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20 julho 2014

Entrevista: Vladmir Ferreira Almeida

Vladmir Ferreira Almeida é contador, blogueiro e adora música. Uma de suas paixões é o violão clássico. Ele é o entrevistado deste belo domingo. Agradecemos a companhia Vladmir! *.*

Blog_CF: Vladmir, com quantos anos você começou a tocar violão clássico? Você estudava teoria musical também?
Bom na verdade eu comecei a tocar violão já tarde, aprendendo sozinho, observando alguns amigos. Eu estava com 16 ou 17 anos. Depois de algum tempo entrei na escola de música e passei dois anos estudando teoria musical e iniciação ao violão clássico. Não cheguei a completar o curso porque eu tive que trabalhar, não era possível conciliar. Até hoje guardo alguns livros de teoria musical (Bohumil Med, Ian Guest, Paul Hindemith, entre outros).

Blog_CF: Esperamos que logo você consiga voltar! Como essa paixão surgiu e como ela influenciou a sua personalidade?
Meus pais sempre gostaram de ouvir música popular brasileira e música internacional. Quando eu era criança, no Rio de Janeiro, ouvia muito Djavan, Benito di Paula, Nat King Cole, Clara Nunes, Luiz Gonzaga... Com o tempo, já na adolescência, começou a despertar o meu interesse pelo Rock, principalmente pelos clássicos como: Jimi Hendrix, Pink Floyd, Deep Purple, Led Zeppelin, etc. Após a viagem de mudança para a cidade de São Luis (MA) conheci um rapaz que já tocava violão e nos finais de semana a gente se reunia para curtir algumas músicas. Em certo momento eu pedi o violão dele emprestado. Ele me perguntou se eu sabia tocar e eu disse que não, mas ia aprender. Depois de duas semanas, lendo algumas revistas com canções cifradas, já tocava algumas notas – mesmo com violão desafinado. Foi assim que aprendi: observando e lendo, como comentei anteriormente. Dois anos depois entrei na escola de música. Aprendi teoria musical, solfejo e ritmo. Acabei conhecendo outros grandes músicos como: Egberto Gismonti, Paco de Lucia, Hermeto Pascoal, Kazuhito Yamashita, Fabio Zanon, Hélio Delmiro, Charlie Haden, Witold Lutoslawski, J. S. Bach, Chopin, Vivaldi, Tchaikovsky, Heitor Villa Lobos, Turíbio Santos, Rafael Rabelo, Nana Vasconcelos,... , juntamente com vários outros. Ainda cheguei a trabalhar tocando em alguns bares e até mesmo em algumas bandas, mas foi por pouco tempo. Uma coisa que a música ensina muito bem é a dedicação pelo que você faz. A procura pela “perfeição” na execução de cada nota, e mesmo nos estudos com partitura, é uma coisa fantástica.

Blog_CF: Como a sua vida na contabilidade se iniciou e como você vê a disciplina que tinha ao estudar música ter te ajudado como aluno em outras áreas?
Eu sempre gostei de números e comecei a trabalhar cedo – até para ajudar nas despesas de casa. Meu primeiro trabalho de carteira assinada foi no setor de contabilidade de uma empresa. Foi nesse momento que tive os primeiros contatos com a contabilidade básica - lançamentos contábeis, folha de pagamento, plano de contas, conciliação bancaria, etc. Em seguida tive contato com serviço na área de orçamento, centros de custos e projetos. Após alguns anos de trabalho comecei o meu curso de graduação em contabilidade e logo em seguida a minha especialização. Acho que a disciplina no estudo da música me ajudou na minha compreensão sobre a contabilidade, principalmente no aspecto da concentração.

Blog_CF: O que a contabilidade significa pra você?
Eu acho que significa relação e equilíbrio - não só para as contas e seus valores, mas para vida! Quando você está elaborando um balancete você cria RELAÇÕES entre pontos que, a priori, não são comuns. Como, por exemplo, no pagamento de uma obrigação - há um fornecedor (passivo) e a sua conta corrente (ativo). Dessa relação aparece o equilíbrio (método das partidas dobradas) - lançamentos. A partir do equilíbrio você pode tomar uma decisão de forma mais clara – o balancete. Essa é uma forma simples de demonstrar que objeto de estudo da contabilidade não é só o patrimônio das empresas, mas o maior de todos os patrimônios, a vida!

Blog_CF: Como você se tornou blogueiro e como afeta a sua vida? 
Sempre gostei de compartilhar informações. A forma que eu utilizava para mandar algo novo de contabilidade para os meus amigos, ou algum outro assunto importante para qualquer profissional dentro da empresa (comunicação, liderança, relacionamento interpessoal,...), era através de e-mail. Como eu mandava muitos artigos a minha caixa de saída do correio eletrônico ficava muito pesada e eu tinha que apagar boa parte das informações. Foi nesse momento, em 2009, que tive a ideia de criar um blog aonde eu pudesse colocar todas as informações que eu achava importantes e um único lugar aonde todos pudessem ver. Outro ponto fundamental para a elaboração do blog foram os links para acessar algum site importante. Às vezes você não se lembra de algum endereço eletrônico essencial para o seu trabalho ou para alguma pesquisa acadêmica. Com a página centralizei tudo isso.

Blog_CF: Qual é o balanço desses anos como blogueiro?
Após cinco anos de blog as minhas maiores satisfações, como blogueiro, foram:
- O conhecimento adquirido nesse espaço de tempo;
- As novas amizades, principalmente dos meus queridos amigos blogueiros: Isabel Sales, Cesar Tibúrcio (Mohamed), Alexandre Alcântara, Claudia Cruz, Pedro Correia, Orleans Martins, Augusto Cezar, Polyana Silva, Thiago Pena, Vinicius Gomes, Marcelo Paulo, Luiz Felipe, entre outros.

Blog_CF: Que dicas e conselhos você daria a quem pretende começar um blog?
A primeira coisa e gostar muito do assunto que você irá abordar. Ter um blog exige muito dedicação. Periodicamente você tem que acompanhar os assuntos mais relevantes da área;

Outra coisa importante é ser o mais especifico possível. No meu caso, em especial, eu tenho que compartilhar vários assuntos diferentes (Contabilidade, Gestão financeira, Auditoria, Economia, Controladoria e Empreendedorismo) e isso requer um tempo maior para tratar tudo;

Evite textos longos; Utilize outras formas que não sejam apenas textos como, por exemplo, vídeos; Compare seu blog com outros blogs que tratem do mesmo tema; veja o que pode ser comentado, melhorado e aprendido.  E tenha tempo! Blogar exige o empenho de vária horas semanais.


19 julho 2014

Rubem Alves

Eu sou fã. Gosto dos textos dele, me identifico com o discurso aparentemente sem foco, admiro as ideologias que ele tinha relacionadas à educação. Rio, penso, choro e me emociono. Fico triste por essa perda. Por não ter mais textos seus fresquinhos. Descanse em paz.

Escolinha de Futebol

O jornal New York Times (via aqui) faz uma narrativa sobre a escola de futebol Aspire Football Dreams. O programa escolheu entre 3,5 milhões de garotos em diferentes países da África. Os melhores foram mandados para viver e morar em duas academias: uma em Doha, Catar, e outra no Senegal. Os garotos recebem educação e tem seus gastos custeados; sua família também recebe um dinheiro. Os centros são assessorados por profissionais com experiências em clubes europeus de futebol. Parece bom demais para ser verdade.

Aspire é bancado pelo governo do Catar. Qual a razão do governo deste país fazer isto? O Catar irá sediar a Copa de 2022 e seu time é muito fraco. (É bem verdade que isto não é uma boa razão, já que o Brasil sediou a Copa de 2014) Mas a naturalização maciça de jogadores pode gerar desconfiança e foi descartada pelos dirigentes da Aspire. Segundo eles, a academia poderá contar com alguns garotos do Catar, que aprenderiam futebol com os melhores futuros jogadores do mundo. (Nada impede da Aspire naturalizar um ou dois grandes craques; isto não despertaria suspeita)

Outra possibilidade é que Aspire pode estar vinculada a corrupção. A votação que escolheu Catar como sede do mundial de 2022 foi questionável pela compra de votos. Segundo o jornal, das 24 nações que compõe o comitê executivo da FIFA, cinco são países que Aspire está operando.

Rir é o melhor remédio




Fato da Semana

Fato: Crime e Castigo. Dias com anúncios diversos de punição para quem saiu da linha.

Qual a relevância disto? Acreditamos que as pessoas más pagam neste mundo pelos seus atos. Esta é a Falácia do Mundo Justo; mas as pessoas más geralmente se safam sem sofrer as consequências. Nos últimos dias diversas notícias indicavam que “pessoas más” estavam sofrendo pelos seus atos. O Citigroup pagou 7 bilhões pela crise imobiliária; a EY foi multada por fazer lobby para clientes que deveria auditar; a Price não conseguiu se safar, por enquanto, das barbeiragens do MF Global, podendo levar um multa bilionária; e dois banqueiros envolvidos em falcatruas foram condenados.

Positivo ou Negativo? Para quem “anda na linha” é bom saber que “aqui se faz, aqui se paga”. Queremos que o mundo seja justo.

Desdobramentos: Será que isto irá continuar? O cínico irá insistir que a falácia existirá sempre. O esperançoso pensa que o mundo hoje é mais justo que o de ontem.

Sobre a Falácia do Mundo Justo vide o capítulo 18 do livro “Você não é tão esperto quanto pensa”, de David Micraney.

Qual ação de país emergente devo comprar?

SÃO PAULO - Com base em critérios macroeconômicos e perspectivas de crescimento de longo prazo, o banco alemão Deutsche Bank escolheu um grupo de dez ações de empresas de países emergentes que devem apresentar um bom crescimento no prazo de dez anos. Nessa seleta lista, apenas uma companhia brasileira, o Itaú Unibanco, foi escolhida como capaz de atrair investidores no longo prazo, mesmo com o baixo crescimento esperado para o Brasil no período.

Para o banco alemão, os países emergentes que são grandes produtores de matérias-primas não vão mais se beneficiar, como nos últimos anos, do aumento do preço das commodities no mercado internacional. “Um maior investimento é necessário para promover um crescimento mais rápido da produtividade e uma diversificação para outras áreas da atividade econômica. Além disso, Brasil, Rússia e África do Sul não sinalizaram nenhum sinal de urgência em responder à nova realidade econômica, e o seu desempenho econômico provavelmente irá refletir isso”, afirmaram, em relatório, a equipe de analistas da instituição.
No cenário traçado pelo Deutsche Bank, as grandes economias emergentes serão as mais afetadas, apresentando um crescimento mais fraco. A recuperação da atividade econômica nos países desenvolvidos também fará com que os emergentes tenham um fluxo menor de investimentos. Outro ponto observado é que algumas economias terão que lidar com as demandas populares que foram criadas nos anos de crescimento mais forte.

No caso específico do Brasil, os analistas veem como esgotado o crescimento baseado no consumo que foi sustentado pelo aumento do preço das matérias-primas no exterior. O crescimento potencial da economia brasileira na avaliação do banco está abaixo de 2%. A justificativa é que a taxa de investimento, que não chega a 20%, é a menor entre os mercados emergentes, além da falta de investimentos em infraestrutura e o comportamento da dívida pública.

AS ESCOLHAS

De acordo com o relatório, Brasil Rússia, África do Sul, Hungria e Egito devem apresentar crescimento baixos ou muito baixos nos próximos dez anos. Estão no grupo dos emergentes que terão crescimento alto ou muito alto a China, Índia, Turquia e os países da Europa Central. O banco destaca ainda o desenvolvimento que deve ser alcançado por México, Chile, Colômbia e Peru. Outros destaques são o Catar, Arábia Saudita e Nigéria.
Das dez empresas escolhidas, o Itaú Unibanco é a única brasileira. A aposta é que a instituição financeira conseguirá manter uma rentabilidade ao redor de 20% nos próximos dez anos, com crescimento de dois dígitos nos resultados. “Enquanto o crescimento potencial no Brasil não é tão alto quanto costumava ser, ainda há espaço para o Itaú crescer em um ritmo saudável, melhorando a eficiência e gradualmente expandindo para as regiões de maior crescimento na América Latina”, diz o relatório, lembrando que o Itaú possui atuação na Argentina, Chile, Colômbia, México, Paraguai, Peru e Uruguai.
Da América Latina, foram indicadas ainda a chilena CCU, principal concorrente da Ambev na região, e o Credicorp, que atua no setor bancário no Peru. Dos setores, o bancário é o com maior número de indicações, somando cinco ao total, seguido por varejo e bebidas (duas cada). O setor de mídia tem apenas uma recomendação.

Conheça as indicações de longo prazo do Deutsche Bank:

Empresa
Setor
País
CCU
Bebidas
Chile
Coca Cola Icecek
Bebidas
Turquia
Credicorp
Bancário
Peru
First Gulf Bank
Bancário
Emirados Árabes Unidos
Garanti Bank
Bancário
Turquia
Itaú Unibanco
Bancário
Brasil
Lenta
Varejo
Rússia
Magnit
Varejo
Rússia
Naspers
Mídia
África do Sul
Sberbank
Bancário
Rússia


Fonte: aqui

Messi é o maior contribuinte do fisco espanhol

O jogador Messi tornou-se o principal contribuinte do fisco espanhol, com um pagamento de 53 milhões de euros, segundo o jornal La Vanguardia. Isto ocorre depois de uma série de problemas do jogador com o fisco espanhol, conforme já postamos aqui. O valor refere-se aos salários e os direitos de imagem, de 2013 e dos anos anteriores, que não tinham sido declarados.

18 julho 2014

Rir é o melhor remédio


Entrevista com James Robinson

Entrevista James Ronison

Por Pieter Zalis

O inglês, autor do livro Por que as Nações Fracassam, acha que o Brasil já conquistou uma democracia madura, mas alerta para o fato de que a sociedade está à frente dos políticos

O economista James Robinson vai na contramão do mau humor global em relação ao Brasil. Professor da universidade americana Harvard, ele ganhou os holofotes internacionais com o livro Por que as Nações Fracassam, lançado pela editora Elsevier em 2012. Sua tese é que o fortalecimento das instituições diferencia os países de sucesso daqueles que naufragam. É sobretudo com base nesse argumento que Robinson reafirma seu otimismo em relação ao Brasil, "a democracia mais madura da América Latina". Sobre o desencanto da população com seus representantes, evidenciado nas manifestações de junho do ano passado, ele afirma que isso apenas atesta o amadurecimento da nação:"Os brasileiros estão com o senso crítico mais aguçado". Robinson concedeu a VEJA a seguinte entrevista.

Há dois anos, o senhor disse que o Brasil estava prestes a ultrapassar a fronteira das nações fracassadas rumo aos países prósperos. Continua acreditando nisso?

Sem dúvida. O Brasil é o melhor exemplo de sucesso da América Latina. Muitos criticaram minha percepção, mas trabalho com fatos: vocês tiveram uma queda significativa da desigualdade e da pobreza, aumento no acesso à educação e diversos sinais de amadurecimento da democracia — a começar pelo surgimento de uma nova classe média, que passou a reclamar a melhoria da qualidade dos serviços públicos. O Brasil também passa a dar mostras de que quer o fim do clientelismo político.

O senhor se refere à condenação de políticos no julgamento do mensalão?

Sim. Esse processo deixou uma mensagem clara: ninguém é intocável. Isso não é pouco — evidencia a força do sistema judicial do país, sua autonomia em relação aos políticos e o fato de que o Estado de direito está em pleno vigor.

Pesquisas mostram que é grande a insatisfação dos brasileiros com a classe política. Que consequências isso pode ter para a democracia?

Não vejo nenhuma ameaça. Há uma distinção entre a percepção que se tem das instituições e a das pessoas que no momento as representam.

Mas um levantamento recente mostrou que 24% dos eleitores não têm candidato e 68% não têm preferência por partido. É o maior índice desde o início do levantamento, em 1989. Isso não é preocupante?

Esse número indica simplesmente que o brasileiro está com o senso crítico mais aguçado. A mensagem é que os políticos precisam abdicar de seus interesses pessoais e se aproximar dos interesses dos eleitores. Trata-se de um processo longo de reaproximação — políticos e partidos em geral levam mais tempo para compreender as mudanças de anseios da sociedade. O Partido Trabalhista inglês, por exemplo, demorou 25 anos para perceber que os eleitores não compactuavam mais com uma esquerda sindical, trabalhista. Esperavam uma esquerda mais liberal, que conciliasse os ganhos sociais com o capitalismo e o livre mercado. Mas foi apenas em 1994 que Tony Blair surgiu com a ideia da terceira via.

Dois anos atrás, muitos concordariam com seu otimismo em relação ao Brasil. Hoje, porém, parece haver um pessimismo crescente entre os analistas internacionais.

Concordo que há problemas no Brasil, mas considero-os superficiais e inseridos num processo mais profundo de transformação. O sucateamento da indústria e o aumento da intervenção do Estado na economia são fatos concretos. Mas, olhando de uma perspectiva de longo prazo, o Brasil está na direção correta e à frente de outros países latino-americanos. As evidências sugerem que a democracia é o sistema que mais promove o desenvolvimento econômico. Então, se tomarmos o caso da Colômbia, por exemplo, o país hoje favorito dos economistas, veremos que o Brasil está em larga vantagem. Dez anos atrás, forças paramilitares colombianas conseguiram eleger um terço dos legisladores e congressistas. Nas últimas eleições locais, 48 candidatos foram assassinados. É um sistema que exclui parte da população do processo político e que resulta em um progresso muito menor. Do ponto de vista da economia, podemos comparar o Brasil com o Chile, outro paradigma de país promissor, na avaliação de muitos economistas. Mas o Chile depende mais do que o Brasil de produtos primários na sua pauta de exportações. Então, apesar dos problemas, o Brasil segue como o principal candidato a atingir o mais alto patamar de progresso na região.

A respeito da relação entre democracia e desenvolvimento econômico, o que explica o enriquecimento da China?

O sucesso chinês é reflexo do fortalecimento dos seus pilares econômicos. O país abriu suas fronteiras para o mercado internacional e fez investimentos na produção agrícola, industrial e em tecnologia. Esse crescimento, porém, tem prazo de validade, assim como ocorreu na União Soviética. É impossível manter um padrão de crescimento sem participação política da sociedade. Por decreto, Josef Stalin moveu recursos e mão de obra do campo para a indústria. Por meio desse sistema, os bolcheviques conseguiram criar um Estado com crescimento anual do PIB de 6% durante 32 anos. Mas, sem a inclusão política da sociedade, o sistema se esgotou e implodiu. A China pode estar indo pelo mesmo caminho e exaurindo seu potencial autoritário.

Parodiando o título de seu livro, por que as nações fracassam?

Fracassam porque não constroem instituições políticas e econômicas de qualidade capazes de criar oportunidades de crescimento para as pessoas. As nações que fracassam são dominadas por aquilo que chamo de instituições econômicas extrativistas — que concentram poder e renda nas mãos de um grupo pequeno de pessoas. Elas são o oposto das instituições econômicas inclusivas, que permitem que a riqueza seja disseminada pela sociedade. Ocorre que, para criar instituições econômicas inclusivas, é necessário ter instituições políticas igualmente inclusivas — ou seja, instituições que representem um amplo leque de interesses e não que existam apenas para proteger os interesses de um pequeno grupo, caso das instituições políticas extrativistas. Em um exemplo extremo, estamos falando das diferenças que existem entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul.

Com base em que o senhor afirma que diferenças culturais e determinismos geográficos não são tão importantes quanto as instituições para criar condições de desenvolvimento?

Trata-se de uma conclusão empírica. Eu trabalhei muito na África e jamais consegui comprovar, como defende o economista americano Jeffrey Sachs, que a malária seria responsável pelo subdesenvolvimento do continente. O que há claramente em toda a África, e que emerge como um obstáculo comum ao desenvolvimento dos países, são instituições que privilegiam determinadas classes políticas em detrimento do bem-estar geral.

O senhor foi contratado pelo governo colombiano para ajudar no processo de negociação de páz com as Farc. Como pretende fazer isso?

Na realidade, estou preocupado com o cenário que vai se desenhar quando o processo de paz se concretizar. Venho conversando com membros do governo e sempre digo que o simples fato de desmobilizar as Farc não será suficiente para resolver o problema da Colômbia. É verdade que o país prosperou economicamente na última década, mas ainda enfrenta uma séria dificuldade: nenhum governo quebrou o sistema de governança que criou os problemas fundamentais do país.

Como funciona esse sistema?

Na Colômbia, há uma forma indireta de governar que foi muito comum durante o período dos impérios europeus. A elite política, moradora de áreas urbanas, delega a administração do interior e das periferias às elites locais, que têm liberdade para governar do jeito que bem entendem. Essa forma de administrar criou o caos — e favoreceu a ilegalidade. Sem mudar essa estrutura, o progresso da Colômbia fica comprometido.

O que o senhor pensa da teoria do economista francês Thomas Piketty, autor do best-seller O Capital no Século 21, de que a desigualdade aumentou no mundo nos últimos duzentos anos e que, portanto, é necessário mais controle do Estado sobre os mercados?

O livro de Piketty é estúpido e representa tudo o que critico. Ele esquece como a política influencia a economia. Há tanta coisa errada que eu nem sei por onde começar. Pesquisei a realidade de países muito diferentes entre si. Fiz diagnósticos distintos sobre cada um. Mas Piketty põe tudo no mesmo saco. Como posso deixar de lado as diferenças históricas entre América Latina e América do Norte? As instituições latinas são muito menos democráticas que as americanas. E como o capitalismo da Suécia pode ser comparado ao da Colômbia? Você acha que os problemas brasileiros serão resolvidos com mais impostos sobre os negócios dos empresários locais, como ele defende? Entendo esse livro como um projeto político em favor do socialismo, e não como um projeto científico. Nas ciências sociais, testamos hipóteses. Piketty não testou nada.

O senhor afirma que, para se desenvolverem, os países têm de passar por um processo de destruição criativa. O que isso significa?

Para haver progresso político e econômico, é preciso tomar atitudes inovadoras, acolher novas ideias. Isso é destrutivo no sentido de que deixa para trás não apenas tecnologias mas formas ultrapassadas de fazer política também. Cito um exemplo: para dar início à Revolução Industrial, a Inglaterra teve de passar pela Revolução Gloriosa, que tomou seu sistema político mais aberto e barrou um eventual regresso do absolutismo. Isso permitiu o surgimento de um regime baseado em uma Constituição que representava as demandas de um Parlamento plural. Em seguida, vieram as leis de propriedade intelectual, e as barreiras para a expansão do mercado financeiro e da indústria caíram. A expansão industrial surgiu somente nesse contexto. É o tipo de processo que tende a ser muito desestabilizador socialmente — e que muitas vezes emperra na resistência de formas ultrapassadas de poder, caso em que os países não conseguem progredir.

Na sua opinião, até quando os Estados Unidos continuarão a ser a principal potência global?

Até quando conseguirem manter a força de suas instituições. Embora não seja o único, um aspecto muito importante para o protagonismo dos Estados Unidos é a maneira como a sua população absorve pessoas de todas as partes do mundo. As melhores universidades do país estão repletas de estrangeiros, assim como o Vale do Silício. Nos Estados Unidos, a inclusão é muito mais forte do que em qualquer outro lugar do planeta, o que cria vantagens econômicas significativas. Enquanto isso, na Europa, ganham força partidos que defendem a imposição de restrições à imigração.

Por que motivo esses partidos, contrários à União Européia e suas instituições, foram os grandes protagonistas nas últimas eleições?

No caso de países do sul da Europa — Grécia, Espanha e Itália —, creio que estão descobrindo que seu modelo institucional é incompatível com o da União Européia. Eles aderiram a uma fórmula muito diferente da de sua estrutura interna. Esses países do sul estão muito mais próximos do modelo latino-americano. Quanto aos partidos que você citou, a principal bandeira deles está relacionada à xenofobia, e não a um ataque às instituições democráticas. Políticos exploram o nacionalismo para criar coalizões. Esses movimentos costumam ganhar força nos momentos de crise registrados nos ciclos do capitalismo. As instituições europeias são muito robustas para deixar acontecer um colapso institucional. Por isso, a situação atual não me preocupa muito. Será tudo passageiro.

Revista Veja

Industria Automobilística, lobby e IPI

Maior exemplo da política de benefício setorial do governo, a indústria automobilística remeteu às suas matrizes US$ 18,713 bilhões de 2009 – ano em que a renúncia fiscal começou – até maio de 2014. O governo, por outro lado, terá deixado de recolher nesses cinco anos R$ 16,136 bilhões, pelos cálculos da Receita Federal. É como se o gasto do governo estivesse subsidiando a operação das matrizes dessas empresas, as mesmas que ameaçam demitir trabalhadores brasileiros caso o benefício seja encerrado e que representam a contramão da mobilidade sustentável.

A vitória mais recente do lobby automotivo foi celebrada em 30 de junho, quando o governo cedeu às pressões de corte de vagas ao anunciar a extensão do IPI reduzido para os carros novos por mais seis meses. Os veículos 1.0, por exemplo, recolhem apenas 3%, menos da metade dos 7% do tributo cheio. Apenas nos primeiros seis meses de 2014, a renúncia gerou um custo de R$ 2,185 bilhões para as contas públicas. 

Na estréia do programa, em 2009, o IPI reduzido custou ao governo R$ 4 bilhões. Naquele mesmo ano, a indústria automobilística aproveitou para enviar ao exterior US$ 2,727 bilhões (o equivalente a R$ 4,75 bilhões no fechamento do dólar em 2009). O maior volume remetido às sedes no período de vigência dos benefícios fiscais ocorreu em 2011: foram US$ 5,581 bilhões.

O programa, com o intuito de salvar empregos no Brasil, foi muito útil às grandes empresas estrangeiras no período em que o setor sofreu com a crise financeira mundial de 2008. Preocupados com o futuro, proprietários de veículos decidiram suspender os planos de trocar seu veículos por um novo. Uma escolha ambientalmente sustentável, inclusive.  

Pela cotação do dólar nesta quinta-feira, as empresas automobilísticas enviaram às matrizes o total de R$ 42,2 bilhões a título de dividendos, desde 2009.

O dado ajuda a questionar alguns mitos usados pelo lobby setorial, como aquele que apontava a fraqueza do mercado doméstico para justificar possíveis demissões de metalúrgicos. Outro argumento em favor da renúncia fiscal era o desenvolvimento tecnológico do parque automobilístico nacional. Reclamação feita de maneira recorrente às montadoras, a defasagem entre os veículos lançados no Brasil e aqueles que circulam nos mercados de origem das fabricantes poderá resolvido com investimento e preços mais acessíveis, qualidades conflitantes com o forte envio de lucros para as matrizes.


Fonte: aqui

Procura-se auditor

A Espanha está procurando José Antonio Diaz Villanueva, o auditor que deu o parecer da empresa Gowex, informou o El País. Durante anos Villanueva certificou positivamente as demonstrações contábeis da Gowex, uma empresa especializada em instalar redes wifi em locais públicos.

O auditor já foi punido com multa e a impossibilidade de exercer a profissão por dois anos. Durante a crise econômica, a Gowex multiplicou por três suas vendas e por cinco seu lucro. Descobriu-se que o lucro correspondia a 10% do divulgado, o principal cliente era a própria empresa e pagava-se um valor irrisório para fazer a auditoria. As ações da empresa eram negociadas em Madri, Paris e Nova Iorque.

Resumo da Copa