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05 dezembro 2012

Negociações com piratas somalis


Seizures of ships by pirates off the coast of Somalia may be down in recent months, but the interest of social scientists and economists in the country is undiminished. Because the place has been so stateless for so long, it provides a testing ground for theories about how people behave in the absence of meddlesome government. One such question is how two parties bargain when neither has good information available. Negotiations between shipowners and Somali pirates fit that description well.
Economists have been interested in the free-market ways of pirates for a while. Last year a team of three published a paper drawing on data from more than 10,000 negotiations that took place from 1575 to 1739 between North African pirates on one side and monks acting for Spanish families on the other. They found that the Spanish managed to pay lower ransoms by dragging talks out. Data on the activities of present-day pirates in Somalia are more, well, patchy. To fill the gap, the authors of a new paper gathered data from pirate negotiators.
They found that Somali pirates pretend to be more sophisticated than they are, whereas shipowners pretend to be poorer. Nowadays both sides have an interest in a speedy resolution, since a prolonged negotiation incurs costs. For the shipowner, the cargo spoils and the ship goes unused. For the pirates, the captured crew must be fed and the ship guarded. And pirates cannot last long without a resupply of qat, which is to them as rum is to Captain Jack Sparrow. Settle too quickly, though, and one side or other is likely to get a poor deal.
Government intervention can create perverse incentives. Spain paid a ransom of $1.2m for a fishing boat, the Playa del Bakio, in 2008—more than twice the amount previously paid for a vessel of that type, setting a new floor price. Indeed, although the number of ships taken is down, the pirates have adjusted by charging more per release. 
[...]

04 dezembro 2012

Rir é o melhor remédio

A verdade sobre o Smartphone

Analistas financeiros e adoção das normas internacionais de contabilidade

A decisão de adotar as normas internacionais de contabilidade (IFRS) tem sido investigada em diversos trabalhos acadêmicos. Estas pesquisas procuram responder a uma pergunta simples: vale a pena um país obrigar suas empresas a usaram as IFRS?

Uma questão simples mereceria uma resposta direta e simples. Mas infelizmente a realidade é muito complicada para termos uma resposta afirmativa ou negativa. Devemos lembrar que estamos estudando um ambiente em constante mutação. E que temos diversas técnicas e dados disponíveis.

Somente após intensas pesquisas, confrontando diferentes análises, é que poderemos responder a nossa pergunta. Mas temos uma luz no fim do túnel: alguns resultados de diferentes pesquisas já estão disponíveis. E alguns destas já estão se tornando “clássicos” na área (vide, Daske, Hail, Leuz, Verdi, 2008; Ball, 2006, por exemplo).

Uma pesquisa de 2009 usou um ponto de vista interessante: os efeitos sobre os investidores estrangeiros. Estes usuários têm dificuldade em analisar as informações contábeis com normas que não conhecem. Se os países possuem regras contábeis diferentes, os analistas provavelmente não acompanharam o desempenho das empresas de outros países. Assim, a convergência poderia fazer com que os analistas seguissem mais empresas de outros países.  E fizessem um trabalho melhor: no caso dos analistas, acertando mais as projeções.

Os autores encontraram que a adoção das IFRS atrai os analistas que conhecem estas normas. Mais ainda, que o uso faz com que se melhore a precisão das projeções.  Assim, a pesquisa parece apontar que a convergência facilita a comparação para os analistas financeiros estrangeiros, aumentando a chance de uma empresa local ser acompanhada por este usuário.

Fonte: TAN, Hongping; WANG, Shiheng; WELKER, Michel.  Foreign analyst following and forecastaccuracy around mandated ifrs adoptions , working paper, 2009

Fato mais relevante da história da contabilidade


Qual o fato mais relevante da história da contabilidade brasileira? Provavelmente as respostas irão variar conforme o respondente. Fiz, com meus alunos de Teoria Contábil, uma investigação para saber o que eles achavam. Muitas respostas, a maioria interessante. Uma discente afirmou que a criação dos armazéns alfandegários, juntamente com a chegada do primeiro contador, nas primeiras décadas do domínio português. Outros se lembraram da chegada da família real, incluindo a criação do erário régio e a obrigatoriedade das partidas dobradas. O código comercial, quase cinquenta anos depois, também foi citado. Um discente lembrou-se do desenvolvimento da profissão entre os anos 20 e 30 do século passado. Esta é uma resposta que não estava na minha lista, mas devo reconhecer que faz bastante sentido. Vários deles se lembraram da criação do conselho e da normatização da profissão, em 1946. Um aluno se lembrou do período após 1964, quando o novo governo modernizou o sistema financeiro, criando o Conselho Monetário Nacional, o Banco Central e passou a obrigar a contratação de auditores.  Sem dúvida nenhuma uma boa lembrança.

Finalmente, as duas principais respostas que obtive: a lei 6404, de 1976, e a adoção das normas internacionais (e criação do CPC).

Ao analisar as respostas dos meus alunos cheguei a uma conclusão: não saberia responder qual o fato histórico mais importante da contabilidade brasileira. Como é bom aprender com os meus alunos.

Petróleo, erro estratégico

Nesta semana, foi publicado um livro que ajudei a organizar, chamado “Petróleo – reforma e contrarreforma do setor petrolífero brasileiro” (Campus, 2012). A organização foi conjunta com Luiz Paulo Vellozo Lucas e o livro, além dos organizadores, contou com artigos de 19 autores, entre eles alguns dos mais conceituados analistas do setor de energia.
Na sua apresentação, fazemos uma distinção entre erros simples e estratégicos. Uma pessoa pode ir a um restaurante e escolher mal o prato. É algo sem maiores consequências. Já casar com a pessoa errada pode ser fonte de dor de cabeça por muitos anos para ambas partes.
Analogamente, uma empresa pode planejar a produção de um mês julgando que a demanda vai ser X e a demanda ser 10% maior, perdendo a chance de aproveitar melhor o momento, mas podendo se recuperar no mês seguinte. Já o erro poderá ser fatal se ela escolher apostar tudo num produto que está sendo abandonado pelos consumidores.
Esse tipo de equívoco é o que se denomina de “erro estratégico”. Trata-se de atos que moldam a ação de um agente durante anos e podem, no limite, levar à falência (quando se trata de uma empresa).
A comparação é válida para as economias. Um país pode reduzir juros quando deveria aumentá-los ou aumentá-los quando deveria reduzir, mas nada disso é muito grave, pois trata-se de uma decisão errada com efeitos limitados e que pode ser corrigida pouco tempo depois. Opções estratégicas, porém, têm efeitos duradouros.
[...]Os historiadores que analisarem no futuro a primeira década do atual século provavelmente qualificarão de forma parecida a mudança de regime feita pelo Brasil em 2010 no setor de petróleo, quando adotou a partilha e resolveu privilegiar a política de conteúdo local, jogando pela janela um modelo que tinha dado certo durante 13 anos, com resultados espetaculares. Enquanto o modelo de concessão vigorou sozinho, foram realizadas diversas rodadas de licitação, as reservas provadas do país dobraram, a produção elevou-se em 150 % e a arrecadação acumulada da soma da participação especial e dos royalties alcançou mais de R$ 160 bilhões. Tudo funcionava muito bem, até o setor ser atropelado pela agenda ideológica que orientou a mudança de regime.
Confirmando mais uma vez o sarcasmo de Delfim Netto, de que “quando o governo compra um circo, o anão começa a crescer”, a intervenção oficial travou o setor. Embora o cidadão comum possa julgar que o setor de petróleo vai de vento em popa, os fatos demonstram o contrário: as metas de produção não têm sido alcançadas, o país – cada vez mais distante da autossuficiência – importa quantidades crescentes de derivados e as empresas – incluindo a Petrobras – penam por conta do radicalismo da política de conteúdo local. No longo prazo, nada poderia ser mais preocupante do que a redução da área exploratória, do pico de mais de 340 mil km2 em 2009, para apenas um terço disso atualmente, devido à falta de novos leilões nos últimos anos.
A presidente queixa-se da falta de investimentos no país e, nos meios oficiais, as reclamações são contra o ambiente internacional de crise. A questão, porém, é que apesar da crise, há países da América Latina que estão muito bem, com destaque para Chile, Peru e Colômbia. Este último, especificamente, tem uma empresa de petróleo (Ecopetrol) que tem dado um “show de bola” no mercado internacional, seguindo os passos da Petrobras de 1997/ 2009 e rivalizando com ela em valor de mercado, apesar de ter ativos que são uma fração modesta dos ativos da nossa estatal.
Como diz corretamente Wagner Freire, antigo quadro histórico da Petrobras e que ajudou a escrever a história de sucesso da empresa, em um dos capítulos do livro, “as diferenças [entre as empresas] são enormes, mas o que conta mesmo para o valor de mercado é o que o mercado pensa sobre a administração da companhia e o comando do controlador”. Nesse sentido, a combinação de 1) incerteza regulatória; 2) guerra federativa; 3) ausência de leilões; 4) excessos da política de conteúdo local; e 5) controle de preços, está sendo uma “bola de ferro” que impede o retorno do ciclo virtuoso do setor, que poderia ter um papel fundamental para o crescimento do PIB. A revisão do modelo regulatório do setor deveria entrar na agenda, sob pena de perdermos uma oportunidade histórica de utilizar adequadamente a riqueza de nosso solo.

Política Fiscal e a participação da sociedade


Recentemente o governo federal anunciou que não conseguirá alcançar a meta do resultado primário para o setor público de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Apesar dessa notícia não ter sido uma surpresa para quem acompanha as contas públicas, uma análise mais detalhada dos dados assusta e levanta dúvidas sobre a capacidade de o governo federal conciliar sua agenda de aumento do investimento público com redução da carga tributária.
É interessante observar que enquanto todos parecem ter opinião formada sobre taxa de juros e sobre os erros e acertos do Banco Central, o cidadão comum fica alheio ao debate anual do orçamento que é, justamente, a área na qual decisões políticas são mais importantes do que decisões técnicas. Em vez de discutir "juros" (política monetária), o cidadão brasileiro deveria se envolver mais no debate fiscal, pois neste as decisões são políticas. Mas isso não acontece por pelo menos três motivos.
Primeiro, não há dentro do próprio governo um consenso de como as estatísticas fiscais são divulgadas. Por exemplo, a despesa primária (gasto não financeiro do governo federal), em 2011, foi de 17,5% do PIB de acordo com o Tesouro Nacional. No entanto, o Boletim da Secretaria de Comunicação da Social da Presidência da República, Nº 1656, de 13 de novembro de 2012 mostra que: "os investimentos anuais do governo federal em políticas sociais saltaram de 13% do PIB há dez anos para quase 17% em 2012."
[...]Segundo, há ainda no Brasil falta de informação quanto ao custo de alguns programas. Cito dois que passaram a ser importantes: o Minha Casa Minha Vida (MCMV) e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES. Independentemente do mérito desses dois programas, o custo deles deveria ser claro para que a sociedade pudesse decidir se quer gastar mais ou menos com esses programas frente a outras despesas e outros investimentos.
No entanto, poucas pessoas têm ideia do custo desses programas. No caso do MCMV, praticamente metade do custo desse programa de 2009 a 2011 foi bancado pelo FGTS. E o seu custo não é pequeno. O custo total desse programa, inclusive os subsídios pagos pelo FGTS, passou de R$ 2,8 bilhões, em 2009, para um valor que ficará próximo a R$ 17 bilhões este ano.
O caso do PSI é ainda mais nebuloso. O governo federal se recusa a dar informações relativas ao custo desse programa. Vale lembrar que os empréstimos do Tesouro Nacional para os bancos públicos saíram de um valor inferior a R$ 10 bilhões, no início de 2008, para R$ 369,1 bilhões, em setembro. É muito provável que o estoque desses empréstimos cresça para meio trilhão de reais nos próximos dois anos. 
Terceiro, apesar de o governo ter um baixo controle sobre a execução orçamentária, já que apenas 10% da despesa não financeira pode ser considerada discricionária, na prática o governo vem utilizando de artifícios que têm tornado a execução das despesas obrigatórias ainda mais rígidas. Um exemplo disso é o crescimento excessivo do saldo de restos a pagar não processados, recursos empenhados de anos anteriores que são pagos no ano corrente.
[...]As despesas de anos anteriores passam a competir com despesas do orçamento do ano e, em algum ano, o equilíbrio precisa vir ou pelo aumento maior da receita ou por uma queda do primário.
Infelizmente, enquanto não houver maior transparência no custo das politicas públicas e no debate e execução do orçamento, o debate fiscal ficará restrito a “especialistas” e não a quem de fato importa neste debate que é o cidadão, que utiliza serviços públicos e paga uma carga tributária de primeiro mundo.


Mulheres e negociações salariais


Although some scholars have suggested that the income gap between men and women is due to women’s reluctance to negotiate salaries, a new study at the University of Chicago shows that given an invitation, women are just as willing as men to negotiate for more pay.
Men, however, are more likely than women to ask for more money when there is no explicit statement in a job description that wages are negotiable, the study showed.
“We find that simple manipulations of the contract environment can significantly shift the gender composition of the applicant pool,” said UChicago economist John List, the Homer J. Livingston Professor in Economics.
List was a co-author of a paper based on a study of people responding to job advertisements in which salaries were advertised either as negotiable or fixed. Women were three times more likely to apply for jobs with negotiable salaries and to pursue negotiations once they applied, the study found.
Among those responding to an explicit salary offer, 8 percent of women and 11 percent of men initiated salary negotiations. When the salary was described as negotiable, 24 percent of women and 22 percent of men pursued salary discussions.
“By merely adding the information that the wage is ‘negotiable,’ we successfully reduced the gender gap in applications by approximately 45 percent,” said List.
Previous studies have shown that men are nine times more likely than women to ask for more money when applying for a job, but this paper is the first to use a field experiment to look at gender differences in the way men and women approach salary negotiations.
[...]The study found that when men determined that salary was fixed, their probability of applying was 47 percent, compared with 32 percent for women. When salary was negotiable, the probability of women applying increased to 33 percent, whereas men’s probability decreased to 42 percent.
Despite efforts to promote gender equality, women make about three-fourths as much as men, surveys have shown. Additionally, women hold only 2.5 percent of the highest paid jobs in American firms. The gap in wages begins when a person is hired, so encouraging negotiations from the beginning is likely to have a long-term impact on salary, List said.
A variety of factors may explain the gender differences in salary, including negotiations after a person is hired and differences in women’s willingness to negotiate for jobs other than the ones advertised, the paper concluded.

Auditoria, China e SEC

O organismo regulador do mercado de ações dos Estados Unidos, SEC, acusou nesta segunda-feira cinco grandes empresas de auditoria de ocultar informações de empresas chinesas registradas nas bolsas americanas.

"Os materiais de auditoria estão sendo procurados como parte das investigações de nove empresas chinesas", disse a Comissão de Valores Mobiliários norte-americana. As cinco empresas acusadas são BDO China Dahua, Deloitte Touche Tohmatsu Certified Public Accountants, Ernst & Young Hua Ming, KPMG Huazhen e PricewaterhouseCoopers Zhong Tian.

Segundo a SEC, foram violadas as leis do Securities Exchange Act e a Lei Sarbanes-Oxley, que exige que empresas estrangeiras de contabilidade pública forneçam informações à SEC quando requeridas.

Investigadores da SEC têm tentado obter essas informações há meses, mas as auditorias têm se recusado a cooperar, diz o comunicado.

"As empresas que realizam auditorias sabendo que não pode cumprir com as leis que exigem o acesso a esses documentos devem enfrentar sanções graves", disse Robert Khuzami, diretor da Divisão de Execução da SEC.

SEC acusa grandes empresas de auditoria de ocultar dados de empresas chinesas
Por AFP


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03 dezembro 2012

Rir é o melhor remédio

Como descrever Breaking Bad para diferentes pessoas. Mais outras aqui.

HP

Os números referentes a aquisição da empresa Autonomy por parte da HP e a recente baixa contábil contam uma história interessante.

Quando a HP comprou a Autonomy, o valor de mercado da empresa era de 5,9 bilhões. A HP pagou 11 bilhões de dólares, um adicional de 5,1 bilhões. O valor contábil da empresa era de 2,1, indicando que o prêmio sobre o valor contábil pago pela HP foi de 8,9 bilhões. Logo após a aquisição, a HP perdeu 15 bilhões de dólares de valor de mercado. É bem verdade que parte da redução do valor de mercado deve-se a outros fatores, mas provavelmente a aquisição talvez tenha influenciado na penalização do mercado.

Na baixa contábil realizada recentemente o valor foi de 8,8 bilhões, sendo cinco bilhões referentes à perda de valor do negócio, em razão de “problemas contábeis”. Observe que este valor é muito próximo ao ágio pago pela HP em relação ao valor de mercado da empresa.

Coincidência?

Doação contábil

Geralmente o contador é visto como uma figura sem sentimentos, “neutro”, que não ajuda o próximo. A Accounting for International Development (AfID) mostra que isto não é verdadeiro. Fundada em 2009, esta entidade procura oferecer serviços profissionais para aqueles que não possuem experiência ou tempo.

Se um hospital faz um bom trabalho numa região pobre, é necessário informar, através de demonstrações financeiras adequadas ao doador, o seu trabalho. Além dos profissionais voltados para atividades fins, as entidades em fins lucrativos também necessitam de apoio na área financeira.

A AfID auxilia mais de 150 entidades, com 300 voluntários enviados a países pobres do mundo. A entidade recebe apoio de diversas organizações, inclusive empresas de auditoria como KPMG, E&Y, Deloitte, BDO, Grant Thornton, PwC, entre outras.

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Por que cai o investimento?

Autor: Armando Castelar
Correio Braziliense - 28/11/2012

O pífio desempenho do PIB em 2012 reflete em parte o menor crescimento do consumo das famílias, que deve fechar o ano na faixa de 3%, contra 4% em 2011. Essa perda de dinamismo ocorreu a despeito da significativa alta na massa salarial real, de quase 6%, fruto de um mercado de trabalho cada vez mais apertado, sendo explicada provavelmente pela expansão mais lenta do crédito às famílias.
O principal destaque negativo do ano será, porém, a queda no investimento, que pode superar 3%, contra alta de 5% em 2011. Essa queda é tão mais notável quando se leva em conta os inúmeros benefícios que o governo vem dando às empresas que se dispõem a investir: depreciação acelerada, empréstimos do BNDES com juros reais negativos, isenções tributárias, proteção tarifária, além, claro, da redução de 5,25 pontos percentuais na Selic. O que explica o investimento cair dessa forma?
Não há uma única explicação, mas um conjunto de fatores. Primeiro, o agravamento do quadro econômico internacional, com o aprofundamento da crise europeia e suas repercussões sobre os EUA e a China. Em particular, os exportadores de commodities sofrem com a redução da demanda por seus produtos e quedas nos seus preços e é natural que adiem projetos de expansão da capacidade de produção.
Não obstante, a crise está longe de explicar tudo ou possivelmente a maior parte dessa retração. Basta ver que outros países latino-americanos, em geral ainda mais dependentes da exportação de commodities que o Brasil, estão investindo mais este ano do que em 2011: Chile, mais 9%; Peru, mais 5%; Colômbia, mais 3%; por exemplo.
Segundo, a indústria segue com desempenho bastante fraco, devendo apresentar contração na sua produção de 2,3% este ano. Com capacidade ociosa relativamente alta, faz pouco sentido para as empresas industriais investirem, especialmente com o encarecimento dos bens de capital importados, a partir da desvalorização do real. Além disso, com a alta dos salários e a queda da produtividade, o custo unitário do trabalho aumentou acima da inflação, comprimindo as margens do setor e reduzindo o retorno a ser obtido de novos investimentos.
Terceiro, o setor de construção residencial deu uma parada de arrumação, por conta da alta pronunciada nos custos, em especial de mão de obra, que reduziram as margens.[...]

Quarto, problemas de gestão e o combate à corrupção fizeram com que o volume de investimento público fique bem aquém do que poderia ser se todos os recursos disponíveis fossem utilizados. Recentemente, o ministro dos Transportes anunciou, por exemplo, que o investimento da pasta deve cair este ano cerca de 14% em termos reais.
Quinto, o uso das estatais como instrumento de combate à inflação está comprimindo suas margens de lucro e, consequentemente, sua capacidade de investimento. A Petrobras é o melhor exemplo, mas as Companhias Docas também sofrem com tarifas defasadas; e com a queda das taxas de eletricidade, a Eletrobras igualmente deve ter sua capacidade de investimento comprometida.
Sexto, aumentou a incerteza regulatória na economia, a partir de um número grande de medidas pontuais e temporárias de estímulos, proteção, isenções tributárias etc. Além disso, o governo está promovendo mudanças significativas na regulação da infraestrutura, o que também reduz o ímpeto investidor das empresas. Não surpreende, assim, que a taxa de investimento no setor este ano deva ficar abaixo de 2% do PIB pela primeira vez em mais de década e meia.
Não é claro que esse quadro vá mudar significativamente em 2013. O cenário externo tende a permanecer desfavorável; os problemas de gestão no setor público não devem se resolver com rapidez e o impacto das mudanças regulatórias ainda deve se fazer sentir ano que vem.
A possibilidade de recuperação fica centrada, portanto, na retomada da produção industrial, que poderia estimular a expansão de capacidade; no crescimento da construção residencial, a partir do equacionamento de custos e margens; e no avanço do programa de privatização de rodovias e ferrovias, que vem associado a compromissos de investimento.
Parece pouco, especialmente dada a meta de elevar a taxa de investimento dos 18,5% projetados para 2012 para o patamar de 23%, como deseja o governo. Para atingir essa meta será imprescindível melhorar o clima de investimento e corrigir as distorções que hoje limitam as inversões do governo e suas empresas.