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25 fevereiro 2017

Naturalmente errado

A leitura das demonstrações contábeis pode proporcionar ao analista algumas surpresas interessantes. Algumas empresas são cuidadosas e capricham em produzir informações uteis e relevantes. Em alguns casos, aprendemos bastantes com demonstrações típicas de certos setores. E em menor escala, encontramos problemas.

Mas quando encontramos problemas em empresas que são consideradas referências na sua contabilidade...

Vejam, a seguir a demonstração do resultado de uma delas, a Natura.

A Natura é uma das empresas mais inovadoras na sua contabilidade. No seu relatório referente ao exercício findo de 31 de dezembro de 2016 a empresa apresentou uma correspondência dos fundadores, uma mensagem do conselho executivo e a informação que a empresa aplica, de forma voluntária, as normas do International Integrated Reporting Council (IIRC) nos relatórios. É realmente impressionante a qualidade das informações. Mas será que é mesmo?

O título deste texto já induz algo: naturalmente errado. Volte agora a demonstração do resultado. Há algo incomodo na informação apresentada e que pode passar desapercebido de uma análise. Tome a linha de “despesas com vendas, marketing e logística” e as três linhas seguidas. Observe agora as duas últimas colunas. Os valores são iguais. Quais as chances de isto ocorrer? Muito próximo de zero. Provavelmente a empresa usou o Control C e Control V para digitar a demonstração do resultado.

A forma de comprovar isto é verificar se o valor do lucro operacional antes do resultado financeiro está correto. Ou seja,

Lucro Operacional Antes do Resultado Financeiro = Lucro Bruto – Despesas com Vendas, Marketing e Logística – Despesas Administrativas – Resultado da equivalência patrimonial + Outras receitas operacionais líquidas

Se o resultado estiver correto talvez seja realmente uma coincidência os valores serem iguais nos dois anos.

Em 2016:
1.082.868 = 5.465.705 - 3.110.169 – 1.327.093 + 54425

Em 2015
1.256.769 = 5.483.012 - 3.110.169 – 1.327.093 + 54425 (o que não é verdade)

Errado. Naturalmente errado.

Fato da Semana: Bankia

Fato: Executivos do Bankia condenados na Espanha

Data: 23 de fevereiro

Contextualização
Após a crise de 2008, as autoridades espanholas decidiram criar um banco a partir da junção de diversas instituições municipais, sob a liderança da Caja de Madrid. O Bankia nasceu com problemas e existia claramente uma recomendação da área técnica para não fazer esta operação. Os reguladores não somente ignoraram a recomendação, como usaram muito dinheiro público na operação. Estão sendo processados por isto.

Um jornal espanhol descobriu que alguns executivos do Bankia e da Caja de Madrid usaram de maneira inapropriada cartões de créditos corporativos. O que fez a justiça espanhola? Resolveu esquecer a denúncia e concentrar no forma como a informação foi obtida.

O Bankia começou uma investigação interna e descobriu que realmente existiu problemas na utilização dos cartões. Levou o caso para a justiça, que desta vez condenou os executivos. Entre eles, o ex-diretor-geral do FMI, de sobrenome Rato.

Relevância
A condenação de executivos será sempre relevante para melhorar os controles internos e permitir que os pesquisadores estudem melhor a relação principal-agente. A inclusão do ex-diretor-geral do FMI indica que burocratas poderosos devem responder pela utilização do patrimônio da entidade que paga o seu salário.

Notícia boa para contabilidade?
Sim. Podemos aperfeiçoar os sistemas de controles internos. Além disto, é agradável saber que os problemas de abuso de autoridade existem também em países desenvolvidos.

Desdobramentos
Os acusados afirmaram que estavam sendo tratados desta forma em razão de outra investigação - sobre um esportista, casado com alguém da família real espanhola. No caso, a ira da justiça era para compensar a futura absolvição do queridinho do ex-rei Juan Carlos. Pode ser verdade.

Mas a semana só teve isto?
Semana com muitos acontecimentos: a morte de Kenneth Arrow, o anúncio que a Vale pode ser uma empresa sem controle definido e as demonstrações contábeis foram outras notícias da semana.

Rir é o melhor remédio


24 fevereiro 2017

Braskem

A empresa Braskem anunciou que irá "atrasar" a entrega das demonstrações contábeis. Muitas empresas já estão divulgando os resultados referentes ao ano de 2016. Entretanto, como esta empresa está bastante comprometida com os escândalos de corrupção, o anúncio que a empresa irá postegar para o dia 29 de março o arquivamento das demonstrações financeiras.

Entretanto, a empresa divulgou um relatório não auditado e parcial. Nestas informações tem-se:

A Braskem e suas controladas estão sujeitas a uma série de leis anticorrupção de países onde têm atuação, incluindo a lei 12.846/2013, ou Lei Anticorrupção Brasileira, que entrou em vigor em 28 de janeiro de 2014, e o US Foreign Corrupt Practices Act (FCPA). Em março de 2015, no âmbito da denominada “Operação Lava Jato”, foram tornadas públicas alegações de réus em procedimentos de natureza penal segundo as quais a Braskem estaria envolvida em pagamentos indevidos para obter benefícios em contratos de matéria-prima celebrados com a Petrobras. Em vista de tais fatos, a Companhia imediatamente aprovou a contratação de escritórios de advocacia com ampla e comprovada experiência em casos similares nos Estados Unidos e no Brasil (“Escritórios Especializados”) para a realização de uma investigação interna e independente sobre as alegações mencionadas no parágrafo anterior (“Investigação”), sob a supervisão e em colaboração com o “DoJ” - Department of Justice e a “SEC” - Securities Exchange Commission dos Estados Unidos. Até meados de julho de 2016, a Investigação não obteve elementos para comprovar a existência de fatos ilícitos na Companhia.

Novas denúncias e pagamentos indevidos 

Ao final de julho de 2016, a Companhia recebeu novas informações sobre desvios, reveladas nas colaborações de ex-executivos da Braskem no âmbito do processo de cooperação da Odebrecht no contexto da operação Lava Jato. 

A partir de informações contidas nessas colaborações, a Investigação confirmou a existência de pagamentos realizados a título de serviços prestados por terceiros, sem a comprovação da efetiva contrapartida. Esses pagamentos indevidos foram feitos a 3 empresas situadas no exterior e supostamente derivados da prestação de serviços de intermediação comercial. Essas empresas apenas repassavam os recursos para uma série de outras empresas, as quais, ao final, realizavam pagamentos ilícitos em benefício da Braskem. O montante de pagamentos realizados pela Braskem a essas 3 empresas no período de outubro de 2006 a dezembro de 2014 corresponde a, aproximadamente, R$513 milhões.

Conforme tornou-se público no âmbito dos acordos firmados com DoJ e SEC, os pagamentos ilícitos incluíam, dentre outros, temas relacionados ao contrato de nafta assinado com a Petrobras em 2009 e encerrado em 2014, bem como alterações da legislação fiscal nos planos federal e estadual para obtenção de incentivos fiscais e monetização de créditos tributários que já eram de direito da Companhia.

Com respeito aos resultados, a empresa apresentou, preliminarmente, em 2016, um prejuízo de 770 milhões de reais, sendo que no quarto trimestre, somente, o prejuízo foi de 2,6 bilhões.

No indicador chamado Ebitda a empresa melhorou: 9,3 bilhões para 11,5 bilhões. Mais um argumento para não usar este índice. O fluxo de caixa das atividades operacionais caiu de 8,2 bilhões para 5,1 bilhões.

Curso de Contabilidade Básica: Outras informações da entidade

No nosso livro “Curso de Contabilidade Básica”, editado pela Atlas, mostramos as principais informações que uma entidade pode divulgar ao público: balanço patrimonial, demonstração do resultado, demonstração dos fluxos de caixa, demonstração das mutações do patrimônio líquido, além do relatório da administração, notas explicativas e o relatório do auditor independente (antigo parecer do auditor).

O número de informações é bastante razoável, o que faz com que uma grande empresa possa ocupar centenas de páginas com estas demonstrações. Mas, como dissemos anteriormente, essas são apenas as principais, já que há outras informações, como também a DVA (demonstração do valor adicionado), o formulário de referência, o balanço social, etc. E isto também não impede que outras informações possam existir ou possam aparecer (ou desaparecer) com o passar do tempo (vejam o caso da DOAR e da DLPA, por exemplo). Além disto, um regulador de um determinado setor pode impor demonstrações adicionais, como iremos mostrar a seguir no nosso exemplo.

Vamos mostrar isto com as demonstrações contábeis da Assurant Seguradora, divulgada em fevereiro de 2017, referente ao exercício findo em 31 de dezembro de 2016. Esta empresa apresentou as principais demonstrações contábeis listadas anteriormente, assim como o relatório da administração, notas explicativas e relatório do auditor independente. Mas elaborar a contabilidade de uma seguradora não é uma tarefa das mais fáceis para o profissional contábil. Muitas informações dependem da projeção futura sobre os sinistros e os prêmios que serão pagos. Se em 2017 o número de sinistros aumentar por alguma razão, isto deve estar, de alguma forma, expresso na contabilidade do exercício findo em 31/12/2016. Olhem que grande problema.

O falecido Peter Bernstein escreveu um livro muito interessante, denominado Desafio aos Deuses, onde mostrava que a análise de risco surgiu juntamente com a criação do seguro. No passado, quando uma embarcação saía para fazer comércio nas Índias, os proprietários na Europa queriam ter garantia de que seu dinheiro investido não se perderia totalmente se a embarcação fosse atacada por piratas ou afundasse numa tempestade no oceano. A criação do seguro permitiu que isto fosse possível.

Se é necessário que uma seguradora tenha boas projeções, a entidade, assim como seus financiadores, querem ter tranquilidade que as projeções realizadas para as demonstrações contábeis são boas. Para dar esta tranquilidade aos usuários e gestores da empresa, a Assurant contratou especialistas no assunto. Estes profissionais, que recebem o nome de “atuários” fizeram um parecer indicando que examinaram alguns valores da contabilidade, conforme algumas normas do Instituto Brasileiro de Atuária e do regulador da área, a Superintendência de Seguros Privados e o Conselho Nacional de Seguros Privados. Desta análise, esses profissionais elaboraram divulgaram o parecer dos atuários, que mostramos a seguir:

Bankia 2

No início da semana comentamos sobre o caso do Bankia. Temos novidades sobre o caso: os ex-presidentes executivos da Caja Madrid e do Bankia, Miguel Blesa e Rodrigo Rato (foto), foram condenados a 6 anos e 4 anos e dois meses, nesta ordem, por apropriação indébita e uso das “tarjetas black” (ou seja, cartões de crédito corporativos) entre 2003 e 2012. Outras pessoas também foram condenadas por colaborar com o crime. Segundo o jornal El País a sentença, com mais de duzentas folhas, foi rápida.

explica claramente y con rotundidad las razones por las cuales las tarjetas negras eran una retribución irregular, abusiva y dañina para los intereses de Caja Madrid primero y de Bankia después. Carecían de justificación del gasto, su utilización no estaba incluida en ningún contrato profesional de los implicados con la entidad, su uso fue discrecional además de abusivo y estaban al margen de cualquier control para la declaración de IRPF. Hacienda resultó perjudicada por la autoatribución de retribuciones opacas y fuera de cualquier control.

Para o jornal, a sentença abre um precedente importante para os gestores: suas decisões devem estar sustentadas por uma justificativa contábil e fiscal.

O interessante é que inicialmente a investigação surgiu com a publicação de um artigo. A justiça tentou processar a imprensa por ter obtido a informação de maneira ilícita. Posteriormente o Bankia promoveu uma investigação interna, que conduziu a condenação. Rato foi diretor-geral do FMI !!!

Dois pontos na contabilidade de uma seguradora

Dois pontos chamaram a atenção nas demonstrações da Assurant Seguradora. Primeiro, a honestidade de admitir que utilizam as taxas de depreciação da receita. A questão do uso da taxa fiscal sempre foi um exemplo de como a contabilidade de “sujeitava” as normas da receita federal. Na introdução das normas internacionais, imaginava-se que as empresas iriam passar a utilizar suas próprias taxas e que isto aproximaria o valor contábil de uma mensuração mais adequada. O problema é que a mensuração da depreciação é muito cara e, ao mesmo tempo, imprecisa. Vale a pensa gastar dinheiro para fazer uma mensuração deste tipo ou não seria melhor usar um valor que ninguém questionaria, mesmo sendo da receita federal? A resposta é óbvia: usa-se a taxa de depreciação fiscal. A Assurant fez isto e disse com todas as letras:

(Além disto, o imobilizado da empresa é de 3.7 milhões para um ativo de 794 milhões; em outras palavras, é pouco expressivo)

O segundo ponto que chamou a atenção foi uma nota explicativa. Geralmente a empresa detalha na nota explicativa aquilo que foi apresentado no balanço e demonstração do resultado. E a empresa colocou um nota 6 no item Disponível, do ativo circulante. Na nota explicativa aparece o seguinte:


Rir é o melhor remédio


22 fevereiro 2017

Curso de Contabilidade Básica: Despesas Antecipadas numa empresa de turismo

Como você pode perceber pelo capítulo 4 do livro Curso de Contabilidade Básica, volume 1, as despesas antecipadas correspondem a algo que já foi desembolsado pela empresa, mas que ainda não faz parte da competência do exercício. Os exemplos mais comuns são os pagamentos de seguros, aluguéis e os estoques.

Numa empresa de turismo existem dois tipos de despesas antecipadas interessantes. A primeira é a comissão dos vendedores. Quando um cliente faz uma aquisição de um pacote turístico, o vendedor recebe uma comissão pela venda efetuada. Isto também ocorre no comércio em geral. Mas no caso da empresa de turismo, a venda do pacote realizada no dia de hoje somente será receita para a empresa quando ocorrer o embarque de passageiros. Vamos imaginar que um funcionário tenha vendido um pacote de R$5 mil para um cliente e sua comissão seja de 3% ou R$150. Este pacote, vendido no mês de fevereiro, refere-se às férias de julho. Assim, a receita de venda do pacote turístico somente será considerada na empresa em julho. Mas o empregado não espera tanto: recebe sua comissão no pagamento do salário, no início de março. No momento da venda, em fevereiro, registra-se “receita antecipada” (passivo circulante) e “contas a receber de clientes” (ativo circulante). Em março, paga-se a comissão com um lançamento de “despesa antecipada” (ativo circulante) e saída de caixa. Quando do embarque do passageiro, a despesa antecipada é lançada a crédito, tendo a contrapartida uma despesa operacional.

O segundo tipo de despesa antecipada interessante numa empresa de turismo é o pagamento de um fretamento de um navio. A viagem será feita no segundo semestre, mas a agência antecipa o pagamento agora para garantir a venda futura de um pacote. No momento do pagamento, tem-se um débito na despesa antecipada e o crédito em caixa. No futuro, esta despesa será levada a resultado, como vimos acima (D: despesa operacional; C: despesa antecipada).

Estas duas situações estão presentes no balanço da empresa CVC, talvez a maior operadora de turismo do Brasil. Veja a nota explicativa referente a esta conta:

Links

Não existe plágio arquitetônico entre Livraria Cultura e Saraiva, segundo o STJ

Tim Harford: regras simples ou complexas; evidenciar ou não evidenciar = como isto deve ser discutido ao estabelecer metas

Como Trump gastou seu primeiro mês (ao lado)

Scielo irá adotar o sistema de preprint (em 2018)


Arrow

Entre os grandes economistas que surgiram no século passado, Kenneth Arrow ocupa um lugar de destaque, juntamente com Samuelson, Coase, Becker, Friedman e Nash. Seu Teorema da Impossibilidade é uma ideia genial, mas não podemos esquecer as contribuições em economia da informação, teoria do crescimento e escolha social.

Com 95 anos, o prêmio Nobel de 1972 (!!) Arrow faleceu no dia de ontem. Eis uma contribuição de Arrow para a contabilidade:

Na década de cinquenta, o economista Kenneth Arrow desenvolveu um modelo sobre a agregação de preferências de indivíduos. Isto ficou conhecido como Teorema de Arrow ou Teorema da Impossibilidade de Arrow. Arrow estabeleceu algumas regras básicas para que uma decisão coletiva agregasse as preferências das pessoas. Entretanto, Arrow mostrou que não existe nenhuma regra de agregação de preferência que tenha as propriedades desejadas e que não sejam reflexo de um indivíduo “ditador”.

O teorema de Arrow tem sido lembrado na teoria quando se discute a padronização contábil. Nestas situações, um dos usuários irá exercer o papel preponderante, impedindo que as demandas dos outros usuários sejam consideradas. Isto indicaria que o processo de padronização seria inerentemente injusto. Entretanto, deve-se notar que o teorema de Arrow não é aceito integralmente como verdadeiro nas discussões teóricas sobre o processo de normas contábeis.

Rir é o melhor remédio


21 fevereiro 2017

ROIC na CVC

Recentemente comentamos que a Suzano anunciou que trabalha com o retorno sobre o capital investido, apresenta esta informação como relevante para sua gestão, mas não informa – nas demonstrações contábeis – como chegou ao cálculo.

A CVC, uma empresa na área de turismo, ao anunciar seu resultado, divulgou também o ROIC e o seu cálculo:


(é bem verdade que o cálculo parte de um lucro antes de juros e impostos “gerencial”. Menos mal, já que deixou de for a as receitas, de maneira apropriada)

Os dois grandes problemas das empresas envolvidas na Lava Jato

As empresas brasileiras acusadas de participar do esquema de corrupção na empresa Petrobras já perceberam, há meses, o efeito da operação Lava Jato. Além da multa, muitos negócios ficaram prejudicados com o escândalo. A estrutura montanda nestas empresas passa a pesar diante da recessão da economia, da perda de contratos e da desconfiança dos antigos clientes.

Nesta situação, faz-se necessário enxugar os custos, em especial os custos fixos, e manter o fluxo de caixa. Estas empresas já fizeram demissões, cortaram custos e resta agora a opção de desfazer de alguns negócios. Negociar ativos permite a geração do fluxo de caixa, necessário neste momento. Entretanto, dois graves problemas ocorrem nesta situação.

O primeiro problema é a incerteza com respeito aos desdobramento jurídico da operação. Este assunto foi tratado de maneira interessante no domingo pelo Estado:

As incertezas sobre novos desdobramentos da Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobrás, estão emperrando a venda de ativos de grandes empreiteiras envolvidas nas investigações. Em conversas adiantadas com a chinesa China Communications Construction Company (CCCC), as negociações entre a Camargo Corrêa e a gigante asiática pararam diante de um impasse: a falta de segurança jurídica para blindar a chinesa de heranças decorrentes das investigações da Lava Jato, afirmaram fontes ao ‘Estado’.

O jornal cita outras situações, onde o processo de negociação de venda de ativos deve atrasar pelas incertezas jurídicas.

O segundo problema, que não foi objeto da reportagem do jornal, é o fato do comprador estar numa posição melhor que o vendedor. Tendo o dinheiro que interessa a empreiteira investigada, o comprador pode reduzir o valor a ser pago. Além disto, a crise econômica ajuda, já que poucos se aventuram a fazer investimentos neste momento. Assim, aquela parte do “valor justo”, onde as partes que estão negociando estão em igualdade de condições, não existe. Assim, o valor é injusto, decorrente da preemente necessidade de recurso da empreiteira e da posição dominante do comprador. Neste momento, as empresas vendedoras talvez já tenham dado conta que precisam de caixa e podem vender por um preço bem abaixo do razoável.

Uma consequência inesperada deste segundo problema é que poderá existir um resultado na venda dos ativos negativa, influenciando os lucros destas empresas. Assim, a venda pode aliviar o caixa, mas pesar no resultado da empresa. Não existe bom samaritano aqui. Ou melhor, o bom “samaritano”, conhecido com o nome de governo (ou BNDES, Banco do Brasil, fundos de pensão etc) dificilmente irão aportar recursos nestas empresas.

Links

Vale pode se tornar uma empresa sem controle definido (ao lado)

Um guia de 1951 para usar o telefone

Economista Mankiw paga 2500 dólares num ingresso, provoca reação e discussão sobre a questão do preço (e cambistas) 

Competição é um grande motivador, inclusive para emagrecer

Rir é o melhor remédio


20 fevereiro 2017

Carga tributária deve alcançar cerca de 33% do PIB do País ao final do ano

A carga tributária do Brasil deve alcançar cerca de 33% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, percentual não muito diferente do que o verificado nos anos de 2015 e 2016, calcula o tributarista Miguel Silva, do escritório Miguel Silva & Yamashita Advogados.

Em 2015, os encargos tributários atingiram 32,66% do PIB, contra 32,42% em 2014. Já o resultado oficial do ano passado só será divulgado pela Receita Federal do Brasil (RFB) no segundo semestre de 2017. Porém, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) costuma divulgar uma prévia no final do mês de abril de cada ano para orientar a execução do orçamento federal.

A pouca mudança esperada para a carga tributária bruta (CTB) é explicada pelo fato de não ter ocorrido alterações relevantes nas alíquotas ou nas base de cálculos dos impostos em 2016.

"Para este ano, o governo federal já sinalizou que não irá elevar impostos. Não há mais espaço e nem conjuntura para fazer isso. As empresas já estão altamente endividadas", comenta Silva.

"Por outro lado, também não há espaço legislativo e nem fiscal para reduzir tributos. A União está com um rombo de R$ 150 bilhões nas suas contas", acrescenta. "Sem grandes mudanças nas alíquotas ou nas bases de cálculo dos impostos, portanto, os encargos tributários não devem ter expansão significativa em 2017", conclui Silva, pontuando que também não prevê majoração de alíquotas estaduais e municipais.

Recessão

O economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Emilio Alfieri também não prevê muita alteração na carga tributária, mas pondera que 33% sobre o PIB é um encargo pesado para as empresas e para a população em uma conjuntura de recessão econômica. "Uma carga de 33% se torna mais pesada em cima de um PIB mais debilitado", ressalta Alfieri.

Depois de despencar 3,8% em 2015, a expectativa do mercado é que o PIB caia mais 3,6% em 2016 e avance cerca de 0,5% neste ano.

O economista da ACSP pontua, por outro lado, que a arrecadação bruta de tributos tem mostrado aceleração em 2017, em relação ao ano passado. Ele conta que no dia 11 de fevereiro, o placar eletrônico Impostômetro - localizado no centro da cidade de São Paulo - alcançou R$ 300 bilhões. "Em 2016, só chegamos a este mesmo valor no dia 21 de fevereiro. Os montantes diários do Impostômetro em 2016 foram muito parecidos com os de 2015. No entanto, neste ano, já percebemos uma aceleração", informa Alfieri.

"Este movimento aponta para uma recuperação da arrecadação em 2017. Na medida em que a queda da taxa de juros for fazendo efeito na economia, vamos observar uma pequena retomada do consumo. Como nossa estrutura tributária é muito balizada em consumo, o impacto dessa retomada será sentido na arrecadação."

Alfieri lembra ainda que a arrecadação bruta de impostos nos anos de 2015 e 2016 alcançou cerca de R$ 2 trilhões. "Se a economia crescer mais ou menos 0,5%, é provável que a receita bruta tributária chegue a aproximadamente R$ 2,090 trilhões, o que também não é muito diferente do que o que foi verificado nos dois anos anteriores", prevê.

O tributarista Miguel Silva retoma que uma das únicas mudanças tributárias em 2016 foi a majoração da alíquota da contribuição previdenciária patronal sobre o faturamento. "Porém, esta medida teve pouco impacto na carga tributária brasileira. Além de você poder optar se vai contribuir sobre o faturamento ou sobre 20% da folha, é uma legislação que contempla poucas atividades econômicas domésticas", finaliza o especialista.

Fonte: Aqui

Bankia

Logo após a crise financeira de 2008, a Espanha tomou algumas medidas para reestruturar seu sistema financeiro. Uma delas foi a criação do Bankia, a partir da fusão de sete “cajas de ahorros” (Madri, Bancaja, Canárias, Ávila, Segóvia, Laietana e Rioja). A entidade resultante seria responsável pela gestão de 340 bilhões de euros em ativos.

Em razão das exigências do acordo da Basileia, a nova instituição resolveu captar recurso no mercado acionário. Entretanto, naquele momento, a qualidade dos ativos do Bankia era duvidosa. Na época, em abril de 2011, um grupo de inspetores advertiu que o Bankia era inviável. Mesmo assim, teve-se o lançamento das ações do banco, acompanhada de imensa campanha publicitária e sustentação da empresa Deloitte. Um ano depois tornou-se necessário um aporte de capital adicional de um fundo de reestruturação bancária criado pelo governo espanhol para ajudar as instituições financeiras. Junto, a renúncia do ex-chairman Rodrigo Rato. Dias depois, anuncia-se a nacionalização da controladora do Bankia, tendo o governo espanhol aumentado sua participação na instituição para 45%. As ações da instituição foram suspensas e mais recursos públicos foram despejados na entidade. Ainda em maio de 2012 o Bankia refaz seus cálculos do ano anterior e o que era lucro tornou-se prejuízo.

O lançamento da oferta pública de ação não foi esquecido. Agora, um tribunal do país chamou para depor reguladores que não fizeram nada para impedir que o Bankia enganasse os investidores: diretores do Banco da Espanha e o ex-presidente da CVM espanhola. Durden exclama: “esta semana um tribunal quebrou a tradição [dos reguladores serem intocáveis, imunes, invioláveis e impunes], de forma enfática”

No passado comentamos da multa aplicada à Deloitte e da ameaça de perder a licença. A Deloitte não era somente responsável pela auditoria, mas também por ajudar na estruturação da contabilidade e no lançamento da oferta pública de ação. Recebeu mais de 300 milhões de euros por seus trabalhos antes da oferta pública. Ou seja, a empresa de auditoria construiu o balanço e depois auditou.