Translate

20 março 2025

Poluição, mercado e moral


Eis o resumo

Uma crítica comum aos instrumentos baseados no mercado é que eles transformam a poluição em uma mercadoria, reduzindo assim seu estigma moral. Se isso fosse verdade, o uso crescente desses instrumentos poderia diminuir a preocupação com o meio ambiente. Com um estudo experimental pré-registrado e demograficamente representativo, envolvendo mais de 2.000 americanos, este projeto encontra evidências contrárias à crítica da mercantilização. Os participantes que foram aleatoriamente designados para aprender sobre regulamentações baseadas no mercado para um poluente fictício, chamado malzene, não consideraram a poluição por malzene menos moralmente problemática do que aqueles que aprenderam sobre um mandato que impunha limites de poluição. Os resultados foram suficientemente precisos para descartar qualquer redução no estigma moral decorrente de um imposto sobre a poluição (em comparação com um mandato) e para excluir uma redução maior que 4% em um programa de cap-and-trade. Além disso, regulamentações baseadas no mercado podem fazer a poluição parecer pior: empresas que pagavam para poluir em conformidade com esses instrumentos eram vistas como moralmente piores do que aquelas que poluíam em conformidade com um mandato. Essa descoberta sugere um novo e diferente argumento contra as regulamentações baseadas no mercado — de que elas reduzem os benefícios reputacionais do cumprimento legal. No entanto, os instrumentos baseados no mercado não parecem reduzir o estigma moral da poluição.

Educação e sustentabilidade

Do CFC:


A International Federation of Accountants (Ifac) finalizou as revisões das Normas Internacionais de Educação (IES, na sigla em inglês) com o objetivo de assegurar que os profissionais da contabilidade de todo o mundo desenvolvam as competências certas para implementar os relatórios de sustentabilidade e as normas de asseguração de forma eficaz.

“A Ifac e seus membros trabalham juntos para moldar o futuro da profissão por meio do aprendizado, da inovação, de uma voz coletiva e de um compromisso compartilhado com o interesse público”, disse o diretor executivo da Ifac, Lee White.  As revisões das normas educacionais estabelecem uma base global de competência em sustentabilidade. Isso inclui as normas emitidas pelo International Auditing and Assurance Standards Board (Iaasb), pelo International Ethics Standards Board for Accountants (Iesba) e pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), bem como aquelas em desenvolvimento pelo International Public Sector Accounting Standards Board (Ipsasb).

Foto: aqui

Autocitações na ciência


Conheço pesquisadores da nossa área que fazem isso com frequência: citam excessivamente seus próprios trabalhos. Outros vão além: quando atuam como pareceristas de periódicos, exigem a citação de seus artigos como condição para aprovação. Ético? Eu acho que não.  

Dois pesquisadores, ao analisarem milhares de artigos e periódicos, identificaram pelo menos 45 mil trabalhos com autocitações. Os dados, extraídos da base Web of Science da Clarivate, abrangem textos desde 1980.  

Algumas inconsistências foram constatadas na pesquisa, conforme apontado pelo site que divulgou a notícia. O periódico Quantitative Economics, por exemplo, frequentemente atribui DOIs — números únicos que identificam artigos no mundo acadêmico — diferentes para materiais suplementares ou apêndices.  

Ainda assim, mesmo os erros podem representar um problema, pois podem indicar que alguns pesquisadores descobriram maneiras de burlar o sistema.

Quando a política incomoda

A marca de sorvete Ben & Jerry’s é muito conhecida em alguns países. Durante décadas, a empresa adotou uma postura considerada progressista. Um exemplo recente é o posicionamento de seus executivos em favor da causa palestina.

Se uma pequena empresa de sorvetes não causa grande impacto, o fato de Ben & Jerry’s pertencer a um grande grupo multinacional pode gerar controvérsias. Desde 2000, a marca é propriedade da Unilever, e sua postura política tem se tornado cada vez mais relevante.

Agora, a Unilever tomou uma medida drástica ao demitir o CEO da Ben & Jerry’s, David Stever. Segundo boatos, o motivo seria político. A empresa entrou com uma ação contra a Unilever na Justiça de Nova York, alegando que a demissão violou um acordo firmado no momento da aquisição, que não teria sido cumprido.


19 março 2025

Preconceito racial nas avaliações

A coluna de Fernando Reinach (15 de março, O preconceito racial em avaliações, Estado de São Paulo) traz uma pesquisa interessante sobre preconceito racial e o processo avaliativo. Em uma empresa que faz a intermediação entre clientes e pessoas que prestam serviços domésticos, a avaliação dos prestadores era feita com a tradicional escala de notas de 1 a 5. No entanto, a análise da empresa revelou que os clientes levavam em consideração, de maneira sutil e inconsciente, a cor do prestador. Assim, mesmo que a qualidade do serviço fosse boa, as estrelas concedidas não faziam jus aos profissionais negros. Os dados mostraram que os prestadores brancos recebiam nota máxima em 90% a 95% das vezes, enquanto os negros atingiam cinco estrelas em 85% a 90% dos casos.




Ao mudar a escala para um sistema binário — com um polegar para cima (satisfeito) e um polegar para baixo (insatisfeito) —, a diferença na avaliação desapareceu. Esse dado é interessante, pois sugere uma forma de reduzir o impacto do preconceito.

Mas fico me perguntando: se essa solução fosse realmente eficaz e amplamente aceita, mecanismos de avaliação como os do Uber, do Booking e de outras empresas já não deveriam adotá-la? Qual seria a razão para não fazê-lo? Será que o tipo de produto ou serviço avaliado interfere na eficácia do sistema? Vale lembrar que a Netflix, no passado, usava um sistema de estrelas, depois mudou para um modelo binário e, atualmente, adota uma escala com três opções. Será que há algum fator que ainda nos escapa?

O uso de IA pelo Blog

A lição do Quartz, da postagem anterior, mostra os riscos do uso da IA. O Contabilidade Financeira tem utilizado ferramentas de inteligência artificial, especialmente em dois casos: a tradução de textos de outras línguas, uma rápida revisão ortográfica e gramatical (caso dessa postagem) e a eventual criação de figuras horríveis para ilustrar as postagens (idem). Nós usamos o ChatGPT e outras ferramentas de tradução, inclusive aquelas acopladas aos navegadores (Firefox e Vivaldi). Há uma revisão e uma tentativa de evitar textos inadequados, mas, eventualmente, alguns erros passam. Também pedimos para a IA fazer resumos de sites cujo acesso é negado ao usuário humano, mas apenas em casos excepcionais.

Em resumo, o Contabilidade Financeira ainda é um blog imperfeito, que comete muitos erros, mas é feito por seres humanos.

O uso da IA pelo Quartz

A G/O Media é uma empresa do setor de comunicação, conhecida pelo site de negócios Quartz. Durante anos, esse blog acompanhou o site de notícias por meio do agregador que utilizamos (inicialmente o Reader e, mais recentemente, o Feedly). O Quartz publicava notícias interessantes e mantinha um grande volume de postagens.

Com o tempo, no entanto, percebemos que as notícias do Quartz deixaram de despertar interesse e não eram mais relevantes para postagens no blog. Além disso, o número de notícias diárias era enorme e, após uma rápida análise do custo-benefício de continuar seguindo o site, decidimos deixá-lo de lado.


Agora, porém, me deparo com uma notícia interessante sobre o Quartz — e ela ressalta a necessidade de termos cuidado no uso da IA para produzir conteúdo.

Recentemente, o Quartz começou a publicar notícias e artigos gerados por IA sob a autoria do Quartz Intelligence Newsroom. Inicialmente, eram apenas atualizações sobre resultados financeiros de empresas, mas agora a IA passou a produzir notícias completas.

O problema é que a IA tem gerado informações imprecisas e, muitas vezes, citando conteúdos também gerados por IA. Além disso, não fica claro de onde a IA do Quartz obtém suas fontes. Segundo um texto do Futurism, o Quartz tem citado um site chamado Devdiscourse, que aparentemente é uma plataforma automatizada de notícias que gera resumos de artigos por meio de IA.

Considere um artigo publicado hoje pela IA do Quartz, intitulado "Fabricante do Ozempic, Novo Nordisk, limitará preços da insulina para encerrar um processo judicial". No topo do artigo, a "Intelligence Newsroom" cita três fontes, começando por um link para um artigo do Devdiscourse intitulado "Novo Nordisk limita preços da insulina em acordo histórico".

Assim como os artigos gerados por IA do Quartz, a publicação do Devdiscourse não tem um autor humano listado; em vez disso, é atribuída à "Devdiscourse News Desk", uma assinatura sob a qual o site publica uma quantidade impressionante de conteúdo. O artigo é curto e não indica qualquer reportagem original.

Ainda pior? Ele contém uma versão absurdamente malfeita do logotipo da farmacêutica Novo Nordisk, gerada por IA, com palavras incompreensíveis. O nome da empresa está claramente escrito errado como "NORDIISK", e abaixo dele aparece "STIAPLAME", uma palavra aparentemente inventada. (Quase todos os artigos do Devdiscourse parecem conter imagens geradas por IA igualmente distorcidas.)