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13 julho 2021

Legibilidade e Auditor


A questão da legibilidade das informações contábeis permite um grande número de pesquisas. Eis uma pesquisa recente, publicada no Journal of Accounting and Public Policy, onde a baixa legibilidade faz com que o auditor "perceba" um risco maior. Também aumenta o custo da auditoria, sugerindo que o número de horas trabalhadas também aumente. 

We show that increased audit effort is associated with lower annual report readability to compensate for a perceived increase in the risk of financial misstatement for United States (US) firms. In particular, we find that lower annual report readability is associated with longer audit delays and higher audit fees for Form 10-K for US auditors, suggesting that auditors spend more effort auditing clients when annual reports have lower readability. We also find that low readability increases the likelihood of auditors using more explanatory language in unqualified audit reports.

Foto: Kelly Sikkema

Lucro e Recessão

 

A figura mostra a linha evolutiva da margem de lucro das empresas dos Estados Unidos. Os trechos cinzas são os períodos de recessão. É possível perceber que as recessões derrubam as margens das empresas. Mas isto não está ocorrendo agora. Pelo contrário, a margem aumentou durante a pandemia. Qual seria a razão? 

A estrutura de contabilidade financeira permite que as empresas incluam nos lucros os itens não operacionais. Os itens não operacionais mais significativos incluem lucros e perdas de ganho de capital resultantes de atividades de negociação ou uma reavaliação de um ativo. O PIB exclui a receita de ganho de capital e as perdas de reavaliações de ativos (para mais ou para menos). 

Isto seria um sinal de que a contabilidade estaria menos informativa? Ou o problema seria do PIB? 

Auditores internos e ESG


Um relato do Institute of Internal Auditors (IIA) (via aqui) afirma, que já que as empresas estão sob pressão para lidar com as questões ambientais, sociais e de governança, os auditores internos estão dando maior ênfase nas questões relacionadas com tais assuntos.

A pressão dos grupos externos termina por influenciar o trabalho dos auditores internos. 

Links


Ambiente e como a bolsa de valores pode ajudar (com o descendente de Jacques Cousteau)

Um mapa da web com os sites mais populares

Uma crença de 60 anos que ajudou a aumentar as mortes pelo Covid (uma longa história sobre uma "verdade" científica e como foi difícil Linsey Marr convencer a OMS)

Brasil e o sistema político: necessidade de mudança (The Economist)

Escrever sobre probabilidade de forma que as pessoas entendam

Rir é o melhor remédio

Um homem em um automóvel percebeu que estava perdido. Sem um GPS ou mapa, ele não sabia o que fazer. Avistou uma mulher e resolveu pedir ajuda: 

- Com licença, você pode me ajudar? Eu não sei onde estou. 

 - Você está em um automóvel, entre 15,77 graus de latitude sul e 47,93 graus de longitude oeste. 

 - Você deve ser contadora, não? 

 - Sim, eu sou. Como você sabe? 

- Bem, tudo que você falou está correto, mas não tenho ideia do que fazer com sua informação. E ainda estou perdido. Não me ajudou muito, na verdade. 

- E você deve ser um administrador de empresas, afirmou a mulher 

- Eu sou. Como você sabia? 

- Bem, você não sabe onde está, nem para onde está indo. Você quer fazer algo, queria que eu resolvesse seu problema e quando eu dei a informação necessária, você não soube o que fazer com ela. Ou seja, continua no mesmo lugar que antes, com a informação necessária, mas sem saber o que fazer com ela, e parece que de alguma forma a culpa ainda é minha.

12 julho 2021

A Irlanda continuará se opondo a reforma tributária global?


A proposta recente de reforma tributária internacional, que poderá aumentar a arrecadação dos países que atualmente utilizam os paraísos fiscais para diminuir sua despesa, encontrou na Irlanda um grande obstáculo. Como as decisões da Comunidade Europeia devem ser por unanimidade, a oposição da Irlanda é um grande problema. 

Sendo um paraíso fiscal, a Irlanda teria muito a perder. Mas será que a posição da Irlanda é imutável? O New York Times, na newsletter de 8 de julho, apresenta um argumento de que a oposição da Irlanda pode ser vencida internamente. 

Na Irlanda, os críticos dizem que a maior parte dos ganhos do investimento das multinacionais apenas fluíram para essas empresas e os seus empregados e não para a economia como um todo.

Exemplos largamente relatados de evasão fiscal têm tornado o fato de ser um paraíso fiscal cada vez mais desconfortável. "Poder-se-ia legalizar o tráfico de armas, e isso ajudaria a sua economia, mas esse não é realmente um bom caminho para qualquer nação", disse Dean Baker do Centro de Investigação Económica e Política.

Foto: Tina Kuper

Beleza é riqueza


Muito interessante. No Financial Review:

This paper examines whether and how CEO attractiveness relates to firm value. We construct a Facial Attractiveness Index of 667 CEOs based on their facial geometry. More attractive CEOs are associated with better stock returns surrounding their job announcements and around earnings-announcement news with CEOs' images. Further, more attractive CEOs are related to higher acquirer returns following acquisition announcements and higher Tobin's Q. Finally, consistent with the existing literature documenting the beauty premium in pay, more attractive CEOs receive higher compensation.

Ou seja, a beleza do executivo pode afetar o valor da empresa. 

Foto: Shari Sirotnak

Discussão e rede social

 

O gráfico mostra a média que as pessoas passam nas mídias sociais (Youtube, Reddit e Wpp consomem mais tempo, na amostra pesquisada). Mas também mostra se os usuários já tiveram discussão. No Wpp e Facebook mais da metade já tiveram discussão. 

Parece que o desenho da mídia social afeta as divergências online. A amostra foi de 257 pessoas e os pesquisadores descobriram que as (algumas) pessoas evitam discutir questões polêmicas na rede com medo de prejudicar os relacionamentos. Mas evitar o Wpp e o Facebook parece ajudar. 

Rir é o melhor remédio

Uma lista de correlações espúrias pode ser encontrada aqui (dica Alex Laquis, grato). Uma amostra a seguir:





11 julho 2021

Uma nova era no Iasb - 2


Minha análise da gestão de Hoogervorst no Iasb foi reforçada pelo texto do Accounting Today (que só li agora)

Quando Hoogervorst iniciou seu mandato, o IASB e o FASB estavam no meio da convergência do IFRS com o USGAAP, mas o esforço de convergência acabou ficando aquém. 

"No decorrer de 2011 e 2012, o sonho de um único conjunto de padrões contábeis globais desapareceu gradualmente à medida que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA se tornava cada vez mais hesitante em relação à adoção do IFRS" [1], disse ele [Hans Hoogervorst]. “Após a Grande Crise Financeira, as empresas estavam sob muita pressão em todos os lugares e a SEC achou que não poderia avançar com uma reforma que geraria um custo considerável no curto prazo. O ministro das Finanças do Japão também se tornou mais cauteloso após o terrível tsunami de 2011."

[1] Veja que Hoogervorst culpa a SEC pelo fracasso. É controverso. 

O caso do Japão mostra um pouco que a gestão do holandês na Fundação IFRS não foi o que se esperava. O próprio Hoogervorst reconhece que menos da metade do mercado acionário japonês adota a IFRS

Feedback do Novo Relatório de Auditoria

Quando lançado em 2015, o novo relatório de auditoria (e não mais parecer) trouxe uma certa estranheza para o usuário. Agora, a International Auditing and Assurance Standards Board (Iaasb) divulgou um curto relato sobre esta mudança. 

Com 148 respondentes (41 da Ásia, região do Pacífico; 35 da África; 28 da Europa; 11 da América do Sul; entre outras regiões), a maioria são auditores. E o resultado, na visão da entidade, encontrou "amplo apoio" das partes interessadas e atendeu os objetivos do Iaasb. A divulgação dos "key audit matters" (KAM) é um dos destaques, segundo a pesquisa. 

Links


Uma ponte em Auckland para bicicletas: cara demais para a redução de emissão gerada

Masterclass: aula com os melhores - quem sabe fazer, sabe ensinar? (entre os professores Serena Williams, Natalie Portman, Malcolm Gladwell...)

Quem ganha com o cartão de crédito por pontos

Ativismo social e político e o valor da empresa


Rir é o melhor remédio

 

dois tipos

10 julho 2021

Interferência no PCAOB


O PCAOB (Public Company Accounting Oversight Board) foi criado com a lei Sarbox para supervisionar o trabalho dos auditores nos Estados Unidos. Desde sua criação, o PCAOB teve três "escândalos". 

O primeiro ocorreu logo após a criação, quando o governo, através da SEC, nomeou William Webster para ser o primeiro Chairman. Como advogado, Webster tinha trabalhado para o FBI e a CIA. Mas sua nomeação causou constrangimento, seja pelo critério de escolha. Sua aprovação na SEC foi apertada, por 3 votos a 2, mas logo após surgiu a notícia que Webster tinha trabalhado em um comitê de auditoria de uma empresa que estava sendo investigada por irregularidades contábeis. Webster terminou renunciando.

O segundo problema ocorreu quando alguns funcionários da entidade foram contratados por uma empresa de auditoria. A questão é que os funcionários levaram informações sobre a fiscalização que a auditoria seria submetida. As informações poderiam ajudar a auditoria a "melhorar" a qualidade do trabalho que seria investigado pela PCAOB. O resultado foi a condenação desses funcionários. Como resultado do problema, a SEC optou por renovar todo PCAOB, nomeando William Duhnke III em janeiro de 2018. 

A questão é que Duhnke tinha sido funcionário de um político republicano. 

O terceiro escândalo ocorreu agora, no mês de junho de 2021. A SEC informou no início daquele mês que estava removendo Duhnke e que iria também remover os outros membros do conselho. A mudança pode ser vista como uma politização do PCAOB. O novo presidente da SEC, Gary Gensler, que assumiu o cargo em abril, entendeu que o PCAOB deveria ter uma postura mais rigorosa em assuntos como a auditoria de empresas chinesas. A pressão partiu dos senadores Elizabeth Warren e Bernie Sanders. 

Ex-presidente do Benfica é preso


Um escândalo envolvendo o "quase" eterno presidente do Benfica, o empresário Luis Felipe Vieira. Vieira foi presidente do clube português por 17 anos, entre 2003 a 9 de julho de 2021. Na presidência do clube, Vieira foi eleito e reeleito por vários mandatos. Mas renunciou diante uma série de investigações sobre operações "estranhas", algumas delas envolvendo o clube de futebol.

Juntamente com Vieira, estão sendo investigados um empresário conhecido como "rei dos frangos", um advogado e o filho de Vieira. 

As acusações incluem "abuso de confiança, burla qualificaca, falsificação, fraude fiscal e branqueamento". Do Benfica, Vieira pode ter desviado 2,5 milhões de euros. 

Uma das formas de desvio era o aumento na comissão de venda de jogadores, onde parte do dinheiro era repassada para Vieira. Já o dinheiro desviado seria para pagar dívidas de Vieira. Além disto, Vieira pagou um ex-desembargador com vantagens, incluindo ingressos para jogos do Benfica; o juiz foi demitido em uma operação policial. 

As ações do clube caíram quase 4% na bolsa.

Inteligência Artificial e a arte de analisar


Quem é melhor: a máquina ou o homem? Parece que há uma terceira resposta

An AI analyst we build to digest corporate financial information, qualitative disclosure and macroeconomic indicators is able to beat the majority of human analysts in stock price forecasts and generate excess returns compared to following human analyst. In the contest of “man vs machine,” the relative advantage of the AI Analyst is stronger when the firm is complex, and when information is high-dimensional, transparent and voluminous. Human analysts remain competitive when critical information requires institutional knowledge (such as the nature of intangible assets). The edge of the AI over human analysts declines over time when analysts gain access to alternative data and to in-house AI resources. Combining AI’s computational power and the human art of understanding soft information produces the highest potential in generating accurate forecasts. Our paper portraits a future of “machine plus human” (instead of human displacement) in high-skill professions.

Foto: Andrea de Santis

Quem fica rico?


Lendo sobre Masterclass, um site com aula dada pelos melhores do mundo, eis um ponto interessante:

Ultimamente tenho pensado como os garimpeiros da Corrida do Ouro na Califórnia raramente ficaram ricos. Em 1849, quem se saiu bem foram aqueles que forneceram aos garimpeiros pás, tendas e jeans - eles mantiveram o sonho vivo. Samuel Brannan, que vendia pás e outros bens, foi considerado o primeiro milionário da Califórnia. Levi Strauss, que co-inventou o jeans, morreu com uma fortuna de US$6 milhões, no valor de US$175 milhões hoje. Não há nada de errado, é claro, em fornecer às pessoas o que elas precisam para realizar seus sonhos, mas parece que durante essa época de crescente riqueza e desigualdade social, os jeans e as pás tornaram-se amplamente simbólicos, e a prospecção que eles facilitam, o infinito garimpando algo, qualquer coisa, cada vez mais intangível. 

Foto: Serra Pelada

Rir é o melhor remédio

 

Mania de perfeição

09 julho 2021

Ritual da Capitalização

Blair, em Ritual da Capitalização, apresenta algumas ideias relevantes para uma reflexão sobre a mensuração contábil. Quanto mais eu leio sobre este assunto, mais estou convencido que conceitos de valor justo ou valor de mercado são adotados de forma simplista na contabilidade. 

Eis alguns trechos: 

Quando você olha para os números do mercado de ações, eles apontam para uma verdade sobre o mundo. Mas é uma verdade não sobre lei natural ou natureza humana. É uma verdade sobre a ideologia do ser humano. A realidade é que finanças é um sistema quantitativo de crenças. No centro, há um ritual universal - o ritual da capitalização. É esse ritual subjacente a todos os números do mercado de ações.  

(...) O ritual da capitalização começa com o ato institucional de exclusão, a saber a propriedade. A propriedade, é claro, tem uma história profunda que antecede o capitalismo por muito tempo. Não vou entrar nessa história aqui. Em vez disso, vou adiar a sucinta (mas apócrifa) de Jean-Jacques Rousseau sobre o surgimento da propriedade. Propriedade surgiu quando  
[a] primeira pessoa que, depois de anexar um terreno, levantou à cabeça para dizer 'isso é meu' e encontrou pessoas simples o suficiente para acreditar nele ... (Jean-Jacques Rousseau, 1755)
Colocar uma cerca em torno de algo e chamá-la de "propriedade" é o passo 1 da capitalização. Mas a propriedade por si só não é suficiente. Os romanos tinham propriedades. O mesmo aconteceu com a maioria dos reinos feudais. Mas essas sociedades não tinham capitalização. Para capitalizar a propriedade, há um segundo passo. Você deve misturar propriedades com finanças.  

A palavra "finanças" evoca uma sensação de admiração - uma sensação de complexidade de outro mundo. Mas, no fundo, as finanças são simples. É o ato de reduzir a propriedade a um número (...). Como essa fusão aconteceu é historicamente complicado. Mas vamos reduzir novamente a história para uma história apócrifa. Parafraseando Rousseau:  

Tendo fechado um terreno, o primeiro capitalista levou-o à cabeça para colocar um número em sua propriedade e encontrou pessoas simples o suficiente para acreditar nele.
 

Como "capitalização" está literalmente apenas colocando números na propriedade, qualquer número é tão bom quanto o próximo. Minha propriedade pode ser 23. Também poderia ser 1023. Em outras palavras, a propriedade pode ter qualquer preço concebível. Mas qual preço é correto? Desde que nosso capitalista apócrifo colocou um número em sua propriedade, os capitalistas têm agoniado com essa questão: ´Qual o verdadeiro valor da minha propriedade?  

Como tantos enigmas criados por humanos, a resposta científica é que a pergunta não tem significado. Determinar o valor "verdadeiro" da propriedade é como descobrir a natureza "verdadeira" da Santíssima Trindade. Isso não pode ser feito porque não há "verdade" objetiva a ser descoberta - existem apenas crenças humanas subjetivas. A "natureza verdadeira" da Santíssima Trindade é o que quer que o clero da igreja. O mesmo vale para a capitalização. O "valor verdadeiro" da propriedade é o que os capitalistas definem como ela é.  

Essa arbitrariedade é o motivo pelo qual os capitalistas precisam de um ritual.  

Se você responder a perguntas sem resposta, não há melhor maneira do que através do ritual. Pense em um ritual como um hábito mistificado - um comportamento repetitivo que você reifica com significado. Como exemplo, pegue o ritual de gesticular a cruz. É um hábito reificado que os católicos usam para simbolizar sua fé na Santíssima Trindade e lembrá-los de como a Trindade foi definida (Pai, Filho e Espírito Santo).  

Os rituais são surpreendentemente poderosos, especialmente quando arraigados durante a juventude. Vou me usar como exemplo. Durante minha infância, minha família foi a uma igreja católica e eu frequentei o catecismo (escola dominical) semanalmente. Aprendi todos os rituais que fazem parte da missa. Depois de ser "confirmado" como católico aos 13 anos, no entanto, parei de ir à igreja. A verdade é que eu sempre fui ateu ... eu simplesmente não sabia até a idade adulta. E, no entanto, ateu que sou hoje, se ouço as palavras "em nome do Pai, Filho e Espírito Santo", tenho o desejo quase irresistível de gesticular uma cruz. Esse é o poder do ritual.  

Os capitalistas inventaram um ritual semelhante, mas não é físico. Isto é matemático Diante do desejo de conhecer o "valor verdadeiro" de sua propriedade, os capitalistas inventaram uma fórmula que a define. O valor capitalizado de uma propriedade é o valor descontado de sua receita futura (...)  

Olhando para essa equação, Jonathan Nitzan e Shimshon Bichler observam algo interessante. A fórmula capitaliza ostensivamente a propriedade - o coisas que os capitalistas possuem. E, no entanto, a equação da capitalização não faz menção a esse material. Não há símbolos para fábricas, máquinas ou infraestrutura. Em vez disso, existe apenas renda (E). E isso, observam Nitzan e Bichler, é precisamente o ponto. O ritual de capitalização nos diz como os capitalistas vêem o mundo. Os capitalistas não se importam com as coisas que possuem. Eles se preocupam com seus direitos das propriedades - seu direito de obter renda colocando uma cerca (institucional).  

(...) Como Nitzan e Bichler vêem, a disseminação do capitalismo se resume à disseminação do ritual de capitalização. Permite que tudo e qualquer coisa tenham um valor capitalizado. Pegue música. Em 2020, Bob Dylan. vendeu todo o seu catálogo de músicas para a Universal por cerca de US $ 300 milhões. A verdade, porém, é que a Universal não comprou músicas. Comprou renda. Os direitos autorais das músicas de Dylan garantiam uma renda anual considerável -. por algumas contas cerca de US $ 4 milhões por ano. Supondo que essa quantia seja precisa, a Universal capitalizou os royalties de Dylan assumindo uma taxa de desconto de 1%.  

Bob Dylan trocou renda futura (de seus direitos de propriedade) por um montante fixo. E a Universal negociou uma quantia fixa para renda futura. Isso é capitalização em ação.  

(...) Começaremos observando que a capitalização é definida apenas quando a propriedade muda de mãos. Em outras palavras, o valor capitalizado é contestado até que a propriedade seja vendida. Tomemos, como exemplo, Donald Trump. Ele proclama diariamente que sua propriedade vale bilhões. Os críticos afirmam que o império de Trump vale muito menos. Nenhum dos lados está correto. O valor capitalizado é indefinido até que a propriedade seja vendida. Se amanhã Trump vendesse seus negócios por US $ 1 bilhão, esse seria seu valor capitalizado.  

No passado, a capitalização era mal definida porque a propriedade mudava de mãos raramente. Uma família aristocrática, por exemplo, pode administrar um negócio comercial por muitas gerações sem nunca conhecer seu valor capitalizado. Hoje as coisas são diferentes. Isso porque no capitalismo moderno a propriedade parcial se tornou a norma. Partes de empresas são compradas e vendidas a cada segundo, o que significa que sabemos valor capitalizado com detalhes requintados.  

Tome a Amazon como exemplo. O negócio é absurdamente grande, empregando cerca de 1,2 milhão de pessoas. E, no entanto, a unidade de propriedade - a participação da Amazon - é minúscula. (...) Como a unidade de propriedade é pequena, é trivial comprar e vender. O resultado é que, diferentemente dos negócios aristocráticos que mudaram de mãos uma vez por século, as ações da Amazon mudam de mãos a cada segundo. Como tal, o valor capitalizado da Amazon é conhecido exatamente. (...)  

De onde veio a taxa de desconto de 1,3%? A resposta: do nada. Como o próprio ritual de capitalização, a taxa de desconto é o que definimos. Os capitalistas empregam o ritual de capitalização escolhendo ritualisticamente uma taxa de desconto que consideram "adequada". Ritual dentro do ritual.  

Sim, todo o esforço cheira a arbitrariedade. Mas essa é a natureza do ritual. O importante é a regularidade a que o ritual dá origem. Essa regularidade não é visível ao olhar para uma única empresa. É apenas olhando para milhares de empresas que você pode vê-lo. Nessa frente, vamos olhar para a figura 1.  


Coletei dados para o lucro e a capitalização de empresas de capital aberto dos EUA desde 1950. Cada ponto é uma empresa em um determinado ano. (Existem cerca de 200.000 observações no total.) Deste mar de empresas, a regularidade da capitalização é inconfundível. A capitalização é proporcional ao lucro descontado a uma taxa de 7%.  

Existe algo especial na taxa de desconto de 7%? A resposta é sim e não. Essa taxa é especial no sentido de que é o que os capitalistas dos EUA consideram "adequado". Mas essa taxa é banal no sentido de que não tem um significado mais profundo. Os capitalistas dos EUA descontam 7%, porque essa é a norma que eles aceitaram. Gesture a cruz. Desconto em 7%. Regularidade do ritual.

Escrevendo ciência para o leigo


Enquanto alguns periódicos estão insistindo que os pesquisadores "traduzam" os seus achados em artigos mais simples para o público geral, ainda existe muito preconceito contra àqueles que tentam facilitar a vida das pessoas com menor grau de conhecimento. 

Discutindo isto, Bogard cita alguns casos interessantes. Eis um deles:

"Kahneman foi avisado de que escrever um livro popular causaria danos à sua reputação profissional...professores não devem escrever livros que pessoas normais possam entender."