01 fevereiro 2015
Petrobras: um balanço poético
Ao balanço da madrugada
O incrível balanço trimestral da Petrobras lembra os prédios japoneses antisísmicos, em plena confirmação de flexibilidade aos abalos mais estrondosos. Aliás, o amparo estatal deixa a gigante petrolífera bem resistente aos empurrões administrativos.
Mesmo sem auditoria, foi apresentado para evitar pagamento de bônus aos acionistas, tão superficial que em nada lembra o know-how extrator em águas profundas, desabando o preço das ações.
Dizem que será preciso formatar uma nova área na ciência contábil só para estimar ativos e passivos desencaminhados para balanços incomensuráveis, manchando relatórios feito mega vazamentos de óleo e cédulas em paraísos ecológicos e fiscais.
Fonte: aqui
31 janeiro 2015
Fato da Semana: Os números da Petrobras (Semana 5 de 2015)
Fato da Semana: A empresa Petrobras divulgou de maneira preliminar o balanço do terceiro trimestre de 2014. A divulgação aconteceu com um grande atraso e sem que computasse os valores da amortização com a propina que a empresa pagou nos últimos anos. A decisão foi política e o mercado reagiu de maneira negativa, derrubando, ainda mais os preços das ações. Entretanto, a empresa divulgou, talvez tentando passar despercebido, um número que reflete a diferença entre o valor contábil e o valor justo dos ativos. É muito acima de qualquer número que tinha sido comentado anteriormente à divulgação.
Qual a relevância disto? O fato trouxe a tona conceitos como recuperabilidade, amortização, valor justo, controle interno, entre outros. Aparentemente não afetou outras empresas, mas foi um baque para a empresa. A gestão da empresa parecia à mercê dos acontecimentos, sem ação.
Positivo ou Negativo – Horrível para a empresa. Mas este blog é de contabilidade. A discussão contábil é interessante para todos os profissionais. Principalmente que a contabilidade passou incólume ao teste. Neutro.
Desdobramentos – O que acontecerá no próximo trimestre? Será que a empresa irá aceitar o inevitável e fazer a amortização? Ou continuarão dizendo que a mensuração dos valores da corrupção é difícil? Tudo leva a crer que nos próximos dias nada irá mudar na empresa. Será que mudará nas próximas demonstrações?
Qual a relevância disto? O fato trouxe a tona conceitos como recuperabilidade, amortização, valor justo, controle interno, entre outros. Aparentemente não afetou outras empresas, mas foi um baque para a empresa. A gestão da empresa parecia à mercê dos acontecimentos, sem ação.
Positivo ou Negativo – Horrível para a empresa. Mas este blog é de contabilidade. A discussão contábil é interessante para todos os profissionais. Principalmente que a contabilidade passou incólume ao teste. Neutro.
Desdobramentos – O que acontecerá no próximo trimestre? Será que a empresa irá aceitar o inevitável e fazer a amortização? Ou continuarão dizendo que a mensuração dos valores da corrupção é difícil? Tudo leva a crer que nos próximos dias nada irá mudar na empresa. Será que mudará nas próximas demonstrações?
30 janeiro 2015
Som da Sexta - Flight of the Conchords
Flight of the Conchords é um dueto da Nova Zelândia, formado por Bret McKenzie e Jemaine Clement. O grupo usa uma combinação de letras engraçadas e guitarras acústicas em suas músicas. A música abaixo chama-se Business Time. A letra é muito engraçada, assim como o clipe.
Oitenta e oito
Muita coisa foi escrita sobre as demonstrações contábeis não auditadas da Petrobras. Um dos principais pontos foi sobre os 88 bilhões, que muitos enxergaram como o valor da corrupção da empresa. Este valor representa a diferença entre o valor justo e o valor contábil de grandes empreendimentos da empresa. Rapidamente significou o valor da corrupção. Isto não é verdade por dois motivos. O primeiro, é que o “método de cálculo” não abrangeu todo ativo imobilizado, o que poderia fazer este montante ser maior do que o citado. O segundo é dificilmente teremos condições de saber o valor preciso da corrupção, já que a empresa não terá acesso a toda informação de todos os corruptos. Na melhor da hipótese será um valor estimado.
Mas mesmo sendo uma estimativa, ainda que tosca de um processo que passou por cima de uma longa história desta empresa, os oitenta e oito foram buscados no meio de um monte de números. E passou a representar a corrupção que derrubou a Petrobras.
Numa empresa privada, num mercado desenvolvido, muito provavelmente aconteceria o seguinte. Em primeiro lugar, haveria uma substituição de todos os executivos do primeiro escalão e a contratação de executivos externos. A nova administração deveria ter credibilidade, com liberdade para fazer um enxugamento e uma mudança na cultura da empresa. Além dos executivos, a faxina também incluiria as pessoas nos postos relevantes, como os assessores e secretarias das diretorias envolvidas. Logo a seguir, seriam chamadas pessoas para investigar os problemas e apresentar solução. Isto incluiria especialistas em fraudes. As empresas fornecedoras que estivessem envolvidas nos problemas seriam processadas e impedidas de fazer qualquer negócio com a empresa. Em termos contábeis, o máximo possível seria amortizado. Isto aumentaria a alavancagem e o custo do empréstimo. Mas limparia o balanço e permitiria que nos próximos exercícios a empresa pudesse recuperar. A empresa de auditoria seria substituída imediatamente, já que existiram dúvidas sobre a qualidade do seu trabalho. Em lugar de esconder por trás de notícias sem relevância ou usando linguagem obscura, a empresa seria extremamente honesta sobre os problemas, constituindo comissão de investigação com especialista (não necessariamente de renome) que apresentaria resultados rapidamente.
Comparando com as medidas que foram tomadas até agora na empresa é possível perceber quão distante estamos do ideal. A decisão de contratar advogados, em lugar de detetives, de colocar ex-juiz do supremo em vez de especialista em fraude, de manter a atual gestão, incluindo o conselho de administração e de auditoria, com pouca visão da realidade administrativa e financeira da empresa e de não fazer amortização mostram que os rumos da empresa necessitam de outras medidas, que modifique substancialmente o atual cenário.
Mas a presença do número 88 nas informações divulgadas na quarta, referente ao valor que deveria ser amortizado (R$88,9 bilhões) indica que existe esperança. Este número deve ter sido fruto da área técnica contábil da empresa, que ainda resiste às imposições políticas. É um número que teve que ser “engolido” pela alta cúpula da empresa, apesar da pressão para não evidenciar. É o número da resistência.
Mostra que não existe somente a Petrobras da sra. Foster ou do sr. Barbassa.
Nesta empresa existem pessoas que querem fazer um trabalho técnico da melhor qualidade e que gostariam que os números contábeis fossem a expressão da realidade.
Mas mesmo sendo uma estimativa, ainda que tosca de um processo que passou por cima de uma longa história desta empresa, os oitenta e oito foram buscados no meio de um monte de números. E passou a representar a corrupção que derrubou a Petrobras.
Numa empresa privada, num mercado desenvolvido, muito provavelmente aconteceria o seguinte. Em primeiro lugar, haveria uma substituição de todos os executivos do primeiro escalão e a contratação de executivos externos. A nova administração deveria ter credibilidade, com liberdade para fazer um enxugamento e uma mudança na cultura da empresa. Além dos executivos, a faxina também incluiria as pessoas nos postos relevantes, como os assessores e secretarias das diretorias envolvidas. Logo a seguir, seriam chamadas pessoas para investigar os problemas e apresentar solução. Isto incluiria especialistas em fraudes. As empresas fornecedoras que estivessem envolvidas nos problemas seriam processadas e impedidas de fazer qualquer negócio com a empresa. Em termos contábeis, o máximo possível seria amortizado. Isto aumentaria a alavancagem e o custo do empréstimo. Mas limparia o balanço e permitiria que nos próximos exercícios a empresa pudesse recuperar. A empresa de auditoria seria substituída imediatamente, já que existiram dúvidas sobre a qualidade do seu trabalho. Em lugar de esconder por trás de notícias sem relevância ou usando linguagem obscura, a empresa seria extremamente honesta sobre os problemas, constituindo comissão de investigação com especialista (não necessariamente de renome) que apresentaria resultados rapidamente.
Comparando com as medidas que foram tomadas até agora na empresa é possível perceber quão distante estamos do ideal. A decisão de contratar advogados, em lugar de detetives, de colocar ex-juiz do supremo em vez de especialista em fraude, de manter a atual gestão, incluindo o conselho de administração e de auditoria, com pouca visão da realidade administrativa e financeira da empresa e de não fazer amortização mostram que os rumos da empresa necessitam de outras medidas, que modifique substancialmente o atual cenário.
Mas a presença do número 88 nas informações divulgadas na quarta, referente ao valor que deveria ser amortizado (R$88,9 bilhões) indica que existe esperança. Este número deve ter sido fruto da área técnica contábil da empresa, que ainda resiste às imposições políticas. É um número que teve que ser “engolido” pela alta cúpula da empresa, apesar da pressão para não evidenciar. É o número da resistência.
Mostra que não existe somente a Petrobras da sra. Foster ou do sr. Barbassa.
Nesta empresa existem pessoas que querem fazer um trabalho técnico da melhor qualidade e que gostariam que os números contábeis fossem a expressão da realidade.
O que gostaríamos de saber 3
Anteriormente, numa postagem, fizemos algumas projeções. Este é um momento para verificar como saímos:
1 - Tamanho do rombo? - será uma estimativa e não deverá levar em consideração os problemas mais antigos de corrupção da empresa. Já fizemos uma estimativa aqui de 20 bilhões, mas acredito que a empresa deverá colocar um número compatível com o resultado apurado. Minha avaliação é que o valor estará entre 10 e 20 bilhões.
A empresa disse que ainda não é possível fazer uma avaliação. A grande notícia foi o valor de 88 bilhões, mas neste valor tem mais do que corrupção. No entanto, ontem a presidência da empresa afirmou que ainda pode aumentar, já que nem todo ativo foi mensurado. Numa das metodologias chegaram a 4 bilhões. É bem abaixo do valor que estimamos.
2 - Haverá baixas por conta da redução do preço do petróleo? - Não acredito. Como o foco é o valor da baixa pela corrupção, isto pode ficar para depois. Além disto, a empresa pode afirmar, com uma certa dose de razão, que o preço é volátil.
Correto. A empresa aproveitou para não dar baixa por conta da redução do petróleo.
3 - Tamanho do corte de investimento em 2015 para não tomar empréstimo? - A punição às empreiteiras irá ajudar neste corte. Nos últimos anos a empresa teve fluxo de caixa de investimento negativo entre 53 bilhões de reais em 2008 e 77 bilhões em 2013. Deve ficar entre 30 bilhões e 50 bilhões em 2015, mas com valores mais próximo ao valor mínimo.
Ainda não está claro e somente nos próximos meses teremos condições de saber.
4 -O que falta para a empresa publicar o balanço auditado e se as demonstrações anuais serão publicadas no prazo? - A PwC é quem irá determinar esta publicação. Tenho sérias dúvidas se o balanço será limpo.
Ainda é cedo. Mas parece que será com atraso, pelo que foi dito na conferência ontem.
5 - Vai processar os executivos? - Não.
Tudo caminha para isto. Em nenhum momento a empresa falou em responsabilizar. Mais ainda, fez questão de destacar que o problema acabou com a nova gestão, apesar das investigações afirmarem o contrário.
1 - Tamanho do rombo? - será uma estimativa e não deverá levar em consideração os problemas mais antigos de corrupção da empresa. Já fizemos uma estimativa aqui de 20 bilhões, mas acredito que a empresa deverá colocar um número compatível com o resultado apurado. Minha avaliação é que o valor estará entre 10 e 20 bilhões.
A empresa disse que ainda não é possível fazer uma avaliação. A grande notícia foi o valor de 88 bilhões, mas neste valor tem mais do que corrupção. No entanto, ontem a presidência da empresa afirmou que ainda pode aumentar, já que nem todo ativo foi mensurado. Numa das metodologias chegaram a 4 bilhões. É bem abaixo do valor que estimamos.
2 - Haverá baixas por conta da redução do preço do petróleo? - Não acredito. Como o foco é o valor da baixa pela corrupção, isto pode ficar para depois. Além disto, a empresa pode afirmar, com uma certa dose de razão, que o preço é volátil.
Correto. A empresa aproveitou para não dar baixa por conta da redução do petróleo.
3 - Tamanho do corte de investimento em 2015 para não tomar empréstimo? - A punição às empreiteiras irá ajudar neste corte. Nos últimos anos a empresa teve fluxo de caixa de investimento negativo entre 53 bilhões de reais em 2008 e 77 bilhões em 2013. Deve ficar entre 30 bilhões e 50 bilhões em 2015, mas com valores mais próximo ao valor mínimo.
Ainda não está claro e somente nos próximos meses teremos condições de saber.
4 -O que falta para a empresa publicar o balanço auditado e se as demonstrações anuais serão publicadas no prazo? - A PwC é quem irá determinar esta publicação. Tenho sérias dúvidas se o balanço será limpo.
Ainda é cedo. Mas parece que será com atraso, pelo que foi dito na conferência ontem.
5 - Vai processar os executivos? - Não.
Tudo caminha para isto. Em nenhum momento a empresa falou em responsabilizar. Mais ainda, fez questão de destacar que o problema acabou com a nova gestão, apesar das investigações afirmarem o contrário.
29 janeiro 2015
28 janeiro 2015
E o juiz...
Postamos que o mercado seria o juiz do balanço da Petrobras. Eis o resultado:
A queda foi maior que no início do dia. Parece que o mercado trabalhou com os 88 bilhões
A queda foi maior que no início do dia. Parece que o mercado trabalhou com os 88 bilhões
E se...
Caso a empresa Petrobras tivesse feito uma amortização de 88 bilhões teríamos o seguinte:
Resultado líquido acumulado de 2014 = 75 bilhões de prejuízo
Margem Líquida = -30%
Ativo Total = 737 bilhões, com redução de 2% em relação a 31/12/2013
Patrimônio Líquido = 262 bilhões, com redução de 25% em relação ao final de 2013
Endividamento de 64% (versus 53% no final de 2013 e 58% do balanço divulgado)
Resultado líquido acumulado de 2014 = 75 bilhões de prejuízo
Margem Líquida = -30%
Ativo Total = 737 bilhões, com redução de 2% em relação a 31/12/2013
Patrimônio Líquido = 262 bilhões, com redução de 25% em relação ao final de 2013
Endividamento de 64% (versus 53% no final de 2013 e 58% do balanço divulgado)
Legibilidade
A legibilidade é uma medida aproximada da dificuldade de um texto. Usando o método Flesch, o mais usado para medir a legibilidade, calculamos o valor para a carta de Foster, presidente da empresa, divulgou ontem. Em 269 palavras, o método acusou legibilidade difícil.
Nos comentários foram 1.333 palavras e novamente o Flesdh foi difícil.
Durante o escândalo da Enron o seu comunicado à imprensa também foi considerado difícil.
Nos comentários foram 1.333 palavras e novamente o Flesdh foi difícil.
Durante o escândalo da Enron o seu comunicado à imprensa também foi considerado difícil.
Confusão
O fato de divulgar o balanço no final da noite causou uma confusão na imprensa. Veja a seguir:
A empresa não adiou o balanço. Somente divulgou número s sem a amortização.
A empresa não adiou o balanço. Somente divulgou número s sem a amortização.
Juiz
Na abertura do mercado acionário hoje saberemos a reação dos investidores. Havia uma expectativa de amortização, que não ocorreu. Além disto, as ações já estão num patamar muito baixo.
Encruzilhada 2
Ontem postamos sobre a encruzilhada da Petrobras. A empresa optou por não assumir as perdas. Conformo afirmamos, a opção possui algumas vantagens: "pode" garantir pagamento da PLR aos empregados e dividendos aos acionistas. Isto deverá ser discutido mais adiante. A segunda vantagem é cumprir certas obrigações e isto está presente no comunicado da empresa ("A divulgação das demonstrações contábeis não revisadas pelos auditores independentes do terceiro trimestre de 2014 tem o objetivo de atender obrigações da Companhia (covenants) em contratos de dívida"). Terceiro, não afeta o endividamento e pode tentar manter a classificação de risco (aguardem os próximos capítulos; acho difícil as agências manterem as notas). Quarto, a questão política. É importante notar que a reunião do Conselho da empresa aconteceu no mesmo dia da reunião ministerial. O presidente da república afirmou que não deveria enfraquecer a Petrobras. O recado tinha sido dado. A questão do caixa parece não preocupar a empresa, que afirmou que os problemas não afetam o caixa futuro e os investimentos (não é verdade). Finalmente, "os gestores foram indicações políticas; sua sustentação decorre de acordos partidários e eles sabem disto".
Petrobras
Nas demonstrações contábeis publicadas ontem, a Petrobras divulga na nota explicativa 3 uma série de informações mais detalhadas do que foi exposto no comunicado da empresa e na carta da presidente.
Inicialmente a nota faz um histórico dos efeitos da operação de investigação da corrupção na empresa. e justifica que somente no terceiro trimestre seria possível as denúncias afetarem o resultado. No item 3.1 a empresa indica as providências tomadas, incluindo a contratação de advogados, requerimentos e outras medidas burocráticas. No item 3.2 destaca-se as medidas para melhoria da governança. O item 3.3 comenta sobre o ativo imobilizado e justifica a impraticabilidade de quantificar o valor exato a ser corrigido. Diante disto, a empresa considerou duas abordagens: a) percentual médio de pagamentos indevidos, que resultaria numa amortização de 4 bilhões; b) valor justo, que resultou em R$88 bilhões inferior, conforme comentado na postagem anterior. Aqui, neste texto, a empresa informa que não está sendo considerado as sinergias. E que isto poderia fazer com que o valor fosse menor. Ou seja, os 88 bilhões seria a amortização "na pior das hipótese". (A empresa esquece que "sinergia" pode também ser no sentido contrário).
Mais adiante a empresa afirma:
Em 21 de Novembro de 2014, a Petrobras recebeu uma intimação (subpoena) da Securities and Exchange Commission (SEC) requerendo documentos relativos à Companhia. A Companhia atenderá as solicitações oriundas da subpoena após trabalho conjunto e em andamento com o escritório nacional Trench, Rossi e Watanabe Advogados e com o escritório norte-americano Gibson, Dunn Crutcher, contratados pela Petrobras para realizar uma investigação interna independente.
Sempre fomos críticos e contrários a esta contratação. Aqui a empresa informa que os escritórios irão ajudar na resposta à SEC e outros reguladores.
Inicialmente a nota faz um histórico dos efeitos da operação de investigação da corrupção na empresa. e justifica que somente no terceiro trimestre seria possível as denúncias afetarem o resultado. No item 3.1 a empresa indica as providências tomadas, incluindo a contratação de advogados, requerimentos e outras medidas burocráticas. No item 3.2 destaca-se as medidas para melhoria da governança. O item 3.3 comenta sobre o ativo imobilizado e justifica a impraticabilidade de quantificar o valor exato a ser corrigido. Diante disto, a empresa considerou duas abordagens: a) percentual médio de pagamentos indevidos, que resultaria numa amortização de 4 bilhões; b) valor justo, que resultou em R$88 bilhões inferior, conforme comentado na postagem anterior. Aqui, neste texto, a empresa informa que não está sendo considerado as sinergias. E que isto poderia fazer com que o valor fosse menor. Ou seja, os 88 bilhões seria a amortização "na pior das hipótese". (A empresa esquece que "sinergia" pode também ser no sentido contrário).
Mais adiante a empresa afirma:
Em 21 de Novembro de 2014, a Petrobras recebeu uma intimação (subpoena) da Securities and Exchange Commission (SEC) requerendo documentos relativos à Companhia. A Companhia atenderá as solicitações oriundas da subpoena após trabalho conjunto e em andamento com o escritório nacional Trench, Rossi e Watanabe Advogados e com o escritório norte-americano Gibson, Dunn Crutcher, contratados pela Petrobras para realizar uma investigação interna independente.
Sempre fomos críticos e contrários a esta contratação. Aqui a empresa informa que os escritórios irão ajudar na resposta à SEC e outros reguladores.
Comunicado da Petrobras 2
Juntamente com o comunicado, a presidente divulgou "comentários" nos resultados do terceiro trimestre, . Negrito do blog.
Comentários da Presidente
Sra. Maria das Graças Silva Foster
Prezados Acionistas e Investidores,
Como é de notório conhecimento, a Petrobras enfrenta um momento único em sua história. Em março de 2014, a “Operação Lava Jato”, deflagrada pela Polícia Federal com o objetivo de investigar suspeitas de lavagem de dinheiro, alcançou a Petrobras com a prisão do ex-diretor de Abastecimento da Companhia Paulo Roberto Costa, que está sendo investigado pelos crimes de corrupção, peculato, dentre outros.
No dia 13/11/14, em consequência dos fatos e provas produzidos no âmbito da Operação Lava Jato, a Petrobras postergou a divulgação dos resultados do 3T-2014. Em suma, os depoimentos aos quais a Petrobras teve acesso revelaram a existência de atos ilícitos, como cartelização de fornecedores e recebimentos de propinas por ex-empregados, indicando que pagamentos a tais fornecedores foram indevidamente reconhecidos como parte do custo de nossos ativos imobilizados, demandando, portanto, ajustes.
Provavelmente a presidente está informando que não teve acesso a todos os depoimentos. Além disto informa que somente "ex-empregados" receberam propinas (Sérgio Machado, da Transpetro, por exemplo, não recebeu).
Entretanto, concluímos ser impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da Companhia.
De certa forma ela tem razão no termo exato. Mas muitas medidas na contabilidade não são exatas, como é o caso de valores a receber. Nem por isto se deixa de fazer estimativas de perda com clientes ruins.
Em face da impraticabilidade de identificar os pagamentos indevidos de forma correta, completa e definitiva, e da necessidade de corrigir esse erro, a Companhia decidiu lançar mão de duas abordagens: (i) diferença entre o valor justo (fair value) de cada ativo e seu valor contábil e (ii) quantificação do sobrepreço decorrente de atos ilícitos usando informações, números e datas revelados nos depoimentos e termos de colaboração premiada no âmbito da Operação Lava Jato.
Existe um jogo de palavras aqui. A empresa não é capaz de identificar os pagamentos de forma "correta, completa e definitiva". Provavelmente nunca será. A contabilidade trabalha com estimativas. Mesmo assim, talvez por pressão da área técnica, a empresa usou duas metodologias: o valor justo e o sobrepreço. Observe que isto desmente a primeira parte da frase; existe forma de mensurar o sobrepreço, não de forma definitiva (nunca será possível), mas por estimativa. É bem verdade que em parte desta estimativa haverá também as ineficiências da própria empresa.
Os ativos selecionados para avaliação do valor justo somam R$ 188,4 bilhões, praticamente 1/3 do ativo imobilizado total da Petrobras (R$ 600,1 bilhões) e tiveram, como referência, os contratos firmados entre a Petrobras e as empresas citadas na “Operação Lava Jato” entre 2004 e abril de 2012.
Nem tudo foi selecionado para fazer a avaliação a valor justo. Bastante razoável. Mas parece que a empresa não teve acesso a todos os depoimentos e por este motivo não teria como fazer uma seleção completa. O segundo ponto importante é que a presidente insiste em terminar o problema em abril de 2012, quando se sabe que as práticas inadequadas continuaram até o ano passado. A razão disto é simples: tira a responsabilidade - um pouco - da atual gestão.
A avaliação foi realizada por firmas globais reconhecidas internacionalmente como avaliadores independentes, abrangendo 81% do ativo total avaliado. A análise dos outros 19% foi realizada pelas equipes técnicas da Petrobras, porém com total consistência metodológica e de premissas com o trabalho realizado pelos avaliadores independentes.
A empresa não informa quem são as "firmas globais reconhecidas internacionalmente". Já discutimos isto anteriormente no blog, quando a empresa anunciou a contratação de um escritório de advocacia dos EUA e outro brasileiro (internacional?). Na ocasião apontamos que o correto seria a contratação de uma empresa de investigação, como a Kroll. Logo depois estas empresas de advogados subcontrataram uma auditoria.
No entanto, o amadurecimento adquirido no desenvolvimento do trabalho tornou evidente que essa metodologia não se apresentou como uma substituta “proxy” adequada para mensuração dos potenciais pagamentos indevidos, pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente, quais sejam, mudanças nas variáveis econômicas e financeiras (taxa de câmbio, taxa de desconto, indicadores de risco e custo de capital),
mudanças nas projeções de preços e margens dos insumos, mudanças nas projeções de preços, margens e demanda dos produtos comercializados, mudanças nos preços de equipamentos, insumos, salários e outros custos correlatos, bem como deficiências no planejamento do projeto (engenharia e suprimento).
Afirma-se que não se teve condições de medir os potenciais pagamentos indevidos. E não será possível fazê-lo nem nos próximos dias nem nos próximos anos. Neste parágrafo já se fala em "proxy" e "adequada" em lugar de "certeza" do anterior. Outro fator é que justifica a ausência da amortização em razão da variação dos preços do petróleo. Recentemente a imprensa especulou que a empresa poderia fazer uma amortização em razão deste fato. Mas temos aqui um problema de lógica grave: o teste de recuperabilidade não está interessado em determinar precisamente as causas da amortização e sim fazer uma comparação entre o valor que está contabilizado e o valor recuperável. Este valor recuperável poderá ser o fluxo de caixa descontado (possível de ser feito agora) ou o valor de mercado dos ativos, que na maioria dos imobilizados da empresa é inferior ao fluxo descontado. E pelo que a presidente divulgou, a mensuração do fluxo descontado foi realizado, sendo possível fazer a amortização. O problema é determinar as causas. (É bem verdade que a separação da incompetência e da corrupção possuem implicações fiscais.)
O resultado das avaliações indicou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram R$ 88,6 bilhões de diferença a menor. Os ativos com valor justo superior totalizaram R$ 27,2 bilhões de diferença a maior frente ao imobilizado.
Esta informação é relevante. A presidente diz que a amortização deveria ser de R$88,6 bilhões, gerando o prejuízo recorde de todos os tempos no Brasil. Afinal, o teste de recuperabilidade está associado a amortizar os valores a menor e assim o valor de R$27 bilhões a maior não seria considerado. Temos também aqui a origem dos 52 bilhões que a imprensa noticiou recentemente.
Decidimos não utilizar a metodologia da determinação do valor justo como “proxy” para ajustar os ativos imobilizados da Companhia devido à corrupção, pois o ajuste seria composto de elementos que não teriam relação direta com pagamentos indevidos. Assim, aprofundaremos outra metodologia que tome por base valores, prazos e informações contidos nos depoimentos em conformidade com as exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC), visando a emissão das demonstrações contábeis
revisadas.
A justificativa para não fazer a amortização é que não se conhece o valor dos pagamentos indevidos. Como os depoimentos estão em "sigilo", a divulgação com base nesta metodologia deverá demorar. Outro aspecto é que a empresa não conhece os pagamentos indevidos, mas pode estimar, por exemplo, os efeitos da redução do preço do petróleo sobre o fluxo de caixa futuro.
Quanto aos resultados deste 3º trimestre de 2014, nosso lucro operacional foi de R$ 4,6 bilhões, 48% abaixo do realizado no 2º trimestre (R$ 8,8 bilhões). Essa redução é explicada, principalmente, por gastos com o Acordo Coletivo de Trabalho (R$ 1,0 bilhão), pelo pagamento do acordo com a Bolívia para importação do gás natural (R$ 0,9 bilhão) e pelas baixas no ativo referente aos Projetos Premium I e II (R$ 2,7 bilhões). Por outro lado, a maior produção de petróleo e consequente exportação agregaram R$ 2,4 bilhões ao resultado operacional deste 3º trimestre em relação ao trimestre anterior. O lucro líquido totalizou R$ 3,1 bilhões, 38% abaixo dos R$ 5,0 bilhões no 2º trimestre, refletindo o menor lucro operacional.
blá-blá-blá
Quanto à projeção do fluxo de caixa e liquidez da Companhia, é importante ressaltar que a posição de caixa da Petrobras e sua capacidade de geração operacional não será afetada por ajustes decorrentes da “Operação Lava Jato” ou de qualquer outro relacionado ao valor dos seus ativos.
Não é verdade. Haverá os pagamentos de impostos, o custo dos empréstimos serão maiores, será mais difícil contratar, etc. Mas neste momento é fundamental que isto seja dito.
Temos sido diligentes na implementação de ações que nos permitem afirmar que não necessitaremos recorrer a novas dívidas no ano de 2015 em função dos fatores que favorecem nosso fluxo de caixa, os quais estão descritos a seguir.
Em primeiro lugar, a Companhia reafirma a manutenção da política de preços de diesel e gasolina não repassando a volatilidade do mercado internacional, o que, na situação atual, favorece excepcionalmente o caixa. Nosso patamar atual de produção de petróleo e derivados nos assegura o mesmo patamar de geração operacional, mesmo com o preço do barril de petróleo Brent variando entre US$ 50/bbl e US$ 70/bbl.
Quanto à nossa produção de petróleo no Brasil, planejamos crescer 4,5% (+/- 1 p.p.) no ano de 2015 frente ao ano anterior. O fato é que 2015 dá sequência aos eventos de 2014, quando adicionamos quatro novas plataformas que agora estão em curva de ramp-up e aumentamos nossa frota de PLSV de 11 para 19 navios. Assim, a produção será sustentada pela interligação de 69 poços produtores e injetores e pela entrada em operação da P-61/TAD (Papa-Terra) no 1º trimestre e do FPSO Cidade de Itaguaí (campo de Iracema Norte) no 4º trimestre desse ano.
Assim, esperamos ter uma geração operacional (incluindo pagamento de impostos, antes dos juros, dividendos e amortizações) entre US$ 28 bilhões e US$ 32 bilhões em 2015, considerando patamares de Brent entre US$ 50/bbl e US$ 70/bbl e taxa de câmbio entre R$ 2,60/US$ e R$ 2,80/US$. Também consideramos que teremos à disposição garantias da União Federal para os recebíveis do Setor Elétrico, que permitirão a negociação desses créditos no mercado bancário.
No que tange aos investimentos, estamos reduzindo o ritmo de alguns projetos, principalmente aqueles com baixa contribuição ao caixa nos próximos dois anos, de forma que nosso orçamento fique no patamar de US$ 31 bilhões a US$ 33 bilhões neste ano de 2015.
Nosso portfólio de ativos também indica oportunidades de desinvestimentos em 2015, com potencial de contribuição ao caixa em níveis próximos aos realizados em 2014. A implementação desses desinvestimentos dependerá, naturalmente, da evolução das condições de mercado.
Importante ressaltar, nossa posição de Caixa vem sendo favorecida pela forte redução do preço do Brent nos últimos 3 meses e possui folga em relação aos valores que julgamos suficientes para manter nossas operações com a liquidez necessária ao longo do ano.
Continuamos trabalhando para produzir as demonstrações financeiras revisadas pelo Auditor Externo (PwC) no menor tempo possível, não apenas em relação aos ajustes nas demonstrações contábeis, mas também à necessidade de aprimoramento dos nossos controles internos.
Destaco a posse do nosso diretor de Governança, Risco e Conformidade, João Adalberto Elek Júnior no dia 19 de janeiro passado. João Elek foi escolhido entre profissionais de mercado com notório reconhecimento de competência na área de Governança. Ele passou por processo seletivo conduzido pela empresa Korn Ferry, especializada em seleção de executivos, foi eleito de uma lista tríplice apresentada ao Conselho de Administração da Petrobras e deverá permanecer no cargo por três anos, período que pode ser renovado.
Respire fundo que está terminando
Assim, quero aqui reafirmar nosso compromisso com a superação desses desafios. Estamos dando plena condição para que as investigações em curso, sejam as internas, sejam as externas, caminhem livremente, sem qualquer barreira. Somos transparentes com vocês, nossos acionistas e investidores. Trabalhamos para que, no futuro próximo, nossa companhia seja reconhecida por seus métodos de governança e controles internos com a mesma excelência que tem sido reconhecida ao longo dos anos por sua capacidade técnica e operacional.
Maria das Graças Silva Foster
Presidente
Comentários da Presidente
Sra. Maria das Graças Silva Foster
Prezados Acionistas e Investidores,
Como é de notório conhecimento, a Petrobras enfrenta um momento único em sua história. Em março de 2014, a “Operação Lava Jato”, deflagrada pela Polícia Federal com o objetivo de investigar suspeitas de lavagem de dinheiro, alcançou a Petrobras com a prisão do ex-diretor de Abastecimento da Companhia Paulo Roberto Costa, que está sendo investigado pelos crimes de corrupção, peculato, dentre outros.
No dia 13/11/14, em consequência dos fatos e provas produzidos no âmbito da Operação Lava Jato, a Petrobras postergou a divulgação dos resultados do 3T-2014. Em suma, os depoimentos aos quais a Petrobras teve acesso revelaram a existência de atos ilícitos, como cartelização de fornecedores e recebimentos de propinas por ex-empregados, indicando que pagamentos a tais fornecedores foram indevidamente reconhecidos como parte do custo de nossos ativos imobilizados, demandando, portanto, ajustes.
Provavelmente a presidente está informando que não teve acesso a todos os depoimentos. Além disto informa que somente "ex-empregados" receberam propinas (Sérgio Machado, da Transpetro, por exemplo, não recebeu).
Entretanto, concluímos ser impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da Companhia.
De certa forma ela tem razão no termo exato. Mas muitas medidas na contabilidade não são exatas, como é o caso de valores a receber. Nem por isto se deixa de fazer estimativas de perda com clientes ruins.
Em face da impraticabilidade de identificar os pagamentos indevidos de forma correta, completa e definitiva, e da necessidade de corrigir esse erro, a Companhia decidiu lançar mão de duas abordagens: (i) diferença entre o valor justo (fair value) de cada ativo e seu valor contábil e (ii) quantificação do sobrepreço decorrente de atos ilícitos usando informações, números e datas revelados nos depoimentos e termos de colaboração premiada no âmbito da Operação Lava Jato.
Existe um jogo de palavras aqui. A empresa não é capaz de identificar os pagamentos de forma "correta, completa e definitiva". Provavelmente nunca será. A contabilidade trabalha com estimativas. Mesmo assim, talvez por pressão da área técnica, a empresa usou duas metodologias: o valor justo e o sobrepreço. Observe que isto desmente a primeira parte da frase; existe forma de mensurar o sobrepreço, não de forma definitiva (nunca será possível), mas por estimativa. É bem verdade que em parte desta estimativa haverá também as ineficiências da própria empresa.
Os ativos selecionados para avaliação do valor justo somam R$ 188,4 bilhões, praticamente 1/3 do ativo imobilizado total da Petrobras (R$ 600,1 bilhões) e tiveram, como referência, os contratos firmados entre a Petrobras e as empresas citadas na “Operação Lava Jato” entre 2004 e abril de 2012.
Nem tudo foi selecionado para fazer a avaliação a valor justo. Bastante razoável. Mas parece que a empresa não teve acesso a todos os depoimentos e por este motivo não teria como fazer uma seleção completa. O segundo ponto importante é que a presidente insiste em terminar o problema em abril de 2012, quando se sabe que as práticas inadequadas continuaram até o ano passado. A razão disto é simples: tira a responsabilidade - um pouco - da atual gestão.
A avaliação foi realizada por firmas globais reconhecidas internacionalmente como avaliadores independentes, abrangendo 81% do ativo total avaliado. A análise dos outros 19% foi realizada pelas equipes técnicas da Petrobras, porém com total consistência metodológica e de premissas com o trabalho realizado pelos avaliadores independentes.
A empresa não informa quem são as "firmas globais reconhecidas internacionalmente". Já discutimos isto anteriormente no blog, quando a empresa anunciou a contratação de um escritório de advocacia dos EUA e outro brasileiro (internacional?). Na ocasião apontamos que o correto seria a contratação de uma empresa de investigação, como a Kroll. Logo depois estas empresas de advogados subcontrataram uma auditoria.
No entanto, o amadurecimento adquirido no desenvolvimento do trabalho tornou evidente que essa metodologia não se apresentou como uma substituta “proxy” adequada para mensuração dos potenciais pagamentos indevidos, pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente, quais sejam, mudanças nas variáveis econômicas e financeiras (taxa de câmbio, taxa de desconto, indicadores de risco e custo de capital),
mudanças nas projeções de preços e margens dos insumos, mudanças nas projeções de preços, margens e demanda dos produtos comercializados, mudanças nos preços de equipamentos, insumos, salários e outros custos correlatos, bem como deficiências no planejamento do projeto (engenharia e suprimento).
Afirma-se que não se teve condições de medir os potenciais pagamentos indevidos. E não será possível fazê-lo nem nos próximos dias nem nos próximos anos. Neste parágrafo já se fala em "proxy" e "adequada" em lugar de "certeza" do anterior. Outro fator é que justifica a ausência da amortização em razão da variação dos preços do petróleo. Recentemente a imprensa especulou que a empresa poderia fazer uma amortização em razão deste fato. Mas temos aqui um problema de lógica grave: o teste de recuperabilidade não está interessado em determinar precisamente as causas da amortização e sim fazer uma comparação entre o valor que está contabilizado e o valor recuperável. Este valor recuperável poderá ser o fluxo de caixa descontado (possível de ser feito agora) ou o valor de mercado dos ativos, que na maioria dos imobilizados da empresa é inferior ao fluxo descontado. E pelo que a presidente divulgou, a mensuração do fluxo descontado foi realizado, sendo possível fazer a amortização. O problema é determinar as causas. (É bem verdade que a separação da incompetência e da corrupção possuem implicações fiscais.)
O resultado das avaliações indicou que os ativos com valor justo abaixo do imobilizado totalizaram R$ 88,6 bilhões de diferença a menor. Os ativos com valor justo superior totalizaram R$ 27,2 bilhões de diferença a maior frente ao imobilizado.
Esta informação é relevante. A presidente diz que a amortização deveria ser de R$88,6 bilhões, gerando o prejuízo recorde de todos os tempos no Brasil. Afinal, o teste de recuperabilidade está associado a amortizar os valores a menor e assim o valor de R$27 bilhões a maior não seria considerado. Temos também aqui a origem dos 52 bilhões que a imprensa noticiou recentemente.
Decidimos não utilizar a metodologia da determinação do valor justo como “proxy” para ajustar os ativos imobilizados da Companhia devido à corrupção, pois o ajuste seria composto de elementos que não teriam relação direta com pagamentos indevidos. Assim, aprofundaremos outra metodologia que tome por base valores, prazos e informações contidos nos depoimentos em conformidade com as exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC), visando a emissão das demonstrações contábeis
revisadas.
A justificativa para não fazer a amortização é que não se conhece o valor dos pagamentos indevidos. Como os depoimentos estão em "sigilo", a divulgação com base nesta metodologia deverá demorar. Outro aspecto é que a empresa não conhece os pagamentos indevidos, mas pode estimar, por exemplo, os efeitos da redução do preço do petróleo sobre o fluxo de caixa futuro.
Quanto aos resultados deste 3º trimestre de 2014, nosso lucro operacional foi de R$ 4,6 bilhões, 48% abaixo do realizado no 2º trimestre (R$ 8,8 bilhões). Essa redução é explicada, principalmente, por gastos com o Acordo Coletivo de Trabalho (R$ 1,0 bilhão), pelo pagamento do acordo com a Bolívia para importação do gás natural (R$ 0,9 bilhão) e pelas baixas no ativo referente aos Projetos Premium I e II (R$ 2,7 bilhões). Por outro lado, a maior produção de petróleo e consequente exportação agregaram R$ 2,4 bilhões ao resultado operacional deste 3º trimestre em relação ao trimestre anterior. O lucro líquido totalizou R$ 3,1 bilhões, 38% abaixo dos R$ 5,0 bilhões no 2º trimestre, refletindo o menor lucro operacional.
blá-blá-blá
Quanto à projeção do fluxo de caixa e liquidez da Companhia, é importante ressaltar que a posição de caixa da Petrobras e sua capacidade de geração operacional não será afetada por ajustes decorrentes da “Operação Lava Jato” ou de qualquer outro relacionado ao valor dos seus ativos.
Não é verdade. Haverá os pagamentos de impostos, o custo dos empréstimos serão maiores, será mais difícil contratar, etc. Mas neste momento é fundamental que isto seja dito.
Temos sido diligentes na implementação de ações que nos permitem afirmar que não necessitaremos recorrer a novas dívidas no ano de 2015 em função dos fatores que favorecem nosso fluxo de caixa, os quais estão descritos a seguir.
Em primeiro lugar, a Companhia reafirma a manutenção da política de preços de diesel e gasolina não repassando a volatilidade do mercado internacional, o que, na situação atual, favorece excepcionalmente o caixa. Nosso patamar atual de produção de petróleo e derivados nos assegura o mesmo patamar de geração operacional, mesmo com o preço do barril de petróleo Brent variando entre US$ 50/bbl e US$ 70/bbl.
Quanto à nossa produção de petróleo no Brasil, planejamos crescer 4,5% (+/- 1 p.p.) no ano de 2015 frente ao ano anterior. O fato é que 2015 dá sequência aos eventos de 2014, quando adicionamos quatro novas plataformas que agora estão em curva de ramp-up e aumentamos nossa frota de PLSV de 11 para 19 navios. Assim, a produção será sustentada pela interligação de 69 poços produtores e injetores e pela entrada em operação da P-61/TAD (Papa-Terra) no 1º trimestre e do FPSO Cidade de Itaguaí (campo de Iracema Norte) no 4º trimestre desse ano.
Assim, esperamos ter uma geração operacional (incluindo pagamento de impostos, antes dos juros, dividendos e amortizações) entre US$ 28 bilhões e US$ 32 bilhões em 2015, considerando patamares de Brent entre US$ 50/bbl e US$ 70/bbl e taxa de câmbio entre R$ 2,60/US$ e R$ 2,80/US$. Também consideramos que teremos à disposição garantias da União Federal para os recebíveis do Setor Elétrico, que permitirão a negociação desses créditos no mercado bancário.
No que tange aos investimentos, estamos reduzindo o ritmo de alguns projetos, principalmente aqueles com baixa contribuição ao caixa nos próximos dois anos, de forma que nosso orçamento fique no patamar de US$ 31 bilhões a US$ 33 bilhões neste ano de 2015.
Nosso portfólio de ativos também indica oportunidades de desinvestimentos em 2015, com potencial de contribuição ao caixa em níveis próximos aos realizados em 2014. A implementação desses desinvestimentos dependerá, naturalmente, da evolução das condições de mercado.
Importante ressaltar, nossa posição de Caixa vem sendo favorecida pela forte redução do preço do Brent nos últimos 3 meses e possui folga em relação aos valores que julgamos suficientes para manter nossas operações com a liquidez necessária ao longo do ano.
Continuamos trabalhando para produzir as demonstrações financeiras revisadas pelo Auditor Externo (PwC) no menor tempo possível, não apenas em relação aos ajustes nas demonstrações contábeis, mas também à necessidade de aprimoramento dos nossos controles internos.
Destaco a posse do nosso diretor de Governança, Risco e Conformidade, João Adalberto Elek Júnior no dia 19 de janeiro passado. João Elek foi escolhido entre profissionais de mercado com notório reconhecimento de competência na área de Governança. Ele passou por processo seletivo conduzido pela empresa Korn Ferry, especializada em seleção de executivos, foi eleito de uma lista tríplice apresentada ao Conselho de Administração da Petrobras e deverá permanecer no cargo por três anos, período que pode ser renovado.
Respire fundo que está terminando
Assim, quero aqui reafirmar nosso compromisso com a superação desses desafios. Estamos dando plena condição para que as investigações em curso, sejam as internas, sejam as externas, caminhem livremente, sem qualquer barreira. Somos transparentes com vocês, nossos acionistas e investidores. Trabalhamos para que, no futuro próximo, nossa companhia seja reconhecida por seus métodos de governança e controles internos com a mesma excelência que tem sido reconhecida ao longo dos anos por sua capacidade técnica e operacional.
Maria das Graças Silva Foster
Presidente
Comunicado da Petrobras
A empresa divulgou uma nota sobre os resultados, que transcrevo em itálico. Os comentários em letra normal
Petrobras divulga seus resultados consolidados não revisados pelos auditores independentes, expressos em milhões de reais, de acordo com o IAS 34 exceto pela existência de erros nos valores de determinados ativos imobilizados.
Em outras palavras, decidiu não fazer a amortização esperada por alguns. Além disto, não traz o relatório dos auditores independentes. Ao afirmar que os resultados estão "de acordo com o IAS 34, exceto" a empresa quis passar uma mensagem de maior adequação as normas internacionais. Certamente não irá conseguir.
A divulgação das demonstrações contábeis não revisadas pelos auditores independentes do terceiro trimestre de 2014 tem o objetivo de atender obrigações da Companhia (covenants) em contratos de dívida e facultar o acesso às informações aos seus públicos de interesse, cumprindo com o dever de informar ao mercado e agindo com transparência com relação aos eventos recentes que vieram a público no âmbito da “Operação Lava Jato”.
Novamente um parágrafo positivo, indicando que a empresa atendeu aos contratos de dívida e permitiu que as pessoas tivessem acesso às informações. Talvez a empresa evite os problemas com os contratos, ao publicar estes números, mas certamente a empresa não agiu com "transparência". Pelo contrário, na página principal da empresa neste momento (seis horas da manhã) não consta nada sobre este fato. Além disto, o comunicado somente saiu bem tarde da noite, impedindo ou dificultando que o mesmo fosse notícia nos jornais.
A Companhia entende que será necessário realizar ajustes nas demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos, funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da “Operação Lava Jato”.
Aqui a empresa reconhece a necessidade de ajustes e indica que os atos foram realizados por fornecedores, políticos, funcionários e outras pessoas. E que seriam necessários ajustes, mas não diz que é amortização, já que o termo ajuste é mais neutro.
No entanto, em face da impraticabilidade de quantificar de forma correta, completa e definitiva tais valores que foram capitalizados em seu ativo imobilizado, a Companhia considerou a adoção de abordagens alternativas para correção desses valores: i) uso de um percentual médio de pagamentos indevidos, citados em depoimentos; ii) avaliação a valor justo dos ativos cuja constituição se deu por meio de contratos de fornecimento de bens e serviços firmados com empresas citadas na “Operação Lava Jato”.
A Petrobras lançou mão da dificuldade de fazer a mensuração para justificar a ausência dos ajustes. Tecnicamente isto é bastante razoável e é a mesma justificativa que usamos para não fazer o lançamento do goodwill. A empresa informa que foram consideradas duas possibilidades: o pagamento indevidos citados em depoimentos e o valor justo. A primeira possibilidade seria ruim para a empresa, já que não tem notícia dos depoimentos na sua integra e o valor seria um pouco de especulação. Já o uso do valor justo dos ativos tecnicamente seria muito mais defensável. Seria feito um levantamento do valor dos empreendimentos onde claramente ocorreram as propinas já reveladas e indicado o tamanho do valor indevido. Tenho uma hipótese que a empresa (e o conselho diretor) tinha estes números, mas não usou. Afinal um valor foi noticiado na imprensa, número este que provavelmente foi calculado pela área técnica e vazado, como uma forma de pressionar o conselho a fazer a amortização. Então, qual a razão de não se ter usado? A empresa justifica logo a seguir:
Essas alternativas se mostraram inapropriadas para substituir a impraticável determinação do sobrepreço relacionado a esses pagamentos indevidos.
Justifica? Não existe justificativa nenhuma na frase. Afirma que seria impraticável determinar os pagamentos indevidos. A empresa tem razão, já que nunca saberá com precisão este valor. Mas seria preferível uma estimativa a nenhum valor, correto? Para finalizar, o comunicado diz que a "novela" ainda não acabou:
Com objetivo de divulgar as demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014 revisadas pelos auditores independentes, a Companhia está avaliando outras metodologias que atendam às exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC).
Petrobras divulga seus resultados consolidados não revisados pelos auditores independentes, expressos em milhões de reais, de acordo com o IAS 34 exceto pela existência de erros nos valores de determinados ativos imobilizados.
Em outras palavras, decidiu não fazer a amortização esperada por alguns. Além disto, não traz o relatório dos auditores independentes. Ao afirmar que os resultados estão "de acordo com o IAS 34, exceto" a empresa quis passar uma mensagem de maior adequação as normas internacionais. Certamente não irá conseguir.
A divulgação das demonstrações contábeis não revisadas pelos auditores independentes do terceiro trimestre de 2014 tem o objetivo de atender obrigações da Companhia (covenants) em contratos de dívida e facultar o acesso às informações aos seus públicos de interesse, cumprindo com o dever de informar ao mercado e agindo com transparência com relação aos eventos recentes que vieram a público no âmbito da “Operação Lava Jato”.
Novamente um parágrafo positivo, indicando que a empresa atendeu aos contratos de dívida e permitiu que as pessoas tivessem acesso às informações. Talvez a empresa evite os problemas com os contratos, ao publicar estes números, mas certamente a empresa não agiu com "transparência". Pelo contrário, na página principal da empresa neste momento (seis horas da manhã) não consta nada sobre este fato. Além disto, o comunicado somente saiu bem tarde da noite, impedindo ou dificultando que o mesmo fosse notícia nos jornais.
A Companhia entende que será necessário realizar ajustes nas demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos, funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da “Operação Lava Jato”.
Aqui a empresa reconhece a necessidade de ajustes e indica que os atos foram realizados por fornecedores, políticos, funcionários e outras pessoas. E que seriam necessários ajustes, mas não diz que é amortização, já que o termo ajuste é mais neutro.
No entanto, em face da impraticabilidade de quantificar de forma correta, completa e definitiva tais valores que foram capitalizados em seu ativo imobilizado, a Companhia considerou a adoção de abordagens alternativas para correção desses valores: i) uso de um percentual médio de pagamentos indevidos, citados em depoimentos; ii) avaliação a valor justo dos ativos cuja constituição se deu por meio de contratos de fornecimento de bens e serviços firmados com empresas citadas na “Operação Lava Jato”.
A Petrobras lançou mão da dificuldade de fazer a mensuração para justificar a ausência dos ajustes. Tecnicamente isto é bastante razoável e é a mesma justificativa que usamos para não fazer o lançamento do goodwill. A empresa informa que foram consideradas duas possibilidades: o pagamento indevidos citados em depoimentos e o valor justo. A primeira possibilidade seria ruim para a empresa, já que não tem notícia dos depoimentos na sua integra e o valor seria um pouco de especulação. Já o uso do valor justo dos ativos tecnicamente seria muito mais defensável. Seria feito um levantamento do valor dos empreendimentos onde claramente ocorreram as propinas já reveladas e indicado o tamanho do valor indevido. Tenho uma hipótese que a empresa (e o conselho diretor) tinha estes números, mas não usou. Afinal um valor foi noticiado na imprensa, número este que provavelmente foi calculado pela área técnica e vazado, como uma forma de pressionar o conselho a fazer a amortização. Então, qual a razão de não se ter usado? A empresa justifica logo a seguir:
Essas alternativas se mostraram inapropriadas para substituir a impraticável determinação do sobrepreço relacionado a esses pagamentos indevidos.
Justifica? Não existe justificativa nenhuma na frase. Afirma que seria impraticável determinar os pagamentos indevidos. A empresa tem razão, já que nunca saberá com precisão este valor. Mas seria preferível uma estimativa a nenhum valor, correto? Para finalizar, o comunicado diz que a "novela" ainda não acabou:
Com objetivo de divulgar as demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014 revisadas pelos auditores independentes, a Companhia está avaliando outras metodologias que atendam às exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC).
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