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01 janeiro 2009

A questão da Contabilidade no escândalo Madoff

Toda vez que surge um escândalo a pergunta do publico leigo esta direcionado a dois aspectos: onde estavam os reguladores, que não fizeram nada para impedir que ocorressem? e como não a ficamos sabendo de nada?

Os dois pontos dizem respeito à contabilidade. O primeiro aspecto refere-se ao papel dos reguladores em controlar o mercado e impedir que problemas ocorram. Aparentemente a SEC não conseguiu atuar de forma eficiente e não enxergou algumas evidencias claras de que existia problema com o fundo de investimento administrado por Madoff. Entre estas evidências o retorno com baixa volatilidade e a pequena empresa, responsável pela auditoria.

Entretanto, para quem conhece a forma como ocorre o processo de regulação, sabe como é difícil impedir situações como esta. E existem varias razoes para explicar isto. Em primeiro lugar, o processo de fiscalização é geralmente realizado por amostragem. Isto significa dizer que existe uma grande chance de um potencial trambiqueiro passa despercebido na fiscalização. Uma informação de Joanna Chung, para o Financial Times 'Systemic failure' turns yet more ire on SEC - Joanna Chung in New York - 15/12/2008 - Financial Times - Asia Ed1 – p. 18) informa que a cada três anos somente a SEC teria condições de fiscalizar 10% dos fundos.

Em segundo lugar, parte do conhecimento que os reguladores possuem sobre fraude é baseada em experiências passadas. Novas formas de burlar o sistema são incorporadas de forma, muitas vezes, lenta. Em outras palavras, quando uma empresa cria um sistema de enganar o regulador, a chance de nao ser capturado é mais elevada do que gostaríamos.

Em terceiro lugar, a regulação deveria ser feita comparando os custos da regulação com os seus benefícios. Em muitos casos, impor restrições pode significar um custo muito mais elevado do que imaginado.

A segunda questão refere-se à contabilidade. Neste caso, talvez o problema estivesse no usuário. Infelizmente muitos usuários não consideram, por desconhecimento ou por preguiça, alguns sinais exteriores. E no caso do Madoff estes sinais existiam e eram abundantes, mas foram ignorados pelos investidores. Talvez o principal seja exatamente o desprezo pela auditoria e pela contabilidade.

Um fundo do porte daquele gerenciado pelo senhor Madoff deveria ser auditado por uma empresa de respeito, que pudesse atestar, efetivamente, que as demonstrações eram fidedignas. Não que uma empresa de pequeno porte não possa fazer este trabalho de forma competente. A questão é que uma pequena empresa de contabilidade e auditoria está mais sujeita a uma pressão para deixar passar irregularidades. Mas está questão não é tão simples assim, pois, conforme lembra Michael de La Merced (In Madoff´s Wake, Scrutiny of Accounting Firms, New York Times, 22/12/2008) as grandes empresas de auditoria também de certa forma aprovaram o fundo. (É bom lembrar que outras instituições, auditadas pelas grandes empresas de auditoria, investiram no fundo. A PricewaterhouseCoopers era a empresa de auditoria da Sentry, fundo gerido por Fairfield Greenwich Grupo, com US $ 14,1 bilhões de investimento, por exemplo. Esta, no entanto, é uma questão jurídica polêmica, que somente será resolvida nos tribunais).

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