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Mostrando postagens com marcador ensino. Mostrar todas as postagens
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01 junho 2013

Divagando por aí... David Albrecht e bons professores, LinkedIn e etc

Gente, desabafo: o David Albrecht é um fofo.

<Abre parêntesis>: Acabei de pensar com os meus botões: 99% do meu uso do blog tem sido "impessoal". Tenho até me dado a liberdade de virar "comentadora". Mas em breve, muito em breve, utilizarei os materiais que andei coletando e rascunhando para postagens sérias. Risos. </Fecha parêntesis.>  ;)

Ele é super atencioso com todo mundo. Fico feliz pelo Blog ter me ajudado a estabelecer uma conexão com ele. Vez ou outra trocamos e-mails e tweets. Um dia desses recebi um e-mail com alguns questionamentos sobre o meu uso do LinkedIn mas não pude responder por estar no meio de uma viagem que não me permitiu sentar calmamente e me ater da maneira devida.

Enfim, abaixo segue uma das postagens dele sobre o tema. Acrescento aqui praticamente na íntegra porque acho digno e inspirador o carinho dele por todos que ensinou (um dia eu retruquei sobre a impossibilidade de conseguir decorar o nome dos alunos, mas ele educadamente discordou e ressaltou se esforçar muito para se lembrar de todos, independente do tamanho da turma) e pela pura vontade de influenciar positivamente a vida dos que o cercam.

Quando penso em professores assim acho difícil citar muitos nomes. E estou usando como espaço temporal toda a minha vida útil heim!? ;) Admito também não me considerar nem um pouquinho digna de uma admiração assim, como professora... Me considero uma boa orientadora e colega, ao menos.

Mas apesar da minha paixão pelo tema (e pela ideia), dedicação exclusiva (ou realmente dedicada) ao ensino nunca foi a minha prioridade. E isso é péssimo. Hoje entendo que a partir do momento que alguém se comprometeu a lecionar, deve fazer aquilo da melhor forma possível. E se o melhor não for bom, que se esforce mais ainda. Mas falaremos mais sobre isso no vídeo da palestra TED que publicaremos na segunda-feira... combinado? *.*


Enquanto isso: um brinde aos bons exemplos!

[Bowling Green, OH. Friday, July 24, 4 a.m.] It is 4:00 a.m. I am still up, working. That I am still up is not unlike some of my students. That I’m working is very much unlike them. After all, who stays up until 4:00 a.m. to study accounting if there is no test later in the day?
So what is an accounting professor working on during the summer? I’m glad you asked. I’m becoming better acquainted with some features of LinkedIn.
At the current time, I have about 900 first level connections. 300 are former students, 300 are professors. Then there are practicing accountants, regulators, social media experts, friends, a nephew and my older son.
Right now I’m growing and maintaining my network.
ProfAlbrecht's LinkedIn Network

ProfAlbrecht’s LinkedIn Network
In the network map above, you can see the student connections from the schools at which I’ve taught: BGSU, Concordia College, and USC Upstate. A small cluster is forming already for La Sierra. Also, there are large clusters for professors and bloggers (and heavy social media users).
LinkedIn is a great network managing system, and in this digital technologies era I need a good network. For months I’ve been lamenting that I’m only connected to 140 former students from BGSU. There were thousands, and I’m sure at least a thousand of them are on LinkedIn.
A couple of days ago I got the bright idea to do an advanced search on LinkedIn inputting BGSU for the school and accounting for the industry. Suddenly I had hundreds of accounting grads to search through to see if they took a class from me. If they graduated between 1992 and 2010, probably they tookat least one course from me. So I stayed up late and sent out about 20 invitations to connect. All of them accepted!
That was the easy part. I now have to start working on establishing a relationship. When they were sitting in my class, forming a teacher-student relationship was expected. I learned most student names, most students learned my name, and I helped them learn accounting. But years later we no longer have a relationship. But I want one. [F-O-F-O!]
I send a thank you note to everyone who joins my network. For these twenty students, I can also ask if they remember anything about the course (or courses) they took from me. I ask if they liked the accounting program. Later on, I’ll send out an occasional e-mail. *.*
Sometimes a former student will e-mail me. In the past few months, a couple students volunteered to write a LinkedIn recommendation for me. Yes, yes, yes!
I’m also trying something new. I’m headed off in the fall to a school in California. I did a similar search (industry and school), and sent off a half dozen invitations to connect. Five accepted. From these students I hope to learn what it is like to study accounting at that school. I’ll also learn if they’ve stayed in touch with the school. Later on in the fall, I’ll invite them to attend the grand opening of the new business building and I’ll get a chance to chat face-to-face.
Once I get good at LinkedIn networking, I’ll start researching it and writing about it.by.
Debit and credit – - David Albrecht

20 maio 2013

Peter Norvig: A sala de aula de 100.000 alunos

No outono de 2011 Peter Norvig juntamente com Sebastian Thrun lecionavam sobre inteligência artificial para 175 alunos de ensino regular em Stanford -- e para mais de 100.000 à distância via internet. Ele compartilha o que aprendeu sobre lecionar para uma turma global.

22 abril 2013

História da Contabilidade: Ensino Prático e Teórico

Uma das grandes discussões educacionais do ensino de contabilidade refere-se a dicotomia entre o ensino prático e o ensino teórico. Esta polêmica é bastante antiga na nossa história.

Em meados da década de 20, do século XX, a Escola Pratica de Commercio Avalfred fazia questão de distinguir-se das demais por ser uma “escola prática”. Num anúncio publicado no Almanaque Tico-Tico (provavelmente de 1926), a instituição de ensino comentava:

Fundada em Janeiro de 1921, na futurosa capital do Estado do Paraná, a primeira escola “Avalfred”, sob a idônea direcçao dos Srs. Dr. Avelino Lopes e João Alfredo Silva, grangeou a mesma, já pelo programa original pra o Brasil, já pelo methodo e processos nunca anteriormente empregados no ensino nacional, o mais relevante conceito no sul do paiz. Tendo razões, por conseguinte, de implantar-se sem demora na Capital do Brasil, a sucursal fundada no Rio de Janeiro no inicio de 1923, conseguiu desde logo a mais invejável aceitação afirmada pelo aumento sucessivo de suas matriculas. As instalações didacticas, que na matriz, que na filial, são de montagem caprichosa e impressionam optimamente: reaes secretarias de commercio substituem as carteiras escolares comuns; os quadros negros são traçados como se fossem livros de contabilidade; escriptorios technicos – comercial, industrial e bancário – obedecem as exigências modernas; archivos, machinas de escrever, machinas de calcular, mimeógrafos, prensas, grampeadores, carimbos, bem como livros apropriados de escripturação e os mais variados impressos, permitem aos alumnos, após tempo relativamente curto, ficarem aptos ao exercício consciente e pratico da profissão de guarda-livros e correspondente.

O texto prossegue afirmando que num prazo de um ano o aluno estaria apto da trabalhar em qualquer casa de comercio, “dispondo de conhecimentos práticos”. 

07 abril 2013

Educação on-line

Um longo artigo do sítio Quartz debate a educação on-line (The dirty little secret of online learning: Students are bored and dropping out). Inicialmente o texto lembra que os cursos on-line são ainda experimentos e que realmente não possuem uma influencia grande sobre os alunos. Isto é polêmico, já que somos levados a acreditar que existe uma experiência consolidada de ensino à distância. E temos uma série de respeitáveis universidades usando os cursos on-line.

Outro aspecto relevante é que as quadro principais plataformas de ensino ((Coursera, EDX, Udacity e Udemy) possuem mais de 4 milhões de seguidores no momento. Um curso destas plataformas possuem em média entre 30 a 50 mil matrículas. Mas somente 10% dos alunos irão terminar cada curso. Ou seja, a evasão dos cursos são maiores que o ensino tradicional.

Qual a razão disto ocorrer? Para Todd Tauber, o autor do artigo, um dos problemas é que as pessoas que fazem a educação on-line estão ainda pensando em sala de aula. Apesar de existir uma conversa de que o ensino incorpora "anos de pesquisa" sobre o aprendizado, o mundo sofreu grandes transformações. A presença dos smartphones aumentou o número de vezes que as pessoas acessam a internet. Segundo Tauber, "os métodos de ensino do século XX simplesmente não funcionam tão bem para os alunos ocupados e distraídos do século 21".

A estrutura de um curso on-line ainda consiste de leitura, vídeos e exercícios. E possuem a estrutura de um semestre letivo.

Apesar dos avanços da educação on-line, parece que ainda falta muito o que fazer.

25 março 2013

1905 e o Curso Comercial no Paraná


No início de 1905, o Chefe do Estado do Paraná baixou um decreto com a criação do Instituto Commercial (Lei 587 de 18 de março de 1905). Em 1906 o instituto estava funcionando com 59 alunos matriculados. Naquela época, Minas (através da Academia de Commercio de Juiz de Fóra, de 1894), São Paulo (Escola de Commercio, de 1902) e o Distrito Federal (ou Rio de Janeiro) já possuíam ensino comercial regular. Destaque-se que somente a Argentina (desde 1872) e os Estados Unidos possuíam ensino comercial na América.

O ensino comercial seria de três anos, com um curso preparatório e um “curso superior”.  O detalhamento do conteúdo encontra-se a seguir:

Curso Preparatório: caligrafia; português – exercício de ortografia e redação; línguas estrangeiras; princípios de contabilidade; aritmética; álgebra elementar; geometria elementar; noções de física e química; história e geografia; desenho.

Curso Superior: caligrafia; línguas estrangeiras; contabilidade; matemática aplicada ao comércio; estudo de mercadorias; análise e manipulações; estudo de transportes; utensílios comerciais; geografia comercial; história do comércio; elementos de direito civil e processo; legislação comercial, marítima e industrial; legislação financeira e aduaneira; economia política; desenho.

Perceba o leitor a ênfase elevada na troca comercial, incluindo aquela com outros países. Na fase de criação, os documentos existentes na Biblioteca Nacional mostram com mais detalhes os conteúdos que eram ministrados no país, através dos parâmetros das “experiências feitas nos diversos países e como é dado na Academia de Commercio de Juiz de Fóra”. Gostaria de destacar particularmente três disciplinas: contabilidade, matemática aplicada e análise e manipulações.

Em contabilidade geral e prática de escritório, os estudos são divididos em três partes: comercial (transportes por terra, operações de compra e venda, instituições especiais do comércio), financeira (bancos, câmbio, bolsa de seguros, contabilidade pública e administrativa e da contabilidade da indústria em geral) e trabalhos práticos (correspondência e conhecimento completo – teórico e prático – dos livros comerciais).

O conteúdo de matemática aplicada era ensinado juros, descontos, contas correntes, cheques, metais preciosos e sistema monetário, operações da Bolsa e cambio, operações financeiras a longo prazo, fundo do Estado, valores industriais, empréstimos, loterias, operações de companhias de seguros.

O nome análise das manipulações é realmente estranho. Mas o conteúdo é bastante atual: “é um curso essencialmente prático, permitindo aos alunos a decomposição dos produtos comerciais, ensaios, reconhecimento das falsificações que constantemente se praticam”. 

06 março 2013

4 mentiras sobre as universidades


A VECES UN DIPLOMA NO ES EL CAMINO A LA PROSPERIDAD, SINO UNA PÉRDIDA DE TIEMPO - MOISES NAÍM


Cuando Karl Elsener andaba diseñando una navaja para el Ejército suizo, a finales del siglo XIX, no podía imaginar que, más de cien años después, su invento se habría convertido en una herramienta multiusos universal.

La navaja suiza nos saca de cualquier apuro. Sirve como destornillador, cortauñas, tijeras o abrelatas. ¿Olvidó el dentífrico? Aquí está el palillo de dientes. ¿Celebración imprevista? Oportuno sacacorchos.


Al igual que Elsener, los padres fundadores de las universidades en la Edad Media tampoco imaginaron que esos centros de sabiduría acabarían convirtiéndose en una herramienta universal para resolver los problemas del mundo. La educación, sobre todo la superior, es erróneamente tratada como la navaja suiza del cambio social, el progreso económico y la paz internacional. El remedio polivalente para los problemas más acuciantes, presentes y futuros. Del desempleo a la violencia. De la pobreza a la decadencia industrial y de la falta de probidad de políticos al conflicto armado.


Por supuesto que las universidades son fundamentales para un país. Pero al igual que sucede con la panacea universal, de la enseñanza superior se esperan resultados que no puede dar. Y además, las conversaciones sobre las universidades suelen incluir afirmaciones presentadas como verdades indiscutibles, pero que o ya no son ciertas o nunca lo han sido. Estas son cuatro de ellas:

La educación es prioritaria. Es difícil encontrar un candidato presidencial o un Gobierno en el mundo que no consagre la educación como una de sus prioridades. Pero a menudo la retórica se diluye a la hora de asignar recursos, dedicar esfuerzos o arriesgar capital político en las universidadades, que chocan con los intereses de quienes se benefician del statu quo. En muchos países, la consideración por las universidades se refleja más en los discursos que en las decisiones de quienes pueden hacerlas mejores.

 La educación superior es la ruta hacia mayores ingresos. En muchos países sucede lo contrario. En EE UU o Chile, por ejemplo, los estudiantes y sus familias se endeudan para pagar estudios universitarios que les dan un diploma no muy valorado por el mercado laboral. Fontaneros y electricistas obtienen una tasa de retorno a su inversión en educación muy superior a la de sociólogos y psicólogos. El caso de España es muy revelador: es uno de los países europeos con más población universitaria y más graduados que el promedio de Europa. Pero el 40% de estos profesionales están subempleados. Y el 12% está sin trabajo (en Europa la media es 5,2%). Esto no quiere decir que un diploma universitario no sea deseable. Lo que quiere decir es que depende del diploma, de la universidad que lo otorga y del país. Y que en ciertos casos un diploma no es el camino a la prosperidad, sino una costosa pérdida de tiempo.

Las universidades tienen mucho que ofrecerle a la empresa privada. Para que las empresas privadas recurran a las universidades, deben tener incentivos para invertir en investigación y desarrollo. Las empresas no pueden pensar en I+D si están contra la pared, luchando por sobrevivir. También hay problemas del lado de la oferta: no todo profesor universitario hace cosas que interesen a la industria privada o tiene incentivos para hacerlo. Si lo que hace es muy interesante para la empresa, es probable que la empresa lo contrate y lo saque de la universidad. A nivel mundial, los casos en los que hay una provechosa colaboración entre academia y empresa son más la excepción que la regla.

 Los estudiantes y los profesores universitarios son agentes de cambio social. A veces, sí. Pero lo normal es que sean poderosos obstáculos al cambio. Los académicos suelen ser muy revolucionarios con respecto a la sociedad en la que viven y muy conservadores con respecto a la organización que los emplea. Abogan por el cambio afuera y luchan aguerridamente por impedir que, por ejemplo, haya más competencia entre ellos o sus instituciones. En muchos países, los profesores que alcanzan cierto estatus obtienen garantías laborales que los adormecen —y que no se dejan quitar. Y basta acudir a muchas facultades públicas en América Latina o Europa para descubrir que, salvo excepciones, no son centros donde se premia la excelencia, sino lugares donde los profesores aburren a los estudiantes con el mismo curso a lo largo de los años. O que algunos departamentos son solo nostálgicos cementerios de ideologías fracasadas.
Todo esto va a cambiar. En la próxima década las universidades van a experimentar más transformaciones de las que han vivido desde el siglo XI. Internet y otras fuerzas sociales y económicas se encargarán de ello.


Fonte: Las universidades: cuatro mentiras - Moises Naím



16 janeiro 2013

Segunda graduação

À medida que aprofunda e diversifica suas coletas de dados, o IBGE faz constatações surpreendentes. Com base no último Censo Demográfico, por exemplo, o órgão apurou que, em 2010, quase 11% dos estudantes universitários do País já eram formados ou estavam fazendo um segundo curso de graduação. A maior parte desse grupo de estudantes está no Sudeste. Por ser a região mais desenvolvida do Brasil, é nela que é oferecida a maior quantidade de empregos na economia formal.

O levantamento do IBGE também revela que 30,1% dos universitários que fazem uma segunda graduação estão na faixa etária de 40 anos - ou seja, são bem mais velhos do que a média de estudantes do ensino superior e a maioria já tem uma colocação no mercado de trabalho. O levantamento do IBGE mostra ainda que 13,2% dos estudantes que estão na segunda graduação fizeram - ou fazem - a primeira graduação numa instituição pública federal ou estadual. Portanto, esse é um contingente de estudantes qualificados, uma vez que as universidades públicas estão entre as melhores do País.

O IBGE não indagou os motivos que levaram 11% dos universitários brasileiros a fazer um segundo curso de graduação. Os especialistas em pedagogia e em recursos humanos aventam três hipóteses para explicar essa decisão. A primeira seria o descontentamento com sua carreira profissional. Insatisfeitos com os baixos salários ou com a área do conhecimento de sua graduação, eles voltaram à faculdade buscando se reposicionar no mercado de trabalho. "A pessoa escolheu uma carreira e não se identificou com ela", diz Jacqueline Resch, especialista em recursos humanos. "Isso mostra a inadequação do sistema universitário brasileiro, em que o aluno tem de fazer escolhas prematuras sobre profissões eventualmente dissociadas do mercado de trabalho", afirma Antonio Freitas, professor da Fundação Getúlio Vargas, criticando o que chama de "profissionalização precoce".

A segunda hipótese explica a decisão como decorrente do avanço da tecnologia e seu impacto na divisão do trabalho intelectual, rompendo a tradicional classificação dos currículos do ensino superior em três áreas básicas - ciências humanas, exatas e biomédicas. Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, essas áreas se entrecruzaram. Com isso, a economia formal passou a exigir profissionais com formação interdisciplinar. "Muitos estudantes se conscientizaram da necessidade de complementar sua formação com disciplinas que não dominam. As empresas exigem cada vez mais dos funcionários e as pessoas cada vez mais trabalham em equipes interdisciplinares", afirma Jacqueline Resch.

A terceira hipótese está associada à velocidade das mudanças científicas e tecnológicas - fenômeno que os economistas chamam de "processo de destruição criadora". Na dinâmica desse processo, o que hoje é novidade científica envelhece em curto período de tempo. Desse modo, o conhecimento tende a evoluir em ritmo cada vez mais rápido - e quem se formou num curso superior há cinco ou dez anos é obrigado a voltar a estudar, para se reciclar academicamente. Caso contrário, corre o risco de ser expulso do mercado de trabalho, por não dominar as novas técnicas de gestão e produção. Em outras palavras, voltar a estudar, como descobriram os estudantes que estão fazendo uma segunda graduação, é questão de sobrevivência profissional.

O aumento da escolaridade de 11% da população de universitários é uma informação importante, que mostra a necessidade de reestruturar o ensino superior do País. A divisão dos cursos em três áreas básicas já está superada e os currículos universitários orientam-se por matrizes profissionais desconectadas com a realidade social e econômica do País. E como o mercado de trabalho exige dos profissionais uma formação cada vez mais abrangente, um diploma superior já não é mais uma garantia de ascensão profissional.

A Universidade precisa ser repensada, para dar às novas gerações uma formação mais sólida e um conhecimento técnico mais próximo da realidade do mercado de trabalho.


Fonte: aqui

16 dezembro 2012

Demanda por PhDs


Em comum, Gustavo Manso, Newton Campos e Sandra Jovchelovitch têm o fato de lecionar em renomadas escolas de negócios fora do Brasil. Além disso, os três, nascidos no país, também são PhDs e fizeram parte dos estudos no exterior. Essas duas características, aliás, parecem ser essenciais para quem quer dar aulas em instituições de primeira linha nos Estados Unidos e na Europa. "É raro alguém que não tenha esse perfil lecionar nas melhores escolas", diz Gustavo Manso, hoje professor associado de finanças na Haas School of Business, da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Os três brasileiros preenchem requisitos que nem sempre as escolas de negócios encontram facilmente para completar seus quadros. Em uma recente entrevista ao Valor, Arnoud de Meyer, presidente da Singapore Management University, afirmou que não há professores suficientes para atender a demanda por ensino de qualidade para os jovens que estão entrando no mercado. "Não temos gente com PhD que possa, de fato, elevar o nível de ensino", disse ele.

A AACSB, associação que reúne aproximadamente 1.200 escolas de negócios de 70 países, tem números que corroboram a percepção de Meyer. Dados coletados entre 2011 e 2012 mostram que os membros da AACSB reportaram 1.350 vagas para professores com doutorado que não foram preenchidas no período. Essas mesmas escolas informaram que 2.704 acadêmicos doutores devem se aposentar nos próximos cinco anos. "Com a desaceleração das contratações e o crescente número de aposentadorias, a demanda por professores com PhD está aumentando", disse um porta-voz da AACSB. Entre as áreas que mais sofrem estão contabilidade, finanças, economia e gestão.

[...]

Poder passar boa parte do ano debruçada sobre pesquisas é uma das características que agradam a professora da London School of Economics (LSE) Sandra Jovchelovitch em sua atividade profissional. Na escola britânica, ela passa entre 60 e 70 horas por ano lecionando. Ela ressalta que enquanto no Brasil o foco é a sala de aula, nas escolas de elite do Reino Unido e dos Estados Unidos o ensino é dirigido pela pesquisa. "A condição de trabalho para o acadêmico que tem ambição de desenvolver conhecimento é excelente nesses países", diz. Isso não quer dizer que os professores sejam menos cobrados ou sofram menos pressão. Eles são avaliados constantemente e o avanço na carreira é centrado na produção de pesquisa.

Com quatro livros publicados e diversos papers e artigos, Sandra já está no Reino Unidos há 21 anos. Depois de cursar psicologia e concluir o mestrado na PUC do Rio Grande do Sul, ela deu aulas na instituição antes de fazer um doutorado na LSE. "Escolhi o Reino Unido porque eles tinham os maiores centros de produção de conhecimento na minha área", diz. A intenção dela, no entanto, era voltar para o Brasil após o curso. "Mas acabei me casando com um suíço em Londres e fiquei", conta.

Com o título de PhD, Sandra participou de processos seletivos para lecionar no Reino Unido. Foi chamada por Cambridge também, mas escolheu a LSE. Ela acredita que o fato de ter feito doutorado na instituição britânica ajudou a conseguir a vaga. "Quando as escolas de elite buscam pesquisadores, elas avaliam as instituições de formação desses profissionais", diz. Hoje com uma função de acadêmica sênior, Sandra é diretora do mestrado em psicologia social e cultural e dá aulas nesse mesmo programa.

Newton Campos, professor na IE Business School, da Espanha, ainda não se considera um acadêmico - como Manso e Sandra -- embora dê aulas no MBA de uma das melhores escolas de negócios do mundo. Isso porque ele ainda não consegue se dedicar à pesquisa como gostaria. "É o próximo passo na minha carreira", diz. Campos deixou o Brasil em 2000 para fazer um MBA no IE, logo após ter concluído a graduação em contabilidade na PUC de São Paulo. Parte do programa executivo foi cursada na Índia, no Indian Institute of Management.

Foi durante o curso que ele se interessou mais pelo empreendedorismo em economias emergentes, disciplina que leciona hoje no IE. Antes de dar início à carreira de professor, no entanto, Campos trabalhou na Telefónica em Madri e, pouco depois, foi convidado pelo IE para divulgar a escola no Brasil. Assim, foi country manager da instituição no país entre 2003 e 2010. Alguns anos depois de difundir o nome e os programas da escola por aqui, achou que o trabalho poderia ser feito em meio-período. Proposta aceita pelos espanhóis, ele começou um doutorado na Fundação Getulio Vargas e, após obter o título de PhD, começou a dar aulas no IE. Ali, também passou a ser diretor de admissões dos programas de MBA "blended", com aulas presenciais e on-line.

Segundo ele, uma das maiores qualidades das escolas de negócios mais bem posicionadas nos principais rankings de ensino executivo é a diversidade em sala de aula. "Tenho 54 alunos de 44 países diferentes. Isso eleva o nível dos debates e traz uma dinâmica muito diferente", afirma. Campos acredita que seu vínculo com o IE o ajudou a conseguir uma vaga como professor. Martin Boehn, vice-reitor dos programas de MBA da escola, afirma, no entanto, que muitos não estudaram na instituição. "Temos o objetivo de recrutar os melhores ao redor do mundo e nem todos se formaram na IE", diz. Em sua opinião, o fundamental é que o profissional combine expertise em pesquisa e prática docente. "Isso assegura que nossos alunos não aprendam apenas sobre as novas pesquisas, mas também sobre a aplicação dessas teorias."

A diversidade cultural no quadro de professores também é relevante para o IE. Boehn ressalta que ser exposto a diferentes visões de mundo estimula o aprendizado e ajuda a desenvolver uma mente aberta. "Além disso, um quadro de professores internacional pode oferecer aos estudantes uma perspectiva global de como fazer negócios em um mundo cada vez mais conectado". Já na LSE, 45% dos professores vêm de fora do Reino Unido. Essa mistura de nacionalidades, segundo um porta-voz da instituição, ajuda a criar um ambiente estimulante intelectualmente.

Fonte: Novos horizontes para PhDs - Valor Econômico - Adriana Fonseca -13/12/12

10 setembro 2012

O que não te ensinaram na pós-graduação III


Sempre repito a afirmação também destacada no livro de Richlin e Upham (
What They Didn’t Teach You in Graduate School – sem edição em português):

Um professor tem a oportunidade de impactar positivamente a vida e carreira de seus estudantes.

Então, continuando com a série de postagens sobre o que não é ensinado na pós-graduação, hoje falaremos sobre PROFESSORES.

- Ensinar é uma grande satisfação pessoal e um bem público importante desempenhado por você. Lembre-se sempre disso.

- Ensinar é uma arte a ser aprendida. Assim, segue uma curva de aprendizado. Seu primeiro esforço não será tão bom quanto o seu segundo, nem o seu segundo quanto o seu terceiro. Entretanto, há um limite de melhoria. Em outras palavras, sua avaliação como docente alcançará um pico e a partir dali se manterá constante. Eventualmente você irá se entediar com o curso e suas notas irão cair. Não se desespere. É um fenômeno natural. Frequentemente é um resultado da idade; professores acima de 40 anos se identificam cada vez menos com alunos calouros de 18 anos – especialmente se não têm filhos. Notas em declínio significam que é hora de você lecionar outra matéria para estudantes de outro nível.

- Encontrar a sua turma é prioridade. Não cancele aulas porque é inconveniente pra você. Se você souber antecipadamente que estará em um congresso, por exemplo, peça que um colega te substitua – mas não exagere. Os alunos querem aulas com você e não com substitutos.

- Aulas a distância são uma benção. Aulas a distância são uma ameaça. Uma benção porque você pode alcançar os seus alunos que outrora não teriam a oportunidade de aprender com você ou saborear as belezas da sua área. É uma ameaça porque um possível cenário é que universidades e faculdades aprendam que é mais barato comprar uma infraestrutura para ensino a distância, que construir novos prédios ou contratar novos professores. Com o ensino a distância você pode ensinar (ou distrair) centenas simultaneamente e não apenas 10 ou 30 alunos em sua classe. Ainda, se você não é um superprofessor em vídeo ou na internet, não haverá um mercado para você mesmo que você seja um ótimo pesquisador.

- O índice de morte de tios e avós de alunos é um fenômeno, além de qualquer mensuração atuarial. E há distorção perto de período de provas. Uma morte na família é a desculpa padrão para perder aulas e avaliações. Embora alguns alunos sejam impressionantemente inventivos ao tramar histórias, a maioria não é. Ao se deparar com tal desculpa, tenha em mente que o aluno pode estar te enrolando.

- Acredite ou não (!!!), colar é comum em algumas instituições. Ao preparar testes, elabore mais de um modelo. Você pode embaralhar a ordem das questões ou a ordem das respostas. Dizem por aí que um professor pedia para a turma inteira virar as cadeiras ao contrário antes de receber a prova. Apesar de ser mais fácil o professor simplesmente se levantar e ficar no fim da sala, há um quesito psicológico bem interessante.

- Ensinar pode ser uma profissão perigosa. Não é frequente, mas um aluno pode ir até a sua sala ou prédio e atirar em todo mundo ou causar danos físicos. Os casos são suficientemente raros, mas lembre-se que, como professor, você é uma figura pública. As suas ações afetam pessoas reais. Os estudantes estão sujeitos aos mesmos distúrbios mentais que a sociedade como um todo. Se você já identificou alunos-problema, tome os devidos cuidados. Evite caminhar sozinho (para o carro ou para a sua sala) após lecionar, por exemplo.

07 setembro 2012

O que não te ensinaram na pós-graduação II


Esta postagem, continuação da anterior, é indicada especialmente a quem pretende ganhar a vida como professor universitário.

- Evite trabalhar na faculdade em que estudou, não importa o tamanho da sua lealdade. Você sempre será visto como um aluno pelos membros mais antigos e será tratado como tal. É diferente, entretanto, se você retorna após alguns anos trabalhando em outra instituição.

- A regra de oferta e demanda se aplica ao mundo acadêmico tanto quanto a outros campos. Você está jogando com o futuro no mercado de trabalho, assim como um ocorre no mercado de capitais, quando escolhe uma área para o seu doutorado. Já que leva de quatro a sete anos [quando mestrado + doutorado] para alcançar o grau, você faz suposições de que seus serviços serão necessários daqui a vários anos. Podem ser – mas, também, podem não ser. Quando uma nova especialização se abre, é um momento empolgante. Várias pessoas migram de campos adjacentes. Há a formação de departamentos ou de áreas de concentração e inicia-se o treinamento de doutores naquela área. Há pouca oferta de quem entenda do assunto, então altos salários são oferecidos. Todavia, o que usualmente acontece é que dentro de um espaço temporal relativamente curto, o mercado do doutorado e, consequentemente, o de trabalho, torna-se saturado. Mais ainda, outras especialidades emergem e a universidade corta a moda passageira. A implicação clara para os estudantes é que áreas com excesso de oferta de candidatos se torna mais difícil de conseguir tanto um emprego inicial quanto de professor titular.

- As universidades têm suas próprias culturas e em grandes instituições, faculdades e departamentos com culturas diferentes. Tente descobrir qual é o clima no local onde decidir trabalhar. Se você está iniciando a carreira, um ambiente hostil será demasiadamente estressante. Procure por departamentos nos quais haja tranquilidade e bom convívio interpessoal.

- Avalie um pós-doutorado com cuidado, especialmente se você for das ciências. Você deve pensar em um pós-doutorado em termos econômicos frios e exigentes. (Consideramos apropriado se você: está em um campo no qual empregos em boas áreas estão escassos e você ainda não conseguiu a sua vaga; se você sente a necessidade de adquirir ferramentas de pesquisa específicas de forma a desenvolver o seu trabalho além do doutorado; se você pretende trabalhar com uma personalidade específica que acrescentará ao seu autodesenvolvimento). Um pós-doutorado não é apropriado se você tem medo de lecionar ou falar em público (você está apenas adiando o inevitável). Também não é apropriado se você viveu quase sem dinheiro por anos e/ou precisa sustentar a sua família.

- Se você quer ainda um desafio maior, mude a sua ocupação ou se mude a cada sete anos. Isso irá alargar a sua perspectiva e seu ponto de vista (um pouco disso vem do efeito Hawthorne*, as pessoas prestarão atenção em você por ser novo. Nos primeiros anos em uma instituição ou departamento você terá a aura de um perito externo. Com o tempo você passa a ser mais um na multidão) e alterar áreas permite que você mude de uma linha de pesquisa madura para uma mais nova e dinâmica (A graça está aí. Mas tenha cuidado, pois uma nova ocupação requer novas ferramentas).

- Quando considerar uma instituição para trabalhar, questione sobre o plano de aposentadoria – mesmo que no momento você sinta que é muito cedo para se preocupar com o assunto.

- Dependendo da universidade, questione sobre vagas no estacionamento. Caso você não tenha direito e as vagas forem pagas, isso pode afetar as suas finanças de forma substancial.

- Lembre-se que salário líquido é diferente de salário bruto. Ao escolher uma instituição lembre-se de considerar: custo de vida; custo de moradia; qualidade das escolas para seus filhos (atuais ou futuros); empregabilidade para o seu parceiro.

- Ao longo do caminho você poderá perceber que não se identifica com a docência ou talvez não consiga um emprego no lugar em que gostaria. Ao tentar lecionar Albert Einstein foi inicialmente recusado e duramente criticado – o que fez com que fosse trabalhar no escritório suíço de patentes. Não tendo que se preocupar com a pressão de encontrar seus alunos ou com a opressão de trabalhos de pesquisa, pode se ocupar em pensar, surgindo com a Teoria da Relatividade, dentre outras. A partir daí foi convidado a ser professor. O ponto é que inovação e criatividade podem ser alcançadas fora de uma carreira acadêmica assim como dentro. Chegar ao título de doutor é um ponto de descontinuidade na sua vida, quando vários caminhos alternativos se abrem para você. O caminho para professor titular é um deles. Afinal, a vida é o que você faz dela, não é mesmo?

*O Efeito Hawthorne se refere a um estudo realizado em fábricas entre 1924 e 1932 que avaliou a produtividade dos trabalhadores quando uma alteração era realizada. A interpretação dos resultados mudou ao longo dos anos. Hoje considera-se que o Efeito Hawthorne significa que prestar atenção nas pessoas muda o comportamento delas, indiferentemente da mudança. O efeito foi nomeado em homenagem a agora extinta fábrica Hawthorne da empresa Wester Eletric localizada em Cícero, Illinois (Para mais leia sobre o Efeito Hawthorne em http://en.wikipedia.org/wiki/Hawthorne_effect).

O que não te ensinaram na pós-graduação I

06 setembro 2012

O que não te ensinaram na pós-graduação

“What they didn’t teach you in graduate school” é um livro sobre dicas de coisas que provavelmente você não aprendeu ao cursar o doutorado, como sugestões de como lidar com a pesquisa ou como interagir em sala de aula. Os autores deixam claro que é uma aplicação bem específica aos Estados Unidos. Como aqui no Brasil é comum lecionar sem especialização ou escrever artigos na graduação, as dicas podem ser absorvidas por um universo maior que o composto por doutores.

Parte I: O Doutorado

- Termine o seu doutorado o quanto antes. Não sinta que você precisa criar o melhor trabalho que o mundo moderno já viu. Daqui a cinco anos a única coisa que importará é ter se formado.

- Seja humilde. Você não precisa ostentar o seu título. (A não ser para fazer reservas em restaurantes. Quando você ligar e pedir uma mesa para quatro pessoas no nome do Doutor Jones, você ganhará mais respeito e provavelmente uma mesa melhor).

- Um doutorado é um certificado de habilidade para pesquisa com uma amostra. O doutorado certifica que você tem capacidade para fazer pesquisa com qualidade. Ao contrário dos médicos, que realizam um trabalho extensivo com pacientes concomitante a anos de internato e residência, o doutorado é baseado em uma simples amostra: a sua tese. As pessoas que a assinam estão fazendo uma grande aposta na sua capacidade de produzir com qualidade várias e várias vezes no futuro.

- Um doutorado é uma licença para reproduzir e uma obrigação de manter a qualidade intelectual de seus descendentes. Uma vez que você se torna um doutor, é possível que você (assumindo-se que você esteja trabalhando em um departamento acadêmico que ofereça doutorado) habilite novos doutores. Mesmo que o seu departamento não ofereça doutorado, você pode ser chamado para participar de um comitê avaliador na sua instituição ou em instituições vizinhas. Essa é uma responsabilidade séria por que você está criando descendentes intelectuais. Reconheça que se você votar em passar alguém que é marginal ou pior, àquele doutorando, em troca, é dado o mesmo privilégio. Se os candidatos não são dignos do reconhecimento, provavelmente alguns dos seus descendentes também não serão. Ao contrário das intergerações humanas de 20 anos, a intergeração acadêmica tem 5 anos ou menos. Mais ainda, um simples indivíduo pode supervisionar 50 ou mais doutores em uma carreira de 30 anos.

- Evite a Síndrome de Watson. Nomeada por R. J. Geller essa síndrome é um eufemismo para procrastinação. Isso envolve fazer tudo possível para evitar completar o seu trabalho. É diferente do bloqueio de escritor porque há a substituição por trabalho real que te distrai do que é necessário para completar a tese ou para avançar na sua carreira acadêmica.

[R. J. Gelles, “Watson’s Syndrome”, inside Higher Education, v. 19, jun. 2006. Disponível em: ]


16 julho 2012

Ensinando Débito e Crédito


Escrevi, há anos, um texto introdutório de contabilidade. Minhas opções pedagógicas foram baseadas no que estava sendo ensinado em outros países, principalmente os Estados Unidos. A razão disto era que os livros brasileiros de então estavam defasados em termos de metodologia e conteúdo. Durante os anos seguintes, quando usei o livro Contabilidade Básica em sala de aula, esta impressão foi cada vez mais reforçada: somos responsáveis pelo ódio que as pessoas possuem da contabilidade por termos uma abordagem de ensino defasada e inapropriada. Os estudantes acham a contabilidade complicada demais, sem sentido com as coisas práticas, baseadas em regras sem fundamento, entre outros aspectos negativos.

O método de ensino das partidas dobradas deveria ser escolhido a partir de experiências realizadas nas instituições de ensino. Situações típicas relacionadas à forma de ensinar (como: devemos mostrar os efeitos na equação contábil dos lançamentos; as primeiras transações contábeis devem incluir os efeitos sobre o resultado e como isto deveria ser mostrado) têm sido objeto de pesquisa. Geralmente os pesquisadores confrontam duas possibilidades, com aplicação de verificação de aprendizagem aos grupos de estudantes que tiveram acesso aos métodos distintos. O resultado dos testes é determinante para a escolha de qual método é melhor para fazer com que os conhecimentos contábeis sejam absorvidos pelos alunos.

Isto é muito diferente do que ocorre no Brasil, onde os professores escolhem as obras didáticas pelo fato de terem estudados naqueles livros. Nunca pelo fato de serem os melhores livros para ensinar contabilidade.

Leia mais em:
PHILLIPS, F; HEISER, L. A Field Experiment Examining the Effects of Accounting Equation Emphasis and Transaction Scope on Students Learning to Journalize. Issues in Accounting Education. Vol. 26, n. 4, 2011, p. 681-699.

28 junho 2012

A contabilidade e seus escritores

Hoje em dia está absurdamente mais fácil publicar um livro. Nem editora é necessário caso você queira se aventurar por aí... Há sim editores e agentes literários, como também sites que incentivam a publicação de livros eletrônicos pelo próprio escritor. Isso me torna ainda mais crítica ao comprar algo - acho muito bom quando disponibilizam o primeiro capítulo da obra para que saibamos o nível da peça que estamos pensando em adquirir.

Enfim... recebi um e-mail de um leitor que me fez rir um bocado. Agradeço a contribuição e divido o momento "paciência zero" com vocês:


Pérola 1:

"MECANISMO DE DÉBITO E CRÉDITO

Como podemos notar, os fatos contábeis provocam aumentos e diminuições nos componentes patrimoniais. Para melhor entender esse mecanismo, vamos retornar à equação contábil: ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO.

Ora, se sempre haverá igualdade entre o Ativo e o Passivo + Patrimônio Líquido, podemos também afirmar matematicamente que

ATIVO - (PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO) = ZERO.

Ou seja: ATIVO - PASSIVO - PATRIMÔNIO LÍQUIDO = ZERO.

Isso nos leva a concluir que o Ativo é o lado dos componentes positivos do patrimônio e o Passivo e Patrimônio Líquido, o lado dos componentes negativos.

[Comentário crítico: Se eu inverter a lógica matemática do amigo, e colocar que Passivo + Pl - Ativo é igual a zero, eu desconstruo o raciocínio do rapaz, né não!?]

Vejamos o exemplo a seguir: (desenho de um balanço patrimonial simples, com caixa e contas a pagar e capital). Sendo o ativo o lado positivo do patrimônio, as suas contas são positivas, isto é, os seus saldos são sempre positivos (denominados devedores). [Comentário crítico: Pronto, deu o nó geral na cabeça dos coleguinhas...] As contas do Passivo e Patrimônio Líquido, por sua vez, são negativas, isto é, seus saldos são sempre negativos (credores)."

Pérola 2:

"Lembre-se: Toda vez que tiver uma despesa, debitar a conta, toda vez que tiver uma receita, creditar a conta!"
[Comentário crítico: Tá, mas e o coleguinha que ler isso e pegar a conta "Despesa de assinatura paga antecipadamente"... ou "Receita antecipada de serviços"?????]

Ordem do dia: Tomem cuidado com os livros que utilizam! E senso crítico é um "must have".

24 junho 2012

Lealdade Cliente-Aluno

A Lealdade do estudante baseada na qualidade do relacionamento: uma análise em instituições de ensino superior

Resumo
A pesquisa tem como objetivo verificar a propensão à lealdade a instituições de ensino superior por parte de seus alunos. Para tanto, identificou-se que o marketing de relacionamento se mostra essencial para que a relação entre escolas e alunos seja efetuada e mantida, possibilitando o desenvolvimento de relacionamentos direcionados à retenção e à lealdade de seus clientes. A pesquisa foi realizada com 352 estudantes do curso de Administração, em três instituições do interior de São Paulo. A análise dos dados foi feita por meio da Análise de Regressão Linear Múltipla. Os resultados evidenciaram que há propensão dos clientes-alunos à lealdade para com a instituição de ensino superior. Os construtos que influenciaram a lealdade do cliente-aluno são: Qualidade Percebida, Satisfação, Comprometimento Emocional e Confiança, que foram responsáveis por 46% da variabilidade dos dados. A partir destes resultados, várias implicações acadêmicas e gerenciais foram discutidas, demonstrando que a lealdade do cliente-aluno se coloca como importante objetivo estratégico a ser buscado e alcançado por essas empresas.

Fábio Vinicius de Macedo Bergamo; Antonio Carlos Giuliani; Silvia Helena Carvalho; Ramos Valladao de Camargo; Felipe Zambaldi; Mateus Canniatti Ponchio

BBR Brazilian Business Review, v. 9, n. 2, 2012.

27 fevereiro 2012

Ensino superior do futuro


Gustavo Ioschpe
Revista Veja, 22/02/2012


O ensino superior do futuro

Há uns anos, fui dar uma palestra em uma universidade privada. Perguntei ao diretor qual era o maior desafio deles. Imaginei que ele fosse me dizer que eram outras universidades semelhantes, ou a universidade pública, mas não: “O que nos atrapalha é esse pessoal que engana os alunos dizendo que curso de dois anos é ensino superior”. Eis um bom retrato do nosso ensino superior: não só pequeno como atrasado. Hoje, nosso primeiro problema é termos uma taxa de matrícula de 22%, entre um terço e um quarto da dos países desenvolvidos, metade da de países como Chile, Venezuela e Peru e abaixo da de todos os Brics, exceto a Índia.

A principal explicação para esse acanhamento no ensino superior é a falência da nossa educação básica. Mas, se algum dia consertarmos esse problema (crença que se aproxima cada vez mais do dito sobre o segundo casamento: é o triunfo da esperança sobre a experiência), nossos graduandos se defrontarão com um modelo de ensino superior defasado. Esse não é um problema só brasileiro. No começo do ano participei de um seminário sobre ensino superior em países em desenvolvimento na Universidade de Oxford, e o que se discutiu lá, mais aquilo que já vem sendo pensado aqui, nos permite ter uma ideia de como será o ensino superior da próxima geração. Eis os horizontes mais relevantes (agradeço a Jamil Salmi, até recentemente líder da área de ensino superior do Banco Mundial, por muitos dos exemplos abaixo).

Flexibilidade - Durante séculos, o ensino superior foi algo que acontecia em universidades, em cursos de quatro anos, preparando o aluno para uma carreira específica. No futuro, o ensino se dará em universidades, em escolas técnicas e em outros formatos que ainda não conhecemos que permitam o lifelong learning, o aprendizado ao longo de toda a vida. Os cursos poderão ser presenciais ou on-line. Mais frequentemente, serão das duas formas. Terão dois, três ou quatro anos de duração. Tratarão de várias áreas do conhecimento, e estarão mais preocupados em ensinar a pensar do que em transmitir conhecimentos e habilidades específicos, pois a obsolescência do saber será ainda maior do que é hoje.

Menor duração – O Brasil tem três tipos de formação: bacharelado, licenciatura e curso de tecnólogo. Esse último dura entre dois e três anos, focado no desenvolvimento de uma competência profissional específica, normalmente para cargos de salário médio. No Brasil, só 10% das matrículas em cursos presenciais está nesse tipo de curso. Na China, é mais da metade. Nos países desenvolvidos (OCDE), é um terço (dados disponíveis em twitter.com/gioschpe). Em vez de ser percebido como a melhor alternativa para a pessoa que busca um diferencial rápido e eficaz no mercado de trabalho, o curso de tecnólogo ainda é erroneamente visto como um “primo pobre” do ensino “de verdade”.

Laços com o ensino básico – Nas últimas décadas, o ensino superior se massificou e deselitizou (o Brasil ainda chegará lá), e o ritmo de inovação no mercado de trabalho fez com que um diploma de uma boa universidade não fosse mais suficiente para uma carreira cada vez mais longa. Assim, a distinção entre educação básica e superior vai ter cada vez menos sentido. Ambas estarão dentro de um contínuo, que começa na pré-escola e só termina com a morte. Na Alemanha, as faculdades de engenharia e escolas politécnicas já estão em contato com jardins de infância para atrair futuros bons engenheiros. No Brasil, teremos um problema adicional a resolver: as áreas de licenciatura e pedagogia, hoje patinhos feios da academia, terão de ganhar em importância e prestígio. As universidades terão de entender que sem um aluno bem formado no ensino básico não conseguirão fazer o seu trabalho com qualidade.

Tecnologia – No Brasil, só reconhecemos diplomas de instituições brasileiras, mas certamente em breve validaremos o ensino dado nas melhores universidades do mundo. Hoje já é possível assistir, on-line e sem custo, a aulas de instituições como o MIT e Stanford. Nos EUA, um sexto das matrículas do ensino superior já é feito em cursos on-line. O Brasil está chegando perto, com uma em cada sete, depois de uma explosão que levou o número de matriculados de 200 000, em 2006, para 930 000, em 2010. Stanford, Purdue e Duke são universidades que já gravam todos os seus cursos, para que os alunos possam baixá-los e rever as aulas quantas vezes quiserem. Há algumas semanas, a Apple lançou uma plataforma de venda de livros didáticos para o iPad. Além do texto, tem vídeos, animações, lugar para resumos. Em breve, serão compartilháveis.

Desabou a Torre de Marfim – À medida que o ensino superior se massifica, desaparece a noção da academia como instituição alheia (e superior) ao mundo “real”. Haverá cada vez mais forte competição entre instituições pelo aluno, o que faz com que as universidades precisem se desdobrar para atender às demandas dos alunos e de seus futuros empregadores. A Universidade do Sul da Flórida dá uma garantia a seus alunos de engenharia: se, durante seus cinco primeiros anos no mercado de emprego, eles sentirem a necessidade de competências que não aprenderam na faculdade, podem voltar e aprendê-las de graça.

Currículo – Oscar Wilde (1854-1900) escreveu que nada que vale a pena saber pode ser ensinado. O desafio das universidades do futuro será ensinar apenas aquilo que vale a pena saber, o que demandará novos currículos e nova didática. Um exemplo é o Olin College of Engineering, nos EUA. O ensino é centrado na resolução de problemas, sempre em equipes. Não há departamentos acadêmicos e os professores não recebem cátedra. O currículo é baseado em um triângulo entre engenharia (o projeto é exequível?), empreendedorismo (é viável?) e humanas (é desejável?).

Interdisciplinaridade – Os problemas do mundo real são complexos e não respeitam fronteiras departamentais. A universidade do futuro terá de respeitar essa realidade. Todo aluno de graduação nos EUA passa por todas as grandes áreas do saber. Só no início do terceiro ano é que ele precisará decidir qual será a sua “major”, a área em que vai se diplomar. Antes disso, o futuro cientista estuda sociologia e o historiador estuda matemática. A especialização virá mesmo só na pós-graduação. Algumas universidades federais no Brasil tomaram a iniciativa de criar um “bacharelado interdisciplinar”. É um bom começo, ainda que a iniciativa seja limitada pelo fato de que o aluno estuda apenas uma de quatro grandes áreas (artes, humanidades, saúde e ciência e tecnologia).

Nada é de graça – Um sistema educacional que matricule perto de 100% dos jovens (EUA, Finlândia e Coreia do Sul já estão chegando perto disso) é caro. Não é possível estender esse benefício a número tão grande de alunos e esperar que os contribuintes paguem a conta. Com exceção de México, República Checa e países escandinavos, todos os países da OCDE cobram mensalidades de seus alunos em universidades públicas. Passaremos por mais algumas invasões de reitorias, mas chegaremos lá.