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06 agosto 2020

Sobre a precisão dos números da CVC

Ao ler o comunicado da CVC ao mercado, tratando do "processo de revisão e reconciliação de sua escrituração contábil realizado em decorrência da identificação de distorções em determinadas contas contábeis" três aspectos chamam a atenção. 

O primeiro é que ao publicar alguns dos resultados, ainda não auditados, a empresa pressiona o auditor no seu trabalho. É bem verdade que a decisão de publicação é importante para evitar notícias não oficiais. A empresa tenta tirar esta carga de responsabilidade dos auditores no seguinte trecho: 

A Companhia reitera que as informações constantes das demonstrações financeiras não auditadas ora divulgadas estão sujeitas a alterações em decorrência da conclusão dos trabalhos de auditoria. 

 O segundo é a questão da precisão dos números. Veja o seguinte trecho: 

As demonstrações financeiras não auditadas de 2019 contemplam os ajustes decorrentes das distorções identificadas ao longo do processo de revisão e reconciliação da escrituração contábil da Companhia, no valor de R$362.384.000,00, alocados da seguinte forma: 
(i)R$93.829.000,00 referentes ao exercício de 2019, causando redução na receita líquida consolidada de R$88.566.000,00 e aumento da despesa consolidada de variação cambial de R$5.263.000,00; 
(ii)R$135.109.000,00 referentes ao exercício de 2018, causando redução na receita líquida consolidada de R$127.248.000,00 e aumento da despesa consolidada de variação cambial de R$7.861.000,00; e 
(iii)R$133.446.000,00 referentes a exercícios anteriores a 2018, causando redução do patrimônio líquido em 1º. janeiro de 2018 neste montante. 

Veja que são valores precisos, sem nenhuma casa após o milhar. Eis outro trecho 

O impacto no lucro líquido da Companhia dos ajustes acima indicados foi reduzido pelo lançamento de crédito referente à recuperação de impostos de renda e contribuição social que foram pagos indevidamente, estimados pela Companhia, em aproximadamente R$ 55.000.000,00. (grifo do blog) 

Talvez seja uma questão de estilo, mas seria muito mais crível se a empresa tivesse dito: O impacto no lucro (...) estimados pela Companhia, em aproximadamente R$ 55 milhões. 

Finalmente, qual a causa dos problemas da empresa? Quem foi o responsável? O comunicado dá um pista sobre o que ocorreu: 

Os relatórios finais apresentados pela Comissão Especial de Apuração ao Conselho de Administração apontam deficiências nos sistemas, processos e controles relacionados à escrituração contábil da Companhia. Segundo os relatórios, essas deficiências contribuíram para ocorrência de distorções acima mencionadas nas demonstrações financeiras da Companhia. 

Além disso, os relatórios identificaram: (i) evidências de que deficiências nos controles internos da Companhia contribuíram para a ocorrência das distorções contábeis; (ii) evidências de que as deficiências acima referidas foram ocultadas por colaboradores da CVC inclusive dos auditores externos; e (iii) indícios, não conclusivos, de que os resultados da CVC podem ter sido intencionalmente manipulados.

Eletrobras e o planejamento em tempos do Covid - Parte 2

No final de março, logo depois da decretação da pandemia por parte da OMS, o Conselho da Eletrobras reuniu-se para aprovar o "Novo Plano Diretor de Negócios e Gestão", para o período de 2020 a 2024. Nós postamos aqui sobre este assunto. 

No início de agosto, a empresa divulgou um Plano Estratégico das Empresas Eletrobras 2020-2035, em substituição a outro documento, que contemplava o período de 2015 a 2030. Agora sim, a empresa contemplou, de forma mais detalhada, o impacto da pandemia. 

Mas notei algo interessante: não há, no documento, a palavra "privatização", um assunto considerado pelo principal acionista. E a palavra "venda" aparece somente para tratar da venda de serviços, embora "valor" apareça 38 vezes. (Estranho, para uma empresa que destruiu tanto o valor nos últimos anos)

Rir é o melhor remédio


Fonte: Aqui

05 agosto 2020

Análise Textual do Wall Street Journal : 1984-2017

Resumo:

We propose an approach to measuring the state of the economy via textual analysis of business news. From the full text content of 800,000 Wall Street Journal articles for 1984–2017, we estimate a topic model that summarizes business news as easily interpretable topical themes and quantifies the proportion of news attention allocated to each theme at each point in time. We then use our news attention estimates as inputs into statistical models of numerical economic time series. We demonstrate that these text-based inputs accurately track a wide range of economic activity measures and that they have incremental forecasting power for macroeconomic outcomes, above and beyond standard numerical predictors. Finally, we use our model to retrieve the news-based narratives that underly “shocks” in numerical economic data.

The Structure of Economic News Leland Bybee, Bryan T. Kelly, Asaf Manela, and Dacheng Xiu. 2020.pdf

Wall Street Journal vai falar palavrão

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Fonte: Aqui

04 agosto 2020

Assetization

Não conhecia esta discussão, sobre a "assetization". Aqui uma discussão sobre um livro que afirma que isto seria uma coisa ruim. O que seria isto? Segundo o comentário:

atribuir um valor monetário a coisas com valor intrínseco, mais a dimensão do poder do proprietário do ativo sobre quem o aluga.

Isto está muito ligado ao processo de mensuração. Assim, procurar definir e quantificar tudo aquilo que seja ativo: obra de arte, capital intelectual, recurso humano, recurso natural, conhecimento e muitos outros.

O conceito de um ativo cujo valor é herdado ao longo do tempo e depende agora de que tipo de futuro criamos é fundamental para a construção de uma economia sustentável.

Aqui um livro com a abordagem negativa da assetization (foto da capa).

Reserva de Emergência em Finanças Pessoais

Um dos tópicos relevantes na educação financeira (e em finanças pessoais) é a constituição de uma reserva de emergência. Um dos parâmetros é ter em caixa (ou aplicações de baixíssimo risco e elevada liquidez) seis meses de salário: Esta discussão é relevante, em momentos de elevado desemprego.

As recomendações dos especialistas variam, mas de forma geral eles dizem que o ideal é guardar o equivalente a pelo menos seis meses do que se precisa para viver. “Quanto mais instável for a fonte de renda, maior deve ser a reserva”, diz Samantha Millais, facilitadora de educação financeira da Guide Investimentos. Funcionários públicos, por exemplo, geralmente precisam ter menos recursos para emergência; autônomos e microempresários deveriam guardar até um ano de seus gastos ou sua renda, considera. (Reserva de emergência deve ser prioridade | Suplementos | Valor Econômico)

Foto: aqui

A razão dos seis meses? Se você perder o emprego, cortando gastos supérfluos, você teria condições de ficar desemprego, com estes recursos, por até um ano. 

Máquinas podem aprender Finanças?

Resumo:

Machine learning for asset management faces a unique set of challenges that differ markedly from other domains where machine learning has excelled. Understanding these differences is critical for developing impactful approaches and realistic expectations for machine learning in asset management. We discuss a variety of beneficial use cases and potential pitfalls, and emphasize the importance of economic theory and human expertise for achieving success through financial machine learning.

Israel, Ronen and Kelly, Bryan T. and Moskowitz, Tobias J., Can Machines 'Learn' Finance? (January 10, 2020).Forthcoming 2020. pdf



Machine Learning: como ele está mudando as regras de mercado - Unisoma

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Fonte: Aqui

03 agosto 2020

Qual o preço justo de um vinho?

De um artigo do Valor Econômico de 31 de julho:

Qual é o preço justo de um vinho? A resposta, sem dúvida, não está numa planilha de custo, computando produção e venda, como qualquer produto de consumo. Há tantos fatores intangíveis no vinho que fazem com que o valor que se paga por uma garrafa esteja mais ligado à disposição do consumidor em comprá-la do que a somatória de itens concretos e mensuráveis. Tem a ver com a reputação e a pressão sobre a oferta. (...)

Mais adiante, o autor comenta um caso interessante:

Surpresas não faltam, em especial em degustações às cegas, até entre críticos experientes. Para ilustrar, vale acessar youtu.be/1leRdKluE7I, vídeo curtinho de um evento realizado em Paris, em junho de 2009, organizado pela Grand Jury Européen (GJE), uma associação independente sem fins lucrativos cujo objetivo era servir como alternativa a avaliações individuais que renomados críticos (principalmente Robert Parker) faziam de grandes vinhos.

Na ocasião, 15 reconhecidos experts, entre eles Michel Bettane, o mais conhecido e influente (também o mais arrogante) jornalista francês do setor, e Olivier Poussier, melhor sommelier do mundo em 2000, analisaram 11 dos principais bordeaux tintos da safra 2001. Na verdade, eram dez Grands Crus Classés mais um “intruso”, o Château de Reignac, nada além do que um bom rótulo da simplória categoria Bordeaux Supérieur, considerado muitos degraus abaixo de seus nobres conterrâneos.

Recolhidas as anotações e pontuações individuais atribuídas pelos jurados a cada uma das amostras apreciadas, e enquanto os dados eram compilados por um observador autônomo, François Mauss, presidente do GJE, pedia aos integrantes do grupo que expusessem suas impressões vinho a vinho, na sequência em que foram provados. A cada rodada de comentários a identidade da amostra era revelada. As reações mostraram desconforto, provocando uma ou outra justificativa inoportuna.

Foto: aqui

Projeções

Analisando algumas das mais recentes notícias divulgadas por empresas brasileiras, achei esta da Cemig, que no dia 22 de julho divulgou o seguinte (grifo nosso):

A COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS –CEMIG (“Cemig”),companhia aberta, com ações negociadas nas bolsas de valores de São Paulo, Nova Iorque e Madri, vem a público informar, nos termos da Instrução CVM nº 358 de 03/01/2002, conforme alterada, à Comissão de Valores Mobiliários -CVM, à B3 S.A. -Brasil, Bolsa, Balcão (“B3”) e ao mercado em geral que, em decorrência da impossibilidade de quantificar, com precisão, os impactos gerados pela pandemia do Coronavírus (COVID-19) no contexto, principalmente, de incertezas quanto à evolução da COVID-19 nos mercados em que atua, a Cemig optou por suspender as projeções financeiras (Guidance) divulgadas em seu “XXIV Encontro Anual”, realizado em 29/05/2019.

A Cemig reitera o compromisso de manter seus acionistas, credores e o mercado em geral devida e oportunamente informados. 


Temos a impressão que a empresa divulgou estas projeções e esqueceram delas. Até alguém questionar se ainda eram válidas.

Fotografia: aqui

Matt Walker: como o álcool e a cafeína afetam o sono

A cafeína nos acorda, e o álcool nos faz cochilar, não é mesmo? Não é tão simples assim. O cientista do sono Matt Walker nos mostra maneiras reveladoras pelas quais essas bebidas afetam a quantidade e a qualidade do nosso sono.

Conexões Políticas e Informações Privilegiadas

Resumo:


We analyze the trading of corporate insiders at leading financial institutions during the 2007 to 2009 financial crisis. We find strong evidence of a relation between political connections and informed trading during the period in which Troubled Asset Relief Program (TARP) funds were disbursed, and that the relation is most pronounced among corporate insiders with recent direct connections. Notably, we find evidence of abnormal trading by politically connected insiders 30 days in advance of TARP infusions, and that these trades anticipate the market reaction to the infusion. Our results suggest that political connections can facilitate opportunistic behavior by corporate insiders.


Alan D. Jagolinzer, David F. Larcker, Gaizka Ormazabal, and Daniel J. Taylor, “Political Connections and the Informativeness of Insider Trades,”

Does Insider Selling Mean It's Time to Sell?

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Fonte: Aqui

02 agosto 2020

Novo Webinar do Iasb

No dia 11 de agosto o IASB, através do representante brasileiro Tadeu Cendon e do membro do staff Gustavo Olinda, irão apresentar um Webinar sobre a Minuta de alteração das demonstrações contábeis. Este Webinar irá explicar os aspectos mais específicos da mudança.

Aqui a página da Fundação.

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Este rir é para um título de um artigo publicado no PLOS de 17 de julho:

Whoop! There it is: The surprising resurgence of pertussis

(sobre a doença da coqueluche). Mas vale a pena ler os comentários do Twitter onde alguns apresentaram outros exemplos de títulos de artigos científicos

01 agosto 2020

Petrobras tem prejuízo, mas continua gerando caixa operacional

Foi destaque, nesta semana, o prejuízo trimestral da empresa estatal Petrobras. Os efeitos da pandemia e o preço do petróleo foram as possíveis razões para este desempenho. E pareceu uma notícia ruim, mesmo o presidente da empresa afirmando que a entidade está preparada para um cenário de baixo preço. Isto é duvidoso, já que o ponto de equilíbrio da Petrobras é bastante elevado em razão dos custos de exploração, em alto mar, serem maiores do que de outras empresas.

A empresa segue com planos de redução em algumas áreas, já tendo obtido o aval do TCU para a venda. É importante notar que o resultado também foi influenciado, positivamente, por um ganho de uma causa judicial.

Entretanto, há tempos considero que o resultado líquido não é uma boa medida de desempenho de médio e longo prazo da empresa. Os últimos anos foram conturbados, com amortização de ativos por conta da corrupção da empresa e da forte influencia do governo. Particularmente acho mais interessante o fluxo de caixa oriundo das operações.
Neste sentido, a Petrobras gerou um caixa de 29 bilhões de reais, um pouco abaixo dos 35 bilhões, mas acima do mesmo período do ano passado. Os 64 bilhões de caixa operacional é bastante respeitável, para uma empresa que gerou menos 17 bilhões de receita. 

Teste Múltiplo

Eis uma situação onde a engenhosidade humana pode ajudar a resolver um problema de recursos escassos. Eis a situação (clique na imagem para ver melhor)
Bilder e seus colegas estimam que três Estados - Connecticut, Maine e Vermont - poderiam
quadruplicar sua capacidade de testes com o agrupamento. Um quarto, Nova York - poderia chegar
próximo àquele nível, adicionando 294% de capacidade. Outros sete Estados, principalmente no
nordeste, mas também Havaí e Michigan, poderiam mais do que triplicar sua capacidade. Os estatísticos do governo tiveram essa ideia na década de 1940, quando precisaram de uma maneira
mais eficiente para examinar recrutas da Segunda Guerra Mundial para a sífilis.  (...)

Os pesquisadores temem que, à medida que o tamanho de um agrupamento aumente, o teste pode perder a sensibilidade e deixar passar alguns casos em que os pacientes têm cargas virais muito baixas, geralmente no início ou no fim de suas infecções. Pesquisadores na Alemanha reuniram até 30 amostras, mas observam que "amostras únicas positivas limítrofes podem escapar da detecção em grandes agrupamentos".

Leia mais em "Como testar mais pessoas para o novo coronavírus sem realmente precisar de mais testes", Quoctrung Bui, Sarah Kliff e Margot Sanger-Katz, The New York Times, via Estado de S Paulo, 30 de julho de 2020.

Resultados dos Bancos

Entre os resultados dos bancos, o Santander apresentou seu primeiro prejuízo em 163 anos de funcionamento: 10,8 bilhões de euros. O problema foi a provisão para as perdas esperadas nos empréstimos concedidos pelo banco e alguns resultados ruins nas filiais (especialmente Reino Unido, Estados Unidos, América Latina e Polônia).

O Santander não é o único banco com problema. Mas o seu porte e o potencial de contágio chamam a atenção. Além disto, o importante mercado da América Latina pode reservar surpresas ruins nos próximos meses por conta da pandemia.

O principal risco é que o aumento da falência da região, o aumento do desemprego e a contração acentuada das economias possam desencadear outra crise da dívida. Se isso acontecesse, a exposição excessiva dos dois maiores bancos da Espanha à região poderia servir como fonte de contágio na Europa.

Isto não é problema quando uma instituição financeira tem capital para absorver as perdas. Mas conforme a autoridade bancária europeia, os bancos espanhóis estão entre os piores em termos de capitalização. E neste quesito, a posição do Santander não é boa.

Leia mais aqui (aqui, aqui e aqui). Imagem: aqui

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Dificuldade em Custos