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01 maio 2025

Distorções na busca da neutralidade de carbono


Um artigo da MIT Technology Review, publicado em 24 de abril de 2025, explora como empresas de tecnologia, como Apple, Microsoft, Meta e TSMC, estão investindo em plantações de eucalipto no Brasil como parte de suas estratégias para atingir metas de neutralidade de carbono.

As plantações de eucalipto no Brasil, especialmente no Cerrado, são promovidas como uma solução rápida e escalável para compensar emissões de carbono. Empresas madeireiras destacam certificações de manejo sustentável, investimentos em prevenção de incêndios e a presença de biodiversidade nas áreas plantadas.

Apesar dos benefícios alegados, há críticas sobre o impacto ambiental e social dessas plantações. Comunidades locais e ambientalistas questionam a substituição de ecossistemas nativos por monoculturas de eucalipto, apontando para possíveis efeitos negativos na biodiversidade e nos recursos hídricos.

O artigo destaca a complexidade de equilibrar metas corporativas de sustentabilidade com práticas ambientalmente responsáveis e socialmente justas. 

Possibilidade de uma informação contábil contínua para o usuário externo

Nos anos 1980, Johnson e Kaplan publicaram Relevance Lost, uma obra na crítica à contabilidade da época. Entre os diversos pontos levantados, destacaram-se as preocupações com a crescente perda de relevância das informações contábeis, principalmente em virtude da questão temporal. Para os autores, a contabilidade havia se tornado excessivamente voltada ao curto prazo, com ciclos de informação que tornavam-se menos frequentes e menos úteis para a tomada de decisão estratégica.

Há muito tempo que a contabilidade produz informações com periodicidade definida: balanços e demonstrações anuais para a maioria das empresas, ou trimestrais para aquelas de maior porte, sobretudo as listadas em bolsa. Eventos relevantes são comunicados ao mercado de maneira pontual, por meio de notas explicativas ou comunicados oficiais. No entanto, essa lógica se sustenta ainda no contexto atual?

Vivemos em um mundo de dados em tempo real. As informações circulam constantemente, e modelos preditivos — em especial os baseados em estatística bayesiana — ajustam suas estimativas com cada novo dado incorporado. No caso de empresas em situação delicada, a lógica de acompanhar resultados com base em períodos fixos parece cada vez mais obsoleta. Aqui o acompanhamento deveria ser contínuo, quase em tempo real.


A contabilidade tradicional talvez não esteja estruturada para oferecer uma informação tão completa como àquela que é disponibilizada no encerramento do exercício. Ainda assim, há elementos que poderiam ser monitorados e divulgados com maior frequência. O caixa é o exemplo mais evidente, mas métricas como receitas ou fluxos de recebimento poderiam oferecer sinais úteis. Muitas empresas já acompanham esses dados internamente, com finalidades gerenciais; a questão é se parte disso poderia ser disponibilizada também aos usuários externos.

Não devemos deixar de considerar se isso passa pelo crivo da relação custo-benefício. Arrisco dizer que sim. Afinal, essas informações já existem — estão sendo coletadas, analisadas e utilizadas pelas empresas. No entanto, não se pode ignorar os custos ocultos dessa transparência: há o estresse gerencial e o risco de que gestores passem a tomar decisões voltadas apenas para manter indicadores positivos no curto prazo, e não para garantir a sustentabilidade do negócio. 

Por fim, cabe uma analogia com a meteorologia: modelos climáticos operam em ciclos curtos, ajustando-se a cada nova informação. No entanto, a informação contábil não é (ou talvez não deva ser) da mesma natureza. Há, aqui, uma diferença estrutural entre o que é medir o tempo e o que é capturar a substância de um negócio. Talvez esse seja o desafio da contabilidade contemporânea.

Escrito a partir de reflexões dessa postagem aqui

30 abril 2025

Mapas

Mapas são representações nem sempre fidedignas da realidade. Mas alguns mapas, sem essa preocupação, apresentam de forma didáticas informações interessantes. A seguir um conjunto de mapas curiosos:

Bueiro de uma cidade, que informa, no ponto destacado, onde você está. 

O mapa do mundo e o animal representativo do local.
Um mapa mundi abstrato
Mapa com as rodovias do mundo. Não deixa de ser um mapa com a presença do ser humano.
Mapa dos locais fotografados. 
Mapa de cada país, com a proporção da população local. 
Mapa da Europa e os sobrenomes mais comuns. Almeida em Portugual. 
Mapa dos assentamentos do império romano. 
Mapa com a universidade mais antiga de cada país. Bolonha, na Itália, é a campeã. Em Portugal, Coimbra. 

PCAOB


A presidente do Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB), Erica Williams (foto), manifestou-se contrária a um projeto de lei proposto por legisladores republicanos que visa eliminar o PCAOB e transferir suas funções para a Securities and Exchange Commission (SEC). Uma das razões apontadas por Williams é a falta de experiência técnica da SEC, em comparação com a expertise acumulada pelo PCAOB ao longo de duas décadas.

A justificativa apresentada pelos republicanos é a necessidade de redução dos gastos federais. Já os opositores da medida afirmam que a eliminação do PCAOB pode comprometer a qualidade das auditorias, prejudicando os investidores.

Problemas contábeis do Corinthians 2

 

O texto da postagem anterior é de 28 de abril. Acaba de sair o balanço do Corinthians, com passivo de 2,5 bilhões. 

Mas o destaque está a seguir:


Esse é do Conselho Fiscal, mas a reprovação também foi feita pelo CORI e pelo Conselho Deliberativo. 

Diferente foi a posição do Auditor que afirma:

exceto pelos efeitos e pelos possíveis efeitos dos assuntos descritos na seção a seguir intitulada "base para opinião com ressalva", as demonstrações financeiras acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira ...

E quais são os itens? Por exemplo, falta de divulgação de demonstrações consolidadas com a Arena e a própria empresa diz que isso afeta alguns elementos das demonstrações financeiras de forma relevante, mas não consegue determinar esse impacto. Também incerteza com respeito a continuidade operacional. Não parece ser contraditório? 

Problemas contábeis no Corinthians


Uma reportagem da Trivela discute os problemas financeiros do clube Corinthians. Basicamente, há divergências entre os números que a gestão apresentou e os números que o Conselho de Orientação (CORI), do próprio clube, chegou. Além de uma diferença no passivo de 231 milhões de reais entre os números, há problemas na estrutura da contabilidade do clube. 

Além da diferença dos números, o CORI apontou os seguintes problemas, segundo o texto do site Trivela:

  • Ausência de divulgação dos balancetes mensais; 
  • Falta de atualização e/ou revisão orçamentária do clube;
  • Falta de apresentação das faturas de cartões de crédito corporativos, que somam o montante de R$ 7 milhões; 
  • Ausência de resposta sobre a solicitação da documentação comprobatória dos chamados ajustes gerenciais, na ordem de R$ 192 milhões;
  • Divergências de saldos entre controles gerenciais e de sistema;
  • Contratação tardia de empresa de auditoria;
  • Falta de reconhecimento dos demonstrativos contábeis da Neo Química Arena; 
  • Lançamento dos valores arrecadados pela torcida para a quitação da arena como receita;
  • Falta de critério no critério e procedimentos de contratação dos prestadores de serviço; 
  • Falta de apresentação de contrato do atacante Memphis Depay; 
  • Demonstrativo de utilização dos valores arrecadados, bem como os captados junto à XP, tendo como garantia o contrato com a Liga Forte União (LFU);
  • Falta de providências junto ao caso “Vai de Bet”;
  • Ausência de contestação judicial do valor de R$ 40 milhões pela rescisão, assumindo mais de R$ 4 milhões de honorários advocatícios;
  • Ausência de apresentação das composições dos materiais esportivos da “Nike”. 
O valor de 231 milhões não parece tão elevado quando é feita a comparação com o total da dívida do clube, adicionado à dívida do estádio: 1829 milhões ou 12%.

29 abril 2025

Provisão na Meta


A multa de 200 milhões de euros imposta pela Comissão Europeia à Meta, empresa proprietária do Facebook, Instagram e WhatsApp, não apanhou a gigante tecnológica norte-americana de surpresa. A Meta Platforms Ireland Limited, holding que concentra na Irlanda os negócios europeus da companhia, criou uma provisão de contingência de 4.155 mil milhões de euros [1], de acordo com as últimas demonstrações financeiras públicas, referentes ao exercício de 2023 [2].

A empresa explica no relatório anexado às contas que “as provisões (…) referem-se a valores identificados para multas administrativas decorrentes de diversas investigações em curso sobre o cumprimento normativo ou decisões das autoridades competentes de proteção de dados e outros órgãos reguladores”. [3] (...) 

Do texto Meta cria provisão de quatro mil milhões de euros

[1] Isso representa 4 bilhões de euros na linguagem brasileira. 

[2] Parece estranho terem obtido a inferência com demonstrações defasadas e informando que a empresa criou a provisão a partir do processo que está sendo notícia agora.

[3] Veja que a nota é genérica nesse sentido.