A Análise Econômica do Direito, portanto, é o campo do conhecimento humano que tem por objetivo empregar os variados ferramentais teóricos e empíricos econômicos, incluindo a matemática e suas modelagens, para expandir a compreensão e o alcance do direito. Visa aperfeiçoar o desenvolvimento, a aplicação e a avaliação de normas jurídicas, principalmente com relação às suas consequências.

Quando um juiz precisa estimar os lucros cessantes e os danos emergentes da destruição de um carro de um taxista por um motorista errante, é óbvio que ele precisará recorrer à teoria econômica para realizar tais cálculos. Aqui o economista, se for o caso, será chamado a se pronunciar na qualidade de perito. Também é óbvio que não é possível discutir ou operar o direito concorrencial e regulatório sem um conhecimento profundo do ferramental microeconômico. Menos óbvio é como a Análise Econômica do Direito pode auxiliar os juristas fora dessas searas.

Para isso é necessário ampliarmos nossos horizontes e buscarmos retorno além do conhecimento jurídico tradicional. A Análise Econômica do Direito, ou simplesmente a Juseconomia, pode nos auxiliar nessa tarefa tão importante quanto difícil de mensurar e estimar o provável impacto de uma medida jurídica. Por exemplo, a Juseconomia proporciona instrumental robusto para se elucidar: de que forma o deferimento substancial de ações individuais sobre o direito à saúde pode levar à própria negação deste direito; o porquê do congestionamento dos tribunais vis-à-vis o instituto da assistência judiciária gratuita; a alegada eficiência, ou não, da norma que autoriza a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, nos casos de execução contra a Fazenda Nacional, a não opor embargos quando o valor pleiteado pelo exequente for inferior a vinte mil reais; ou mesmo, se a (im)penhorabilidade do bem de família do fiador promove (ou não) o direito à moradia. Em verdade, sem maior aporte da Juseconomia, parece-nos que as discussões são não apenas incompletas, mas insuficientes para sua plena compreensão.

Escapa à maioria dos juristas que todo e qualquer direito têm custo e que os recursos são escassos, bem como que as pessoas respondem a incentivos. Decisões são tomadas todos os dias como se o processo flutuasse no vácuo social e afetasse apenas às partes, suas consequências sociais extra-autos, muitas vezes, permanecem desconhecidas. Interpretar é descobrir sentido e decidir é escolher consequências. Estaríamos melhores se essa distinção estivesse clara na mente de todos e que aqueles que decidem tivessem acesso a uma metodologia para auxiliá-los em suas decisões. E é isso que se propõe, que os juristas saiam de suas torres de marfim do dever-ser e passem a discutir, informadamente, o mundo do ser, dos fatos. Em outras palavras, precisamos de juristas que, também, calculem.

*Gustavo Ribeiro é professor do UniCEUB, Brasília, doutor em Direito (Indiana University Bloomington).

**Ivo T. Gico Jr. é professor da Universidade Católica de Brasília - UCB, doutor em Direito (USP) e doutor em Economia (UnB)

Steven Addis: Vínculo entre pai e filha, uma foto por vez

Uma palestra rápida e simples para continuar a homenagear a linda ligação entre pais e filhas.

Muito tempo atrás em Nova York, Steve Addis estava em uma esquina com sua filha de um ano no colo; sua esposa tirou uma foto. A imagem inspirou um ritual anual de pai e filha, no qual Addis e sua filha posam para a mesma foto, na mesma esquina, todos os anos. Addis compartilha 15 estimadas fotografias da série, e explora os motivos deste pequeno, repetitivo ritual significar tanto para ele.

11 agosto 2013

Rir é o melhor remédio


Darryl (pai): Me pergunto se isto é uma ferrari?
Hammie: Não. ë um porta clipes de argila para o seu escritório. Fiz na escola.
Pai: E isso são chaves para a ferrari?
Zoe: Não, é uma carteira de fita adesiva da loja de 1,99.
Pai: Com certeza isto é uma ferrari!
Zoe e Hammie: É uma gravata que tivemos que comprar porque o Wren mastigou a ponta dela na loja!
Zoe: E isto também não é uma ferrari.
Hammie: É uma foto nossa para colocar na sua carteira.
Zoe, Hammie e Wren: FELIZ DIA DOS PAIS!

Wanda (mãe): Quer que eu troque essas coisas por uma ferrari?
Pai: Sem chance!

Baby Blues por Rick Kirkman & Jerry Scott

Angela Patton: Um baile para pais e filhas ... na prisão

Um vídeo emocionante sobre a importância dos pais na vida das meninas de suas vidas.

Através do Camp Diva, Angela Patton ajuda jovens meninas e seus pais a permanecerem ligados e participando da vida uns dos outros. Mas e quanto à meninas cujos pais não podem estar presente -- porque estão na prisão? Patton conta a história de um baile para pais e filhas muito especial.

Nem-Nem-Nem

Cerca de 1,5 milhão de brasileiros entre 19 a 24 anos, concentrados nas faixas mais pobres da população e excluindo donas de casa e mulheres com filhos, nem trabalham, nem estudam e nem procuram emprego e esse perfil tem crescido dentro do total da população jovem do país.

É o que mostra o estudo "Os Nem-Nem-Nem: Exploração Inicial Sobre um Fenômeno Pouco Estudado", da pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Joana Monteiro. Para a especialista, o avanço desse perfil preocupa. A maioria desses jovens, com parcela significativa de baixa escolarização, podem ajudar a elevar o desemprego, caso decidam tentar a sorte no mercado de trabalho, após os 24 anos. "A baixa qualificação limita muito o tipo de trabalho que podem conseguir."

Além disso, o fato de pertencerem a famílias mais pobres, com pouca capacidade de sustentá-los, eleva a probabilidade de se tornarem dependentes do governo, avalia a especialista. Do total de 1,5 milhão, em torno de 46% podem ser considerados pobres, pois vivem em domicílios que estão entre os 40% mais pobres na distribuição de renda, segundo cálculos de Joana.


Os que nem trabalham nem estudam - Alessandra Saraiva - Valor Econômico - 09/08/2013

Amigo do Peito: Feliz Dia dos Pais

Além das famosas broncas e do “espere até o seu pai chegar em casa”, os pais nos ensinam muitas coisas boas. Isso sem contar que são eles que nos deixam, geralmente, fazer as bobagens famosas quando crianças. Como uma cena em que enfio a mão no copo de suco, e decido que essa é a forma mais interessante de beber o líquido (colocando a mão melecada na boca), dentre outras gracinhas que este cinegrafista capturou em vídeo.

Mas, especialmente, por meio de exemplos, aprendi muitas coisas que não consigo descrever aqui. Ele não gostaria. Meu pai é uma daquelas raras pessoas que faz coisas boas e não faz publicidade sobre. Faz o certo, faz a parte dele, mas também ajuda os outros, ameniza o peso de vidas mais sofridas. Já vi chorarem de gratidão por causa de gestos simples (e até cotidianos) de bondade dele. Ele é extremamente correto, honesto e responsável. Uma peça rara nesse mundo de Narciso.

Uma das lembranças gostosas que tenho é de quando viajamos de carro Brasilzão a fora e A Turma do Balão Mágico ressonava no toca fitas. Quando eu estava na escola certa vez apresentamos a música “dia dos pais”. Ela fala “Amigo velho, Eu te amo, demais, Meu velho amigo, Todo dia é dos pais”.

Mas pai, a que deixo hoje para você é uma das minhas preferidas e ainda é com outro participante de nossas trilhas sonoras:



São os sonhos verdadeiros
Quando existe amor
Somos grandes companheiros
Os três mosqueteiros
Como eu vi no filme...

Ao meu amado pai: Feliz Dia dos Pais! E a todos os pais por aqui: que o dia de vocês seja cheio de carinho e amor.

“É tão lindo, não precisa mudar”

10 agosto 2013

Rir é o melhor remédio

Minha vida...

Fato da Semana

Fato: Os efeitos práticos do CPC 38

Qual a relevância disto? Como sabemos, o Brasil optou por adotar as normas internacionais de contabilidade, que são mais flexíveis. Esta flexibilidade é decorrente da própria dificuldade que a entidade reguladora, o Iasb, tem em contemplar os diferentes interesses de mais de cem países do mundo que usam suas regras. Assim, em muitos casos, o Iasb permite que mais de uma alternativa seja adotada.

Ao adotar as normas internacionais de contabilidade, pelo menos parcialmente, o nosso País trouxe parte desta flexibilidade para as nossas demonstrações contábeis. Especificamente, o CPC 38 trata da contabilidade de hedge no Brasil e permitiu um tratamento alternativo para a questão cambial.

Diversas empresas estão aproveitando desta alternativa para gerenciar seus resultados. Nesta semana, duas se destacaram: a Braskem e a Petrobras. Ambas optaram por alternativas que melhoravam seu resultado.

Positivo ou Negativo? - Apesar das empresas estarem dentro das normas, sempre fica a impressão negativa, de manipulação contábil. Para contabilidade, isto não é muito bom.

Desdobramentos – Mais empresas podem adotar estes procedimentos e a punição seria do mercado, com uma redução no preço das ações. Será que isto irá ocorrer? Quando a norma, fica tudo como está no longo prazo.

Outros candidatos ao fato da semana: discutiu-se muito os efeitos do Banco Rural, mas o anúncio da liquidação ocorreu na sexta-feira passada.

Teste da Semana

Este é um teste para verificar se você acompanhou de perto os principais eventos do mundo contábil. As respostas estão ao final.

1 – A exportação de jogadores de futebol pode trazer boas divisas para os países da América Latina. O país que mais exporta jogadores é:
Argentina
Brasil
Uruguai

2 – Desapareceram R$156 milhões desta entidade que estavam depositados na Suíça, segundo um texto da Folha de S. Paulo:
Banco Real
Banco Schahin
Vasp

3 – O jornal Washington Post foi vendido para um executivo que possui uma fortuna de 25 bilhões de dólares. O valor da venda corresponde a 1% da sua fortuna
Carlos Slim
Jeff Bezos
Warren Buffett

4 – Este órgão aplicou em cinco anos multas de R$1,2 bilhões, mas arrecadou somente R$19 milhões:
Anac
Cade
CVM

5 – Uma pesquisa realizada na Inglaterra entre contadores mostrou que
Apesar de ganharem menos, as mulheres estão reduzindo esta diferença
Existe uma equivalência no salário dos homens e mulheres
Os homens continuam ganhando mais que as mulheres

6 – O Banco Rural foi liquidado pelo Banco Central. Revelou-se que o passivo a descoberto era de
400 milhões de reais
900 milhões de reais
1,6 bilhão de reais

7 – Ainda com respeito ao Rural, no segundo semestre de 2012 esta instituição perdeu ativos no valor de
400 milhões de reais
900 milhões de reais
1,6 bilhão de reais

8 – Ao inspecionar o trabalho da EY em 2012, o PCAOB encontrou, em 52 trabalhos realizados, problemas em
5
15
25

9 – O custo para fazer um assento para a classe executiva de um avião pode chegar a
8 mil dólares
80 mil dólares
800 dólares

10 – Ao sancionar um projeto sobre corrupção aprovado no parlamento brasileiro, a presidência da república vetou uma punição
Aos políticos eleitos
Aos servidores públicos
As empresas corruptoras

Acertando 10 ou 9 questões = medalha de ouro; 8 ou 7 = prata; 6 ou 5 = bronze

Respostas: (1) Argentina; (2) Banco Schahin; (3) Jeff Bezos; (4) CVM; (5) os homens continuam ganhando mais que as mulheres; (6) 400 milhões de reais; (7) 1,6 bilhão de reais; (8) 25; (9) 80 mil dólares; (10) empresas corruptoras.

Mudança Contábil e Resultado

Gigantes como Petrobras e Braskem puxaram a fila de empresas brasileiras que estão adotando uma nova forma de contabilidade para amenizar a volatilidade de seus resultados devido ao efeito da variação cambial sobre dívidas em moeda estrangeira.

A Petrobras e a Braskem adotaram a chamada "contabilidade de hedge" (ou hedge accounting, em inglês) nos resultados do segundo trimestre. Na esteira, a Vale e a produtora agrícola Vanguarda Agro já anunciaram que vão fazer o mesmo.

O sistema tem como objetivo usar as exportações como proteção contra a variação da dívida em moeda estrangeira, já que a alta em uma linha compensa a queda da outra.

Para isso, o efeito da variação cambial sobre a dívida em moeda estrangeira não é totalmente contabilizada no resultado financeiro da companhia, mas no patrimônio líquido.

Apenas uma parcela da variação da dívida é transferida para o resultado, mas este montante corresponde ao valor que pode ser compensado pelas exportações faturadas naquele período.

"Este impacto é reconhecido de forma escalonada, conforme for compensado pela receita", explica o professor de finanças do Insper, Michael Viriato.

Desta forma, o câmbio não derruba o lucro em tempos de apreciação do dólar, e tampouco favorece os resultados em época de depreciação da moeda norte-americana.

Segundo o professor Fernando Caio Galdi, da Fipecafi, esse recurso reflete de forma mais realista a realidade econômica destas companhias.

"O hedge accounting faz com que a compensação entre passivo e ativo seja refletida de maneira mais adequada na demonstração financeira", disse. Ele acredita que outras exportadoras devem seguir o mesmo caminho, pois contam com uma proteção natural das exportações.

A contabilidade de hedge pode ser usada no Brasil desde 2009, quando foi aprovado o pronunciamento contábil 38 (CPC 38). Até então, apenas instituições financeiras podiam usar este instrumento. Segundo Galdi, o processo para adotar a metodologia é complexo, pois a empresa deve comprovar que o hedge é seguro. "O processo é bastante detalhado e complexo", afirmou.

A Braskem foi a primeira a colher os frutos desta estratégia. A petroquímica teve lucro líquido de US$ 99 milhões no primeiro semestre. Caso tivesse mantido a prática contábil anterior, o resultado registrado seria um prejuízo de R$ 855 milhões, segundo a companhia.

No segundo trimestre, a petroquímica teve prejuízo de R$ 128 milhões, que poderia ter sido muito maior (de R$ 1,08 bilhão) não fosse o novo padrão contábil.

O mesmo efeito deve ocorrer com a Petrobras, que divulga os resultados nesta sexta-feira (09/08). Procuradas pela reportagem, Braskem, Petrobras e Vanguarda não comentaram o assunto.

Para a analista do Banco do Brasil Investimento Carolina Flesch, com a novidade contábil o resultado da petroleira terá maior coerência com o resultado operacional. "Dessa forma, a Petrobras antecipa também os dividendos sobre as receitas a serem obtidas com as exportações futuras", disse em relatório.

A decisão foi bem recebida pelos analistas de mercado porque beneficia a distribuição de dividendos no curto prazo e reduz as oscilações dos resultados. "A volatilidade do lucro líquido deve ser significativamente reduzida sob a nova política", disseram em relatório os analistas do Bank of America Merrill Lynch quando a Braskem anunciou a medida.

Especialistas em contabilidade, no entanto, questionam se o investidor pessoa física, e até mesmo alguns institucionais, conseguirão avaliar a mudança. Outro problema pode ser a quebra de uniformidade das demonstrações financeiras ao longo do tempo.

"Ficará mais difícil comparar com o resultado do ano passado, por exemplo", diz o professor de contabilidade da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Eduardo Flores. Segundo ele, será necessário que as notas explicativas sejam mais detalhadas, afim de que as mudanças sejam avaliadas com precisão pelo investidores.

A Vale deve ser a próxima grande exportadora a adotar a contabilidade de hedge. A companhia disse em teleconferência na quinta-feira que a mudança deve ocorrer em 2014.

No segundo trimestre, o lucro líquido da companhia despencou para R$ 832 milhões, ante R$ 5,32 bilhões no mesmo período de 2012, refletindo perdas contábeis por conta do efeito da valorização do dólar na sua dívida.

Outra que pretende adotar a contabilidade de hedge é a produtora agrícola Vanguarda Agro. Em julho, a companhia disse que começaria a adotar a prática em 1º de agosto.

Mudança contábil ameniza danos cambiais sobre os balanços - Brasil Econômico - Por Natalia Gómez e Juliana Schincariol/ Reuters - 09/08/13

Aqui um texto, em inglês, da Reuters sobre a Vale.

Contabilidade nos clubes

O Valor Econômico (Governo endossa proposta que enquadra cartolas, Caio Junqueira, 09/08/2013) informa que o governo está apoiando uma proposta que altera a gestão dos clubes de futebol e entidades esportivas que recebem recursos públicos. A proposta poderá afetar diretamente a contabilidade destas entidades:

Agora, a divergência é sobre o texto que prevê, por exemplo, mandato de quatro anos para dirigentes, com direito a apenas uma reeleição; presença obrigatória de atletas na direção das entidades esportivas e de clubes; transparência quanto a dados econômicos, como contratos, direitos de imagem, patrocinadores, propriedade intelectual; existência e autonomia de Conselhos Fiscais; controle social interno e acesso irrestrito a todos associados e filiados a documentos e informações relativos à prestação de contas e publicação deles na internet.

Obviamente o texto deverá encontrar resistências no parlamento, onde a bancada da bola é muito forte.

(Cartoon, adaptado daqui)

Hedge e Petrobras

A Petrobras divulga hoje o resultado do segundo trimestre, o primeiro depois de adotada a contabilidade de hedge, regulada no Brasil pelo pronunciamento contábil CPC38. A regra permite minimizar os efeitos da desvalorização do real sobre as dívidas da companhia, que é neutralizada em parte pelas receitas futuras obtidas com exportações alinhadas aos prazos de vencimento da dívida em dólar.

A estatal informou que a nova regra abrange 70% do total de sua dívida líquida exposta à variação cambial que será protegida por 20% das exportações durante os próximos sete anos. A dívida líquida da Petrobras é de R$ 150 bilhões, dos quais cerca de 78% expostos ao dólar. A nova regra aumentou em 15%, para R$ 30 bilhões, a estimativa do J.P.Morgan para o lucro líquido da Petrobras em 2013.

No segundo trimestre, a contabilidade de hedge livrou a Petrobras de um prejuízo de R$ 2,32 bilhões segundo os analistas do banco, que agora se converte em estimativa de lucro líquido de R$ 3,89 bilhões no trimestre. São previstas ainda receitas de R$ 72,12 bilhões e Ebitda de R$ 16,7 bilhões.

Alguns críticos afirmam que a medida ajuda o esforço do governo, maior acionista da estatal, a melhorar suas contas. O resultado positivo é bom para os detentores da ações ordinárias (ON), que receberão mais dividendos.

Outra crítica é que a Petrobras é importadora líquida de derivados, que ainda são vendidos no Brasil com defasagem. E a nova regra não vai evitar o efeito da desvalorização do real sobre o custo operacional, considerando gastos com serviços e materiais que são pagos em dólares, não em reais.

Como ressaltaram os analistas Caio Carvalhal e Felipe dos Santos, do J.P.Morgan, quando a regra foi anunciada, no longo prazo a nova contabilidade é neutra e não se traduz em perdas ou ganhos para a companhia. Os analistas estão pessimistas com a produção da Petrobras, que deve fechar o ano em torno de 1,8% abaixo da meta.

Em relatório para clientes do HSBC, Luiz Felipe Carvalho e Filipe Gouveia, calculam que a nova contabilidade trará impacto imediato de R$ 4,1 bilhões no lucro trimestral da Petrobras, ajudando também a pagar dividendos. Mais crítico, o HSBC avalia que a nova contabilidade, que considera oportunista, trará resultados confusos e com menos visibilidade.

Entre os itens mais importantes para se observar na Petrobras, o HSBC aponta a política de preços de combustíveis, que mantém defasagem de 22% no preço da gasolina e 18% no diesel em relação ao mercado internacional. E ressaltam que a manutenção dessa política deverá causar perdas de R$ 15,6 bilhões no segmento de refino em 2013.

O Itaú BBA espera lucro de R$ 4,9 bilhões, receitas de R$ 72,15 bilhões e Ebitda de R$ 16,7 bilhões. As projeções do Deutsche são ligeiramente menores: receita de R$ 69,246 bilhões, lucro de R$ 4,69 bilhões e Ebitda de 16,33 bilhões. A corretora Planner vê piora no desempenho do trimestre, com queda da rentabilidade operacional, aumento da despesa financeira e aumento das vendas de combustíveis. Por isso prevê receitas de R$ 76,46 bilhões e lucro de apenas R$ 3,058 bilhões.


Nova regra contábil evita que a Petrobras tenha prejuízo - Cláudia Schüffner - Valor Econômico - 09/08/2013

Caça ao efeito Eike

A temporada de balanços e teleconferências de bancos deste segundo trimestre teve um ingrediente adicional: a caça a eventuais estragos deixados por empréstimos concedidos às empresas do grupo EBX, controlado por Eike Batista.

A busca - que não é uma tarefa fácil, por causa do sigilo bancário - encontrou vestígios. Mas nada que tenha abalado os gigantes do sistema financeiro local.

Embora as empresas X não tenham atrasado o pagamento de seus empréstimos (até onde se sabe), os bancos são obrigados a constituir provisões para perdas mesmo antes disso, em caso de evidências da piora da qualidade de crédito de cliente.

Indo além dos releases de resultados (onde costuma parar a maioria dos investidores) e fazendo uma leitura detalhada de notas explicativas e dos relatórios de administração completos, foi possível notar uma piora nas carteiras voltadas para grandes empresas tanto do Itaú como do Bradesco, tidos como os mais expostos ao grupo EBX.

No caso do BTG Pactual, a constituição de provisões no segmento de empréstimos corporativos não teve qualquer alteração. E os executivos disseram abertamente que "não esperam eventos negativos vindos do grupo EBX" que possam ter impacto no balanço da instituição.

Segundo o BTG, sua maior exposição está na MPX, empresa de energia, que tem a melhor estrutura de capital entre as companhias X e que tem agora a alemã E.ON como maior acionista, dividindo o controle com Eike. Olhando o histórico recente das provisões do BTG, o principal movimento relevante de piora da qualidade de crédito ocorreu no terceiro trimestre do ano passado, quando a carteira com rating "E", que exige provisão de 30% do saldo, subiu de R$ 71 milhões para R$ 536 milhões. Contudo, não é possível identificar o motivo.

O Itaú não foi tão direto quando o BTG sobre Eike Batista. Disse apenas que o aumento de 39% das despesas com provisões para perdas em empréstimos no banco de atacado (que reúne operações com grandes empresas) ante igual trimestre do ano passado, para R$ 1,02 bilhão, não se deve a um risco sistêmico, mas a "casos específicos".

Analistas ficaram intrigados com uma reclassificação de rating feita pelo Itaú, que moveu cerca de R$ 30 bilhões da carteira com nota de risco "A", que exige provisão de 0,5%, para a carteira "AA", a mais alta, que não exige nenhuma provisão. O efeito da mudança seria positivo em R$ 150 milhões no resultado.

Embora não tenham sido explícitos nas perguntas, analistas e investidores queriam saber se a melhora na avaliação de parte da carteira de crédito teria sido feita para anular a deterioração de outra parcela do portfólio, esta ligada às empresas de Eike Batista. Mas o Itaú garantiu que não.

O diretor de relações com investidores do banco, Rogério Calderón, disse ao Valor que foi feito "um aprimoramento no sistema de avaliação das garantias" nas linhas de financiamento de veículos, crédito imobiliário e empréstimos para pequenas e médias empresas. Nos casos em que o valor atualizado da garantia superava o saldo a receber, houve uma elevação do rating. Quando o colateral estava inferior ao valor registrado no balanço, houve rebaixamento.

Embora admita que a migração dos R$ 30 bilhões para o rating "AA" teria efeito positivo no resultado, Calderón ressalta uma mudança de aproximadamente R$ 900 milhões do rating "D" para o "E", que teve efeito contrário e praticamente anulou o impacto. Nesse caso, de "D" para "E", a provisão precisa subir de 10% para 30% do valor total, com impacto negativo de R$ 180 milhões. "O efeito total líquido, considerando essas e outras reclassificações menores, é imaterial", disse ele.

No caso do Bradesco, foi possível notar um aumento de R$ 2,4 bilhões entre março e junho nas operações com nota "D", que exigem provisão de 10%, dentro da carteira de grandes empresas. Em junho, esse rating passou a representar 2,5% do total de empréstimos para o segmento corporativo (que costuma ter inadimplência baixa), ante uma fatia de apenas 1% em março e que costuma se manter abaixo disso.

Chama atenção que o Bradesco, assim como o principal rival, também fez uma reclassificação que fugiu ao padrão histórico nas notas de crédito de alguns empréstimos no segundo trimestre. Houve redução de R$ 7 bilhões nas operações com rating "C", e de outros R$ 4 bilhões com nota máxima "AA", enquanto subiram os empréstimos com notas "A", "B" e "D".

Em nota, o diretor executivo do Bradesco, Luiz Carlos Angelotti, disse que a qualidade dos ativos é avaliada mensalmente e que tanto operações específicas como grupos de operações "têm seus riscos agravados ou melhorados, conforme as novas informações que estão sendo capturadas no mercado, ou mesmo pelo aprimoramento das nossas ferramentas de análise". Segundo ele, "o efeito líquido em resultados desses procedimentos foi irrelevante".

Caça a "efeito Eike" nos balanços encontra apenas vestígios - Fernando Torres - Valor Econômico - 09/08/2013