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26 janeiro 2024

Celular e educação


Como professor, tenho que pensar como lidar com meus alunos de usam celular em classe. Há alguns anos adotava uma atitude simples e direta de não permitir o uso do aparelho na minha aula. O aluno que usasse o celular em sala de aula seria chamado a atenção e deveria sair da sala. Nos últimos anos, confesso que fui vencido pelo cansaço. Minha atitude mudou: agora, considero que o problema é de cada um que usa o seu aparelho. No último semestre, na minha aula de graduação, era comum olhar para a turma e perceber que 80% dos alunos estavam usando seus aparelhos em sala de aula. Me considerava um grande vencedor por ter apenas 20% dos alunos aparentemente prestando atenção. 

O celular tem forçado as pessoas a lerem, mesmo que sejam mensagens curtas e muitas vezes irrelevantes, e a escreverem, idem. Em Dataclisma, Rudder mostra que a geração recente não necessariamente piorou o seu desempenho em termos de escrita em comparação com o que escreve nas redes sociais. Em Hamlet, a palavra média tinha 3,99 caracteres, enquanto que em uma amostra do Twitter, a palavra média tinha 4,80 caracteres, como observa Rudder. No entanto, não devemos olhar apenas para este lado da questão, pois há um senso comum de que as pessoas estão menos atentas quando estão usando o aparelho. 

Recentemente, o governo republicano da Flórida promulgou uma lei que proíbe o uso de celulares em escolas públicas. Isso significa que, durante as aulas, os alunos não podem usar os aparelhos, incluindo fones de ouvido. Em termos científicos, ainda há pouca comprovação de que o celular esteja afetando, de forma negativa, o desempenho acadêmico. Um fato é que muito difícil fazer uma associação como essa, por uma série de motivos. Um deles, é que o o efeito de qualquer política pública sobre o desempenho de um aluno vai depender uma visão de longo prazo. Além disso, há muitas variáveis que podem afetar este desempenho. 

Derek Thompson, em um artigo para o The Atlantic, lembra que o bem-estar dos jovens sofreram um declínio há dez anos em muitos países, exatamente quando a rede social tornou-se uma parte essencial da nossa vida. Mas uma análise das pontuações do PISA pode ser mais convincente, segundo Thompson. 

O PISA é um exame internacional que avalia o desempenho de jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências de diferentes países. É feito pela OCDE. Em 2022 a média global foi de 493, 490 e 496 pontos, na ordem. Só para fins de comparação, o desempenho do jovem brasileiro foi de 407, 377 e 403, abaixo portanto da média global. 

A questão é que entre 2018 e 2022 o desempenho mundial caiu. Como esta redução aconteceu antes da pandemia, não é possível culpar o problema de saúde ao desempenho escolar. Em termos mundiais, o melhor desempenho ocorreu antes do advento das mídias sociais, mais especificamente entre 2009 e 2012. E esse fracasso ocorreu tanto em países com elevado nível de educação, como Finlândia ou Coréia, como em outros países. 

O relatório do PISA aponta as possíveis causas para o desempenho ruim a partir de 2012 e parece que os alunos que ficam mais tempo olhando os celulares possuem menor desempenho. Talvez a proibição na escola do uso do celular, como está sendo testado na Flórida, não seja suficiente para melhorar o desempenho do aluno. Afinal uma pessoa tem seu aparelho ao lado muito mais tempo do que o período em sala de aula. Mas talvez seja melhor o que está sendo testado nos lugares que está proibindo os celulares do que não fazer nada. 

Em termos pessoais, eu devo voltar ao período que proibia meus alunos de usarem os celulares em sala de aula? 

2 comentários:

  1. Professor, bom dia! Acredito que proibir é o correto no ensino fundamental e médio. Já na educação superior, não sou favorável. Acredito que nesse nível o aluno já precisa ser mais responsável pelo seu processo de aprendizado.

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    1. Ricardo, as formas de ensino e aprendizagem têm passado por diversas modificações, inclusive em consequência à inteligência artificial. A consideração e opinião dos envolvidos é extremamente essencial. Agradecemos o precioso comentário e participação.

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