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17 abril 2013

Mudar o comandante resolve?

Quando o desempenho de uma empresa não está adequado, os acionistas forçam a saída do principal administrador. Um problema numa empresa é que as medidas de desempenho possuem uma periodicidade muito longa: trimestral, para as empresas de capital aberto no Brasil ou anual para as empresas de capital fechado. Mas será que trocar o gestor resolve a situação?

Se a troca do administrador numa empresa promover a sua recuperação, isto é um sintoma de que a medida teve um efeito positivo. Mas se o desempenho continuar ruim, a troca não deve ser uma medida que produza benefícios.

A questão que dificulta os pesquisadores em avaliar a eficiência da troca de administradores é decorrente da longa periodicidade das medidas de desempenho, que impede a verificação do seu efeito. Quando os cientistas não conseguem fazer uma pesquisa numa área, uma opção é buscar um atalho para obter a resposta desejada. Neste caso, encontrar uma área onde o desempenho pode ser mensurado com uma periodicidade menor.

E existe este setor. São os clubes esportivos, onde o desempenho é medido não por seu lucro, mas pelos confrontos com seus adversários. Se um clube não consegue bons resultados, o seu técnico pode sofrer as consequências. Dois pesquisadores italianos, usando os dados do futebol do campeonato italiano entre 1997/8 a 2008/9, conseguiram medir a influencia da mudança do gestor, o técnico, nos resultados. Usando mais de quatro mil jogos que ocorreram naquele campeonato, os pesquisadores observaram que 37% dos times mudaram de técnico durante o torneio. O gráfico abaixo mostra o comportamento da equipe de futebol antes da troca de técnicos e depois.



Mas o gráfico não revela toda a história. Quando se faz uma comparação antes e depois da troca é necessário levar em consideração a qualidade dos adversários. Quando o técnico que foi demitido enfrentou adversários fortes, é natural que, em média, ganhe poucos pontos. Se o novo técnico ganha pontos de adversários fracos, o mérito talvez não seja do seu trabalho.

Apesar do primeiro resultado da pesquisa mostrar uma pequena melhoria no desempenho com a mudança do técnico de futebol – como pode ser visualizado no gráfico – ao levar em consideração a qualidade dos adversários esta melhoria desaparece. Ou seja, controlando os efeitos dos adversários, a mera troca do técnico – o gestor do clube de futebol – não é uma medida que melhora o desempenho do clube – a empresa da pesquisa.

Mas provavelmente temos aqui um componente comportamental. Pesquisas já mostraram que a melhor postura do goleiro durante a cobrança do pênalti é ficar no meio do gol. Mas os goleiros insistem em “escolher” um canto, muito para dar uma “satisfação” para torcida. O mesmo pode ocorrer com a troca de técnicos. Os dirigentes talvez saibam que mudar o técnico não resolve, mas mantê-lo é dizer, para torcida, que eles não estão fazendo nada.



Para ler mais: DE PAOLA, Maria; SCOPPA, Vincenzo. The Effects of Managerial Turnover: Evidence from Coach Dismissals in Italian Soccer Teams. Jornal of Sports Economics. Vol. 12, n. 2, p. 152-168, 2012.

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