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05 fevereiro 2024

Um erro com algarismo romano e sua consequência sobre o direito autoral de um filme

O caso é bem engraçado, mas que deve ter custado um bom dinheiro. Basicamente a lei de direitos autorais institui um prazo para que os donos, e seus herdeiros, possam usufruir da obra. Após um determinado prazo, instituído na lei, a obra artística torna-se domínio público. Ou seja, qualquer pessoa pode explorar a obra. 

Em 1954 foi lançado o filme "A última vez que vi Paris", um filme com quase duas horas de duração, com Elizabeth Taylor no papel de Helen Ellswirth. Não é um clássico, mas é o centro do caso


Em obra deste tipo, há um aviso de direito autoral. No caso, escreveram MCMXLIV como ano do lançamento. Se o leitor prestou a atenção, o número romano corresponde a 1944, e não 1954. Isso significa dizer que o prazo normal para os direitos autorais acabou dez anos antes. Em casos como este, o estúdio poderia alegar o erro e pedir uma prorrogação, mas não fez nada. Resultado, pela lei da época, o filme entrou em domínio público em 1972. 

O filme pode ser encontrado no Youtube. O erro aparece logo no início:



Rir é o melhor remédio

 

De Carlos Ruas

04 fevereiro 2024

Países viciados na tela

Dados do tempo que as pessoas estão coladas na tela. Quanto mais azul, maior o tempo. É fácil perceber que o brasileiro é viciado. Pelos dados, são nove horas e meia, o que inclui os smartphones. Os dados são da Smartick (via aqui) e a África do Sul é o país que gasta mais tempo em desktop e celular (valor de 9:38 versus 9:32 do Brasil). 

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

26 janeiro 2024

Celular e educação


Como professor, tenho que pensar como lidar com meus alunos de usam celular em classe. Há alguns anos adotava uma atitude simples e direta de não permitir o uso do aparelho na minha aula. O aluno que usasse o celular em sala de aula seria chamado a atenção e deveria sair da sala. Nos últimos anos, confesso que fui vencido pelo cansaço. Minha atitude mudou: agora, considero que o problema é de cada um que usa o seu aparelho. No último semestre, na minha aula de graduação, era comum olhar para a turma e perceber que 80% dos alunos estavam usando seus aparelhos em sala de aula. Me considerava um grande vencedor por ter apenas 20% dos alunos aparentemente prestando atenção. 

O celular tem forçado as pessoas a lerem, mesmo que sejam mensagens curtas e muitas vezes irrelevantes, e a escreverem, idem. Em Dataclisma, Rudder mostra que a geração recente não necessariamente piorou o seu desempenho em termos de escrita em comparação com o que escreve nas redes sociais. Em Hamlet, a palavra média tinha 3,99 caracteres, enquanto que em uma amostra do Twitter, a palavra média tinha 4,80 caracteres, como observa Rudder. No entanto, não devemos olhar apenas para este lado da questão, pois há um senso comum de que as pessoas estão menos atentas quando estão usando o aparelho. 

Recentemente, o governo republicano da Flórida promulgou uma lei que proíbe o uso de celulares em escolas públicas. Isso significa que, durante as aulas, os alunos não podem usar os aparelhos, incluindo fones de ouvido. Em termos científicos, ainda há pouca comprovação de que o celular esteja afetando, de forma negativa, o desempenho acadêmico. Um fato é que muito difícil fazer uma associação como essa, por uma série de motivos. Um deles, é que o o efeito de qualquer política pública sobre o desempenho de um aluno vai depender uma visão de longo prazo. Além disso, há muitas variáveis que podem afetar este desempenho. 

Derek Thompson, em um artigo para o The Atlantic, lembra que o bem-estar dos jovens sofreram um declínio há dez anos em muitos países, exatamente quando a rede social tornou-se uma parte essencial da nossa vida. Mas uma análise das pontuações do PISA pode ser mais convincente, segundo Thompson. 

O PISA é um exame internacional que avalia o desempenho de jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências de diferentes países. É feito pela OCDE. Em 2022 a média global foi de 493, 490 e 496 pontos, na ordem. Só para fins de comparação, o desempenho do jovem brasileiro foi de 407, 377 e 403, abaixo portanto da média global. 

A questão é que entre 2018 e 2022 o desempenho mundial caiu. Como esta redução aconteceu antes da pandemia, não é possível culpar o problema de saúde ao desempenho escolar. Em termos mundiais, o melhor desempenho ocorreu antes do advento das mídias sociais, mais especificamente entre 2009 e 2012. E esse fracasso ocorreu tanto em países com elevado nível de educação, como Finlândia ou Coréia, como em outros países. 

O relatório do PISA aponta as possíveis causas para o desempenho ruim a partir de 2012 e parece que os alunos que ficam mais tempo olhando os celulares possuem menor desempenho. Talvez a proibição na escola do uso do celular, como está sendo testado na Flórida, não seja suficiente para melhorar o desempenho do aluno. Afinal uma pessoa tem seu aparelho ao lado muito mais tempo do que o período em sala de aula. Mas talvez seja melhor o que está sendo testado nos lugares que está proibindo os celulares do que não fazer nada. 

Em termos pessoais, eu devo voltar ao período que proibia meus alunos de usarem os celulares em sala de aula? 

24 janeiro 2024

Evidenciação voluntária também é importante

Overall, our research provides a portrait of the relation between standard-setting and firms’ ESG disclosures. On average, firms gravitated toward material disclosures once materiality was defined, but this response was not uniform across firms. Our findings indicate that having well-defined voluntary standards and guidance can enhance the quality of ESG disclosures, making it easier for investors to compare and evaluate companies. This is particularly relevant as regulators are currently considering imposing ESG disclosure mandates, such as the ESG Disclosure Simplification Act of 2021 proposed by the U.S. Congress. Our research suggests that a mandate would likely lead to greater convergence in the types of information reported by companies, which could make it easier for investors to make informed decisions.

De um artigo de divulgação da pesquisa, onde os autores valorizam a divulgação voluntária antes da existência de regulamentação.

23 janeiro 2024

Pluralismo religioso

In a rational-choice approach to religious conversion, the conversion rate depends on a person’s costs of switching religions and costs of having one’s religion deviate from the type viewed as ideal. The International Social Survey Programme (ISSP) waves for 1991, 1998, 2008, and 2018 allow for calculations of country-wide conversion rates based on religion adherence at the time of each survey and a retrospective question that gauges adherence when the respondent was raised. The analysis applies to 8 types of religion for 58 countries (125 total observations). The rate of conversion depends positively on measures of religious pluralism, negatively on official restrictions that inhibit conversion, negatively on a history of Communism, negatively on real per capita GDP, and positively on years of schooling. These empirical findings accord with predictions from the theoretical framework.

Artigo de Robert Barro pode ser encontrado aqui

Jogo sujo

Nos negócios vale tudo? Parece que sim:


O eBay foi condenado a pagar uma multa criminal de US$ 3 milhões após perseguir um casal de Massachusetts que administra o EcommerceBytes Blog. A empresa retaliou contra os críticos, enviando entregas perturbadoras à casa das vítimas, incluindo um livro sobre a morte de um cônjuge, uma máscara de porco sangrenta, um porco fetal e uma coroa fúnebre, além de insetos vivos. Funcionários do eBay ameaçaram rastrear o casal e até publicaram anúncios no Craigslist convidando o público para encontros sexuais na casa deles. O eBay concordou em pagar a multa e será monitorado por três anos como parte do acordo com o governo federal. Embora dois funcionários tenham sido presos, o ex-CEO, Devin Wenig, não enfrentou acusações. O casal planeja uma ação civil contra o eBay com um julgamento marcado para março de 2025.

Ah, os executivos não foram punidos. 

Tributação a ver Navios


Cerca de 44% dos grandes navios do mundo estão registrados em três países. As potências navais são Panamá, Libéria e Ilhas Marshall. Se você está pensando qual seria a razão destes três pequenos países apresentarem quase metade dos grandes navios do mundo a resposta é: impostos. Nos países há um forte incentivo tributário. 

Os dados são da Bloomberg Opinion, que traz uma questão interessante aqui: se a bandeira é desses países, qual o sentido dos países desenvolvidos defenderem as rotas de navegação? Veja que claramente há uma transferência de riqueza aqui, dos contribuintes dos países para os proprietários da frota, que pagam pouco. 

22 janeiro 2024

Iêmen e a importância do custo em uma guerra

O conflito no Mar Vermelho envolve um grupo de guerrilheiros houthis do Iêmen, que estão prejudicando o transporte de carga pela rota do Suez. A situação apresenta questões de teoria de jogos e custos distintos. Enquanto as potências ocidentais, cujos navios de carga são atacados, desejam manter a rota, os houthis usam drones para tentar bloquear o transporte pela rota.

O caso chama a atenção devido à diferença nos custos dos dois lados do conflito. Os navios atacados são caros e transportam mercadorias valiosas, enquanto os drones lançados pelos houthis são muito mais baratos, estimados em menos de 20 mil dólares.

Além disso, os navios ocidentais podem interceptar os drones, mas o custo é elevado, com um míssil antiaéreo custando mais de 1 milhão cada, sem garantia de sucesso em atingir os drones. A tecnologia dos houthis é acessível e barata, ao passo que a dos países ocidentais é cara e menos acessível. Isso, logicamente, favorece a indústria de armas do Ocidente, que vendeu os mísseis.

(Veja mais sobre a diferença de custo, aqui)

Quando a IA destrói seu valor


A Inteligência Artificial pode destruir valor de uma empresa usuária. Veja o que ocorreu com a Red Ventures. A empresa tenta vender o site de tecnologia CNET. Em janeiro de 2023, foi revelado que a CNET publicou secretamente artigos gerados por IA, resultando em erros e plágio, levando a demissões e preocupações sindicais. A Red Ventures espera recuperar metade dos US$ 500 milhões pagos pela aquisição em 2020, mas enfrenta obstáculos, incluindo um mercado de anúncios lento e preocupações de reputação relacionadas ao erro de IA. Potenciais compradores citam o escândalo de IA como um fator notável, destacando a importância da reputação da marca.

Poder da informação

A informação é poder. Eis um resumo do amor do Taliban pelos cartões SIM: 


O Paquistão começou a deportar afegãos que haviam fugido quando o Taliban retomou o poder em 2021, forçando-os a retornar a um Afeganistão assolado por pobreza e fome. Surpreendentemente, o Taliban ofereceu ajuda humanitária aos refugiados, incluindo alimentos, tendas e cartões SIM gratuitos. Este gesto destaca uma mudança em relação à década anterior, quando o Afeganistão era considerado pioneiro na revolução tecnológica. Atualmente, os SIM cards são distribuídos como parte de uma estratégia do Taliban para coletar biometria e monitorar os refugiados. A distribuição pode servir como uma tática eficaz para integrar os refugiados aos futuros planos do Taliban. O controle sobre as telecomunicações é essencial para qualquer novo governo, e, apesar das incertezas econômicas, o setor de telecomunicações afegão demonstra resiliência. A capacidade de rastrear mulheres e meninas afegãs supera o risco de conceder-lhes acesso ao mundo exterior, ilustrando como regimes, mesmo os parias, aproveitam sistemas de vigilância sofisticados enquanto impõem políticas regressivas. Este cenário sinaliza a abordagem generalizada dos governos em relação ao controle digital na era contemporânea.

21 janeiro 2024

Rir é o melhor remédio

 


Plágio é relevante?

Tim Harford, sobre a acusação de plágio contra a economista e política britânica Rachel Reeves (foto):

Em casos de plágio acadêmico, a preocupação é novamente diferente. Os professores não estão preocupados com o plágio de alunos porque temem que alguém seja privado de direitos autorais, mas porque o plágio prejudica o processo educacional: ele tenta o aluno a não se preocupar em estudar e torna difícil para o professor avaliar as realizações do aluno.


Por esses motivos, é arriscado oferecer uma opinião geral sobre os prós e os contras da cópia, mas, de qualquer forma, vou fazer isso de maneira imprudente: Acho que nos preocupamos demais com isso. A longo prazo, os estudantes plagiadores estão prejudicando a si mesmos e, portanto, devemos desencorajá-los a plagiar pelo mesmo motivo que os desencorajamos a beber em excesso ou a fazer sexo sem proteção: para seu próprio bem. (...)

Não concordo com ele. Em muitos casos, o plágio revela o caráter da pessoa e devemos preocupar com ele na área acadêmica. Se todos forem condescendes, os plagiadores passarão pela academia sem serem incomodados e receberão, como recentemente ocorreu com a ex-reitora de Harvard, Claudine Gay, que cometeu plágio ao longo de sua trajetória acadêmica. 

Harford acha que Reeves não será menos preparada em gerenciar as finanças britânicas, se um dia for Chanceler, tendo ou não sido original. Acho que isto diz respeito a qualidade de integridade. 

Rir é o melhor remédio

Preparado para fiscalização ...
 

Os Códigos de filmes e séries

Você já deve ter assistido filmes e séries com códigos de programação. Em muitos casos, os códigos são importantes para história e aparecem na tela para dar maior realidade. Se alguém assistiu, o filme Ex Machina, de 2015, isso aparece. 

Há uma página que comenta o que significa os códigos que aparecem nos filmes e séries. Inclui o Ex-Machina, mas também Silicon Valley, O Exterminador (1984), Jurassic Park (1993), entre outros. Os comentários são feitos com vídeos. (Via aqui)

Potência industrial

 

Uma comparação entre os países do mundo mostra que a grande potência industrial nos dias de hoje é a China. O país asiático possui cerca de um terço da produção industrial, seguido de longe pelos Estados Unidos. E da listagem dos principais países industriais do mundo, três são economias de industrialização recente. 

A última vez que um país líder foi retirado do trono de maior produtos mundial foi quando os Estados Unidos passaram o Reino Unido, antes da primeira guerra. Mas foi preciso um século para que isso ocorresse. A mudança que temos agora ocorreu em duas décadas. 

A figura abaixo mostra esta evolução. Em 1998 a China tinha passado a Alemanha como nação industrial. Dez anos depois, em 2008, foi a vez dos Estados Unidos. E a China continua crescendo e aumentando sua participação na produção. 

20 janeiro 2024

Illimitez-vous ! Campanha para atrair jovens para a contabilidade

A Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, entidade francesa de profissionais, lançou uma campanha para atrair a geração mais jovem no início do ano, com um forte convite: "Ilimize-se ! ". Com 21 mil profissionais liberais e 170 mil funcionários nas empresas de contabilidade, os números franceses são respeitáveis. Mas parece que existe uma dificuldade de atrair talentos. O vídeo a seguir faz parte desta campanha:
 
O canal do Youtube da entidade possui mais de seis mil inscritos e até agora 568 assistiram ao vídeo. (Parece pouco, não?)

19 janeiro 2024

Custo do litígio


As empresas petrolíferas estão sob crescente pressão jurídica, e isso pode custar caro para seus investidores.

Esta semana, a Suprema Corte dos EUA disse que não ouvirá uma proposta da principal associação comercial do setor petrolífero para transferir um processo de responsabilidade por mudanças climáticas contra ela e a ExxonMobil para fora de Minnesota, onde o procurador-geral do estado as acusou de marketing enganoso. A Big Oil tem mais chances de vencer as acusações no tribunal federal, dizem os especialistas jurídicos; em Minnesota, é mais provável que elas enfrentem penalidades multibilionárias. O julgamento de Minnesota estará entre os mais importantes a serem observados este ano, mas é apenas um dos inúmeros processos judiciais em andamento contra as empresas petrolíferas nos EUA.

Algumas delas podem ser favoráveis às empresas: um juiz de Delaware determinou esta semana que o procurador-geral do estado precisa limitar o escopo de uma ação judicial para se concentrar apenas nos danos causados pelas emissões no estado. No entanto, em um artigo publicado esta semana, especialistas em direito da Universidade de Oxford argumentam que o risco legal enfrentado pelas empresas petrolíferas representa um risco importante e subestimado para seus investidores. Somente a Chevron, segundo os pesquisadores, está sujeita a até US$ 8,5 trilhões em indenizações por vários processos em que está envolvida, enquanto a empresa obteve apenas cerca de US$ 300 bilhões em lucro líquido nos últimos 20 anos. Além das penalidades diretas, os litígios climáticos aumentam o risco de os ativos das empresas perderem valor prematuramente - por exemplo, se os tribunais obrigarem as empresas a acelerar seus cortes de emissões, como um tribunal holandês decidiu em 2021 que a Shell deve fazer - e de elas enfrentarem custos de empréstimos mais altos.

Em outras palavras, o negócio de combustíveis fósseis pode não valer mais o risco legal, disse o autor do estudo, Rupert Stuart-Smith, pesquisador associado do Programa de Direito Sustentável de Oxford, em um comunicado: "É possível que o negócio da Chevron esteja, de fato, destruindo o valor líquido."

Da newsletter Semafor, de 12 de janeiro de 2024. 

Lembrando que uma empresa como Petrobras tem ações no mercado de capitais no exterior e está investindo pesado em petróleo. Litígio à vista? 

18 janeiro 2024

Propagando enganosa

Uma influencer italiana, Chiara Ferragni, com quase 30 milhões de seguidores no Instagram, anunciou que parte da venda do bolo seria destinada a um hospital de Turim, para crianças doentes. Veja a foto dela segurando o produto.


Chiara realmente fez uma doação para o hospital, mas antes de começar a promoção. Ou seja, a receita obtida na venda não foi destinada para a entidade de saúde. Com dezenas de contratas com marcas, o regulador multou Chiara em 1 milhão de euros, por propaganda enganosa. Chiara respondeu que a multa foi exagerada e isso piorou a situação perante seus seguidores: redução de 200 mil seguidores em menos de um mês.