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14 março 2025

Fake news e informações contábeis

Muito interessante:


Apresentamos evidências empíricas sobre o papel das informações contábeis na formação dos incentivos para a produção de fake news. Documentamos que os autores de fake news estrategicamente (1) publicam seus artigos próximos aos anúncios de resultados, aproveitando a ampla atenção do mercado que esses eventos atraem e (2) dentro desse período, evitam publicar após o anúncio, quando os investidores estão menos suscetíveis a fake news devido à divulgação das informações contábeis.

Ao expandir nossas análises para o ambiente mais amplo das informações contábeis, constatamos que os autores de fake news são menos propensos a mirar em empresas com informações contábeis mais robustas e geram reações menores no mercado quando o fazem. Esses resultados destacam os papéis ex-ante e ex-post das informações contábeis na proteção das empresas contra a desinformação financeira.


Telefone sem fio das notícias financeiras


Examinamos como as notícias financeiras são distorcidas à medida que se espalham por diferentes veículos de imprensa, de forma semelhante ao "telefone sem fio". Utilizando uma amostra de artigos exclusivos do Wall Street Journal, empregamos o ChatGPT-4 para quantificar o viés de transmissão à medida que veículos concorrentes recontam essas histórias. Encontramos fortes evidências de que os artigos recontados tendem a ser mais opinativos e negativos, além de menos factuais e atraentes em comparação com a história original. A especialização reduzida dos veículos de imprensa, o maior intervalo de tempo entre a publicação original e sua recontagem, e a presença de narrativas concorrentes de outros meios de comunicação contribuem para essa distorção. A distorção midiática prevê negativamente os retornos anormais do mês seguinte, sugerindo que o viés de transmissão cria uma percepção pública mais forte e pessimista da história original. Esse viés afeta principalmente investidores de varejo e leva a um maior desacordo entre traders sofisticados e não sofisticados.

Fonte: aqui. Imagem: aqui

13 março 2025

Responsabilização climática

Enquanto o tema parece estar em retração em algumas partes do mundo, em outras, a pauta ainda é relevante e pode trazer consequências para as empresas poluidoras. No final de dezembro de 2024, o estado de Nova York aprovou uma lei que entrará em vigor em 2028. A legislação prevê a análise das emissões de carbono das grandes empresas nos primeiros 19 anos do século, com o objetivo de reparar os danos causados.


Em outras palavras, as empresas com maior impacto no problema climático serão responsabilizadas financeiramente. O montante a ser pago pode alcançar 3 bilhões de dólares por ano, e o dinheiro arrecadado será utilizado para cobrir os custos das mudanças climáticas. O estado de Nova York segue o exemplo de Vermont, que já havia aprovado uma lei semelhante no início de 2024. No entanto, como o peso econômico do primeiro é maior que o do segundo, o destaque acabou recaindo sobre aquela que seria a décima economia do mundo.

Há controvérsias sobre a medida, e uma potencial reação das empresas é esperada. No entanto, fico imaginando se as companhias que poderão arcar com essa dívida não terão incentivo para omitir ou distorcer informações sobre sustentabilidade, já aprovadas ou em elaboração pelos reguladores.

Fonte: aqui . Imagem: aqui

Como a não checagem de informações comprometeu uma revista

Saiu na Revista Pesquisa FAPESP: “Uso de e-mails falsos leva à retratação de 45 artigos de pesquisadores brasileiros: Avaliação por pares foi comprometida: três revisores indicados por autor não eram quem pareciam ser”. 

O caso ousado envolveu um biólogo “altamente produtivo”, do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), que acabou tendo 45 de seus artigos invalidados pela Science of the Total Environment (Elsevier), após descobrirem que ele enviou sugestões de possíveis revisores do trabalho com e-mails falsificados. Esses pareceristas renomados e realmente existentes, tiveram contas falsas criadas por “terceiros”. 

O autor nega qualquer envolvimento na manipulação dos pareceres, alegando que apenas forneceu sugestões de contatos, com base em informações antigas, coletadas de uma plataforma de publicações chinesa. Porém, ao ser solicitado, não conseguiu recuperar a origem dos dados. 

A questão vai um pouco além: a revista aceitou as contas de e-mail, há anos sem verificar a veracidade, o que comprometeu a integridade do processo de revisão.

Fonte da imagem: aqui

Multa de Big Four. De novo.

Fonte da imagem: aqui

Eu até tentei dar um tempo das Big Four, mas elas estão com tudo nas manchetes atuais.

Desta vez a Susep (Superintendência de Seguros Privados) noticiou a aplicação de penalidades envolvendo a Ernst & Young (EY) e sua auditoria sobre as demonstrações do IRB Brasil Resseguros. Os grifos são nossos:
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) concluiu, em reunião ordinária do Conselho Diretor realizada ontem (12), a análise de dois processos administrativos sancionadores relacionados à auditoria atuarial independente das demonstrações financeiras do IRB Brasil Resseguros S/A referentes a 31 de dezembro de 2019. Como resultado, foram aplicadas penalidades à Ernst & Young Serviços Atuariais S/S (EY) e a três profissionais que atuaram na auditoria, em razão de indícios de descumprimento de normativos regulatórios.

Trata-se de processos administrativos sancionadores submetidos ao Conselho Diretor da Susep para juízo de confirmação do julgamento realizado pela Coordenação Geral de Regimes Especiais, Autorizações e Julgamentos – CGRAJ, e as decisões ainda estão sujeitas a recurso.

As análises conduzidas pela Susep indicaram que a auditoria atuarial realizada não teria observado elementos que exigiam maior diligência na avaliação das provisões técnicas do IRB RE. Há indicativos de que documentos e informações disponíveis à época poderiam ter sinalizado inconsistências que não foram devidamente refletidas no parecer atuarial emitido.

Em um dos processos, o Conselho Diretor da Susep entendeu que havia elementos que indicam falhas na avaliação da adequação da Provisão de Sinistros a Liquidar (PSL) e da PSL "Legal Cedents". Em outro processo, foram identificados indícios de que o parecer atuarial foi emitido antes da conclusão de análises relevantes, sem apontar ressalvas sobre informações que ainda estavam pendentes de esclarecimento.

Considerando os elementos analisados, foram aplicadas penalidades de multas que ultrapassaram o montante de R$1 milhão de reais, além da inabilitação de um dos auditores para o exercício de cargo ou função pelo período de 4,4 anos (1.606 dias). A empresa de auditoria atuarial, EY, responde solidariamente pelo pagamento das multas aplicadas aos profissionais.

A Susep reforça que as decisões ainda estão sujeitas aos trâmites recursais e ressalta a importância da atuação diligente das auditorias independentes na verificação das provisões técnicas das entidades supervisionadas, em linha com os normativos vigentes e as melhores práticas do setor.
Além disso, em outubro de 2024, a PwC (PricewaterhouseCoopers) foi multada pela Susep em mais de R$ 2 milhões também por auditorias inadequadas relacionadas às demonstrações contábeis do IRB. Segundo a Susep, os processos ainda transitam pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), podendo ter novos desdobramentos.

Boa vontade dos clientes

Pedro Demo, das obras de metodologia, escreve com muita regularidade sobre muitas coisas. Em recente artigo, ele conta um pouco da história de Datini, um marco na contabilidade mundial: 


Exemplo disso foi Francesco di Marco Datini, que virou comerciante bem-sucedido, com a história de suas aventuras fora da Itália (era de Prato), na Ilha Canária. O rei lá o convidou para jantar. Havia na mesa guardanapos e neles um taco do tamanho do braço, cuja finalidade era enigmática. Sentando-se à mesa, quando a comida foi posta, o odor atraiu ratos de todos os cantos; o taco era para os espantar. No dia seguinte, o comerciante trouxe do navio uma gata e, logo, ela matou 25 ratos e os outros fugiram. O rei ficou impressionado, enquanto Datini o presenteava com a gata. Ao deixar a ilha foi coberto de presentes, sobretudo joias, valendo 4 mil escudos. Voltou no ano seguinte, levando um gato doméstico – que lhe rendeu 6 mil escudos. Ficou rico (AR:L2870). Comentam AR que a história pode ser forjada, pois não há registro da viagem às Canárias. Datini nasceu de taberneiro pobre, em 1335. Com 13 anos, a Peste Negra varreu a Itália, e sua mãe, seu pai e seus dois irmãos morreram. Só ele e seu irmão Stefano sobreviveram, com pequena herança: uma casa, um pedaço de terra e 47 florins.

Um ano depois da morte do pai, Datini mudou-se para Florença, virou aprendiz de lojista e ouvia histórias de cidades prósperas de Avignon, no sul da França. Lá estava residindo o Papa (por disputa sucessória), e a presença papal agitava o mercado local, do qual comerciantes italianos se aproveitavam. Grande parte do comércio de luxo e serviços bancários eram de famílias italianas, vivendo em bairro exclusivo na cidade. Com 15 anos, Datini vendeu seu terreno em Prato e se mudou para lá. Em 1361, com 26 anos, era sócio de dois toscanos, Toro di Berto e Niccolò di Bernardo. Negociava armamentos para os dois lados do conflito. Em 1368, sua contabilidade registrava a venda de armas em 64 libras para Bernard du Guesclin, comandante militar francês. No mesmo ano, houve venda enorme de armas para a comuna de Fontes, para se proteger contra Guesclin. Em 1363, Datini teve a primeira loja, comprada por 941 florins, com outros 300 pagos pela "boa vontade dos clientes". Em 1367, renovou a parceira com Toro di Berto, investindo cada um 2,5 mil florins de ouro, com três lojas. Em 1376, comercializava sal e lançou operador de câmbio, incluindo comércio de prataria e obras de arte. Abiu taverna de vinho e um armarinho, e enviou funcionários para negociar em lugares mais distantes, como Nápoles. Sua principal loja em Avignon tinha cintos de prata florentina e anéis de casamento de ouro, peças de couro, selas e arreios de mula da Catalunha, utensílios domésticos de toda a Itália, lençóis de Gênova, fustão de Cremona, e zendado escarlate, tecido especial de Lucca. A loja em Florença surgiu como eixo movimentado de produtos manufaturados à época e tinha tecido de lã branco, azul ou cru; linhas de costura, cortinas de seda e anéis de cortina; toalhas de mesa, guardanapos e grandes toalhas de banho; baús pintados à mão e porta-joias usados como dote da noiva.

Voltando de Avignon em 1382, montou negócio em Prato e Florença com filiais em Pisa, Gênova, Barcelona, Valência e Ibiza. Com diferentes empórios moviam-se ferro, chumbo, alumínio, cativos e temperos da Romênia e do Mar Negro; lã inglesa de Southampton e Londres; trigo da Sardenha e da Sicília; couro de Túnis e Córdoba; seda de Veneza; uva passa e figos de Málaga; amêndoas e tâmaras de Valência; maçãs e sardinhas de Marselha; óleo de oliva de Gaeta; sal de Ibiza; lã espanhola de Maiorca; da Catalunha, laranjas, óleo de oliva e vinha. Documentos de negócio têm cartas em latim, francês, italiano, inglês, flamengo, catalão, provençal, grego, árabe e hebraico. De comerciante, passou a produzir tecidos em Florença, comprando lã inglesa e espanhola e exportando o tecido pronto. Para AR, Datini fez fortuna sem "nenhum conhecimento, conexões ou capital, e sem a vantagem de contatos, monopólios ou ajuda do governo, exceto pelo contexto institucional amplo criado pelas comunas italianas" (AR:L2909). Revelou mobilidade ascendente vertiginosa, algo temido pela elite tradicional ameaçada. Bispo Otto, tio de Barbarosa, criticava nos genoveses: "não desdenhavam de oferecer o cinto de cavaleiro ou títulos de distinção a jovens homens de status inferior e mesmo a trabalhadores de baixos ofícios manuais, que, em outros lugares, seriam barrados como a praga caso quisessem assumir atividades mais respeitáveis" (Ib.). Reclamava da erosão da hierarquia e normas, embora a corrosão desse sistema fosse fundamental para o desenvolvimento econômico, enquanto permitia que gente simples, mas com talento, chegassem ao topo. 

O negrito é meu. Vocês sabem qual o termo que usamos hoje no lugar do negrito?

Tecnologia pode colocar em risco grandes empresas de energia

A notícia:


O plano da China de construir uma enorme usina solar no espaço poderia gerar mais energia em um ano do que todas as reservas remanescentes de petróleo da Terra. O painel solar de 0,6 milha de largura proposto, que orbitará 22.370 milhas acima da Terra, superaria as limitações tradicionais de energia solar, como cobertura de nuvens e interferência atmosférica, fornecendo energia limpa contínua.

Conforme relatado no South China Morning Post, o cientista-chefe Long Lehao comparou o significado do projeto a “mover a Barragem das Três Gargantas a uma órbita geoestacionária”. A estação capturaria a energia solar no espaço, onde a luz solar é 10 vezes mais intensa do que na superfície da Terra, e a transmitiria de volta à Terra usando a tecnologia de microondas. 

Outros concorrentes estão com projetos semelhantes, o que inclui empresas privadas ocidentais. Na medida que estudos avancem, uma tecnologia como essa pode eclipsar grandes empresas de energia. Mas acredito que isso esteja ainda muito distante.