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13 agosto 2006

Market timing

Artigo enviado por Ricardo Vianna

"Market timing" e a análise fundamentalista de ações
Letícia Caravaggi
09/08/2006

Comprar ações quando começam a subir e vendê-las no início da baixa é uma regra simples e fundamental para ganhar dinheiro no mercado acionário de qualquer lugar do mundo. Basta saber identificar o início do movimento de alta ou de queda e estar atento à tendência do mercado. Conhecido como "market timing", essa é uma das estratégias amplamente utilizadas por gestores e investidores. O presente artigo não tem a pretensão de discorrer a respeito do sucesso ou não dessa estratégia, mas sim apontar que, para aqueles que seguem a filosofia fundamentalista e almejam retornos de longo prazo, o "market timing" se torna praticamente irrelevante.

A maioria dos praticantes do "market timing" utiliza ferramentas de análise técnica, também chamada de análise gráfica, para a definição de tendências e de padrões de comportamento dos preços com base no passado, os quais direcionarão sua alocação de portfólio. Os gestores fundamentalistas são aqueles que, por filosofia, procuram empresas sub-avaliadas e que, no longo prazo, tendem a refletir o valor justo do negócio. Dentro desse contexto, o "timing" de entrada torna-se pouco importante. Na verdade, para os fundamentalistas, ele está diretamente relacionado à identificação dessas ações e à análise do seu potencial de valorização ("upside"), este sim, fator decisivo para um papel fazer parte da carteira de investimento (estratégia de "stock picking", que consiste na escolha de ações com destacado potencial de valorização através de critérios técnicos e/ou fundamentalista). Desta forma, o investidor que almeja retornos consistentes no médio e longo prazos não deve se ater ao histórico do ativo e ao seu nível atual de preço, mas sim na sua capacidade de gerar resultados ainda melhores no futuro.

Por exemplo, uma ação cujo "upside" é expressivo (expressivo, nesse caso, significa com potencial de valorização necessariamente maior do que o do Índice Ibovespa, caso contrário, não justificaria sua compra) com bons fundamentos, mas que já tenha um passado vitorioso, ainda pode ser uma excelente opção de investimento.

A escolha criteriosa dos ativos é fator determinante para o sucesso dos investimentos. A volatilidade do mercado, entretanto, não deve ser desprezada. Aproveitar-se de distorções exageradas de preços para reforçar ou diminuir a exposição em um determinado papel é uma forma de potencializar o retorno da carteira. Importante deixar claro que não estamos falando em acertar o momento de entrada ou saída, mas apenas giros de curto prazo a partir de oscilações nos "upsides" das ações.

Para seguir essa filosofia fundamentalista, uma análise profunda e cuidadosa das empresas é o trabalho de base que envolve tanto critérios quantitativos como qualitativos. O conhecimento do mercado no qual ela está inserida, sua estratégia, vantagens comparativas e riscos do negócio são essenciais para a definição mais precisa possível do seu valor justo (entenda-se como o valor esperado para os próximos doze meses, descontando o fluxo de caixa projetado ao custo médio ponderado de capital). A utilização de mais de um modelo de avaliação (múltiplos de mercado, fluxo de caixa), aliado ao acompanhamento da empresa e constantes revisões de sua projeção faz com que as chances de sucesso nos investimentos em ações sejam ainda maiores.

Por último, cabe destacar que, em nenhum momento, estamos considerando excludente a utilização da estratégia de "market timing" com a escolha de empresas a partir de análise fundamentalista. A idéia em si é mostrar que, para aqueles que procuram rentabilidade de longo prazo, o importante é saber reconhecer se a ação realmente está sub-avaliada e, por isso, tende a corrigir seu preço ao longo do tempo. Além disso, negar a eficiência e o sucesso dessa estratégia também seria um erro muito grave, principalmente considerando a vasta utilização que ela tem por gestores de renda variável. Investidores, no entanto, devem estar conscientes do seu risco. É preciso, sim, estar atento à volatilidade do mercado, mas tentar antecipar tendências, nesse caso, demanda um esforço irrelevante nesse tipo de investimento.

Letícia Caravaggi é gestora da Focus Invest
E-mail letícia@focusinvest.com.br

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Valor Econômico

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