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17 setembro 2025

XI ACG


Começa hoje o XI ACG. A partir das nove horas, teremos o Consórcio Doutoral, no qual várias propostas de tese serão debatidas. A cerimônia formal de abertura ocorre às 14 horas e, logo em seguida, às 15 horas, talvez o ponto alto do evento: a Palestra Magna com Katherine Schipper (Duke University, EUA), sobre Sustainability reporting from a financial reporting perspective, mediada pelo professor Paulo Lustosa (UnB).

Após o coffee break das 17 horas, a agenda se divide entre duas atividades: o Painel Temático 1, com Selene Peres Nunes, minha ex-coorientanda de doutorado, discutindo “Lições das regras fiscais: um estudo comparado da OCDE e do Brasil”. Simultaneamente, haverá um Workshop sobre as mudanças na DRE com a IFRS 18, conduzido por Silvio Hiroshi Nakao (USP Ribeirão), Roberta Lira Caneca (Caixa) e Bruno Belon (BB).

IA afetando o comportamento humano: pôquer

No livro No Limite, de Nate Silver, o autor narra o desenvolvimento do PioSolver, voltado para o jogo de pôquer (página 65 da versão em português). O responsável pelo projeto descobriu que o protótipo fazia um tipo de jogada estranho para os jogadores da época. Refere-se ao blefe. No caso, os computadores blefam porque é isso que a teoria dos jogos, usada no protótipo, os instrui a fazer. Isso pode incluir grandes blefes, mas, com frequência, preferem pequenos blefes táticos. Mas é importante lembrar que o objetivo final do programa é ganhar o dinheiro dos oponentes e as pequenas apostas trazem suas vantagens. Uma delas é evitar revelar informações.

O curioso da história é que, na época, isso não era comum. Mas, com a adoção cada vez maior dos solucionadores, a jogada passou a fazer parte dos repertórios dos jogadores humanos. Isso me fez lembrar um caso similar no xadrez, em que o maior jogador de todos os tempos, o norueguês Magnus Carlsen, afirmou que seu jogo mudou depois do lançamento do software de xadrez do Google. E que isso é perceptível na forma como os jogadores de hoje expõem mais seu rei do que no passado, fruto da alteração provocada pelo computador.

Quando uso a IA nas atividades diárias, como ajudar a responder um e-mail complicado, observo que a resposta é diferente do que eu faria. Em alguns casos, para melhor; em outros, nem tanto. Mas penso que, provavelmente, estou, de forma quase imperceptível, mudando minha forma de responder a esse e-mail.

Este texto mesmo: a partir da leitura do trecho do livro, fiz uma redação. A próxima etapa é pedir uma correção ortográfica, mas sei que, em alguns casos, a IA irá fazer mais do que isso. E, se não estiver atento, o estilo meio pomposo da IA irá prevalecer no texto. Mas tenho percebido que minhas respostas, mesmo aquelas que não passam pelo crivo da IA, estão mais “fluídas e natural".

Ou seja, não devemos esquecer que o computador, seja através de uma IA atuando em um texto ou de um solucionador jogando pôquer, irá mudar a forma como agimos no mundo real. Isso é muito fascinante. 

Nova plataforma tributária

Eis um resumo da notícia (via aqui)

O governo federal está desenvolvendo uma nova plataforma tributária extremamente robusta, prevista pela reforma tributária, que substituirá os atuais tributos sobre o consumo (PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS) pelo IBS nos estados/municípios e pela CBS federal. O sistema será até 150 vezes mais “rico” em informações que o PIX: ele processará cerca de 70 bilhões de notas fiscais eletrônicas por ano, com dados detalhados de produto, emissor e crédito fiscal. Um dos seus principais módulos será o split payment, que permitirá que os valores de tributos incidentes em cada operação sejam distribuídos em tempo real para os entes federativos competentes, visando reduzir a sonegação. Haverá também devolução de créditos fiscais instantânea para empresas, e um projeto-piloto com ~500 empresas está em curso. A expectativa é de que esteja operacional em 2026, com função plena em 2027-2029, quando esses tributos forem migrados gradualmente. O sistema inclui mecanismos para evitar fraudes fiscais, simplificar obrigações e devolver parte do imposto para pessoas de baixa renda via “cashback”.

Minuta para adoção do IFRS 18 em pauta até 29/09

Eu estava passando um pente fino em alguns materiais e me lembrei do IFRS 18. Já comentamos por aqui que o objetivo da norma é estabelecer requisitos de apresentação e divulgação das demonstrações financeiras, denominadas pelo IASB de “demonstrações financeiras de propósito geral”. Do início da discussão até a publicação do texto final foram 8 anos de tramitação. (Relembre: aqui).

Pois bem: vi no site do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) que a a Minuta de Revisão de Pronunciamentos Técnicos nº 28 (Alterações decorrentes da IFRS 18/CPC 51) está aberta para audiência pública até 29 de setembro de 2025.

Segundo o CFC, a proposta busca alinhar a norma brasileira ao Anexo D da IFRS 18 – Presentation and Disclosure in Financial Statements, atualizando as referências ao CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, que será revogado. Além disso, outros documentos emitidos pelo CPC (CPCs, ICPCs e OCPCs) também passarão por revisão para incorporar as mudanças necessárias.

É um daqueles movimentos de revisão em cascata, já que a nova norma entra e puxa a revisão de diversas outras. É importante ficar atento, não só à revogação do CPC 26, mas também às pequenas alterações consequentes. É interessante acompanhar e, se possível, participar da audiência. Pena que faltam apenas 12 dias.


Fonte da imagem: Gemini

16 setembro 2025

Denúncia anônima como uma forma de governança


Seria esse um novo instrumento de governança? As linhas diretas corporativas para denúncias anônimas permitem que funcionários relatem desde pequenos problemas cotidianos até casos graves de fraude, assédio e conflitos de interesse. A Nestlé, por exemplo, registrou em 2024 mais de 3.200 mensagens em sua hotline, envolvendo situações de bullying, fraude e irregularidades diversas, das quais cerca de 20% foram confirmadas, resultando em medidas concretas.

Em vários países, a legislação já obriga grandes empresas a manterem canais formais de denúncia. No Brasil, o setor público conta com as ouvidorias como mecanismo equivalente. O crescimento desse tipo de prática deu origem a um mercado especializado: empresas terceirizadas que operam e gerenciam esses sistemas, oferecendo às organizações uma forma estruturada de estimular a transparência, proteger denunciantes e reforçar a confiança interna.

Uma observação sobre III Prêmio Qualidade da Informação Contábil e Fiscal


As duas figuras apresentam os resultados do ranking dos Estados e das Capitais. Também é possível obter os valores dos municípios, mas observe um ponto interessante: em verde (?) estão destacados os entes com as melhores notas. É visível que, com o passar do tempo, as notas máximas melhoraram — e muito.

Uma possibilidade é que a qualidade das informações tenha melhorado substancialmente, quase como em um passe de mágica. No entanto, essa hipótese parece pouco plausível. É mais provável que os entes tenham passado a perseguir as metas do prêmio, seguindo uma espécie de cartilha para alcançar boas avaliações. Trata-se de um caso típico de inflação de notas, fenômeno já bastante discutido no campo da educação.

A inflação de notas corresponde ao aumento contínuo e generalizado das avaliações escolares ou acadêmicas sem que haja, necessariamente, uma elevação proporcional no desempenho real dos estudantes. Esse fenômeno ocorre quando professores ou instituições, pressionados por expectativas sociais, políticas educacionais ou pela busca de prestígio, passam a atribuir notas mais altas de forma desproporcional. Como consequência, reduz-se a capacidade das notas de refletir com precisão o nível de conhecimento ou das habilidades adquiridas, comprometendo comparações entre turmas, instituições e gerações distintas. Além disso, a inflação de notas pode criar uma falsa percepção de mérito, desvalorizar o esforço dos alunos mais dedicados e enfraquecer o papel da avaliação como instrumento de diagnóstico e de incentivo ao aprendizado.

Será que o mesmo não estaria acontecendo também no prêmio?

 

Mais sobre relatórios trimestrais


A Long-Term Stock Exchange, uma Bolsa dos EUA que se diz especializada em companhias que priorizam as metas de longo prazo, quer acabar com o ritual dos balanços trimestrais. “Ouvimos muito a respeito de como é excessivamente oneroso ser uma empresa de capital aberto”, Bill Harts, o CEO da LTSE, disse ao Wall Street Journal. Para ele, o fim dos relatórios trimestrais é “uma ideia cuja hora chegou.”

Segundo o Journal, a LTSE planeja encaminhar uma petição à Securities and Exchange Commission sugerindo o fim da obrigatoriedade de publicação dos balanços trimestrais. A divulgação passaria a ser semestral, e valeria não apenas para as companhias de capital aberto. Nos EUA há cerca de 3.700 companhias com ações negociadas na Bolsa – uma queda de 17% em relação a 2022 e quase metade do pico de 1997.

Em 2018, em meio a um movimento empresarial para reavaliar as exigências regulatórias, Jamie Dimon, o CEO do JP Morgan, e Warren Buffett defenderam o fim do guidance trimestral em um artigo no Wall Street Journal e numa entrevista à CNBC. “O ‘curto-prazismo’ está prejudicando a economia,” dizia o título do artigo.

“Reduzir ou mesmo eliminar as projeções de lucros trimestrais não eliminará, por si só, todas as pressões de desempenho de curto prazo que as empresas de capital aberto dos EUA enfrentam atualmente, mas seria um passo na direção certa,” escreveram Dimon e Buffett. Na opinião de Dimon e Buffett, tudo que os mercados acionários dos EUA puderem fazer para “focar no futuro e construir riqueza e oportunidades de longo prazo tornará o país mais forte, resiliente e competitivo.”

Fonte: aqui