09 dezembro 2025
Warner, Netflix e Paramount
Comentamos aqui sobre a compra, pela Netflix, dos negócios de filme e streaming da Warner Bros Discovery, por US$ 72 bilhões.
Agora, veio a público uma manobra Paramount que, segundo oValor, vem ressaltando aos acionistas da Warner a dificuldade que será para a Netflix obter aval dos reguladores e que, mesmo se recebido, o processo ainda levará tempo. O principal ponto de atenção seria o risco de a junção da Warner com a Netflix afetar consideravelmente o mercado competitivo, o que poderia ser amenizado caso o acordo ocorresse com a Paramount.
Segundo o Valor, a Paramount apresentou um lance de U$ 108 bilhões, U$ 18 bi a mais que a Netflix. Todavia, esse mesmo valor já havia sido oferecido e recusado pela Warner, que preferiu optar por um comprador de resistir ao escrutínio regulatório, assinar imediatamente e concluir os negócios nos termos exigidos.
O lance da Paramount vem acompanhado de garantia de capital pelos Ellison (família do cofundador da Oracle), pelo fundo de investimento RedBird Capital Partners e por fundos soberanos da Arábia Saudita, Abu Dhabi e Catar. Segundo a própriaParamount, esses investidores concordaram em renunciar a direitos de governança, o que evitaria uma revisão por motivos de segurança nacional.
07 dezembro 2025
Quem irá lecionar contabilidade?
Há alguns anos, escrevemos aqui no blog sobre um dado que me deixava inquieta: “um país com quase três mil cursos de contabilidade… e pouco mais de 250 doutores formados. Quem está lecionando?”
Na época, atualizei os números por conta própria e cheguei a algo próximo de 2.693 mestres e 251 doutores, que achei pouco. Porém, foi considerada também uma vitória, já que os programas no Brasil focados em Ciências Contábeis são relativamente recentes.
Destaquei ainda, naquela postagem, a dissertação do Glauber Barbosa (2011) que concluiu “ocorrência de disfunções no ensino superior das universidades federais, especialmente na sobrecarga de funções para os professores mais titulados e na supervalorização da pesquisa em detrimento do ensino, quando o ideal seria que este e aquela fossem indissociáveis.”
Conforme um texto publicado no The CPA Journal, esse problema não só continua, como em alguns lugares, piorou.
Nos EUA, o alerta agora é de crise aguda de professores de contabilidade com doutorado. O número de estudantes em PhD caiu mais de 40% desde 2007/2008, muitos programas não conseguem formar sequer um doutor por ano e uma boa parte dos formados não tem interesse na vida acadêmica. Some a isso o envelhecimento do corpo docente, a pressão por publicações e o fato de que a carreira fora da universidade muitas vezes é mais atraente financeiramente. Ou seja, lá e aqui, a pergunta continua ecoando: quem está, e quem estará, na frente da sala de aula?
Por lá uma das opções sugeridas foi criar doutorados profissionais em contabilidade, voltados para a prática, para casos reais, para a formação de professores que vêm do mercado e querem ensinar sem precisar passar por um programa tão rígido, teórico e de longa duração quando o acadêmico. Mas, na minha percepção pessoal, se programas profissionais realmente ganharem foco, teremos que discutir critérios claros de qualidade, mecanismos de avaliação, supervisão prática, padrões mínimos de formação e até como garantir que a experiência profissional não substitua, mas sim complemente, a reflexão crítica e a base conceitual que a docência exige.
06 dezembro 2025
Silvio Santos: a matemática das heranças bilionárias
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| Fonte da imagem: aqui |
Em 2024, os herdeiros do apresentador Silvio Santos entraram na justiça para questionar uma cobrança de R$ 17 milhões em Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) sobre R$ 429 milhões, referentes a uma empresa com sede nas Bahamas. O argumento central é o espólio estar no exterior, então não sujeito à legislação tributária aplicada no Brasil.
Com a reforma tributária, o imposto estadual ITCMD está em um ambiente cinzento, já que é necessária uma lei complementar federal que defina a competência tributária. Nenhum estado pode tributar herança no exterior sem a edição dessa lei, então enquanto o brasileiro comum briga com o ITCMD do apartamento da tia, os muito ricos discutem em um patamar acima, com outra ousadia, potência e privilégios.
No mesmo processo, os herdeiros questionam também supostos erros de cálculo da Secretaria de Fazenda de São Paulo, que teria superavaliado os valores em cerca R$ 47 milhões. Diante disso, a Justiça de São Paulo determinou uma perícia para a avaliação dos ativos, que deve ser concluída em até 60 dias. (O que eu não daria para ler o laudo do perito! Me parece imensamente interessante.)
O processo é sigiloso, mas vazamentos indicam que, dentre bens e direitos, o apresentador teria um patrimônio de cerca de R$ 6,4 bilhões, muito acima ds R$ 1,6 bi especulados até então. Outro dado interessante é que a Forbes posicionava Sílvio em 209º no ranking geral de bilionários no Brasil. Agora, com a nova estimativa 4x maior, os herdeiros saltariam para a 71ª posição.
05 dezembro 2025
A Netflix ganhou...
A Netflix deu o maior lance em um processo para a compra dos negócios de filme e streaming da Warner Bros Discovery: US$ 72 bilhões. As rivais Comcast e a Paramount Skydance não conseguiram superar este surpreendente lance que, por si só, já redesenha o tabuleiro do entretenimento.
Caso seja autorizada, a operação criará um colosso global no
setor, mas ainda precisa passar pelo escrutínio regulatório.
Os detalhes oficiais são poucos, mas não faltam conjecturas,
inclusive da que vos fala. Como consumidora, torço para que o negócio não seja
aprovado (mas imagino que será). Minha resistência passa pelo receio de que uma
fusão termine por sufocar negócios menores, amplifique um poder cultural que já
é absurdo e reduza a diversidade real de produção.
De forma mais mundana, me preocupo também com a forma como a
Netflix lida com seus catálogos, com métricas agressivas que resultam em
cancelamentos abruptos e ciclos curtos. É uma empresa que premia o que retém em
massa e não necessariamente o que inova.
No livro “Dez argumentos para você deletar agora suas redessociais” o autor, Jaron Lanier, alerta repetidamente para o modo como
conglomerados digitais moldam percepções, comportamentos e consumo. Embora a
crítica não se trate de streamings, muitas de suas reflexões podem ser
extrapolados para este contexto. Plataformas de grande escala não apenas
distribuem conteúdo, como também definem o que aparece, o que será apagado,
como a cultura circula.
A Netflix domina estratégia e possui um tipo peculiar de
visão de futuro. A empresa já mostrou seu poder em antecipar tendências e
moldar padrões em inúmeras oportunidades. No fim, parece que só a ela ganhou
alguma coisa. O resto de nós… seguimos aqui, com uma dose extra de ansiedade
algorítmica. Ou talvez eu esteja lendo assuntos distópicos em demasia...




