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18 novembro 2019

Por que o Brasil está perdendo interesse em sua seleção?

Por que o Brasil está perdendo interesse em sua seleção?
Joshua Law - SportsMoney

Entre eles, Brasil e Argentina dividem sete Copas do Mundo e produziram sem dúvida os três maiores jogadores da história do futebol. Quando eles se encontram, é um dos jogos mais significativos do mundo. Ou, pelo menos, deveria ser.

Mas 48 horas antes das duas equipes se encontrarem na sexta-feira à tarde - uma vitória da Argentina de 1 a 0, decidida pelo gol de Lionel Messi -, uma rápida leitura dos sites de esportes mais populares do Brasil lhe daria pouca indicação de que houvesse até um jogo acontecendo.

Havia um artigo sobre a seleção potencial de equipes de Tite no Globo Esporte. Em outros lugares, o jogo foi deixado de lado para uma infinidade de relatos sobre a próxima final da Copa Libertadores, Lewis Hamilton e Rafael Nadal.

Em um país supostamente louco por futebol, a falta de atenção foi impressionante. Mas o descontentamento da população com a Seleção vem fervendo há algum tempo.

Jogar amistosos em terras longínquas tornou-se comum no Brasil. No último intervalo com jogos de seleções, eles viajaram para Cingapura para jogar contra o Senegal e a Nigéria. Em setembro, a equipe brasileira podia ser encontrada jogando nos EUA.

A Seleção joga amistosos fora do Brasil porque a CBF, federação brasileira de futebol, terceirizou a organização dos jogos para uma empresa britânica chamada Pitch International.

A Pitch detém o direito de organizar tudo, desde a localização da partida, os hotéis da equipe e as instalações de treinamento. Eles então vendem a oportunidade de receber o time de futebol mais negociável do mundo, pelo maior lance.

Este mês, isso significou viajar para a Arábia Saudita e Abu Dhabi, onde o Brasil joga com a Coréia do Sul na terça-feira.

O acordo foi firmado em 2012, no final do reinado do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixera, que renunciou após uma série de alegações de corrupção e lavagem de dinheiro, e vai até 2022.

O efeito para os fãs é que os distancia, tanto física quanto emocionalmente, da equipe. Eles não podem ver o time jogando ao vivo no estádio e, com os jogos ocorrendo do outro lado do planeta, costumam ser difíceis de assistir na televisão. A partida contra o Senegal, em Cingapura, por exemplo, aconteceu às 9h, horário de Brasília, em um dia útil.

Após esse jogo, o técnico do Brasil, Tite, deixou claro seu descontentamento com Pitch. “O que mais me chateou foi a falta de respeito que a Pitch mostrou ao Brasil e ao Senegal”, reclamou ele, “não nos deixando treinar no campo [antes do jogo]. Jogadores de alto nível precisam de mais respeito. ”

Depois do jogo do Brasil contra o Peru, em setembro, disputado no Coliseu do Memorial de Los Angeles, ele fez uma observação semelhante: “A Pitch precisa cuidar disso. Deve haver um campo melhor para se jogar. Não podemos fazer um ótimo show em território como este. ”

Apesar dos problemas, não há como sair do contrato com a empresa britânica. Nenhuma cláusula de indenização foi inserida no acordo inicial e a recusa em atender às demandas da Pitch acarretaria uma batalha legal que poderia custar à CBF centenas de milhões de dólares.

Além dos jogos serem disputados em locais distantes e em momentos inconvenientes, o sentimento de desinteresse é acentuado pelo fato de a maioria da equipe não jogar em clubes brasileiros.

O dinheiro e, portanto, o nível mais alto de futebol, pode ser encontrado na Europa Ocidental, de modo que o continente atrai os melhores jogadores do maior país da América do Sul. Como os fãs brasileiros não os veem jogando regularmente, eles sentem pouco apego emocional.

E mesmo quando jogadores de clubes brasileiros são convocados, isso costuma ser visto como um inconveniente mais do que uma recompensa ou privilégio.

O calendário brasileiro de futebol é tão cheio de jogos que a competição doméstica continua durante as datas internacionais da FIFA, o que significa que os jogadores que jogam pelo Brasil estão fazendo isso às custas das instituições que pagam seus salários.

Finalmente, houve uma queda acentuada no desempenho do Brasil nos últimos meses. Desde que conquistou o troféu da Copa América no Rio de Janeiro em julho, o time de Tite disputou cinco jogos e não venceu nenhuma vez. É a primeira vez que a Seleção está em um período tão longo sem vitórias desde 1991.(...)

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