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03 janeiro 2007


Países tentam rastrear fortuna de Saddam

Jamil Chade

Investigadores de vários países que tentam traçar o percurso da fortuna de Saddam Hussein lamentaram a morte do ex-ditador. Eles temem perder o rastro do dinheiro, que a revista Forbes estimou em 2003 em pelo menos US$ 2 bilhões - há versões de que seria de US$ 7 bilhões. Na Suíça, nos EUA e em outros países, as buscas continuam. Enquanto isso, governos e grupos já se apresentam como “legítimos herdeiros” dos recursos.

Segundo a empresa de espionagem americana Kroll, Saddam acumulou uma fortuna graças ao tráfico de petróleo, de cigarros e cobrando entrada em lugares santos para xiitas. A Kroll calcula que um volume substancial ainda esteja depositado em contas secretas em paraísos fiscais em nome de sociedades e fundações. De acordo com a Forbes, a fortuna de Saddam chegou a US$ 20 bilhões nos anos 80, mas foi reduzida com as guerras e com o embargo econômico imposto pela ONU ao Iraque após a invasão do Kuwait, em 1990.

Na Suíça, o principal processo aberto em relação ao Iraque se refere ao programa da ONU de troca de Petróleo por Alimentos, que vigorou durante a década de 90 e teria sido a forma que o ex-ditador encontrou para desviar quase US$ 2 bilhões. O programa foi criado pela ONU para possibilitar que o embargo imposto ao Iraque em 1990 não significasse o fim do abastecimento de alimentos para a população. O acordo estabelecia que Saddam poderia vender petróleo em troca de alimentos e remédios.

Mas, nos bancos suíços, parte do dinheiro depositado por empresas de todo o mundo como pagamento por petróleo iraquiano nunca foi transformada em alimento. Alguns dos processos indiciaram executivos de companhias que teriam colaborado com o esquema de corrupção. O problema é que as contas encontradas em diversos países europeus estavam em nome de sociedades ou fundações, que agora estão sendo investigadas para saber quem mais teria direitos sobre os recursos. “A morte de Saddam pode dificultar as investigações, mas os processos que já estão abertos em relação ao programa Petróleo por Alimentos não vão parar”, disse ao Estado um representante da Justiça suíça.

Mesmo que o dinheiro seja encontrado, a disputa não cessará. A outra briga será em relação a quem terá direito a utilizá-lo. Cerca de 40 países se queixam de que as dívidas do Iraque com seus governos e empresas precisaria ser quitada com o dinheiro roubado por Saddam.

Funcionários na ONU defendem que os recursos sejam usados na reconstrução do país.

Nos tribunais iraquianos, um processo que chamou a atenção nos últimos dias é o que foi aberto contra o banco francês BNP Paribas, que teria cooperado com Saddam no desvio de recursos do programa Petróleo por Alimento.


Fonte: Estado de S. Paulo, 03/01/2007

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