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01 outubro 2008

A Verdade em Wall Street

Levitt E Turner, em How to Restore Trust in Wall Street, The Wall Street Journal, 26/9/2008, p. A17, discutem a reação a contabilidade diante da crise. E defendem o uso do valor justo na contabilidade.

“Pedir para suspender a contabilidade a valor justo é pedir suspender o julgamento do Mercado. Esses grupos de negociantes reclamam que a contabilidade a valor justo distorceu os balanços e contribuiu significativamente para volatilidade do Mercado.”


Clique aqui para ler o texto.

Polêmica

Um artigo para o Washington Post escrito por William Isaac despertou a ira de alguns leitores. Uma das cartas foi Walter Schuetze, que citamos no livro de Teoria da Contabilidade (p.126, quando se discute o conceito de Ativo). Walter não concorda com a proposta de Isaac:

Mr. Isaac would have the SEC suspend the application of the FASB's mark-to-market accounting rules and require that "true economic value," based on a discounted cash flow analysis, be used instead. Mr. Isaac does not define "true economic value," but it is safe to assume that it would be a greater amount than market price, resulting in lesser amounts of loss recognition than under the FASB's methodology. I disagree with Isaac's proposal.
Bank regulators have a different aim and purpose than security regulators such as the SEC. Bank regulators have wide latitude to determine how banks determine capital for bank regulatory purposes. The SEC, on the other hand, requires that registrant-issuers use generally accepted accounting principles (GAAP).
GAAP is aimed at providing investors with neutral, verifiable and relevant information. Market prices of assets are neutral in that all issuers use market prices to determine asset values. Market prices are objectively determinable by reference to facts. And market prices are relevant when it comes to making investment decisions. Prices of assets as determined or allowed by a banking regulator, if those prices differ materially from market prices, have none of those characteristics; those prices are not useful or relevant for making investment decisions.
I urge the SEC not to accept Mr. Isaac's proposal. Investors would not be well served.
Walter P. Schuetze
Boerne, Texas
Mr. Schuetze was a member of the FASB in the 1970s and chief accountant at the SEC in the 1990s.


São dois artigos de Isaac. Aqui o primeiro, de 19 de setembro.

Aqui, o segundo artigo.

Qual o custo da ajuda?

A proposta de ajusta o Tesouro dos Estados Unidos pretendia dar para instituições financeiras foi anunciada em 700 bilhões de dólares. Sabemos que a ajuda foi recusada pelo Congresso, mas é interessante notar que mesmo quando foi realizado o anúncio da ajuda permanecia a dúvida do seu custo real. Se o tesouro comprasse os títulos por um preço próximo ao de valor de mercado, a venda futura poderia representar um resultado positivo (não um custo líquido de 700 bilhões). Entretanto, parecia existir uma intenção de adquirir por um preço acima do valor de mercado atual e mais próximo ao valor de face (e estes foi um dos motivos para que o pacote fosse derrotado). Neste caso o resultado positivo poderia não ocorrer. Mais sobre este assunto, aqui

Este assunto também foi objeto de texto do jornal Valor Econômico

Preço de compra dos ativos cria expectativa
26/9/2008 - Valor Econômico

A grande dúvida que pesava ontem sobre a proposta de um socorro financeiro de US$ 700 bilhões ao sistema bancário dos Estados Unidos é fundamental. Vai funcionar? A administração Bush diz que seu plano de comprar das instituições financeiras ativos atrelados a hipotecas, é a única maneira de fazer o crédito voltar a fluir no mercado. Sem ele, segue o argumento, os bancos não poderão emprestar e as empresas não poderão tomar emprestado para cobrir as folhas de pagamento, formar e manter estoques, construir novas fábricas ou contratar novos funcionários. A proposta original foi elaborada para diminuir as pressões sobre as instituições financeiras, removendo ativos podres relacionados a hipotecas de seus balanços. Esses ativos perderam valor junto com a queda do setor imobiliário, abrindo rombos nos balanços das instituições financeiras e criando um clima global de desconfiança que está minando a capacidade dos bancos de levantar capital.

(...) Muitas instituições financeiras estão mantendo ativos em seus livros a preços irreais, em parte para evitar as baixas contábeis que as normas de contabilidade exigem quando ativos ficam debilitados. Como o mercado está congelado para esses ativos, as companhias vêm conseguindo evitar a marcação dos valores reais desses ativos na contabilidade. Um dos fatores mais importantes na avaliação do plano de resgate tem sido um dos menos claros nas negociações até agora: Qual o preço que o Tesouro e os contribuintes acabarão pagando? Alguns dos maiores bancos americanos passaram os últimos dias removendo de seus balanços os títulos que eles gostariam de vender para o governo e a que preços. Sem saber os preços que o Tesouro vai se propor pagar, os bancos não podem decidir com que agressividade vão se desfazer dos ativos problemáticos.

Fas 157

SEC relaxa regra de marcação de títulos podres
Patrícia Campos Mello, WASHINGTON
1/10/2008
O Estado de São Paulo

A Securities and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários do Estados Unidos) relaxou as regras de “marcação a mercado” dos títulos lastreados em hipotecas, difíceis de avaliar ou com pouca liquidez. Os bancos normalmente são obrigados a pôr em seus balanços o valor de mercado. Como é praticamente impossível negociar esses papéis, as instituições são obrigadas a registrar os títulos por 20%, 30% de seu valor de face. Assim, os ativos dos bancos ficam valendo muito menos e as instituições ficam vulneráveis.

A SEC enviou nota aos bancos orientando que eles não registrem esses títulos por seu preço de “saldão”. “Quando não existe um mercado ativo para um papel, o uso de estimativas da administração, que incorporam expectativas de fluxo de caixa futuro, é aceitável.”

A SEC deu a entender que o valor desses títulos em mercados em crise não é o justo, e portanto não precisa constar dos balanços. Os modelos internos dos bancos podem ser usados para determinar o valor dos papéis quando não houver liquidez. Os bancos já usavam esses modelos para determinar o valor de títulos menos líquidos.

A determinação da SEC vai deter o processo de remarcação para baixo dos valores desses títulos - agora, os bancos podem se basear mais em seus modelos internos, e não no mercado em crise, que está pagando pouquíssimo por esses papéis, isso quando há compradores. A medida pode ser um alívio para o sistema financeiro, abarrotado desses papéis.

A campanha do candidato republicano divulgou uma nota comemorando a flexibilização das regras de marcação a mercado. “John McCain está satisfeito que a SEC finalmente decidiu permitir métodos alternativos de contabilidade, além da marcação a mercado de títulos, quando não existe mercado ativo. Essas regras de contabilidade estavam exacerbando o aperto de crédito.”

26 setembro 2008

Sobre o valor justo

"Contabilidade não cria realidade, ela reflete isso. (...) "Na crítica [a contabilidade a valor justo] há um elemento de “não gostamos de resposta”.

"Se você usa as valorizações do mercado isto por natureza cria volatilidade porque os mercados são voláteis. Mas está apenas refletindo que a volatilidade."


Fonte: Jennifer Hughes, Fair value concept prompts cries of foul, 18 /09/ 2008, Financial Times
Surveys IAC1, p. 01.


Texto completo aqui

24 setembro 2008

Preço de um ativo com problemas

O governo dos Estados Unidos decidiu ajudar as instituições financeiras com problemas com um pacote de 700 bilhões de dólares. Mas qual o preço dos ativos? Um valor próximo ao valor de face ou ao valor de mercado atual?

A resposta pode conduzir a valores diferentes e fazer com que o mecanismo de ajuda seja mais ou menos efetivo.

Conforme lembra o Wall Street Journal (How Will Troubled Assets Get Priced?, 23/9/2008, Phil Izzo), em teoria os vendedores devem estar competindo entre si pela ajuda. E isto tenderia reduzir o preço dos ativos, que seria bom para o Tesouro mas com efeitos negativos sobre o valor dos ativos das instituições.

But that all depends on how the banks value their assets for the auction. If banks are too desperate to get the debt off their books, it could drive the price so low that holders of the securities are forced to take even deep write-downs than they have already. At the same time, there’s only likely to be one major buyer — a Treasury Department that has a $700 billion check in its hand earmarked for this bad debt. Paulson and Bernanke told Congress the auction would be structured to encourage the sellers to compete to offer the assets at attractive prices to the government.


Veja aqui também sobre o assunto.

19 setembro 2008

Crise e Contabilidade

The crisis and fair-value accounting.
Economist Staff, The Economist
September 18, 2008

SO CONTROVERSIAL has accounting become that even John McCain, a man not known for his interest in balance sheets, has an opinion. The Republican candidate for the American presidency thinks that "fair value" rules may be "exacerbating the credit crunch". His voice is part of a chorus of criticism against mark-to-market accounting, which forces banks to value assets at the estimated price they would fetch if sold now, rather than at historic cost. Some fear that accounting dogma has caused a cycle of falling asset prices and forced sales that endangers financial stability. The fate of Lehman Brothers and American International Group will have strengthened their conviction.

In response America's Financial Accounting Standards Board (FASB), and the London-based International Accounting Standards Board (IASB) have not budged an inch. So, for example, banks will have to mark their securities to the prices Lehman receives as it is liquidated. The two accounting bodies already act cheek by jowl, and America will probably soon adopt international rules. Are they guilty of obstinately pursuing an abstract goal that is causing mayhem in financial markets?

Banks' initial attack on fair value was self-serving. In April the Institute of International Finance (IIF), a lobbying group, sent a confidential memorandum to the two standard-setters. This said it was "obvious" markets had failed and that companies should be allowed to suspend fair value for "sound" assets that had suffered "undue valuation". Even at the time this stance lacked credibility; Goldman Sachs resigned from the IIF in protest at "Alice in Wonderland accounting". Today it is abundantly clear that those revelations were not a figment of accountants' imagination. For example, in July Merrill Lynch sold a big structured-credit portfolio at 22% of its face value—less than what was entered on its balance sheet. Bob Herz, FASB's chairman, argues that fair value is "essential to provide transparency" for investors.

Yet not all criticism of fair value can be so easily dismissed. The credit crunch has raised three genuinely awkward questions. The first of these concerns "procyclicality". Bankers say that in a downturn fair-value accounting forces them all to recognise losses at the same time, impairing their capital and triggering firesales of assets, which in turn drives prices and valuations down even more. Under traditional accounting, losses hit the books far more slowly. Some admire Spain's system, which requires banks to make extra provision for losses in good times, so that when loans turn sour their profits and thus capital fall by less.

It is too soon to know if prices exaggerate the ultimate losses on credit products. Some people argue that swift write-downs in fact help to re-establish stability: Yoshimi Watanabe, Japan's minister for financial services, says Japanese banks exacerbated their country's economic woes by "avoiding ever facing up to losses". But the principle defence of standard-setters is that enhancing financial stability is not the purpose of accounting.

Over to the regulators

In other words, if procyclicality is a problem, it is someone else's. Already central banks have relaxed their rules on what they will accept from banks as collateral, which has helped to support the prices of risky assets. And the mayhem in the swaps market has shown the importance of on-exchange trading, so that trading remains orderly in times of stress.

Ultimately, though, responsibility for interposing a circuit-breaker between market prices and banks' capital adequacy falls on bank regulators, not accountants. They are already examining "countercyclical" regimes, which would force banks to save more capital in years of plenty. They could go further by suspending capital rules during times of stress if they think asset prices have overreacted. Europe's national regulators already use some discretion when defining capital adequacy. There is a precedent in pension regulation, where corporate schemes are marked to market but the cash payments companies make to keep them solvent are smoothed over time. Banks' financial statements could be modified to show assets at cost as well as fair value, so that if regulators or investors wanted to use traditional accounting to form a view, they could.

Even if they leave procyclicality to bank regulators, standard-setters still have a lot on their plates. The second — and immediate—question is how to value illiquid (and sometimes unique) assets. A common solution is to use banks' own models. But some investors are concerned that this gives banks' managers too much discretion — and no wonder, because highly illiquid (or "Level 3") assets are worryingly large relative to many banks' shrunken market values. Such is the complexity of many such assets that it may not be possible to find a generally acceptable method. The best answer is to disclose enough to allow investors to form their own views. This week IASB gave new guidance which should help in this regard.

The third problem is a longer-term one: the inconsistency of fair-value rules. Today the treatment of a financial asset is determined by the intention of the company. If it is to be traded actively, its market value must be used. If it is only "available for sale" it is marked to market on the balance sheet, but losses are not recognised in the income statement. If it is to be "held to maturity", or is a traditional loan, it can be carried at cost, subject to impairment. This is a dog's breakfast. Different banks can hold the same asset at different values. According to Fitch, a ratings agency, at the end of 2007, Western banks carried about half of their assets at fair value, but the dispersion was wide: from 86% at Goldman Sachs to 27% at Bank of America (see chart).

The obvious solution is to use fair value for all financial assets and liabilities. This is exactly what both FASB and IASB propose. In parallel they want to clean up the income statement, so that changes in the value of assets or liabilities are separated clearly from recurring revenues and costs.

For low-risk banks, this would make little difference: both HSBC and Santander report that the fair value of their loan books is slightly above their carrying value. But it could mean big losses for riskier institutions. When Bank of America bought Countrywide, a big mortgage lender, it was forced, under another quirk, to mark its troubled acquisition's loans at fair value, wiping out Countrywide's equity. Bankers are therefore likely to resist the idea of fair value for loans fiercely: one executive calls it "lunacy". Here standard setters' quest for intellectual consistency will run into a political quagmire.

Marks out of ten

Has accounting had a good credit crunch? The last year has shown that standard-setters are now truly independent and focused on investors' needs rather than the wishes of management, regulators and the taxman. Reforms to IASB's governance should bolster this independence. That is to be welcomed. For all fair value's flaws, banks ought not to have licence to carry their dodgy credit exposures at cost.
At the same time the fair-value revolution is incomplete. Regulators may need to abandon the traditional, mechanistic link between accounting and capital adequacy rules if they really want to try to fight banking crises. That is no bad thing either. Investors and regulators should be able to share a market-based language to describe financial problems, even if they disagree about what needs to be done.

09 setembro 2008

IFRS e Agronegócio 2

O princípio da contabilização de ativos biológicos pelo seu valor de mercado não é novo no Brasil. As companhias já poderiam registrar dessa forma seus bens se assim desejassem, antes mesmo da reforma da parte contábil da Lei das Sociedades por Ações (com a 11.638) e da regulamentação baseada no IFRS (que ainda está por vir). Mas a regra existente não é utilizada. As empresas preferem adotar o custo como referência para os balanços. Com a convergência ao padrão internacional, o uso do valor de mercado será obrigatório.

O motivo para essa faculdade ser solenemente ignorada, como não poderia deixar de ser, é o Fisco. Eliseu Martins, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e vice-coordenador técnico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), explica que o uso da regra implicaria uma antecipação de impostos, já que as companhias contabilizariam os ganhos pelo desenvolvimento dos ativos antes mesmo de efetivar a venda.

Segundo ele, nos países que já adotam a regra, o imposto só é pago quando a companhia vende o bem. Quando for usada aqui, a norma também exigirá uma posição da Receita Federal.Mas os biológicos não são os únicos ativos que o IFRS determina o registro pelo valor de mercado. Esse princípio é válido para todos os bens destinados à venda. Escapam apenas os ativos fixos, prédios, terrenos, máquinas e equipamentos. O objetivo, com isso, é que tanto o balanço patrimonial como a demonstração de resultado das empresas sejam mais eficientes para refletir o valor da companhia.O processo de convergência ao padrão internacional afetará, por outras regras que não o IAS 41, também as companhias produtoras de commodities minerais - como minério de ferro, ouro e petróleo. A diferença é que nesses casos somente quando estão prontos para venda é que os ativos são tratados pelo valor de mercado, a regra não vale para o minério não extraído, ainda na mina, nem para o óleo que está no poço. Martins explica que o sentido da regra para ativos biológicos e minerais está no fato de a eficiência do negócio estar na produção e exploração. "O fundamental não é o processo de venda. Para isso, há mercado líquido a qualquer momento. É diferente da indústria, em geral, e das empresas de serviços, em que a atividade mais difícil é a venda em si." (GV)

Regra brasileira já permite adoção do valor de mercado
Valor Econômico - 9/9/2008

IFRS e Agronegócio

Agronegócio terá desafio adicional na convergência ao IFRS
Valor Econômico - 09/09/2008

As empresas do setor de agronegócios terão um desafio a mais no processo de convergência dos padrões contábeis brasileiros aos internacionais. Nada menos do que aquilo que está no centro de seus negócios, chamados na contabilidade de ativos biológicos. Entenda-se aí tudo que nasce, cresce e morre. De árvores e culturas variadas a rebanhos e matrizes animais reprodutoras. Enquanto para praticamente todos os demais temas, é possível para empresas, contadores e auditores beber na fonte da experiência internacional, a contabilização de ativos biológicos não tem precedentes do que promete a escala brasileira. (...)

O IFRS determina que os ativos biológicos têm que ser ajustados no balanço pelo seu valor de mercado. Como, em geral, esse bens biológicos crescem ou engordam com o tempo, espera-se variação constante na avaliação. Correções negativas também podem surgir com as oscilações de preço nos ciclos internacionais, uma vez que esses ativos são, em boa parte dos casos, commodities.

Paul Sutcliffe, sócio líder no padrão internacional IFRS da Ernst & Young no Brasil, estima que a mudança de regras para ativos biológicos atingirá, de alguma forma, cerca de 10% das 100 maiores companhias brasileiras por valor de mercado listadas na Bovespa. A Bovespa conta com empresas que potencialmente podem ser atingidas pela norma internacional das mais diferentes formas. Há companhias de papel e celulose, diversas sucroalcooleiras, outras de culturas variadas e ainda produtoras de alimentos.

(...) A regra nacional, quando houver (ainda nem está na fila para normatização), será inspirada na original internacional, a IAS 41 (sigla para padrão contábil internacional).

Para os investidores, a aplicação da regra internacional significará aumento da instabilidade dos números das empresas. Além disso, no primeiro ano de adoção, espera-se que o patrimônio aumente, uma vez que tais bens estavam registrados pelo custo. "Necessariamente, haverá mais variação, vinda do mercado real desses produtos", explicou Fábio Cajazeira, sócio e especialista em mercado de capitais da PricewaterhouseCoopers (PwC).

As oscilações dos ativos biológicos, seja pelo desenvolvimento da cultura ou engorda do rebanho, serão lançadas na conta de receita da companhia. "A empresa reconhece um ganho que já aconteceu, mas cuja realização financeira ainda não foi finalizada", explicou Cajazeira. O sócio da Ernst & Young, Paul Sutcliffe, chama esse efeito de "antecipação de receitas". A regra para ativos biológicos é bastante semelhante às recomendações do IFRS para ativos e dívidas financeiras: os ajustes de valor de mercado transitam por resultado.

(...) O especialista da PwC destacou ainda que, além da volatilidade pelo desenvolvimento do ativo biológico, as companhias também estarão sujeitas a refletir nos balanços fenômenos que não dominam, como alterações climáticas e alterações de qualidade nos produtos - que podem ter impacto positivo ou negativo sobre o valor desses bens.A regra do IFRS para ativos biológicos avança em alguns conceitos da contabilidade tradicional e, por isso, possui diferenças significativas até mesmo frente ao padrão americano.Diante de tantas novidades, os especialistas são unânimes em alertar para a necessidade de as companhias estudarem os impactos em seus negócios o quanto antes. Especialmente quando dentre os ativos biológicos estiverem bens pouco líquidos. Carvalho, do Iasb, explica que, nesses casos, será preciso desenvolver modelos de avaliação. "Nem todos os ativos têm um preço óbvio, pronto no mercado."Porém, a despeito dos alertas, as companhias não parecem estar com a solução para esse desafio na ponta da língua. Ao contrário. A companhia de papel e celulose Aracruz ainda avalia o assunto e, por entender que a discussão é preliminar, preferiu não comentar o tema.

25 agosto 2008

Clubes e Contabilidade 3

Investimentos
A polêmica valorização da debênture em São Januário
28/07/2008
Valor Econômico

Um artifício contábil envolvendo debêntures da Vale é alvo de uma enorme polêmica nos recentes balanços do Club de Regatas Vasco da Gama. A manobra ocorreu na gestão do ex-presidente Eurico Miranda. A operação com os títulos, avaliados em R$ 35,8 milhões nas demonstrações contábeis em 2007, está sendo investigada pelo Conselho Regional de Contabilidade do Rio de Janeiro (CRC-RJ) dentro de um processo sobre supostas irregularidades nos balanços do Vasco a partir de 2005.
Entre dezembro de 2005 e abril de 2006 o Vasco comprou de um investidor 125 mil debêntures participativas da Vale por R$ 233,8 mil, segundo cálculos da atual diretoria. Apesar de terem sido declaradas por mais de R$ 35 milhões no balanço do clube, o valor de mercado atual desses títulos em poder do Vasco é de R$ 268,7 mil.
O número considera o valor médio de R$ 2,15 por debênture registrado, no dia 23, no mercado secundário do Sistema Nacional de Debêntures administrado pela Cetip.
A sobrevalorização contábil das debêntures se apoiou em laudos periciais de atualização monetária preparados pela contadora Elizete Oliveira Mesquita, com registro no Rio Grande do Sul e endereço comercial em São Paulo. O Valor teve acesso a três dos laudos. Em dois deles, de dezembro de 2005 e janeiro de 2006, a contadora afirma que o valor de cada debênture era de R$ 240,18. No laudo de fevereiro de 2006, o título é avaliado em R$ 255.
Para chegar a esses números, Elizete fez uma correlação entre as debêntures e a cotação das ações preferenciais (PNA) da mineradora. A metodologia utilizada para atualizar o valor das debêntures é questionada por Luiz Macahyba, superintendente de produtos da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima): "Não há por que se fazer correlação entre a evolução do preço da ação e das debêntures de uma mesma empresa". Macahyba diz que ações têm mecanismos de formação de preço distintos dos das debêntures e que os riscos dos dois ativos são diferentes.
O laudo preparado pela contadora pode ter sido utilizado em outras negociações com debêntures "participativas" da Vale, segundo uma fonte do mercado financeiro. Esses papéis foram emitidos em 1997, ano da privatização da empresa, como bônus para quem detinha ações preferenciais (PNA) ou ordinárias.
Para emitir as debêntures, a Vale usou como "ponte" uma ação preferencial (PNB) que deixou de existir tão logo foi criada, transformando-se na debênture participativa. O título foi emitido pelo valor unitário de um centavo e hoje, corrigido pelo IGP-M, o valor nominal é de dois centavos (o que a Vale pagaria se fosse resgatá-los). Comenta-se que esses títulos da Vale têm sido usados em operações não ortodoxas, mas, a partir de 2006, os preços dos papéis ficaram mais convergentes depois de a Cetip ter tornado compulsória a negociação em ambiente eletrônico. O Valor procurou a contadora que assina os laudos mas a informação, em Porto Alegre, foi de que ela estava viajando. O CRC-RJ deve solicitar às entidades-irmãs de São Paulo e Rio Grande do Sul a apuração dos fatos envolvendo o laudo sobre as debêntures.
A antiga diretoria do Vasco se defende. Amadeu Pinto da Rocha, vice-presidente de finanças na gestão Eurico Miranda, afirmou em relação aos balanços do clube: "Os balanços foram aprovados pela comissão fiscal [do clube], pelos auditores independentes e pelos conselhos de beneméritos e deliberativo [do Vasco]. O resto é política".
A atual diretoria, encabeçada pelo ex-centroavante do clube Roberto Dinamite, que tomou posse em 1º de julho, discorda. O Movimento Unido Vascaíno (MUV), que participa da gestão do clube com o grupo de beneméritos que apoiou Dinamite, encaminhou no fim de abril denúncias sobre os balanços do Vasco, a partir de 2005, ao CRC-RJ.
As denúncias levaram à abertura de processos contra a Anend Auditores Independentes, que examinou os balanços patrimoniais do Vasco, e contra os contadores da empresa que assinam os demonstrativos de resultados, os diretores Hildo Jardim Alegria e Anderson de Azevedo Lopes. Jorge Silva Fernandes, que era ligado à auditoria, também é processado e alega ter tido sua assinatura falsificada no balanço relativo ao exercício de 2005.
O advogado de Fernandes foi procurado pela reportagem, mas disse que não poderia falar. O Valor também deixou recado na Anend, mas não teve retorno. Francisco Garcia de Freitas, diretor de fiscalização do CRC-RJ , disse que os denunciados apresentaram defesa. O caso poderá ser julgado em agosto pela câmara de fiscalização do CRC-RJ, com possibilidade de recurso.Em uma segunda etapa, o tema poderá ir a plenário no CRC e, por fim, ser analisado pelo Conselho Federal de Contabilidade. Se condenados, os denunciados podem ser multados e suspensos. O contador do Vasco, Miguel Antonio Vaz, que assinava os balanços do clube, já foi suspenso pelo CRC-RJ por demonstrações contábeis em desacordo com as normas brasileiras de contabilidade. Ele foi multado em 2006 em valores que corrigidos somam hoje R$ 3.589,08.
Procurado pela reportagem, o ex-presidente do Vasco não foi encontrado, mas seu sócio, Rogério Alves de Almeida, questionou as denúncias feitas pelo MUV. Disse que os números apresentados nos balanços são corretos. Afirmou que a atualização monetária das debêntures buscou servir de "garantias" contra execuções fiscais, embora reconheça que o valor real dos papéis pode não ser o registrado.
José Henrique Coelho, presidente do MUV e vice-presidente de marketing do Vasco, disse que o patrimônio líquido do clube foi negativo nos últimos três anos, apesar de, oficialmente, o resultado ter sido de R$ 24,9 milhões em 2007 e de R$ 1,1 milhão em 2006. Isso porque, segundo ele, se o valor declarado pelas debêntures no balanço for deduzido, o número muda drasticamente.
Almeida, o sócio de Miranda, também tentou desqualificar o processo no CRC-RJ pelo fato de o presidente do Conselho, Antonio Miguel Fernandes, ser ligado à oposição do Vasco.Fernandes, que não se pronuncia sobre o assunto, foi indicado pela oposição, na gestão anterior do clube, para o conselho fiscal do Vasco, mas terminou expulso do cargo por Miranda. Teoricamente, os julgamentos do CRC são técnicos e o presidente não participa do processo.

Enviado por Ricardo Viana


No final da página, um teste feito antes da eleição do Vasco da Gama.

Contabilidade e Clubes de futebol

A seguir uma reportagem interessante, publicada no dia 16 de julho de 2008, no Valor Econômico. O texto informa, de uma maneira geral, os problemas de alguns grandes clubes brasileiros. O caminho não seria a sua transformação em empresas?

Receita cresce, mas números ainda são pouco confiáveis
Valor Econômico

Já são cinco anos de publicação obrigatória de balanços pelos clubes de futebol no Brasil e ainda são cometidas faltas graves no quesito de obediência às regras e aos princípios contábeis.
Das 25 demonstrações financeiras que o Valor conseguiu obter em jornais e na internet, quase 70% vieram com ressalvas variadas dos auditores independentes que assinam os balanços.
O auditor faz uma ressalva quando discorda de algo que encontrou nas contas, e geralmente é preciso fazer ajustes para que os números estejam de acordo com as normas contábeis.
As restrições dos auditores vão desde a comum falta de reservas [sic] para fazer frente a disputas fiscais e trabalhistas - que costuma aparecer com freqüência nos balanços de empresas - até situações mais esdrúxulas como falta de controle sobre os bens do clube e até o registro da marca no patrimônio.
Alguns balanços trazem múltiplas ressalvas, como o do Botafogo, assinado pela Indep Auditores. São cinco, entre elas a prática do clube de não debitar dos estoques o uso de material esportivo e a inexistência de controle patrimonial.
Na prática, esse cipoal de senões torna o entendimento dos números um trabalho para especialistas. Se forem feitas todas as correções, como tirar do patrimônio do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense o valor de R$ 36,6 milhões relativo à marca "Grêmio" - algo sem "previsão nem aceitação pelas práticas adotadas no Brasil", lembra a Mog & Berleze Auditores -, ainda assim ficaria difícil avaliar a situação dos clubes. Em alguns casos, os auditores não conseguiram sequer checar os números, por falta absoluta de registros. É os que eles chamam de "limitação de escopo", algo pior que uma ressalva, já que não foi possível sequer discordar.
Apesar da espessa cortina de fumaça, não resta dúvida que a situação dos clubes em 2007 continua muito difícil. O clubes são obrigados por lei a publicar seus números desde 2002 e, dois anos depois, o Conselho Federal de Contabilidade divulgou um conjunto de normas específico para o esporte, na tentativa de padronizar as informações.
O objetivo não foi totalmente alcançado, porque ainda é preciso um grande número de ajustes para se conseguir juntar os números para comparação numa tabela como a que o Valor publica acima. O que é quase automático no caso dos balanços das companhias abertas torna-se uma operação de risco quando se trata das demonstrações dos clubes de futebol. Nessa confusão de números, a "Timemania", um programa de salvamento do governo federal que deu aos times 240 meses para pagar seus débitos em atraso, é mais um problema a ser destrinchado pelo aventureiro que ousar decifrar o mundo financeiro dos clubes de futebol.
Com um problema crônico de endividamento e, em grande parte, sem dinheiro em caixa, os clubes correram para registrar a nova facilidade dada pelo governo. Pelo levantamento do Valor, são quase R$ 1 bilhão em dívidas, considerando apenas os 25 clubes da amostra, que teoricamente serão pagas em suaves parcelas de 240 meses.
Os auditores não gostaram do que viram e ressalvaram parte desses números porque ainda não há confirmação dos órgão credores - Receita Federal, Instituto Nacional de Seguro Social, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Ou seja, os cartolas não combinaram com os zagueiros.
Os números apresentados pelos clubes também levantam sérias dúvidas sobre a viabilidade do Timemania. Instituído no ano passado, a loteria começou a funcionar neste ano, com arrecadação ainda modesta. A idéia é que o apostador escolha o nome de seu time e o dinheiro é destinado ao pagamento das dívidas, sem passar pelo caixa do clube.
Pode funcionar, mas depende do tamanho da dívida, porque o clube vai ter que completar o que faltar de sua parcela mensal. Neste ano, os clubes ganharam um bônus e complemento está limitado a R$ 50 mil. A partir do ano que vem, teoricamente, o clube será excluído do programa se não conseguir completar sua parcela. Apesar de todas as facilidades, clubes altamente endividados como o Flamengo vão ter sérias dificuldades para honrar os pagamentos. Mas alguém imagina o Timemania sem o clube de maior torcida no país? O levantamento com os balanços mostra que os clubes aumentaram significativamente suas receitas em 2007, mas o resultado foi ruim - em grande influenciado por uma grande provisão para contingências feito pelo Fluminense. Enquanto a receita total cresceu 32%, para R$ 1,3 bilhão, o déficit apresentando cresceu 60%, para R$ 295,5 milhões.
A receita com venda de atletas dobrou no período, para R$ 459,3 milhões.
No entanto, nem tudo é desanimador entre as quatro linhas do balanço. Há claramente um esforço dos clubes em apresentar informações com transparência. O Corinthians, depois da crise com o fundo MSI que provocou a troca de comando, veio com um balanço mais completo. Os rivais São Paulo, Palmeiras e Santos já publicam demonstrações de fluxo de caixa [sic], algo que muitas empresas de capital aberto só passarão a fazer no ano que vem, por força da lei [sic].

17 agosto 2008

Valor Justo

Em vez de consertar esse vício fundamental, contabilidade a "valor justo" - onde alguns itens estão marcados ao preço do mercado em que eles poderiam ser vendidos ou transferidos - é provável que agrave a situação. Uma vez que a mera presença de um item nas contas da empresa é uma prova de que a sua venda ou transferência não foi, de fato, ocorrida, sendo o valor justo representante do produto de uma hipotética operação imaginária. (...)
Retirada dos incentivos perversos no sistema de contabilidade exige uma distinção clara entre o que é verdade e o que é opinião.

Bad financial practice can't exist without bad theory - Anthony Rayman - 7 August 2008 - Financial Times - Asia Ed1 - 17

07 agosto 2008

Passivo e Valor Justo 2

Um texto do Wall Street Journal (FASB's Lawyer Bonanza, 07/08/2008, A12) discute a adoção de uma avaliação mais avançada para os processos judiciais das empresas. O Fasb pretende mudar a norma para oferecer mais transparência. Entretanto, este é um assunto complicado, pois envolve uma opinião da empresa sobre as chances num processo. Em outras palavras, dependendo da forma como o passivo é reconhecido, isso pode aumentar o número de reclamações contra empresa e influenciar o julgamento.

Considere o exemplo de uma empresa que sofreu um processo de um consumidor contra seu produto. Como a empresa sabe as informações do seu produto (e da sua má qualidade) reconhecer a chance de perda pode ser usado no julgamento pelo reclamante. Além disto, outros consumidores seriam incentivados a entrar na justiça.

O texto cita o caso da Merck e Vioxx (vide o livro de Teoria da Contabilidade, p. 169 ou postagens anteriores, aqui). Como fazer este reconhecimento, diante das constantes mudanças ocorridas ao longo do processo?

A seguir o texto completo do WSJ:

Truth in advertising: This is an editorial about the Financial Accounting Standards Board. Keep reading anyway, because as with so much else these days you could end up paying.

FASB -- the rule-setter for green-eyeshades -- wants to require companies to account for the potential cost of ongoing litigation. While FASB says this would offer more transparency to the investing public, the real gift is to the trial lawyers, who will be able to use the information to extort settlements and influence jury verdicts.

Under the proposed change, a company facing a lawsuit would have to list on its financial statement its best-guess estimate of what that litigation could end up costing -- not just in attorney fees, but in any potential payout. For a company in high stakes litigation, that means showing its hand to plaintiffs attorneys, allowing them to gauge management's upper estimate of what the case is worth.

The effect will be to force corporate defendants to fight lawsuits with one hand tied behind their backs -- assuming the company can even figure the "fair value" of a lawsuit it has no idea if it will win or lose. Predicting the trajectory of complex, often multiyear litigation is inherently unscientific. As we saw with Merck and Vioxx, a company's stock price can jump or fall depending on jury verdicts whose results are impossible to predict.

Bad guesswork would also put a company at risk of more lawsuits. Estimate the possible liability too high, and the plaintiffs bar may extract more loot. Estimate too low and the company could get hit by shareholder suits questioning whether there was intent to mislead investors. Suddenly, every lawsuit against a corporation would contain its own downside and a secondary collateral risk. That gives trial lawyers added leverage to force premature settlements.

The proposed change is open for comment until tomorrow, and FASB has been getting an earful. Senior litigators from 13 companies, including Pfizer, General Electric, DuPont, Boeing and McDonald's have signed a letter to FASB Chairman Robert Herz, objecting to the plan. "Too often, lawsuits are filed for publicity or to pressure companies, only to be dropped later," they wrote, and trying to estimate the fair value of liabilities at the outset "would be both flawed and misleading."

All of which raises the question, why mess with the current system? Under existing rules, putting a number on the potential cost of a lawsuit is required only when the defendant believes it is "probable" it will lose the case. At that stage of the game, some knowledge and calculation from the trial can actually inform the judgment and provide a reasonable service to investors. Lawyers, accountants and corporations are all reasonably comfortable with the way things are.

Meantime, markets have proven to be aggressive watchdogs of litigation prospects. The mere threat of a suit can send a stock price tumbling, a tactic amply demonstrated by the plaintiffs bar in trying to extort settlements. Lawsuits are also disclosed in financial statements, just without the imaginary "fair value" number FASB now demands.

The folks at FASB are partisans of the idea that accounting can provide black and white answers. But all financial reporting is a bit of a wizard's game, trying to measure concepts that can be subjective and amorphous. By organizing a wealth transfer from corporations to trial lawyers, FASB is doing no favors to the investors it claims to represent.

30 julho 2008

Defesa do Mark-to-Market

A contabilidade de marcação a mercado tem sido acusada de ser o catalisador, ou mesmo a causa, da recente crise financeira. Conforme este argumento, a utilização do mark-to-market - a valorização dos ativos imputando os preços no mercado - a todas as carteiras de crédito nos livros comerciais faz os lucros parecerem pior. Mark-to-market deveria ser substituído pela avaliação de suas carteiras a custo histórico.

Não subscrevemos esta opinião, de forma alguma e acreditamos firmemente que uma mensuração da carteira de um banco comercial a "valor justo" é o único meio possível de garantir transparência e disciplina.

How to arrive at fair value during a crisis - Financial Times - 29/07/2008 - Jean-François Lepetit, Etienne Boris and Didier Marteau Por Jean-François Lepetit, Etienne Boris e Didier Marteau

16 julho 2008

Contabilidade e a crise

Um interessante debate sobre o papel da Contabilidade na crise financeira atual:

Como a contabilidade está na origem ou no efeito da actual crise financeira
Elisabete Miranda; NoticiasFinancieras
NoticiasFinancieras - 15/07/2008

Num debate publicado hoje no Jornal de Negócios, que complementa a notícia que mostra as menos-valias potenciais da Caixa Geral de Depósitos este ano (790 milhões de euros num semestre), são confrontadas duas opiniões acreditadas sobre como a contabilidade está na origem ou no efeito da actual crise financeira.

Em causa sobretudo o conceito e "fair value", ou "justo valor", segundo o qual as participações financeiras das empresas devem ser contabilizadas ao valor actual a que as acções que detêm estão cotadas em Bolsa, em vez de estarem registadas pelo valor de aqiusição, como antes. Quando a Bolsa sobe, o "justo valor" beneficia os resultados das empresas; quando desce, prejudica. É o que está a acontecer agora.

Porque não

"Criou-se um sistema de tal forma complexo que se consegue produzir lucros e prejuízos com a mesma norma", acusa Antônio Lopes de Sá, que diz que as NIC (Normas Internacionais de Contabilidade) sempre tiveram como objectivo a Bolsa.

"Quem perde é o povo miúdo, que vai à Bolsa. O grande investidor não perde, porque está dentro do negócio", afirma. Aliás: "Um banco nunca tem perdas. Ele lida com o capital dos outros, não com o dele."

Porque sim

Já Fermín del Valle, "partner" da Deloitte, defende também em entrevista ao Jornal de Negócios as NIC, garantindo ademais que "a contabilidade actuou em e oportunamente" na actual crise financeira.

"Não há que temer o 'fair value' como conceito, principalmente nos activos em que a venda é o destino certo. Tem sentido económico." Apesar disso, reconhece, o problema existe "quando não há um mercado e o preço reconhecido facilmente."

10 junho 2008

Links

1. Aqui um comentário sobre a pesquisa de políticos brasileiros (aqui postagem anterior)

2. Behavioural targeting – usando o conhecimento do cliente para fornecer o que ele quer – “Not necessarily a bad idea – behavioural targeting – The Economist, 7/6/2008

3. Recentemente a área desmatada do Brasil foi manchete de jornais. Entretanto, por trás dos números, existem sérios problemas de mensuração – Spot the rancher – Measuring deforestation – The Economist 7/6/2008

4. Problemas com celulares? Uma nova pesquisa mostra que os sinais emitidos por celulares podem alterar as ondas celebrais. E também podem afetar o comportamento humano. Entretanto, o efeito – em especial sobre o sono – equivale a uma xícara de café. Fonte: aqui

5. 64 = 65? Uma curiosidade matemática

6. Você conhece a Lei 11638? Um teste sobre esse assunto.

7. Um teste sobre a contabilidade do Vasco

8. Origamis (aqui e aqui) (fotos)


06 junho 2008

Merck, Passivo e Mensuração


A Merck lançou no passado um medicamento denominado Vioxx (figura) para tratamento de artrite. Entretanto, o medicamento apresentou um efeito colateral em termos do risco de um ataque cardíaco. Os pacientes entraram na justiça e isso passou a representar um passivo para a empresa (vide, no livro de Teoria da Contabilidade, o estudo de caso, p. 169).

Com o tempo, existe hoje uma maior clareza sobre as chances de perda, na justiça, desses processos. Isso não tem sido notícia de jornais, mas os analistas estão atentos. Aqui, em Merck Prevails in Majority of Vioxx Lawsuits, Derek Lowe faz uma análise recente desse caso.

04 junho 2008

Valor Justo

Um texto sobre valor justo do Financial Times (‘Fair value’ storm makes banks spell out stance, Jennifer Hughes & Gillian Tett - Financial Times - 30 May 2008 - Asia Ed1 - 15, aqui) mostra que a discussão sobre a adoção do valor justo no sistema financeiro ainda é motivo de discórdia:

In a paper written last month and seen by the Financial Times, the Institute of International Finance, which has 300 banks among its members, proposed to relax some of the classifications for financial instruments and to ease the rules in times of financial stress. It claimed that taking prices in illiquid markets “results in valuations that do not provide a true picture of the financial positions of firms”.

(...) The Financial Times’ reporting of the original paper last week prompted Goldman Sachs to threaten to leave the IIF, calling the proposals “Alice in Wonderland” accounting.

There is growing recognition by regulators that the introduction of fair value accounting on a wide scale has changed the dynamics of how the financial system responds to crises.

27 maio 2008

Valor Justo


Segundo a The Economist (19/5/2008, An accounting standard comes under the microscope):

Esta tem sido uma das primeiras crises. A primeira grande crise da titularização época, o primeiro grande teste do Banco Central Europeu, e a primeira crise de "fair-value" contabilidade, o conjunto de normas que obriga as instituições a marca muitos dos seus ativos ao valor de mercado.
"O justo valor é um grande erro", diz o chefe de um grande banco europeu. (...) Uma boa parte da crítica é pura cantilena. Afinal de contas, ganhos com marcação a mercado foram aceitos pelos bancos antes de rebentar a bolha.


Aqui o texto completo:

An accounting standard comes under the microscope.
Economist Staff, The Economist
May 19, 2008
THIS has been a crisis of firsts. The first major crisis of the securitisation era; the first big test of the European Central Bank; and the first crisis of "fair-value" accounting, the set of standards which requires institutions to mark many of their assets to market value. Many blame fair value for causing the credit crunch, arguing that it can cause a downward spiral in prices by encouraging institutions to sell assets quickly and forcing them to take write-downs that do not reflect the "true" value of the underlying assets.
"Fair value is a big mistake," says the boss of one big European bank. AIG, an American insurer, has proposed a change to the rulebook so that companies and their auditors would put only their own estimates of maximum losses into the profit-and-loss account.
A lot of the criticism is pure cant. After all, mark-to-market gains were happily accepted by banks before the bubble burst. The regime's more helpful rules are still being applied with gusto: for example, banks are able to reduce the fair value of their own debt issues if the credit spreads on them widen. Barclays, for one, recorded gains of £658m ($1.3 billion) on its own liabilities in fiscal 2007.
The fact that deciding on a fair value has been so tough reflects the complexity of the products as much as the state of the markets. Setting a price for derivatives that have been repeatedly repackaged, overcollateralised and subordinated is difficult in any conditions. "Four thousand pieces of a Porsche are more difficult to value than a Porsche itself and the sum of the parts does not equal the whole," says Bill Michael of KPMG, an accountancy firm (choosing an appropriate car).
Some banks clearly also underestimated the risks of illiquidity. Industry insiders report that prudent institutions were running internal valuation models even when market prices were clearly observable: those that were not had to scramble to develop such models when markets seized up, causing delays in proper disclosure. Many banks failed to price the chances of illiquidity into the cost of internal funding for traders. And some institutions, bankers allege, were parking illiquid structured products in their trading books to attract a lower capital charge (regulators now plan to beef these charges up). That meant mark-to-market losses immediately showed up in their income statements.
The alternative to fair value — holding assets at historic cost — has few admirers. "Is it really better to keep losses and not to tell shareholders?" asks John Smith of the International Accounting Standards Board (IASB). It is striking that executives at American investment banks, which have long been subject to fair-value rules, largely accept the regime.
There are lessons to be learned. With marking to market, a wobble can quickly become a collapse, illiquidity makes prices harder to set and valuations are more susceptible to sentiment. That increased volatility needs to feature in executives' and risk managers' calculations.
Regulators also need to bear in mind that one of the central assumptions of the fair-value regime has not worked out quite as planned. If prices fall too far, as critics say they now have done, investors should be stepping in to buy the assets. But that is difficult when everyone is reducing their leverage. "Clients invariably say they would like to buy but they cannot because they own too much of it already or they own something else," says Colm Kelleher, Morgan Stanley's chief financial officer.
Moreover, fair-value accounting appears to play a part in the upswing of a cycle as well as in the downswing. Research by Tobias Adrian of the Federal Reserve Bank of New York and Hyun Song Shin of Princeton University indicates that banks take on more debt when the mark-to-market value of their assets increases. In other words, fair value did not just worsen the bust: it also fuelled the boom.