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11 setembro 2020

Exemplo de não Sinergia: Autolatina


Quando estou explicando o conceito de sinergia em sala de aula, este é um dos exemplos preferidos: a junção da Ford e Volks, nos anos 80, que resultou na Autolatina. Parecia a típica "sinergia", que todo executivo gosta de falar. O Jornal do Carro resumiu alguns dos pontos desta sinergia:

O mercado brasileiro “batia pino” nos anos 80 e a Ford pensava em fechar suas fábricas no Brasil. Na prática, iria deixar o país, pois as importações ainda estavam proibidas. 

A solução “genial” foi se associar à Volkswagen para compartilhar recursos, projetos e competências. Surgiu então a Auto Latina, holding responsável pelas duas marcas. Ambas manteriam áreas comerciais, de marketing, produtos e concessionárias distintas. Cada uma com seu “presidente” e respectiva equipe, ambos subordinados ao chefão geral da holding.(...)

1. Culturas diferentes - Reunir sob mesmo teto duas culturas opostas como a norte-americana e a germânica era o mesmo que montar um time de futebol mesclando jogadores brasileiros e argentinos. Os embates internos foram amenizados com as finanças sob o comando da Ford, comercialização e marketing pela VW

2. Engenharia única - A engenharia era única, para reduzir custos no desenvolvimento de projetos. Aplataforma do Escort deu origem ao Ford Verona. E também a três modelos VW: Apollo, Logus e Pointer. O sedã Santana e perua Quantum da VW se fantasiaram de Ford Versailles e Royale. Carros da VW produzidos pela Ford e vice-versa.

3. Compartilhado, mas nem tanto - Desenvolver projetos conjuntos significava trocar figurinhas entre as duas engenharias. Mas a parceria não ia além do Brasil e Argentina e as matrizes negavam revelar segregods industriais e de manufatura para o concorrente. A rigor, o maior intercâmbio foi de motores (CHT da Fort, AP da VW) entre as marcas. 

4. Vias de Fato - (...) Executivos quase chegavam às vias de fato nas reuniões da holding…

5. Qualidade questionável - A qualidade dos “filhotes da AutoLatina" começou a ser questinada. O VW Apollo era o mesmo Ford Verona com variações no painel e acabamento, sem problemas técnicos. Mas Logus e Pointer eram novos modelos VW (na plataforma do Ford Escort) com carrocerias tão mal projetadas que, ao subir com duas rodas no passeio, costumavam “cuspir” o vigia (vidro traseiro) por problemas torcionais.

A Auto Latina não durou mais que sete anos pois as marcas não obtiveram a sinergia imaginada. Nem os carros originados da parceria vingaram: o VW Apollo, por exemplo, não durou dois anos. E a rigorosa auditoria da matriz da VW jogou uma pá de cal em todos eles.

Cartas aos estudantes de contabilidade

 A editora Gen lançou um livro intitulado "cartas aos estudantes de contabilidade", tendo como coautores os professores Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins e José Carlos Marion.

Esta semana a editora disponibilizou uma seção do capítulo do Iudícibus, disponível: aqui.

Vide trecho:

Contabilidade segue a Economia? Certamente, grande parte das transações registradas pelo sistema contábil é de natureza econômica. Entretanto, na Contabilidade de Custos o sistema contábil realiza apropriações do que, em um primeiro momento, representou gastos para o sistema de produção. Hoje em dia, todavia, o campo dos stakeholders aumentou bastante, apesar de a estrutura conceitual inicial do IASB dar clara preferência aos acionistas ou cotistas e aos credores, incluindo fornecedores, trabalhadores da empresa, governo, instituições ambientais e outros interessados. O relato integrado nada mais é do que a face escrita dessas preocupações ampliadas com vários usuários da informação. Historicamente, a Contabilidade sempre se adequou aos desenvolvimentos econômicos e sociais nas várias épocas, desde os rudimentares desenhos nas paredes das cavernas dos homens pré-históricos, pintando principalmente animais, uma espécie de inventário rudimentar, passando pelas antigas civilizações sumério-babilonense, egípcia, grega, romana, medieval, luzindo extraordinariamente na renascença italiana, revolução industrial, surgimento das grandes potências econômicas da Europa, Estados Unidos e mais recentemente Ásia. Note-se que a Contabilidade não apenas serviu para contabilizar os fenômenos econômicos das várias épocas, bem como, em um efeito circular, facilitou os progressos econômicos e civilizatórios nos vários países e continentes citados! Se fosse, a Contabilidade, apenas um sistema de contabilização e de controle, seria o caso de atribuir-lhe uma importância secundária. Na verdade, as empresas e nações, a economia em geral, se nutrem das melhores decisões que a Contabilidade proporciona aos que tomam tais decisões! Aliás, segundo o historiador econômico Schumpeter, não teria sido possível escrever a história da Economia se não existissem os livros diários dos comerciantes de vários países europeus, principalmente das repúblicas da Renascença italiana! Assim, em alguns casos, Contabilidade e Economia estão interligadas, mas são campos de conhecimento distintos. E, sem dúvida, a Contabilidade é a mais antiga, nas suas raízes históricas, com relação a publicações.


Rir é o melhor remédio

 

O que é melhor: o dia ou a noite? 

10 setembro 2020

Concorrência na produção da norma ESG


Eis um tema interessante. Com o aumento da relevância da informação sobre o ambiente, a questão da governança e informações (ESG na sigla em inglês) há um interesse sobre com evidenciar isto. Segundo um artigo de Durão (Mercado cobra critérios ESG mais claros de companhias e gestoras de fundos e recursos, Estado de S Paulo, 10 de setembro de 2020) há uma questão importante:

Fink [um investidor] prega a adoção das diretrizes do Sustainability Accounting Standards Board (SASB), organização que fornece padrões para relatar informações de sustentabilidade que tenham maior potencial de afetar a performance financeira de uma companhia. Para avaliar e relatar riscos relacionados ao clima e questões de governança essenciais para gerenciá-los, menciona as recomendações da Força Tarefa Sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD).

A sopa de letrinhas dá uma ideia da complexidade do tema. A Organização Internacional das Comissões de Valores (Iosco) – que reúne reguladores do mercado de capitais – mapeou mais de 50 iniciativas diferentes de padronizações de dados. [grifo do blog]

Veja que esta divergência pode ser saudável. Diversas iniciativas podem ajudar a produzir um padrão que seja saudável. Atualmente na contabilidade financeira temos um monopólio na produção de normas. Isto pode facilitar o preparador, que irá obedecer a somente uma sigla, mas é ruim para inovação da informação. Competição é uma palavra importante. 

Lembrando o capítulo 1 do livro de Teoria da Contabilidade: quem regula o regulador? Na contabilidade financeira não temos isto. Na área de ESG isto pode surgir naturalmente. (Imagem: aqui)

Pandemia e Segurança Digital

A falta de comunicação entre o departamento de tecnologia e as áreas de negócio é um problema conhecido nas empresas, mas a covid-19 aumentou muito os riscos decorrentes dessa lacuna. (...) A pandemia acelerou a escalada dos ataques, que já vinha se intensificando. (Com pandemia, falta de diálogo agrava riscos à segurança digital - Valor Econômico - João Luiz Rosa — 09/09/2020)


O texto é interessante por alertar que a falta do diálogo pode agravar os riscos digitais. Mas vejo outro problema que o texto não indica: o funcionário que trabalha em casa não tem, muitas vezes, a mesma estrutura de "defesa" digital do equipamento do seu escritório. 

Múltiplo para IPO da construção


Existem dois grandes métodos de avaliação de uma empresa (e de uma unidade de negócio também): múltiplo e fluxo de caixa descontado. O problema do múltiplo é que muitos usam, mas muitas vezes não revelam o segredo. Por isto é importante destacar quando surge exemplos de múltiplos. Veja um caso

Na avaliação de Luís Largman, que foi diretor financeiro e de relações com investidores da Cyrela e responsável pela concepção e estruturação do IPO da companhia, boas incorporadoras listadas têm apresentado, em média, o múltiplo de duas vezes o preço sobre valor patrimonial. Com base nesse valor, ele considera que as empresas com ofertas em curso se tornam atrativas com múltiplo de 1,5 vez.

(Falhas do passado pesam sobre IPOs de construtoras - Por Chiara Quintão — Valor Econômico - 08/09/2020)


Rir é o melhor remédio

 


09 setembro 2020

IFRS 9 e a recessão


 

Eis um trecho de um artigo da PwC (grifo do blog):

Até agora, bilhões foram contabilizados em provisões incrementais, enquanto a inadimplência ainda está para aumentar. Em muitos casos, a inadimplência nem mesmo ocorreu graças aos feriados de pagamento e ao enorme apoio governamental. Tão enorme, na verdade, que alguns indivíduos se descobriram melhor do que antes. Para os bancos, isso significa algumas coisas. Em primeiro lugar, é provável que haja perdas. As provisões retiradas serão consumidas à medida que as inadimplências atrasadas se concretizarem. Em segundo lugar, o risco continuará a ser muito difícil de medir. Simplificando, as regras normais não se aplicam. Estar desempregado ou não lucrativo geralmente reduz a capacidade de pagamento, o que leva à inadimplência e, em última instância, à inadimplência - não é verdade (imediatamente, pelo menos) quando o dinheiro está de graça e os reembolsos estão em espera.

(Imagem: aqui)

Precificar ou Avaliar?


Precificar ou Avaliar? Depende da situação. Veja um exemplo (‘O valor da Amazônia tem de ser precificado’, diz Rubens Ometto - Entrevista com Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de administração do Grupo Cosan - O Estado de S.Paulo, 9 set 2020)

Em tempos de ‘novo normal’ – que nem sabemos o que é – como a Cosan reage às novas prioridades?

Estamos no agronegócio e na energia renovável. O Brasil tem grandes vantagens nos dois setores. Temos a matriz energética mais limpa do mundo, por meio de hidrelétricas, energia solar, energia eólica, do etanol que você adiciona à gasolina, do álcool que se usa diretamente nos carros flex fuel. Outra coisa marcante é a produção de grãos, somos o celeiro do mundo. E o Brasil tem solo, ótima qualidade da terra, chuva na hora correta. E temos a Amazônia. O mundo está pendurado na Amazônia. Ela é o maior sequestrador de carbono do planeta e produtora de oxigênio. Tem de ser muito valorizada.

De que forma?

O Brasil tem de montar campanha. E não cair na armadilha de alguns países e empresas. Claro que você tem maus empresários, que praticam crimes na Amazônia, mas não é tudo isso que sai na imprensa. Eu vivi isso há 20 anos atrás, quando o etanol começou a crescer e o setor sucroalcooleiro foi muito atacado. Diziam que ele ia invadir a Amazônia – e nada disso aconteceu. Hoje, as empresas que fazem agronegócio em outras partes do mundo tentam arrumar uma taxação pra proteger seus produtores. Acho que temos de contra-atacar. Essa Amazônia vale ouro para o mundo e isso precisa ser precificado. Tem muita gente lá fora que depende disso pra trabalhar e se sustentar.

O mais adequado seria "avaliado". Mas certamente "precificar" parece mais culto. Imagem: aqui

Quando a análise incremental não é usada ...


Uma das lições básicas da disciplina de custo é que a análise da decisão é feita sob a ótica incremental (ou marginal). Assim, na decisão de continuar ou parar uma obra, a análise deveria ser feita verificando os custos de cada uma das situações. Aqueles valores que não se alteram, não deve ser levado em consideração. Básico. 

Mas em alguns casos percebemos como esta lição não foi apreendida (ou esquecem de forma proposital). Em uma reportagem sobre a usina Angra 3, o Estado de S Paulo toma a opinião de várias pessoas, incluindo o presidente da Eletronuclear. Eis o trecho que provoca calafrios:

A decisão de prosseguir com a obra justifica-se, em boa medida, pelo alto custo que teria a decisão de desistir de Angra 3. Guimarães [presidente da Eletronuclear] confirma que para abandonar o projeto a Eletronuclear teria de arcar com uma fatura da ordem de R$ 12 bilhões, somando financiamentos já sacados e contratos firmados com dezenas de fornecedores.

Ora, o financiamento irá existir, independente se a obra irá ou não continuar. Ou seja, é irrelevante para decisão. 

Rir é o melhor remédio

 

Quando Putin oferece chá e você é alérgico a cianeto

08 setembro 2020

Co-autoria sem permissão

Recentemente o Retration Watch publicou um caso de uma pesquisa que foi retratada por uma motivo aparentemente insólito: a retirada de co-autoria de uma artigo, que foi publicado sem autorização de alguns pesquisadores (veja o caso aqui). 

Esta situação é mais comum que imaginado. Há alguns dias, atuando como diretor do Congresso da UnB, recebi uma solicitação parecida de um professor: retirada de seu nome de um artigo que foi submetido por sua orientanda, em conjunto com ele e outro professor. Este professor não tinha autorizado a inclusão do seu nome.  

Qual a razão disto ocorrer? Várias possíveis respostas. Em primeiro lugar, a inclusão de um nome "conhecido" pode dar mais visibilidade para a pesquisa que está sendo publicada. Este é um motivo forte e talvez seja a grande razão para isto ocorrer, em qualquer área. 

A segunda razão é uma falha de comunicação. Em muitos processos colaborativos, não fica claro as fronteiras. No passado recebi uma proposta de um pesquisador e seu orientando de incluir meu nome na pesquisa por já ter feito orientação sobre o assunto. Achei que isto não era motivo suficiente e recusei [o artigo acabou sendo publicado em um periódico de bom nível]. Aqui a comunicação foi clara. Mas parece que isto nem sempre ocorre. No caso citado do congresso, a orientanda do professor sequer mandou uma comunicação para seu orientador dizendo que estava fazendo a submissão e quais os nomes que constariam do trabalho. 

A terceira razão são algumas regras que criamos. Aqui as situações são diversas, mas limito a tratar de regras que são construídas em alguns programas de pós-graduação (inclusive o que coordeno), que induzem a produção conjunta entre orientador e orientando. Em muitos casos, só é possível a defesa com a co-autoria. 

Mesmo que estas regras são estejam explicitas, ainda assim são fortes o suficiente para induzir a situação como esta. Veja o caso de um aluno de graduação que fez o trabalho sob orientação (e grande sugestão) do seu orientador. O trabalho foi submetido e aprovado no congresso, somente com um autor. Logo depois, este aluno aparece para o processo seletivo e o seu orientador da graduação, que seria o orientador natural, recusa este encargo. Sabe ele que o trabalho conjunto com o aluno não será reconhecido como tal. Ou seja, seu esforço não será recompensado com a produção. 

Ao longo da minha trajetória, já tive casos onde fui co-autor sem merecer, mas já tive casos que não apareci como participante da pesquisa, apesar de ter feito parte dela. Da minha parte, eu percebo que os primeiros casos são mais difíceis de serem lembrados; mas o segundo grupo, quando participamos da pesquisa e não somos considerados, são inesquecíveis. 

Acho que esta discussão cabe em uma aula de ética. Ou de metodologia. Mas o ponto fundamental é a comunicação franca entre as pessoas que estão fazendo a pesquisa. 

Guerra de espionagem no desenvolvimento da vacina e o elo fraco das universidades

 As universidades em todo o mundo estão no esforço do desenvolvimento de uma vacina para o Covid. A espionagem dos países sabe que a proteção dos dados nestes entidades não é tão forte assim. Diversos serviços de inteligência estão tentando descobrir o que cada país tem em termos do avanço para a descoberta da vacina. Eis um trecho de um reportagem do Estado de S Paulo (Corrida pela vacina contra o coronavírus cria duelo entre agências de espionagem - Julian E. Barnes e Michael Venutolo-Mantovani, The New York Times , O Estado de S.Paulo, 7 set 2020):

Oficiais de inteligência chineses estão focados nas universidades em parte porque consideram as proteções de dados dessas instituições menos robustas do que as das empresas farmacêuticas. Mas o trabalho de espionagem também está se intensificando à medida que os pesquisadores compartilham mais candidatos a vacinas e tratamentos antivirais no processo de revisão por pares, dando aos adversários uma chance melhor de obter acesso às formulações e estratégias de desenvolvimento de vacinas, disse um funcionário do governo americano informado sobre a inteligência.

Eis o infográfico do jornal:


Contabilidade? - parte da proteção dos dados passa pelo processo de governança corporativa e controles internos. A possibilidade dos dados das pesquisas serem roubados pode significa uma grande perda para as entidades que estão fazendo pesquisa. 

Economia na pandemia e o mercado acionário


Spence apresenta uma explicação sobre o descolamento entre o que está ocorrendo na economia (uma recessão brutal) e a euforia do mercado de capitais em diversos lugares do mundo:

Muitos concluíram que o mercado está desvinculado da realidade econômica. Mas, visto de outra forma, os mercados de ações de hoje podem estar parcialmente refletindo poderosas tendências subjacentes amplificadas pela "economia pandêmica". Os preços das ações e os índices de mercado são medidas de criação de valor para os proprietários de capital, o que não é a mesma coisa que criação de valor na economia em geral, onde trabalho e capital tangível e intangível desempenham um papel.

Além disso, os mercados refletem os retornos reais esperados do capital no futuro. Quando se trata de medir o valor presente da renda do trabalho, simplesmente não existe um índice prospectivo comparável. Em princípio, então, se houver uma recuperação econômica antecipada significativa, as perspectivas para a renda do capital e do trabalho poderiam ser semelhantes, mas apenas o futuro esperado do capital seria refletido no presente.

Mas há mais para a história. As avaliações de mercado são cada vez mais baseadas em ativos intangíveis, principalmente na propriedade e controle de dados, o que confere seus próprios meios de criação de valor e monetização. De acordo com um estudo recente do S&P 500, as ações de empresas com altos níveis de capital intangível por funcionário registraram os maiores ganhos neste ano, e quanto menos capital intangível por funcionário as empresas tiveram, pior foi o desempenho de suas ações.

Para o nobel de economia, esta é uma tendência que só fez acelerar com a pandemia:

Em outras palavras, a criação de valor incremental nos mercados e no emprego é divergente. E embora isso fosse verdade mesmo antes da pandemia, a tendência agora se acelerou. Existem pelo menos duas razões para isso. Um é a rápida adoção de tecnologias digitais como parte da resposta às medidas de bloqueio.

A segunda é que muitos setores intensivos em mão de obra (que normalmente agregam valor principalmente com mão de obra e capital tangível) foram parcial ou totalmente desligados como resultado de bloqueios, distanciamento social e aversão ao risco do consumidor.

No caso do Brasil, há um fator adicional: a baixa taxa Selic. Veja o trecho explicativo da Exame:

A diferença deste ciclo de IPOs e ofertas de ações em relação à euforia de 13 anos atrás é a taxa básica de juros — sempre ela. Em 2006, a Selic iniciou o ano estimada em mais de 17% ao ano e, após um ciclo de cortes, terminou 2007 pouco acima de 11%. Em termos conceituais, uma companhia precisava oferecer uma perspectiva de retorno acima de dois dígitos para competir com o investimento no chamado ativo livre de risco, os títulos públicos.

Agora, com a Selic a 2% ao ano, um ativo não precisa de tanto esforço para ser competitivo e mais interessante, o que abre espaço para um número cada vez maior de companhias. 

Rir é o melhor remédio

 

Espere um pouco que 2020 está acabando

07 setembro 2020

Corinthians e o nome do estádio

 Recentemente comentamos sobre a dívida do Corinthians. Ilustramos o texto com a seguinte figura:


Logo depois, o clube anunciou que tinha conseguido comercializar o nome do seu estádio com a empresa Hypera Pharma. Logo após o anúncio, as ações da empresa tiveram um aumento no preço:


Aparentemente o mercado entendeu que houve um ganho para a empresa. Basicamente:

O acordo com a Hypera Pharma renderá R$ 300 milhões pelos próximos 20 anos [para o Corinthians], R$ 15 milhões por ano, reajustados pelo índice IGP-M anualmente. O estádio deixa de ser Arena Corinthians para ser batizado como Neo Química Arena, laboratório do grupo. (Felipe Lobo, Trivela, 4 set 2020)

Talvez o fim não esteja tão próximo assim. Para o Corinthians. 

Exame de suficiência de 2020

 O Conselho Federal de Contabilidade informou que os resultados do exame de suficiência de 2020 estão disponíveis:

A Consulplan divulgou, nesta quarta-feira (2), o resultado preliminar da primeira edição do Exame de Suficiência de 2020 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). A prova reuniu cerca de 40 mil candidatos, no dia 16 de agosto, e foi realizada na modalidade “a distância”. Desse total, 38,19% dos candidatos foram aprovados. O resultado final do exame sairá no prazo de até 50 dias, contados após a aplicação das provas.

A prova deste ano, em razão da pandemia, foi modificada para não presencial. Ocorreram reclamações com respeito ao seu andamento. Veja a relação de aprovação dos últimos anos (coleta da orientanda Luana Oliveira):

O percentual deste ano não apresenta uma grande divergência dos anos anteriores. 


Rir é o melhor remédio

 

Contratando alguém pela metade do preço

06 setembro 2020

Rotten Tomatoes e Desempenho de um filme nas bilheterias

 A site Rotten Tomatoes é conhecido por agregar as críticas - positivas e negativas - dos filmes. Nos Estados Unidos, o site é um grande poder sobre a audiência. De uma maneira geral, um parcela bem expressiva das pessoas que gostam de cinema usam o Rotten para consultar sobre a qualidade dos filmes. Mas isto significa que o Rotten afeta o desempenho financeiro dos filmes? 

Esta é uma questão bem interessante que uma reportagem do The Ringer, "Has Rotten Tomatoes Ever Truly Mattered?" (Ben Lindbergh e Rob Arthur, 4 de setembro de 2020) mostra. O gráfico abaixo é bem importante para a análise:

De um lado, a margem de lucro de um filme e do outro a nota do Rotten Tomatoes. O gráfico levou em consideração o orçamento do filme e o resultado parece indicar que maiores notas, melhores retornos. Mas veja que os autores do artigo não dizem que existe uma relação de causalidade (nota melhora a bilheteria). Um filme ruim pode ter um desempenho de bilheteria ruim não pela nota, mas pelo fato de ser ruim. Mas parece que a nota exerce um poder maior em alguns tipos de filmes, como comédias ou dramas. Veja o mesmo gráfico, somente para os dramas:
Veja que a curva é mais acentuada. Isto indicaria que dramas com boas notas (acima de 70 ou 80%) conseguem um salto substancial no desempenho financeiro. Isto não ocorre, por exemplo, nos filmes de ação. Enquanto um filme de ação com nota máxima pode ter uma rentabilidade de duas vezes o orçamento, uma comédia isto pode significa quatro vezes. Ou um filme de terror, que pode ter seu desempenho multiplicado por 10 ou 20 vezes. 

Contabilidade?  - Temos uma situação onde o gosto de "críticos" pode afetar o desempenho da empresa. Isto pode ocorrer em qualquer setor. Considere uma empresa que fabrica aspirador de pó; um site especializado em análise de produto pode fazer uma avaliação ruim do produto e isto refletir diretamente nas vendas e lucro da empresa. 


Valor do aluno de medicina


Quanto vale um aluno de medicina? Para os grandes grupos do ensino superior privado, o cheque fica em torno de R$ 1,4 milhão. Esse foi o preço médio por vaga pago em 13 aquisições de faculdades médicas no Brasil nos últimos 12 meses até agosto.

O dado compõe um estudo da Ondina Investimentos, boutique de fusões e aquisições e dívida estruturada, no Recife. Ele reflete a corrida das companhias educacionais para consolidar os cursos de medicina, caracterizados por baixíssimas evasão e inadimplência - e elevadas mensalidades.

O múltiplo milionário parece alto à primeira vista, mas fica ainda mais assombroso quando comparado ao que tem se pagado por vaga de aluno em aquisições de outros cursos privados [1]. A partir da derrocada do Fies, de 2015 para cá, os compradores desembolsaram apenas R$ 13 mil, na média, por vaga de curso superior (excluindo medicina), mostra levantamento com 15 transações [2].

Segundo estimativa da Ondina, cada vaga de medicina representa cerca de R$ 2,9 milhões do valor de mercado dos grupos educacionais na bolsa de valores [3]. O cálculo considerou o montante de R$ 20 mil para cada vaga dos demais cursos na B3.

A maior parte da transações recentes (70%) na área médica ocorreu no Norte e Nordeste. “São regiões em que há um déficit de médicos, especialmente no interior”, afirma Arthur Machado, sócio-fundador da Ondina.

Embora concentre 27,6% da população brasileira, o Nordeste conta apenas com 17,8% dos médicos do país. No Norte, onde vive 8,6% da população, a quantidade de médicos é 4,6% do total nacional. Enquanto isso, o Sudeste tem, sozinho, mais da metade dos médicos (54,1%) brasileiros e 42% da população. A região tem, com isso, 2,8 médicos para cada 100 mil habitantes. No Nordeste, esse múltiplo é de apenas de 1,4 para cada 100 mil habitantes e, no Norte, de 1,2. Para Machado, por conta da escassez de médicos, a tendência é que o MEC priorize a abertura de vagas no Norte e Nordeste. Mas o processo pode ser lento: nos últimos anos, a liberação de novos cursos de medicina demorou, na média, 11 anos, conta um empresário do setor. [4]

As mensalidades nas faculdades médicas giram em torno de R$ 8 mil, com diferenças pouco significativas entre as regiões. “São negócios com boa margem e resilientes”, diz Machado. [5]

Especializada em educação para o setor de saúde, a Afya comprou no último ano 691 vagas de medicina, em cinco transações, sendo duas no Pará e as outras em Rondônia, Paraíba e Rio. A empresa, que captou R$ 1,1 bilhão em IPO na Nasdaq um ano atrás, é a que tem sido mais agressiva nas ofertas. No mês passado, a Afya chegou a pagar R$ 2,4 milhões por vaga de medicina na aquisição da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, em transação de R$ 380 milhões. "Variáveis como valor da mensalidade e maturação do curso refletem diretamente no preço de aquisição", afirma Machado

Na maratona de aquisições do último ano, a Ânima veio logo atrás da Afya, com a compra de 522 vagas, em quatro transações: duas na Bahia, uma em Santa Catarina e outra em Minas Gerais. No mesmo período, a Yduqs adquiriu 410 vagas no Piauí, Acre, Rondônia e Mato Grosso, enquanto a Ser Educacional comprou 75 vagas em Rondônia. 

Em março, a Cruzeiro do Sul comprou a Universidade Positivo, no Paraná, que atua no ramo, mas o número de vagas de medicina não foi divulgado. 

Com relativo atraso, a Cogna (dona da Kroton), maior empresa do setor educacional no Brasil, passou a olhar ativos de medicina. A empresa já atua na graduação de médicos, com quatro faculdades, mas sua exposição ao segmento é baixa em relação ao seu tamanho.

Por conta da disparada nas provisões para inadimplência, a Cogna reportou prejuízo de R$ 454 milhões no segundo trimestre. Negociadas abaixo do valor patrimonial atualmente, as ações da empresa refletem a descrença dos investidores em um modelo de negócio dependente do Fies.

O presidente da companhia, Rodrigo Galindo, disse a investidores e analistas que a empresa vai avaliar a aquisições de cursos “premium” em 15 áreas, incluindo, além de medicina, odontologia e medicina veterinária. Paralelamente, a Cogna vai reduzir sua operação de ensino presencial nos demais cursos, migrando os mais básicos para ensino a distância, onde obtém melhores margens. 

Aluno de medicina vale R$ 1,4 milhão - Sem Fies, companhias buscam aquisição de faculdades médicas de olho na resiliência do negócio - Por Marina Falcão — Do Recife - Valor Econômico - 4 de setembro de 2020

[1] Sobre isto, vide um estudo de Silva e Fernandes aqui

[2] O Fies não é a única variável que afeta o número. 

[3] Esta frase não ficou claro. Parece que cada nova aquisição de vagas em cursos de medicina, o valor da empresa aumenta neste montante. Mas em alguns casos, a aquisição de uma instituição de ensino significa mais de um curso; como foi feita a separação entre os montantes? Mais, há sempre outros fatores que podem afetar o valor. 

[4] Isto torna a venda da instituição bem atrativa. Recentemente, o MEC tentou abrir editais em localidades sem o curso de medicina. O processo foi coordenado pela FGV [leia-se, foi contratada por muito dinheiro] e incluía uma análise econômico-financeira das empresas. Foi um problema, já que isto tornou o resultado controverso em razão da qualidade do modelo usado. O caso chegou ao TCU, que pediu esclarecimentos ao MEC. 

[5] Veja que isto é um diferencial. Corresponde ao ticket médio do aluno. Além disto, o nível de abandono deste curso é muito reduzido. Outro ponto, a pressão do CRM impede a abertura de cursos novos, valorizando ainda mais as vagas existentes.