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29 maio 2014

Curso de Contabilidade Básica: Endividamento 2

Enquanto a contabilidade produz informações a partir de um conjunto de normas até certo ponto rígidas, a utilização destas informações por parte do analista é muito livre. Isto significa dizer que cada analista pode construir seu conjunto de índices e seu relatório sobre o desempenho de cada empresa, destacando os pontos que julgar mais relevantes. Em outras palavras, “não existe amarras na análise das demonstrações contábeis”.

De igual modo, quando uma empresa apresenta suas demonstrações, existem alguns trechos onde prevalece certa liberdade. Isto é particularmente presente, por exemplo, no relatório de administração. Por este motivo, o usuário das informações que são geradas pela empresa deve ter muito cuidado ao lidar com estes relatórios.

Um caso interessante foi notado por duas alunas de graduação: Guiliana Cordeiro e Marcela Araujo (grato). Ao pesquisarem no sítio do Corinthians elas descobriram que o clube divulga uma informação sobre seu endividamento, conforme apresentado a seguir:

Em geral a informação do endividamento de uma entidade aparece sob a forma de índice, relacionando as contas do passivo com o ativo ou o patrimônio líquido. O Corinthians preferiu trabalhar com os valores absolutos. Segundo este clube, o seu endividamento ao final de 2013 era de 194 milhões de reais, negativos. Como o clube chegou a este resultado? Primeiro somou o circulante com o realizável a longo prazo; depois, subtraiu do passivo. Esta informação não é muita usada em análise de balanço, mas tem a seguinte explicação: usando os recursos do circulante e do realizável a longo prazo, o clube não consegue pagar sua dívida com terceiros.

É útil? Depende do usuário. Mas aqui é necessário um cuidado: o sinal (novamente). No final de 2010 o “endividamento” era de 122 milhões negativos. Rigorosamente (ou melhor, matematicamente), o Corinthians diminuiu o endividamento. Afinal 194 milhões de reais negativos é menor que 122 milhões de reais negativos. Mas será que é isto que ocorreu? Veja a informação da data:
Veja o leitor que o passivo do clube era de R$368 milhões no final de 2010 e R$1,2 bilhão no final de 2013. Há dúvidas que a dívida aumentou? Além disto, quando soma com parte do ativo, o “total do endividamento” saiu de 122 para 194. Mesmo deixando de lado o sinal, a situação apresentada pela direção do clube parece muito mais “agradável”.

O usuário das demonstrações contábeis precisa ter discernimento para não aceitar passivamente estas maluquices criadas e divulgadas nas demonstrações contábeis.

Curso de Contabilidade Básica - Editora Atlas - César Augusto Tibúrcio Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)

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