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17 maio 2012

Delta e o Capitalismo de Laços


Sergio Lazzarini, autor do livro Capitalismo de Laços, analisa o caso Delta:

(...)A Delta, uma das mais importantes financiadoras de partidos políticos, cresceu sobremaneira nos últimos anos graças a inúmeros contratos com o setor público. Nos grampos telefônicos da Polícia Federal, aparece ligada a Carlinhos Cachoeira que, por sua vez, cultiva uma impressionante teia de contatos com políticos influentes.


(...)Se a aquisição realmente se concretizar, a JBS herdará contratos da Delta com o governo; a Delta e seus acionistas terão uma interessante porta de saída para seus investimentos; o governo conseguirá salvar algumas obras em curso com seu novo sócio estratégico; e a JBS implementará uma curiosa estratégia de diversificação: de frigorífico para construção civil.

Trocam-se os atores, fica o script: capitalismo de laços, na sua mais pura forma. Empresas fazem doações de campanha, e com isso se ligam ao sistema político e ao governo em exercício. Em troca, recebem capital estatal e acesso diferenciado a projetos públicos. Com o capital estatal disseminado em diversas empresas, o governo direciona o setor privado de acordo com suas estratégias. Um ciclo muito azeitado e que tem espantosamente sobrevivido, firme e forte, a ondas de abertura econômica, privatização, e eventuais “faxinas” dos mais diversos governos.

Na origem do problema, os financiamentos privados a políticos. No Brasil, as campanhas eleitorais são muito caras, pois a competição entre partidos é acirrada e os políticos têm que cobrir grandes extensões territoriais. Os candidatos dependem das empresas para as suas campanhas, e as empresas dependem dos candidatos eleitos para novas oportunidades com o setor público. Delta, Carlinhos Cachoeira e os políticos envolvidos são apenas casos particulares de um problema mais amplo. E nem adianta proibir o financiamento privado de campanhas eleitorais, pois o “caixa dois” continuará correndo solto.

Além disso, em um contexto onde financiar políticos e conectar-se ao governo faz grande diferença, não é difícil entender a estratégia de diversificação de grupos como o JBS e vários outros no Brasil. Esses grupos passam a ter incentivo a entrar em negócios que tem pouca relação além da sua grande interface com o setor público. Afinal, um político de confiança capaz de resolver pendengas nos setores de energia ou construção civil pode fazer o mesmo em outros negócios regulados como transporte, telefonia ou mineração.

Complicando o cenário, o governo, que já mantinha extensa penetração na economia via estatais, BNDES e fundos de pensão, passa cada vez mais a sinalizar interesse em influenciar mais diretamente as estratégias e os investimentos privados.

Uma simbiose produtiva para fortalecer o empresariado nacional, dirão alguns. Mas a realidade é que, no Brasil, a palavra de ordem cada vez mais é dançar a música do governo. Os mais conectados continuarão com mais espaço na pista de dança. E o escurinho do salão continuará abrigando as mais diversas conversas ao pé do ouvido.

Sérgio Lazzarini é Professor Titular de Estratégia do Insper e autor de “Capitalismo de Laços: os Donos do Brasil e suas Conexões”.

10 maio 2012

Avaliação e Governo


Damodaran escreveu três post sobre a influência do governo na avaliação de empresas. No primeiro, denominado Governments and Value: Part 1 - Nationalization Risk discute como tratar países onde existe o risco real de nacionalização. É o caso da recente encampação da YPF por parte da Argentina.

O primeiro aspecto é determinar o risco de nacionalização no valor de uma empresa. As alternativas são (a) usar uma taxa de desconto mais elevada; (b) reduzir o fluxo de caixa em razão do risco de nacionalização; (c) avaliar a empresa sem a existência do risco e agregar, de forma separada, este risco. Em razão das dificuldades dos dois primeiros métodos, o terceiro, incorporando de maneira separada o risco, parece ser uma solução natural.

Por este método o valor da empresa é dado pela seguinte expressão:

Valor = Valor pelo Fluxo de Caixa Descontado sem risco de nacionalização x (1 – Probabilidade de nacionalização) + Valor dos ativos com a nacionalização x probabilidade de nacionalização

O grande problema deste método é determinar a probabilidade de nacionalização. Esta estimativa será muito subjetiva.

Damodaran é um autor de valuation que declara seu amor pelos métodos relativos (vide seu último livro, por exemplo). Assim, ele propõe usar os relativos para fazer esta estimativa. Para Damodaran, valores reduzidos de P/L seria um sinal de maiores riscos de nacionalização: Venezuela e Rússia, assim como a Argentina, possuem valores reduzidos deste índice.

Se este índice diz muito sobre um país, talvez não seja suficiente para avaliar uma empresa de um setor específico. Em alguns países, o número de empresas de um setor talvez não seja suficiente para construir este índice em termos comparativos.

Uma solução que Damodaran não apresenta para o problema é usar um conjunto de índices, inclusive a opinião dos especialistas, para determinar as chances de nacionalização. E com isto usar o fluxo de caixa descontado.

Num segundo texto, denominado Governments and Value II: Subsidies and Value, Damodaran discute as vantagens do governo. Na postagem, Damodaran reconhece que a presença do Estado pode aumentar o valor de uma empresa. Isto pode ocorrer através de “ajudas”, como menor custo de financiamento (vide JBS), redução de impostos (montadoras em alguns estados do país), garantia de receitas pela compra dos produtos da empresa (Embraer para alguns produtos militares) e subsídios indiretos.

O tratamento da ajuda do governo pode ser através da taxa de desconto ou considerando o fluxo de caixa da empresa. É importante destacar que conforme a “ajuda” do governo. Uma alternativa é considerar uma empresa sem o incentivo do governo e com o incentivo. Devo notar que nesta postagem Damodaran não propõe usar um relativo para este problema.

A terceira postagem é muito interessante. Denomina-se Governments and Value III: Bribery, Corruption and other "Dark" Costs e trata dos custos nebulosos da presença do governo na economia, sob a forma de existência de corrupção e outros pagamentos ilegais para servidores públicos. As notícias recentes da empresa Delta Construtora mostra que isto é relevante para o processo de avaliação.

Para o avaliador, o grande problema é determinar o valor da corrupção. Existem medidas indiretas, como a da Transparência Internacional, que classifica os países em níveis de corrupção.

O gráfico abaixo mostra a série histórica para o Brasil. É possível perceber que nosso país não apresentou variação na corrupção percebida em uma década. Ou seja, continuamos corruptos.

Mas como isto entraria na avaliação? Damodaran sugere três alternativas: tratar como despesa operacional; como um tipo de imposto ou como um aumento no custo de capital. Todas alternativas são complicadas.

12 janeiro 2012

Teoria de Kuznets

O estudante de economia Paulo Henrique Mendes é primeiro lugar no Prêmio Corecon-DF de Economia, organizado pelo Conselho Regional de Economia. Paulo aceitou o desafio de refletir sobre a desigualdade social no país em seu trabalho de conclusão de curso. A escolha do tema não foi aleatória: o estudante de 27 anos cresceu na zona leste de São Paulo, perto de favelas muito pobres, mas estudou nos melhores colégios da cidade.

Paulo Henrique partiu da teoria de Kuznets, que ficou célebre no Brasil quando o economista e então ministro da fazenda do governo militar Delfim Netto respondeu a críticas contra a alta concentração de renda comparando o país a um bolo que precisava crescer antes de ser repartido. A teoria diz que com o crescimento econômico a desigualdade aumenta apenas até um certo ponto, a partir do qual ela naturalmente diminui. O trabalho de Paulo Henrique mostra que a teoria realmente se concretizou no país ao longo dos anos, mas não foi um processo natural.

O estudante se apoiou em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) referentes ao crescimento econômico e à desigualdade nas décadas de 60, 70, 80, 90 e 2000. Nas três primeiras décadas a concentração de renda só aumentou. Na década de 1980 a situação se estabilizou e só nos últimos anos que a desigualdade começou a diminuir. “No texto mostrei que foram políticas de governo intencionais que provocaram essas mudanças”, explica Paulo. “Elas poderiam ter sido conduzidas de outra maneira”.

O estudante argumenta que a política de arrocho salarial foi uma forma que o governo usou para provocar deliberadamente a concentração de renda nos anos de maior crescimento do regime militar. “Por outro lado, as políticas de melhoria da educação básica na década de 1990 aliadas a contenção da inflação criou o cenário para o aumento do nível de empregos e os salários na década seguinte”, afirma Paulo. “Tudo isso somou-se às políticas sociais dos últimos governos”.

[...]

Texto: UnB Agência

06 outubro 2011

Governo e Cozinha


O caderno Paladar, do Estado de São Paulo, publicou no dia 29 de setembro um conjunto de reportagens interessantes (veja aqui. Eu resumiria os textos em: “a intervenção do governo e seus efeitos sobre a cozinha brasileira”.

Os exemplos são interessantes:

a) como os produtores artesanais devem obedecer as mesmas regras dos outros produtores, o pequeno produtor de alimentos não consegue recursos para comercializar seus produtos. Produtos artesanais, como baunilha do cerrado, grumixama, arroz vermelho e outros deixam de ser descobertos pelos brasileiros

b) a tradicional galinha cabidela, prato que existe na culinária brasileira desde o Brasil Colônia, praticamente não pode ser feita legalmente pois o comércio de sangue fresco é quase proibido

c) o tradicional queijo mineiro não pode ser vendido em outro estado, só podendo ser comido em Minas. A lei não autoriza a circulação feitos a partir do leite cru, exigindo maturação mínima de 60 dias para consumo e a exigência de impureza é mais rigorosa que a existente na Europa

d) A comida feita com colher de pau também está vedada no Brasil, sob a justificativa que a madeira retem resíduos de alimentos.

e) O produto das abelhas indígenas não pode ser chamado de mel, pois a legislação brasileira se baseia nos padrões do mel produzido por abelhas estrangeiras. Assim, o mel de jataí, borás, uruçus e outros não são conhecidos e são clandestinos.

f) o tradicional doce de figo de Araxá mudou de sabor desde que o governo proibiu o uso de tacho de cobre (foto)

23 setembro 2011

Combate à corrupção não é prioridade para o governo

O combate à corrupção não é prioridade para o governo, afirmam delegados da Polícia Federal.

Segundo eles, órgãos de fiscalização pública --como a própria polícia, o TCU (Tribunal de Contas da União) e a CGU (Controladoria-Geral da União)-- sabem onde há desvios de verba, mas não os evitam porque a questão seria tratada de forma "secundária" pela atual gestão.

De acordo com levantamento feito pela ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), o combate à corrupção não é contemplado pelo PPA (Plano Plurianual) 2012-2015, divulgado em 31 de agosto.Dos 11 desafios e 65 pontos prioritários do plano, o tema é citado apenas três vezes --segundo a associação.

"Não há investimento para estancar a perda do dinheiro público. Isso vai evitar que as metas do governo sejam cumpridas. Podem até poupar, mas, se há vazamento, o dinheiro vai embora. Também não adianta tirar ministro se a máquina está comprometida. Vai-se perder o dinheiro ou na má gestão ou na corrupção. Desenvolvimento sustentável e justiça social é impossível com desvio de dinheiro público e fraude", disse o diretor de comunicação da ADPF, Carlos Leôncio.

Os delegados da Polícia Federal estimam que, anualmente, entre R$ 50 e R$ 84 bilhões seja perdido em desvio de verba --o que corresponde a 1,4% a 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo dados da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Com o anúncio da ampliação de programas sociais --como o Minha Casa, Minha Vida e o Brasil sem Miséria-- e a proximidade de grandes eventos --como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016--, a Polícia Federal estima que o desvio de verba pública deverá aumentar.

"Megaeventos são megaoportunidades para o desvio público, pois há aumento considerável do aporte financeiro. Com uma aparelho de fiscalização debilitado, há vazamento", declarou Leôncio.


Fonte: aqui

18 junho 2011

Capitalismo no Brasil?

Por Pedro Correia




Um levantamento inédito de ÉPOCA identifica 675 empresas na órbita do governo federal e revela a extensão da interferência estatal na economia.

...O economista americano Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia em 2001, afirmou recentemente a ÉPOCA: “Não é o tamanho do Estado que importa, é o que o governo faz”.

De diferentes formas, o governo interfere na gestão de algumas das maiores empresas privadas nacionais, em setores tão distantes quanto metalurgia, criação de animais para abate ou telefonia. A teia de interesses estatais nos negócios é tão complexa, tem tantas facetas e envolve tantos conflitos de interesse que o próprio governo não consegue avaliá-la de modo preciso. Nem o Ministério do Planejamento, a que está ligado o Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais, nem a Secretaria do Tesouro Nacional, que controla o caixa federal, sabem quantas empresas no país têm participação estatal. E não há, em nenhuma repartição de Brasília, um diagnóstico completo da atuação e da influência do governo sobre nossa economia.

Nos últimos três meses, uma equipe de jornalistas de ÉPOCA dedicou-se a desfazer o nevoeiro que encobre essa questão. Com o apoio da empresa de informações financeiras Economática, mergulhamos em relatórios ministeriais, balanços e planilhas de dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), das estatais, da Bolsa de Valores e das empresas privadas sob influência do governo. Restringimos nosso trabalho às participações do governo federal – um critério conservador para estimar o tamanho do Estado, por omitir as estatais em poder de Estados e municípios. No futebol da economia brasileira, o governo não é apenas juiz, bandeirinha, técnico, zagueiro e artilheiro ao mesmo tempo. Ele também corta o gramado do estádio, costura as redes e – se quiser – pode até mexer no tamanho das traves.

De acordo com o levantamento, existem hoje no país pelo menos 675 empresas de todos os setores com algum tipo de participação ou influência do governo federal. São participações diretas ou indiretas do Tesouro, dos bancos e das empresas estatais ou dos fundos de pensão (entidades híbridas, inegavelmente na órbita do governo). Dessas, o governo controla 276, se somarmos todos os tipos de participação. Levando em conta apenas as 628 empresas não financeiras, o faturamento soma R$ 1,06 trilhão, algo como 30% do nosso Produto Interno Bruto (PIB) ou 2,5 vezes as vendas dos 50 maiores grupos privados nacionais . Nas 247 empresas não financeiras controladas pelo governo, as vendas somam R$ 468,5 bilhões, ou 13% do PIB. E o valor de mercado das 99 empresas cujas ações são negociadas na BM&FBovespa totaliza R$ 1,7 trilhão, ou 71% do valor de mercado das empresas na Bolsa.

A interferência do Estado na economia via estatais, BNDES e fundos de pensão é tão intensa que, durante a pesquisa, ÉPOCA teve de atualizar os dados de muitas companhias que receberam recentemente dinheiro do governo, como o frigorífico JBS ou a Cipher, especializada em sistema de segurança de informação. “O governo brasileiro é um dinossauro com apetite insaciável. Nunca tivemos um capitalismo de Estado tão evidente”, diz o economista Rodrigo Constantino, sócio da Graphus Capital, uma empresa de gestão de recursos do Rio de Janeiro.

Confira tabelas do levantamento aqui.

14 junho 2011

Cultura contribui para governos mais eficientes

Por Pedro Correia

Excelente entrevista com o professor do IBMEC-MG ,Cláudio Shikida, sobre as influências dos valores da sociedade para a eficiência do governo:

"Na área econômica, necessariamente não preciso responder apenas a perguntas sobre inflação, moeda e taxa de câmbio.” É assim que Cláudio Shikida, pesquisador e professor do Ibmec-MG, começa a entrevista, deixando claro seu apreço pela economia aplicada. Em seu mais recente estudo sobre o assunto, “Why some states fail: the role of culture” (Por que alguns Estados falham: o papel da cultura, em tradução livre), desenvolvido com os economistas Ari Francisco Araújo Jr. e Pedro Sant'Anna, constata-se que a cultura de uma sociedade contribui para governos mais eficientes. Valores como respeito, tolerância, confiança e obediência foram usados como variáveis na pesquisa para analisar os impactos de instituições formais (governos e seus tipos) e informais (costumes) na economia. "Essa cultura que pesquisamos tem impacto muito positivo sobre o crescimento econômico. Uma sociedade com mais tolerância e respeito ao trabalho alheio é sinal de um Estado saudável, que não é obeso", resume.

O estudo analisou dados de 40 países e foi publicado recentemente na Cato Journal, uma das referências acadêmicas nas áreas de economia e política. Para Shikida, a posição do Brasil não é confortável. “Ainda estamos longe de ser um Estado eficiente. O governo come muito dinheiro e cospe pouco serviço público de qualidade.”

Continua aqui.

28 maio 2011

Dívida aumenta e seu custo também

Editorial Econômico - O Estado de S.Paulo
25 de maio de 2011

A dívida do setor público federal continua crescendo, em grande parte em razão da inclusão dos juros não pagos. O estoque da dívida somava, em abril, R$ 1,734 trilhão, com aumento de 2,34% no mês, porcentual seguramente maior que o da inflação do mês e do crescimento do PIB no período. E o preocupante é que ela continua em elevação.

O lado positivo é que a dívida externa apresentou redução de 2,32%, enquanto o estoque da dívida mobiliária crescia 2,38%. Nesta última, verifica-se que a emissão líquida em abril foi de R$ 25,5 bilhões, mas o Tesouro teve de emitir R$ 15,62 bilhões para pagar os juros que o superávit primário não conseguiu cobrir.

O Plano Anual de Financiamento (PAF) do Ministério da Fazenda fixa normas para que a composição da dívida pública não ultrapasse o desejável. O objetivo do PAF é ter a maior parte da dívida em títulos prefixados (mínimo de 36% e máximo de 40% desses títulos). Mas em abril os títulos prefixados, que oferecem a vantagem de o Tesouro poder prever os encargos com mais precisão, ficaram em 34,8%, abaixo do mínimo; e os títulos com taxa flutuante ultrapassaram o limite máximo (de 32%). Nessa categoria estão incluídos papéis cuja remuneração é pela taxa Selic, o que tira das autoridades monetárias a liberdade de fixação da taxa de juros básica, por conta das consequências sobre o custo da dívida.

05 abril 2011

Governo corta investimentos e eleva gastos

Por Pedro Correia

Encerrado o primeiro trimestre do mandato da presidente Dilma Rousseff[1], o retrato das contas públicas contraria o discurso feito por ela desde a época da campanha eleitoral. Os gastos com investimentos, que deveriam ser preservados dos cortes, caíram. Já as despesas com salários, custeio da máquina pública e da rotina do governo subiram. É justo o oposto do pregado no discurso oficial[2] Com pessoal e custeio, o governo gastou R$ 10 bilhões a mais no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado. Se forem incluídos os gastos com juros, o aumento chega a R$ 13,2 bilhões. É praticamente um quarto do corte de R$ 50 bilhões feito no Orçamento deste ano e é dinheiro suficiente para bancar quase um ano do programa Bolsa Família.


No fim do mês passado, o Estado mostrou que haviam aumentado até gastos com diárias e passagens, supostos alvos de cortes.Os dados foram lançados no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), que registra gastos federais, e foram pesquisados pela ONG Contas Abertas. Dos R$ 8,2 bilhões despendidos em investimentos nos primeiros três meses deste ano, R$ 7,9 bilhões se referem a pagamentos de contas herdadas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os programas incluídos no Orçamento de 2011 propriamente dito, aquele que seria preservado de cortes, praticamente não saíram do lugar.


Nos primeiros 90 dias de governo, apenas R$ 306 milhões foram pagos até o momento, o que significa que o projeto foi realizado e o governo quitou a conta. O volume de investimentos previstos para este ano, porém, chega a R$ 63,7 bilhões. Desse montante, apenas 6,19% passaram pela primeira etapa burocrática do gasto público, o chamado “empenho”, que é feito quando o governo compromete o dinheiro com o pagamento de alguma obra ou serviço ainda em execução.


Marta Salomon O Estado de São Paulo, 3/04/2011


[1]As primeiras dúvidas em relação à política econômica do governo Dilma começaram a surgir.Segue comentário de Mansueto Almeida: "A consultoria da Credit Suisse sugere que o cenário para a nova presidente pode piorar por três motivos: (1) redução do crescimento econômico (muito gente já estima que o crescimento este ano fique abaixo de 4%); (2) aumento da inflação, que vai corroer o poder de compra do trabalhador de mais baixa renda; e (3) o cenário fiscal pior de 2012, que já começa com um gasto extra de quase R$ 25 bilhões em virtude a regra atual de reajuste do salario mínimo e novas demandas fiscais que ficarão cada vez maiores em um governo com índices de popularidade caindo."




[2] É bom ler artigo de Keneth Rogoff sobre a criação de conselhos fiscais independentes, que atuam como fiscais dos gastos governo. A atuação desse conselho seria de forma semelhante à atuação de um banco central. O artigo detalha muito bem o funcionamento desses "órgãos", que já atuam na Suécia, Holanda, Inglaterra, Eslovênia e Canadá.

O FMI divulgou relatório em que ressalta que o equilíbrio fiscal brasileiro está mais mais fraco do que o previsto. Além disso, afirma que a deterioração das contas fiscais está "particularmente pronunciada".

12 maio 2010

Aventuras Públicas e Aventuras Privadas

Explorar os extremos da Terra – o Ártico, a Passagem Nordeste e o Pólo Norte - era o sonho dos aventureiros do século XIX e início do século XX. Este era o grande desafio para os heróis daqueles tempos. Entretanto, ao contrário da exploração da América na época do descobrimento, a terra gelada não apresentava nenhuma promessa de riqueza.

Assim, uma viagem ao Ártico teve muito mais interesse científico do que econômico, sendo um campo ideal para que uma expedição seja financiada por um governo mais benevolente. Mas algumas das aventuras realizadas no período foram financiadas pela iniciativa privada.

Em 2001, Jonathan Karpoff, da Universidade de Washington, publicou um interessante estudo sobre estas expedições ocorridas entre os anos de 1818 e 1909. Este estudo foi publicado no Journal of Political Economy e apresentou alguns resultados importantes. Karpoff comparou as viagens realizadas sob o financiamento do governo com aquelas que tinham dinheiro de empresários. O resultado mostrou que as viagens com o dinheiro público possuíam melhores navios e maiores pessoas envolvidas. Em termos contábeis, as aventuras com recursos públicos possuíam melhor financiamento. Assim, enquanto em média uma viagem com recursos de empresários tinha em média 17 pessoas, as expedições públicas tinham em torno de 70 pessoas.

Mas as aventuras com recursos governamentais tiveram uma taxa maior de problemas, seja no número de mortos de tripulantes, sejam em doenças ou em chance de perda de um navio. O resultado final também mostra que as expedições com recursos privados foram responsáveis pela maior parte do número de descobertas realizadas no período: cinco dos seis grandes achados.

Este melhor resultado deve-se, segundo Karpoff, a três razões. Em primeiro lugar, as aventuras governamentais geralmente funcionavam através de comitês e os fatores políticos tinham um papel nas decisões, inclusive na composição da tripulação. Uma segunda razão é que as expedições privadas possuíam uma melhor curva de aprendizagem, com reflexo na forma como as experiências anteriores eram incorporadas nas viagens. Terceiro lugar, os incentivos funcionavam melhor nas aventuras com recursos privados.

John Lott, em Freedomnomics (p. 130), ao comentar este artigo, afirma:

O mercado não é perfeito, claro. Mas o governo normalmente está muito mais distante da perfeição

04 junho 2009

Rir é o melhor remédio

"O governo é visto não como um comitê de cidadãos escolhidos para tocar os negócios comuns a toda população, mas como uma corporação separada e autônoma, devotada em primeiro lugar a explorar a população em proveito de seus próprios membros."

1925, Mencken - Citado no artigo "Doce Acidez" - Gazeta Mercantil – 29/5/2009 - Leonardo Vils

01 novembro 2008

Efeito das Políticas Públicas

As políticas públicas desenvolvidas pelos governos federais nos anos 90 e 2000 têm tido efeito pequeno ou nulo no combate às desigualdades sociais e entre Estados, concluem pesquisadores de todo o país que participaram do 6º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos (Aber), promovido em Aracaju entre os dias 20 e 22. "A maioria das políticas, sobretudo as voltadas para o setor industrial, estimulam o crescimento econômico, mas reforçam as desigualdades que já existem em vez de contribuir para que diminuam", afirmou Mauro Borges Lemos, diretor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG). Para o economista, a falha central no Programa Nacional de Desenvolvimento Rural (PNDR) desenvolvida pelo governo Lula desde 2003 está nos princípios que a norteiam. "Essa política tem um conteúdo basicamente compensatório e desvinculado da política industrial, o que limita as chances de êxito", diz Lemos.


Políticas públicas têm pouco efeito sobre desigualdades sociais
24/10/2008 - Valor Econômico

30 outubro 2008

GM e o socorro do governo

Aqui, Zac Bissonnette discute se a falência da GM seria um desastre. Segundo estimativa do Center for Automotive Research David Cole, a quebra da GM teria um custo de dois milhões de empregos nos Estados Unidos.

O problema, para Bissonnette, é que a ajuda do governo pode ou transferir a empresa para o governo (muito socialista para ele) ou significar um empréstimo a juros subsidiados. Mas o preço atual da ação da empresa estaria artificialmente alto em razão da expectativa do socorro do governo.

Aqui um analista explica a razão pela qual a junção GM+Chrysler não deve dar certo.

Aqui no Wall Street Journal, afirma que a General Motors irá tornar-se Government Motors. Na análise, os vencedores da ajuda seriam os executivos das montadoras (GM, Chrysler e Ford), a UAW (sindicato dos trabalhadores), os fornecedores e clientes. E um grande perdedor: o contribuinte. O texto também mostra a diferença entre ajudar o sistema bancário e ajudar Detroit.

E na Gazeta Mercantil, a notícia que a Toyota é a maior montadora do mundo:

Nova York, 30 de Outubro de 2008 - Prestes a pôr fim a seus 77 anos como a maior montadora mundial, a General Motors Corp. caiu ainda mais em relação à Toyota Motor Corp. em vendas mundiais no terceiro trimestre, com a retração da demanda nos Estados Unidos e na Europa.

As remessas de veículos caíram 11%, para 2,11 milhões de unidades, disse a General Motors, sediada em Detroit, em comunicado divulgado ontem. Isso empurrou o total de nove meses da montadora para 6,66 milhões de veículos, comparativamente aos 7,05 milhões da japonesa Toyota. (...)


Toyota destrona a GM como maior montadora mundial
Gazeta Mercantil - 30/10/2008

15 agosto 2008

Rir é o melhor remédio


“Se você colocar o governo para responder pelo deserto do Saara, em cinco anos haverá uma escassez de areia”, Milton Friedman , aqui

06 março 2008

A resistência do Governo


É mais fácil criar do que acabar. Esta máxima vale para o governo. Veja o exemplo da Bélgica (fonte, aqui). Lá ainda existe um Banco Central, que emprega mais de 2 mil pessoas, apesar do país não ter mais uma moeda para supervisionar desde 1999, com a adoção do euro.

03 março 2008

Bancos Oficiais

BB e Caixa ainda devem R$ 18 bi aos cofres públicos
Sheila D´Amorim - Folha de São Paulo - 3/3/2008

Apesar do lucro registrado nos últimos anos, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal ainda estão em dívida com o Tesouro Nacional e, juntos, devem R$ 18 bilhões aos cofres públicos. As duas instituições controladas pela União não deram retorno suficiente para compensar o dinheiro público gasto para saneá-las.

Doze anos depois de receber R$ 8 bilhões do governo, o total devolvido pelo Banco do Brasil à sociedade com repasses de dividendos e juros sobre o capital próprio ao Tesouro corresponde a apenas metade do investimento original corrigido a valores de hoje.

Já a Caixa Econômica Federal, em sete anos, deu retorno para o Tesouro equivalente a um terço dos R$ 9,3 bilhões atualizados também com base no IPCA.

Em junho de 1996, o governo gastou R$ 8 bilhões para capitalizar o Banco do Brasil. Essa quantia, corrigida a valores de hoje, chega a quase R$ 17 bilhões. Desde então, o BB deixou para trás a era de prejuízos e gerou lucros anuais que somam R$ 32,7 bilhões corrigidos pela inflação.

Isso rendeu aos cofres públicos R$ 8,764 bilhões em juros e dividendos, 52% do valor aplicado inicialmente. Resta algo próximo a R$ 8,2 bilhões.

O cálculo não inclui o subsídio implícito numa outra operação de troca de títulos realizada em junho de 2001 com o Tesouro para retirar da contabilidade do banco papéis e créditos ruins e substituí-los por outros de maior rentabilidade. Na época, essa operação envolveu R$ 12,5 bilhões.

Na engenharia financeira montada em 2001 para sanear os bancos federais, a CEF movimentou outros R$ 87 bilhões que envolveram troca de títulos, compra de créditos e substituição de empréstimos de má qualidade, a valores da época e cujo custo para o Tesouro não foi divulgado.

Além disso, a instituição recebeu dos cofres públicos para reforçar seu caixa R$ 9,3 bilhões, cujo valor atualizado chega perto de R$ 15 bilhões.

De lá para cá, o banco controlado 100% pela União gerou lucros de R$ 12,441 bilhões a valores de hoje e isso representou um repasse de R$ 5,138 bilhões para o Tesouro a título de juros e dividendos. Ainda faltam quase R$ 10 bilhões para dar retorno à sociedade.

(...) Como eles podem pagar isso? Primeiro não dando prejuízo, depois provando que são viáveis e gerando dividendos para o governo. Por isso, a discussão sobre a lucratividade dos bancos públicos e a compatibilização de resultados com a função pública gera polêmica dentro da própria equipe econômica.

Na última semana, o resultado do BB em 2007 surpreendeu negativamente o mercado. As ações do banco caíram porque se esperava um lucro mais compatível com seus concorrentes privados -a instituição ganhou R$ 5,06 bilhões, contra R$ 8,01 bilhões do Bradesco e R$ 8,47 bilhões do Itaú. A Caixa garantiu R$ 2,5 bilhões de lucro líquido no ano passado graças a R$ 1,4 bilhão em créditos tributários que foram registrados.

Vice-presidente de Finanças do BB, Aldo Luiz Mendes argumenta que a capitalização do banco, em 1996, e a troca de títulos e créditos, em 2001, foram um acerto de contas do passado. "Durante anos o BB assumiu obrigações do Tesouro, financiou dívidas do governo. A capitalização foi uma forma de explicitar todos os passivos do governo."

Além disso, ele defende que o retorno para o Tesouro não deve ser avaliado só com base nos dividendos pagos, mas é preciso considerar a valorização do banco. "Hoje o valor de mercado do BB é de R$ 75 bilhões, lá atrás não era de R$ 7 bilhões."

Segundo o vice-presidente da Caixa, o patrimônio do banco desde a capitalização subiu 159%, de R$ 4,1 bilhões para R$ 10,5 bilhões, e a rentabilidade foi superior à variação da Selic.

25 fevereiro 2008

Por que comer um Big Mac é mais barato do que comer salada?


Está certo que os dados são para economia norte-americana. Mas provavelmente a informação também é válida para o Brasil. A razão está na figura abaixo (fonte: aqui ): os subsídios do governo para o setor agropecuário está centrado nas proteínas (74% dos subsídios), enquanto a pirâmide alimentar recomendada enfatiza grãos e frutas/vegetais.

15 fevereiro 2008

Governo Eletrônico



Onde o governo eletrônico funciona? O gráfico mostra num eixo o gasto como percentagem da economia e no outro o uso pelos indíviduos. Noruega e Holanda possuem uma melhor relação custo-benefício. Fonte: Aqui

24 dezembro 2007

Dívida do Estado

Uma reportagem muito interessante sobre a dívida do Governo Português com os seus fornecedores. Seria interessante um estudo deste tipo no Brasil?

Estado deve mais de dois mil milhões a fornecedores
Bruno Faria Lopes
Diário Económico 22/12/2007

As dívidas do Estado aos fornecedores cresceram 332 milhões de euros em 2006, uma variação de 19% face ao ano anterior impulsionadas pela subida superior a 32% das dívidas de entidades ligadas ao ministério da Saúde, apontou ontem o Tribunal de Contas.

Segundo o parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2006, a dívida total a fornecedores no final desse ano ascendia a cerca de 2,02 mil milhões de euros, mais de metade já vencida, ou seja, em atraso. Do total desta dívida continuavam por pagar no final da primeira metade deste ano cerca de 873 milhões de euros, mais de 62" dos quais já vencidos.

O Tribunal de Contas - que há um ano levou a cabo pela, primeira vez, a identificação dos principais credores do Estado - realça os efeitos que os atrasos nos pagamentos têm nas contas públicas e na actividade das empresas. O relatório destaca que "quando estão em causa as PME [pequenas e médias empresas], os atrasos nos pagamentos influenciam negativamente a competitividade das empresas". No caso da despesa pública, esta é penalizada pelos "encargos acrescidos" com os juros pagos como compensação pelo atraso. O prazo médio de pagamentos da Administração Pública em Portugal é de 152,5 dias, contra uma média europeia de 68,9 dias, de acordo com dados da Intrum Justitia, uma empresa de recuperação de créditos.

No Orçamento do Estado para 2008, o Governo assumiu como prioridade a execução de um Programa de Redução de Prazos de Pagamento, cujos detalhes deverão ser conhecidos no princípio do próximo ano. uma iniciativa considerada "positiva" pela instituição liderada por Guilherme d'Oliveira Martins.

Explicações do Ministério da Saúde são "inaceitáveis"

Segundo o relatório ontem divulgado e entregue na Assembleia da República, o ministério da Saúde é responsável por quase dois terços (72,4%) da dívida do Estado e por grande parte da subida verificada em 2006, com um aumento de 359 milhões de euros.

O Tribunal de Contas considerou "sob o ponto de vista técnico, inaceitável" o argumento invocado pelo ministério de Correia de Campos, segundo o qual a dívida da Saúde se deveria medir em termos líquidos - ou seja, o montante devido subtraído das disponibilidades - o que diminuiria substancialmente os valores em causa.

Com a excepção da Estradas de Portugal e da Direcção Geral do Tesouro e Finanças, a maioria dos grandes devedores são entidades ligadas à Saúde, com destaque para os hospitais-empresa. Entre os principais credores - com montantes superiores a cinco milhões de euros - dominam os laboratórios farmacêuticos e a Associação Nacional de Farmácias.

A maioria das dívidas ao Estado, quase 80%, é inferior a 100 mil euros - contudo, a minoria de maiores devedores representa o grosso (30%) do valor em dívida, cerca de 590 milhões de euros.

Em reacção ao parecer do Tribunal de Contas, o ministério das Finanças optou por desvalorizar as críticas e sublinhar as melhorias identificadas pelo relatório na contabilidade pública.

Pontos-chave do parecer do Tribunal de Contas1 - Despesa cresce mais que receita entre 2002 e 2006

Entre 2002 e 2006 as despesas da Administração Central cresceram a um ritmo médio anual de 3,4% - ligeiramente inferior ao aumento médio do PIB, que registou 3,5%. No entanto, o aumento das despesas foi neste período superior ao das receitas, que se ficou por uma subida média anual de 2,8%. A diferença entre o crescimento médio da receita e da despesa resultou num aumento do défice em 1.761,9 milhões de euros nestes quatro anos (de -4.452,5 milhões de euros em 2002 para -6.214,4 milhões de euros em 2006). A evolução entre 2005 e 2006 foi mais positiva, mas as despesas continuam a representar uma percentagem do PIB superior à das receitas. De 2005 para 2006 as despesas passaram de 35,7% para 34,5% do PIB, enquanto a receita se manteve nos 30,5% do PIB. A diminuição da despesa permitiu que de um ano para o outro o défice recuasse 1.551,7 milhões de euros, de -5,2% para -4%.