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09 fevereiro 2012

Dopamina


As pesquisas que atualmente estão sendo realizadas para tentar entender o mercado podem ser classificadas em dois tipos. Na primeira, procura-se analisar friamente os dados existentes, tentando descobrir, por exemplo, padrões de comportamento nas séries históricas. Esta abordagem é tradicional nos estudos sobre o mercado e envolvem um grande conjunto de dados em que serão aplicadas técnicas estatísticas.

Outro grupo tentar entender o que está por trás do mercado. Ou seja, o ser humano. Neste grupo, os pesquisadores eventualmente podem até usar os dados do mercado, mas o objetivo final é procurar verificar como a ação do homem influencia no comportamento do mercado. Existem três grandes subgrupos de pesquisas. No primeiro, o foco é o indivíduo específico e seu processo decisório. Boa parte dos achados de finanças comportamentais está neste grupo. Assim, a conclusão de que as pessoas sentem muito mais a perda do que o prazer do ganho, que conhecemos como aversão à perda, é uma situação típica de comportamento humano, que irá explicar certos movimentos do mercado.

Um segundo subgrupo de pesquisadores tem-se dedicado ao comportamento social. A preocupação é tentar verificar como as interações de grupos de pessoas afetam o mercado. Esta tendência das pessoas de seguirem o comportamento de um grupo irá refletir no chamado efeito manada. O desenvolvimento recente das redes sociais tem facilitado as pesquisas nesta área.

Podemos dizer que enquanto o primeiro subgrupo é “derivado” da psicologia, o segundo tem sua raiz na “sociologia”.

Um terceiro subgrupo, que é o objeto desta postagem, está mais interessado na parte física do comportamento. Aqui a preocupação é saber em que parte do cérebro uma decisão é tomada. As pesquisas são realizadas usando máquinas modernas que conseguem ver o que está ocorrendo dentro da cabeça das pessoas enquanto decisões são tomadas. Esta área tem sido denominada como neuroeconomia. Há tempos já se sabe, por exemplo, que a forma como as pessoas tomam decisões possuem um comportamento genético. O efeito do testosterona nos investidores já é conhecido (aqui, aqui e aqui). Acredita-se que os banqueiros tenham em grande quantidade um gene chamado AFL11 numa taxa de 84% deles, versus 2,7% da população.

Uma pesquisa mais recente avaliou os genes de 60 traders que trabalham em Wall Street. O objetivo era estudar o efeito da dopamina, um neurotransmissor do cérebro, responsável, entre outras coisas, pela dependência do jogo, sexo, álcool e outras drogas.

Pesquisas anteriores já apontavam para o efeito na dopamina no mercado acionário (aqui, aqui e aqui). Agora, dois pesquisadores Claremont Graduate University estudaram o efeito da dopamina na oferta pública inicial de ação. Este tipo de oferta é muito excitante e tende a aumentar a atividade da dopamina no cérebro. Mas sabemos também que em geral estas ofertas não são um bom investimento, tendo um retorno abaixo do esperado. Ou seja, liberar muita dopamina pode levar a péssimas decisões de investimento.

Os pesquisadores encontraram que os investidores de maior sucesso são aqueles que conseguem “controlar” a atividade da dopamina. Estes profissionais conseguem compensar o risco de uma oferta pública por uma visão de longo prazo graças a gene específico.

Talvez no futuro os traders devam fazer um exame completo na sua estrutura de genes para saber se conseguem controlar ou não sua dopamina.

Para ler mais: The Wall Street Gene, Jonah Lehrer, The Wall Street Journal, 4 fev 2012

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