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14 novembro 2010

Maquiagem

A operação do PanAmericano, que quase foi à falência por conta de um rombo de R$2,5 bilhões, era deficitária, mas os executivos que comandavam o banco "maquiavam" o balanço, transformando lucro em prejuízo, para "garantir seus prêmios".

É isso que Silvio Santos, o dono do PanAmericano, acredita ter ocorrido com seu banco, segundo entrevista concedida à revista "Veja".

Silvio Santos fez, no entanto, a ressalva de que "não entende" o suficiente do negócio bancário para ter certeza sobre o que teria ocorrido com a instituição. "Só saberemos exatamente o que houve quando as investigações terminarem", disse.

Na entrevista, o empresário afirmou que, em 2005, o Citibank, gigante norte-americano do setor bancário, fez uma oferta de R$ 1,3 bilhão pelo PanAmericano.

Silvio Santos afirma que recusou a oferta do Citi porque o banco "deixou claro que demitiria um número muito grande de nossos 5.000 funcionários".

Diferentemente do que havia declarado em entrevista concedida à Folha na última quinta-feira, Silvio Santos disse à "Veja" que não pretende vender sua rede de televisão, o SBT. A rede valeria R$ 1 bilhão, segundo ele.

"Se tiver mesmo que vendê-la, isso vai acontecer daqui a oito ou dez anos", disse.

O empresário confirmou que as demais empresas do seu império de negócios (incluindo o próprio PanAmericano e indústrias de cosméticos) podem ser vendidas para cobrir o empréstimo.

Só o banco valeria R$ 1,2 bilhão e a empresa de cosmético, mais R$ 800 milhões.

Silvio Santos afirmou ainda que ficou sabendo que o Banco Central havia detectado problemas nas contas do PanAmericano no dia 11 de setembro e que o problema com o banco vai retardar sua aposentadoria, inicialmente planejada para 2011, quando terá 80 anos.


Silvio Santos diz que "maquiagem" ocultava deficit - 14 Nov 2010 - Folha de São Paulo

13 novembro 2010

Rir é o melhor remédio

O tenista McEnroe numa propaganda onde discute com o guarda de trânsito sobre o carro estar ou não na linha.

Fonte: Funnyvideo

Por que a Deloitte erra Tanto


O economista aposentado Enrique Garcia tomou um empréstimo consignado, garantido por sua aposentadoria, no Banco PanAmericano, que já foi pago. Pouco mais de um ano depois, o microempresário Fábio Casagrande financiou a compra de seu Ford Ka com a ajuda do banco.

Eles não se conhecem, mas têm uma coisa em comum: os pagamentos de Garcia foram usados para quitar as dívidas de Casagrande. Os empréstimos concedidos pelo PanAmericano eram empacotados em grandes carteiras, posteriormente vendidas várias vezes para bancos diferentes. O dinheiro dos novos créditos pagava os juros dos antigos.

O objetivo da fraude era engordar os ativos e os lucros do banco, e turbinar a remuneração dos executivos. Foi essa pirâmide financeira fraudulenta que gerou o rombo de R$ 2,5 bilhões no banco de Silvio Santos, em um processo construído pelo menos há quatro anos – e, por incrível que pareça, a Deloitte, responsável pela auditoria dos balanços, não enxergou nada.

“As auditorias, a interna e a externa, não perceberam o que estava acontecendo”, diz Celso Antunes da Costa, novo diretor-superintendente do Panamericano que tomou posse na terça-feira 9. Em teoria, as empresas de auditoria são pagas para garantir a confiabilidade das informações publicadas pelas empresas.

Na prática, a Deloitte chancelou o balanço do PanAmericano referente ao segundo semestre de 2010 sem ressalvas, o que certamente prejudicou clientes, aconistas e colocou em risco a própria economia. Como um rombo desse tamanho passou despercebido? “Pode ser que alguém do banco ou da auditoria tenha indicado que havia diferenças de valores, mas, se isso ocorreu, a apuração não avançou”, diz Costa, que já colocou na agenda a busca de outra auditoria. “Não há clima para continuarmos com a Deloitte.”

O erro de R$ 2,5 bilhões da auditoria no PanAmericano é mais uma derrapada em uma lista de casos parecidos. A Deloitte estava encarregada de auditar as contas da Parmalat, que quebrou em 2003 deixando um buraco de US$ 1,8 bilhão. Também era a responsável pelas contas da empresa de lentes de contato Bausch & Lomb, cujos executivos da subsidiária brasileira desviaram US$ 25 milhões (na época, a Deloitte negou que auditava as contas da empresa).

Mais recentemente, a Deloitte também olhava os números da Aracruz, empresa de celulose que perdeu R$ 1,95 bilhão em operações com derivativos cambiais em 2008. A Deloitte tinha de garantir que as informações prestadas pelo banco fossem consistentes, mas não foi a única empresa a esquadrinhar os números do PanAmericano.

A venda de 36% do seu capital total e 49,99% das suas ações ordinárias para a Caixa Econômica Federal teve a assessoria do banco Fator e da auditoria KPMG, que também não perceberam nada de errado nos números. Durante a negociação, o Fator encontrou divergências em dívidas trabalhistas e tributárias, que reduziram a avaliação do PanAmericano em R$ 100 milhões, mas essas diferenças são normais em vendas de empresas, diz Venilton Tadini, diretor de banco de investimentos do Fator.

Ele afirma que seria impossível encontrar o rombo nos ativos “Não tivemos acesso completo aos dados, não podíamos ver quem eram os compradores das carteiras de crédito.” O executivo diz que nem o Fator nem a KPMG puderam ir fundo na pesquisa. “Não fomos autorizados a consultar a Deloitte, pois o banco temia ter de divulgar ao mercado que estava procurando um sócio”, diz ele. “Se o negócio não fechasse, o PanAmericano quebrava, pois a confiança do mercado ficaria arranhada.”

Isso já ocorreu. A recepcionista Janaína dos Santos tomou um empréstimo no Panamericano há dois meses para financiar a compra de um carro. “Não dá para confiar em um banco que tem fraude”, diz. Procurada, a Deloitte divulgou uma nota em que diz ser “uma empresa presente no Brasil desde 1911, que atende a cinco mil clientes e com quatro mil profisionais pautados pela mais estrita ética, transparência e profissionalismo”. Ah, bom.

Por que a Deloitte erra tanto - Por Cláudio Gradilone

Desvio de dinheiro no Panamericano

Além da fraude contábil para esconder prejuízos, funcionários fizeram operações suspeitas na área de cartões de crédito

A investigação do rombo no Panamericano aponta para o desvio de recursos por funcionários do banco. O foco está na área de cartões de crédito. Durante a investigação, diretores já demitidos admitiram que financiavam o saldo de devedores dos cartões em valores superiores à dívida real.

Assim, o dinheiro que saía do caixa do banco era superior ao que os clientes financiavam. Do rombo total de R$ 2,5 bilhões do Panamericano, R$ 400 milhões tiveram origem nos cartões.

Se a suspeita for confirmada, como acreditam pessoas envolvidas na investigação, serão ao menos duas as causas do rombo: desvio, provavelmente para o bolso de funcionários, e maquiagem dos balanços para esconder os maus resultados do banco.

Ao contrário do que ocorreu na venda de carteiras de crédito para outros bancos, nos cartões houve efetiva saída de dinheiro. “Os recursos saíram do banco. O trabalho agora é descobrir onde foram parar”, afirma uma fonte a par do assunto. “Ainda está tudo muito nebuloso.”

Para fazer financiamentos a mais, os executivos usavam as procurações que os clientes no Brasil concedem à administradora quando aderem ao cartão. Com elas, a administradora ia ao banco para contratar financiamento em nome do cliente quando este parcelava o saldo devedor.

Ontem, o Ministério Público Federal em São Paulo recebeu a notificação do Banco Central (BC) para investigar o caso. Também ontem, a Polícia Federal (PF) informou que abriu investigação.

Internamente, as irregularidades serão apuradas pela nova diretoria e pela PriceWaterhouseCoopers, auditoria indicada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que emprestou R$ 2,5 bilhões para Silvio Santos salvar o Panamericano.

Um dos obstáculos que os investigadores vão encontrar é que o setor de cartões de crédito no Brasil vive uma espécie de ‘limbo jurídico’. Nenhum órgão de governo é responsável pela fiscalização da área. Além disso, a administradora de cartões do Panamericano não está subordinada ao banco.

A hipótese de que os antigos diretores forjaram os balanços para engordar os bônus perdeu força porque o Panamericano não tinha essa política de remuneração. Segundo um documento enviado pelo banco à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os diretores ganhariam este ano R$ 4,542 milhões entre salários e benefícios diretos ou indiretos. Não havia previsão para remuneração variável.

Crivos. A contabilidade do Panamericano passou por vários crivos ao longo dos últimos anos. Nenhum deles detectou as fraudes. Segundo o BC, a maquiagem dos números começou em 2006. Em novembro do ano seguinte, o Panamericano emitiu ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Com a operação, arrecadou quase R$ 777 milhões. “Abrir capital na bolsa é muito chato”, afirma um banqueiro. “Envolve advogados, auditores, investidores. Como é que ninguém viu?”

No fim do ano passado, os auditores e negociadores da Caixa Econômica Federal também mergulharam nas contas do Panamericano quando o banco estatal comprou 49% do capital votante do banco de Silvio Santos por R$ 739 milhões. Mais uma vez, ninguém viu.


Investigação indica desvio de dinheiro no Panamericano - David Friedlander e Leandro Modé - 13 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Caixa, Panamericano e Consultorias

A Caixa Econômica Federal deve interpelar a KPMG e o Banco Fator para prestarem esclarecimento sobre a auditoria que fizeram nas contas do Banco Panamericano. A interpelação extrajudicial tem como objetivo saber por que as empresas não identificaram a fraude que resultou no rombo de R$ 2,5 bilhões no Panamericano. A partir daí, a Caixa decidirá se entrará ou não com alguma medida judicial.

No momento, a avaliação da estatal é de que não há motivos para acionar judicialmente as companhias, pois não houve prejuízos financeiros. Toda a “inconsistência patrimonial” detectada pelo Banco Central foi coberta com um aporte do acionista controlador, no caso, o Grupo Silvio Santos.

“Não cabe nesse primeiro momento uma ação judicial. Por isso, estamos estudando interpelar as empresas extrajudicialmente para questionar o trabalho realizado. Se não formos convencidos (das respostas aos questionamentos), entraremos com ação na Justiça”, explicou uma fonte ao Estado. “Os representantes da Caixa já estão no banco e agora será possível verificar mais de perto o que aconteceu”, acrescentou.

No final do ano passado, após as auditorias internas e externas não identificarem problemas nos balanços patrimoniais do Panamericano, a Caixa adquiriu 49% das ações da instituição do Grupo Silvio para ampliar a atuação em setores em que não tem muita presença como, por exemplo, financiamento de carros usados.

Na ocasião, o governo federal estimulou a compra de carteiras de crédito de bancos pequenos e de médio porte devido à falta de liquidez provocada pela crise econômica mundial. O objetivo era impedir que essas instituições quebrassem.

O que a Caixa considera inaceitável e está apurando é o motivo pelo qual as empresas de auditoria KPMG, Banco Fator e Delloite não identificaram indícios de irregularidades nos balanços do Panamericano.

Neste primeiro momento, segundo a fonte, serão interpeladas extrajudicialmente a KPMG e Banco Fator.

Fantasma do Nacional. No BC, o clima entre os técnicos da fiscalização não é dos mais tranquilos. A avaliação é que um caso como esse não deveria passar, principalmente em área de crédito onde as instituições financeiras têm intensificado as operações. Desde o caso do Banco Nacional (que teve a liquidação decretada em novembro de 1995 por incluir em seus balanços créditos fictícios), houve aumento no quadro de funcionários na área de fiscalização, assim como os investimentos em sistema de monitoramento.

Oficialmente, no entanto, o BC informa que “agiu na hora certa, pois, a autoridade reguladora e fiscalizadora age a tempo e a hora quando: detecta o problema, determina a solução do problema, a solução é implementada antes que haja qualquer prejuízo ao poder público, a credores e a terceiros”.

O problema, segundo algumas fontes, é que a fraude no Panamericano estaria acontecendo há três ou quatro anos e nada foi constatado nas fiscalizações do BC.

Na terça-feira à noite, o Panamericano divulgou fato relevante informando o aporte de R$ 2,5 bilhões do Grupo Silvio Santos para cobrir “inconsistências patrimoniais” encontradas pelo Banco Central.


Caixa decide interpelar consultorias - Edna Simão - 13 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Efeitos sobre o SBT

Agências de publicidade pedem descontos nos anúncios veiculados em emissoras de televisão que enfrentam crise ou estão à venda

Se a especulação sobre a venda da rede SBT persistir, segundo diretores de planejamento de mídia das principais agências de publicidade consultadas pelo ‘Estado’, a emissora ficará vulnerável. “O SBT pode começar a perder entre 20% e 30% da sua receita já no começo do ano”, diz um deles. “Todos vão querer negociar a compra de mídia na emissora com pesados descontos. Nessa hora, não há solidariedade. Há negócio”, diz outro.

A situação, lembram eles, não será diferente do que viveu a Rede Globo por volta de 2003, quando passou pela reestruturação de sua dívida tendo de vender participação em várias afiliadas. “No momento da negociação do comprometimento anual de pagamento antecipado, houve descontos de compra de mídia de até 80% do valor do volume contratado no ano”, relembram.

É prática do mercado de propaganda o uso do “comprometimento anual”, um recurso para compra antecipada de espaços de veiculação de anúncios com descontos proporcionais ao volume contratado. É uma forma de a emissora fazer caixa. É feito no começo do ano, à medida que as grandes empresas definem suas verbas de marketing. Fora isso, nessa mesma época, as emissoras também negociam os patrocínios para os pacotes de programação anual, como grade de esportes, séries e reality shows, entre outros.

Imagem. Não é à toa que Sílvio Santos se preocupa em preservar sua boa imagem. Ele tomou para si a tarefa de escrever do próprio punho o anúncio que pôs no ar desde ontem. Nenhuma agência de propaganda, como seria usual, foi convocada para a tarefa. No comunicado, ele destaca que as empresas do Grupo Sílvio Santos valem mais do que o empréstimo que se viu obrigado a contrair para cobrir o rombo no Banco Panamericano, que pertence ao grupo.

Preservar a imagem trata-se de - mais do que uma vaidade natural para um ídolo popular - uma forma de evitar prejuízos para o SBT. A comercialização dos espaços publicitários em qualquer emissora leva em consideração dois aspectos: audiência e credibilidade. A audiência do SBT tem se mantido estável, em torno dos 6 pontos de média por dia no último ano. Mas a credibilidade pode ficar abalada com o risco de venda e isso provocar perda de receita a médio prazo.

“Ninguém vai patrocinar uma novela com duração de oito ou dez meses sabendo que a emissora pode ser vendida a qualquer momento”, explica Angelo Frazão, consultor de mídia com mais de 30 anos de experiência. “O veículo só perde relevância para o anunciante quando perde audiência ou quando a credibilidade é afetada.”

A emissora é muito próxima da imagem de Sílvio. Tão próxima que, como avalia Fernando Mazzarolo, presidente da agência de propaganda WMcCann, só não foi atingida ainda porque Sílvio foi ágil na adoção de uma postura pública, com o empenho do próprio patrimônio. Uma atitude rara nessas situações, o que repercutiu positivamente tanto nas redes sociais como entre os profissionais do meio. “Todo o processo vem sendo bem conduzido”, diz Mazzarolo.


Escândalo ameaça receita do SBT - Marili Ribeiro - 13 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Processos do Panamericano

O Grupo Silvio Santos vai processar, nas esferas cível e criminal, os ex-diretores executivos do banco Panamericano e a auditoria externa contratada para revisar as demonstrações financeiras do banco (Deloitte). A informação consta de um comunicado divulgado pelo grupo. O ‘Estado’ apurou que o empresário Silvio Santos tem dito a pessoas próximas que está “imbuído em pôr os envolvidos na fraude do Panamericano na cadeia”.

A diretoria do banco era presidida por Rafael Palladino. Também integravam o primeiro time Wilson Roberto de Aro (diretor financeiro e de relações com investidores), Adalberto Savioli (crédito), Luiz Carvalho Bruno (jurídico), Carlos Roberto Vilani (comercial), Eduardo de Ávila Pinto (tecnologia da informação), Elinton Bobrik (novos negócios) e Mario Tadami Seó (investimentos).

Os dois principais executivos eram Palladino e de Aro. Foram eles, por exemplo, que comandaram o processo de IPO (abertura de capital na bolsa) em 2007. Visitaram investidores no Brasil e no exterior para vender o banco. Segundo uma pessoa que acompanhou o processo, eram duros de negócio. Não falavam inglês e “não eram sofisticados”.

Formado em educação física e ex-personal trainer, Palladino é primo de Íris Abravanel. Roberto de Aro é administrador de empresas e começou a trabalhar no Grupo Silvio Santos em 1974. Praticante de tênis, mora em um luxuoso apartamento nos Jardins, bairro nobre de São Paulo.

Dificuldades. No fim de 2008, quando o Brasil sofria os efeitos mais intensos da crise mundial, o banco Panamericano chegou a suspender resgates de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de grandes clientes. A atitude, claro, irritou os detentores dos títulos, que queriam ver seu dinheiro na mão e não conseguiram. Por isso, o banco deixou de ser opção de investimento para várias entidades do mercado, como fundos de pensão.

Ainda que o problema tenha ocorrido em meio à pior crise global desde 1930, evidencia que as dificuldades do Panamericano começaram lá atrás - e independem das fraudes contábeis descobertas pelo Banco Central (BC).

Por trás dessas dificuldades, explica um analista que pede para não ser identificado, está a opção do banco em se especializar numa área com altíssimos índices de calote: financiamento de automóveis usados.

No segundo trimestre, o BC pediu para o Panamericano reforçar as provisões contra calotes duvidosos em R$ 120 milhões (o total acabou subindo para R$ 577 milhões, o equivalente a pouco mais de 6% da carteira de crédito, porcentual pequeno se comparado ao de instituições de grande porte).

A estratégia concentrada nos carros usados, somada às fraudes contábeis, derrubou o banco, a despeito de dois aportes relevantes realizados nos últimos anos - R$ 777 milhões do IPO e mais R$ 739 milhões obtidos na venda de 49% do capital votante para a Caixa Econômica Federal, em novembro do ano passado./


Grupo Silvio Santos processa ex-diretores - Leandro Modé - 13 Nov 2010 - O Estado de São Paulo - COLABOROU MARILI RIBEIRO

Funções do Banco Central

As funções do BC

Está entre as funções do BC supervisionar o sistema financeiro. E não auditar contas de bancos. “Se assim fosse, o BC se tornaria a maior empresa de auditoria do mundo”, ponderou ontem, em conversa com a coluna, Henrique Meirelles. Com um agravante: aprovados os números, a instituição financeira automaticamente seria garantida pelo governo federal. O que, na opinião de Meirelles, aumentaria o chamado “moral hazard”.

Na mão contrária do que é pregado na convenção da Basileia: a de diminuir os riscos dos BCs pelo mundo.

Funções 2

Com o BC sob fortes críticas em função do Panamericano, Meirelles destaca que a autoridade monetária localizou, a tempo e a hora, o problema. “Sem prejuízos maiores a não ser para o próprio acionista controlador. ” Não nega nem admite que foi sua a ideia de usar o Fundo Garantidor de Crédito para resolver a cratera aberta na instituição de Silvio Santos. “O FGC é privado e pertence aos bancos. Ao governo, cabe normatizar seu funcionamento por meio do Conselho Monetário Nacional”.

Eleição

Ao entrar no site do Tribunal Superior Eleitoral para dar uma olhada nas contribuições dos bancos na última eleição, esta coluna se deparou com algumas curiosidades. O Bradesco, pelo banco em si, deu R$ 10 milhões somente. Mas outros dois bancos de sua propriedade, o Alvorada e o Bankpar, deram, respectivamente, R$ 33,2 milhões e R$ 2 milhões. Uma soma total de R$ 45 milhões.

O Itaú/Unibanco, por sua vez, ofereceu R$ 14,3 milhões.

Eleição 2

Chama atenção também a oferta de dois bancos médios. A do BMG, de R$ 29,2 milhões, o dobro do doado pelo Itaú. E do Cruzeiro do Sul, de R$ 6, 9 milhões. Em comum, ambos operam forte no setor de crédito consignado. O Panamericano, de Silvio Santos, não contribuiu com nada.

Lebre por gato?

Luiz Sandoval revelou ao Estado que o Panamericano irá contratar a PriceWaterHouse Coopers para apurar fatos e motivos que levaram o banco à situação em que se encontra. Com a concordância do BC e da CEF. Trata-se da mesma Price que auditou as contas do Banco Noroeste e que não descobriu o gigantesco desvio de recursos à época. E que hoje está sendo processada pelos ex-donos do banco.



Direto da Fonte - Sonia Racy - 13 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Auditores


EM PELO menos um aspecto, inexiste novidade na quebra fraudulenta do Banco PanAmericano: no dos auditores da instituição terem sido incapazes de detectar a mutreta contábil.

ESTA GRAVE falha se soma a muitas outras semelhantes, ocorridas em todo o mundo: na explosão de bancos asiáticos na década de 90, na evaporação da gigante americana Enron e, mais recentemente, no derretimento de Wall Street. Tudo sob a lupa fosca de impávidos auditores.

TÍTULOS LASTREADOS em hipotecas carcomidas, nos EUA, chegaram a receber desses escritórios a avaliação de risco nulo. Revelaram-se podres.

A REFORMA da regulação financeira americana trata dessas firmas. O governo brasileiro poderia jogar uma luz no tema.


Míopes auditores - O Globo - 13 Nov 2010

Panamericano: um resumo

A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo vão investigar os indícios de irregularidades contábeis cometidas pelo PanAmericano, que culminaram no rombo de R$2,5 bilhões no banco. A PF instaurou inquérito para apurar a eventual prática de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, como gestão fraudulenta, prestação de informações falsas aos órgãos competentes e inserção de elementos falsos em demonstrativos contábeis. O procedimento de investigação está a cargo da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin), da Superintendência Regional de São Paulo, e foi aberto com base no fato relevante divulgado pelo PanAmericano, na terça-feira, e na nota divulgada pelo Banco Central (BC), na quarta-feira.

O Ministério Público também abriu um procedimento investigatório criminal. A condução do inquérito pelo MPF ficará a cargo dos procuradores da República Rodrigo Fraga Leandro de Figueiredo e Anamara Osório Silva. Anamara também foi autora da denúncia que levou à condenação o banqueiro Edemar Cid Ferreira e seu sobrinho, o diretor financeiro-administrativo Ricardo Ferreira de Souza e Silva, por tentativa de bular a lei em caso ligado à falência do Banco Santos.

Ao detectar que havia inconsistências financeiras nos balanços do banco PanAmericano, em agosto deste ano, o Banco Central começou uma busca por informações em outras instituições, sobretudo as que tinham comprado carteiras de crédito do banco controlado pelo Grupo Silvio Santos. A autoridade monetária fez uma espécie de varredura nesses números para dimensionar a provável fraude. Entre as instituições às quais foram solicitadas informações estão bancos no topo do ranking nacional, assim como instituições de médio porte.

O objetivo da varredura era fazer um cruzamento de dados e bater todas as informações dos dois lados: do PanAmericano e dos compradores das carteiras.

BC diz que poderá aperfeiçoar análises

A cessão de carteiras é uma operação normal de mercado. Os financiamentos concedidos são ativos dos bancos e valem dinheiro — o pagamento do crédito concedido. Ao repassar a terceiros, a instituição detentora daqueles créditos antecipa o recebimento dos recursos, que se transforma em capital novo para empréstimo.

Segundo o BC, até setembro passado, foi vendido o equivalente a R$42,9 bilhões no país em carteiras de crédito. Ao todo, foram 55 bancos que venderam suas carteiras a outras 36 instituições financeiras. O volume total negociado, ainda segundo o BC, equivale a apenas 2,6% do saldo total de crédito no mercado nacional, que, também em setembro, era de R$1,6 trilhão. Por causa do sigilo bancário, o BC não informa quais foram os bancos que negociaram essas carteiras de crédito.

O BC detectou que há indícios de fraude nessas operações feitas pelo banco do Grupo Silvio Santos e que, ao todo, somam quase R$2,1 bilhões. O rombo total chegou a R$2,5 bilhões porque envolveu problemas também com cartões de crédito, no valor de R$400 milhões.

O PanAmericano continuava contabilizando em seus ativos as carteiras de crédito que não mais lhe pertenciam, depois de vendê-las a outras instituições, inflando seus resultados. Além disso, vendeu uma mesma carteira de crédito a mais de uma instituição, igualmente gerando caixa de forma artificial. A desconfiança maior é que isso tenha sido feito para melhorar o bônus da cúpula do banco.

As análises do BC duraram cerca de um mês. A maquiagem operada no balanço pelos supostos fraudadores foi bem sofisticada, indicando que havia muito conhecimento contábil para evitar rastros. Toda a cúpula do PanAmericano, como seus ex-diretores, alguns conselheiros e administradores, está sendo investigada pelo BC. O material coletado já seguiu para o Ministério Público Federal.

Com o problema detectado, e solucionado com o empréstimo de R$2,5 bilhões feito pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) ao Grupo SS — todas as empresas do apresentador de TV e empresário Silvio Santos, incluindo o canal de televisão SBT, foram dadas como garantia —, o BC passou a fiscalizar normalmente o sistema financeiro. A autoridade monetária admite que, com esse episódio, poderá aperfeiçoar as regras e metodologia de análises.

O BC considera a solução dada para evitar a quebra do PanAmericano perfeita, porque não causou prejuízos ao FGC nem aos acionistas do banco, como a Caixa Econômica Federal, dona de 49% do capital social do PanAmericano.

A avaliação do BC também é que, apesar do que ocorreu com o PanAmericano, não existe nenhum indício de que outros bancos — inclusive de pequeno e médio portes — estejam com problemas de solvência. Ou seja, a solidez do sistema financeiro nacional continua intacta.


BALANÇO FURADO - 13 Nov 2010 - O Globo - Karina Lignelli e Patrícia Duarte

Os executivos do Panamericano

Os dois principais executivos do banco PanAmericano, Rafael Palladino e Wilson de Aro, que foram demitidos na terça-feira depois da divulgação do rombo nas contas da instituição, são sócios do ex-patrão, Silvio Santos, no SBT. Conhecidos como “pratas da casa” do Grupo SS na área financeira, Palladino e De Aro têm participação societária (de 50% cada) em duas empresas que integram o SBT: a TV Studios Anhanguera e a TV Studios Vale do Paraíba. Ambas foram criadas em março de 2004 e têm como endereço a sede da emissora.

De acordo com registro da Junta Comercial de São Paulo, na TV Anhanguera, Palladino aparece como único sócio de Luiz Sandoval, o principal executivo da SS Participações, a holding que controla as empresas do Grupo SS. Na Vale do Paraíba, De Aro tem como sócio Antonio Luiz Droguetti Neto. Nas duas empresas, os executivos aparecem como sócios e administradores, com participação de R$75 mil.

— As duas empresas fazem parte do SBT — confirmou ontem um porta-voz da emissora. — São empresas abertas para futuramente serem afiliadas do SBT. Hoje não existem fisicamente, apenas juridicamente.

Palladino, que Silvio Santos disse não conhecer em entrevista publicada ontem no jornal “Folha de S. Paulo”, é primo de sua mulher, Iris Abravanel. Formado em educação física, antes de se tornar executivo foi personal trainer, dirigiu academias de ginástica e teve uma rede de postos de gasolina. No Grupo SS, começou, em 1991, assessorando as áreas comercial e imobiliária, depois foi para a financeira, reativando negócios de seguros e consórcios. Também foi uma espécie de tutor da filha caçula de Silvio Santos, que foi estagiária no banco e hoje dirige o SBT. Aos 59 anos, Palladino é sócio de ao menos outras cinco empresas, em áreas como eventos, assessoria financeira e administração.

Já De Aro, formado em administração, com pós-graduação na área, chegou ao Grupo SS em 1974. Lá, exerceu diferentes funções como a de analista econômico e de gerente financeiro. Ascendeu à diretoria do banco em 1997. Cuidava das áreas financeira e de relações com investidores, mas tinha também funções executivas na empresa de leasing, na seguradora e na administradora de consórcios do grupo. É dono de ao menos duas empresas, a Focus Consultoria e a Infocus Administração Financeira. Procurado pelo GLOBO, uma pessoa informou que o executivo e família viajaram.


Demitidos mantêm sociedade com SBT - 13 Nov 2010 - O Globo

Efeitos

O banco PanAmericano viu seu valor de mercado desabar quase que pela metade (45%) após o escândalo envolvendo a fraude de R$2,5 bilhões. Quando a Caixa Econômica Federal comprou 35% das ações da instituição financeira do Grupo Silvio Santos, em dezembro do ano passado, o banco valia R$2,113 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Ontem, o valor estava em R$1,163 bilhão.

Analistas do setor ressaltam que a Caixa, por ter ações que respondem por 49% do capital votante do PanAmericano, sai prejudicada, já que tem um ativo desvalorizado nas mãos. Outros especialistas, porém, ressaltam que haverá recuperação:

— O banco poderá rapidamente se recuperar, pois está capitalizado e com nova diretoria. Nas condições normais, o PanAmericano tem preço relevante. Caso a Caixa colocasse sua parte à venda, o preço do banco subiria, pois há interessados. O banco é bem posicionado — diz o especialista em bancos Alberto Borges Matias, da USP de Ribeirão Preto.

Ontem, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) do banco fecharam em queda de 4,61%, a R$4,76. Na semana, o recuo chega a 37,29%. Analistas do mercado ressaltam ainda que o escândalo pode estar afetando os outros bancos médios brasileiros.

— Alguns bancos médios podem estar sofrendo com saques, como reflexo das incertezas envolvendo a fraude do PanAmericano. Mas é importante frisar que isso é apenas pânico, pois os concorrentes do segmento estão bem financeiramente — destacou um analista do mercado.

O economista Márcio Nakane, da Tendências, afirma que não é possível dizer se existem ou não casos como esse em outros bancos, por ser uma fraude. Ele lembra que tais casos são difíceis de detectar. Nakane disse, contudo, que o mercado deverá olhar com mais cuidado para bancos pequenos e médios que atuam de forma semelhante à do PanAmericano, vendendo carteiras de crédito.

Banco nega venda e cancela apresentação de resultados

Daniel Malheiros, da corretora Spinelli, destaca que bancos como ABC, BIC e Daycoval vêm apresentando bons resultados, com redução na provisão de inadimplência:

— Esses bancos não venderam suas carteiras ao longo da crise financeira, em 2009.

Com 130 empregados, a nova diretoria do PanAmericano informou que não vai demitir pessoal, segundo o novo diretor administrativo do banco, José Alfredo Lattano. Lattano explicou que “os aportes necessários foram feitos” e que “a empresa está dando continuidade às atividades no mercado financeiro”. O diretor negou que esteja em curso um processo para a venda do PanAmericano.

Ontem, o banco anunciou que cancelou a apresentação dos resultados do terceiro trimestre de 2010, originalmente marcada para a próxima terça-feira.


BALANÇO FURADO: Bancos médios podem estar sofrendo saques, diz analista - 13 Nov 2010
O Globo

Corinthians e Panamericano



Pelo menos até o final de fevereiro, o rombo de R$ 2,5 bilhões no banco PanAmericano não vai afetar o Corinthians, que é patrocinado pelo banco.

"Não muda nada", afirmou Caio Campos, gerente de marketing do clube. "O contrato está sendo cumprido", afirmou Luiz Felipe Santoro, advogado do Corinthians, quando questionado se o banco estava pagando o clube em dia.

O contrato assinado em fevereiro de 2010 tem duração de um ano e rende ao clube R$ 7 milhões no período. Em troca, o banco estampa sua marca nas costas da camisa do Corinthians, abaixo do número.

Dirigentes do clube, que se envolveram na negociação, avaliam que será difícil renovar o contrato de patrocínio, que vence em fevereiro de 2011. Por enquanto, preferem esperar.

Além dos R$ 7 milhões do banco PanAmericano, o Corinthians fatura por ano R$ 38 milhões da Hypermarcas -deste valor, R$ 10 milhões vão para Ronaldo-, empresa que tem contrato com o clube até o final de 2011.


Crise em banco não afeta clube, dizem cartolas - Folha de São Paulo - 13 nov 2010

Foto: aqui

Zona Cinzenta no Panamericano

Auditores do Banco Central que analisaram a documentação do Banco PanAmericano dizem ter encontrado os primeiros indícios de desvio de dinheiro por parte de executivos na operadora de cartão de crédito.

O PanAmericano, do Grupo Silvio Santos, tem um rombo de R$ 2,5 bilhões, dos quais R$ 400 milhões são da empresa de cartão de crédito, segundo o Banco Central.

As primeiras análises dos técnicos apontam que metade dos R$ 400 milhões teria sido desviada por executivos que faziam parte da cúpula do PanAmericano, segundo a Folha apurou.

O número é apenas uma estimativa preliminar, já que esse tipo de apuração costuma levar meses.

CRÉDITO INVENTADO

Os técnicos do Banco Central descobriram dois tipos de artifício nos quais os executivos usavam os cartões de crédito de clientes para desviar dinheiro do banco: 1) a manipulação dos saldos; 2) criação de cartões fantasma, sem que exista cliente.

O primeiro tipo era a manipulação mais comum. Imagine um cliente do cartão PanAmericano que gastou R$ 1.000 num mês, paga R$ 200 e decide financiar o saldo em prestações, o chamado "crédito rotativo".

Em vez de registrar um saldo de R$ 800, os executivos dobravam esse valor, num exemplo fictício. Numa operação com o banco PanAmericano, retiravam R$ 1.600, em vez dos R$ 800. Pagavam os R$ 1.000 aos lojistas com os quais o cliente do cartão fizera compras e desviavam os R$ 600 que sobravam.

O PanAmericano nega que tenha havido desvios. Diz que "as inconsistências contábeis estão sendo alvo de apuração por parte das autoridades competentes e os valores necessários a sua regularização foram aportados pelo controlador".

São fraudes grosseiras, segundo um técnico que acompanhou as negociações que resultaram no empréstimo de R$ 2,5 bilhões para salvar o PanAmericano.

Na visão dele, o caso parece o do Banco Nacional, que quebrou em 1995 -os desvios eram feitos a partir de créditos inventados.

SEM CONTROLE

O desvio a partir dos cartões de crédito tem uma razão clara, segundo o advogado Jairo Saddi, professor do Insper e um dos maiores especialistas em legislação bancária do país: o BC controla a contabilidade dos bancos, mas não faz esse tipo de fiscalização nas empresas de cartão de crédito. Segundo a lei brasileira, cartão de crédito é uma operação mercantil, não financeira.

"As fraudes sempre ocorrem nas áreas em que há falta de controle", afirma.

No Brasil, as empresas de cartão de crédito são consideradas instituições financeiras para questões de sigilo bancário, mas não o são para o setor de fiscalização do BC.

Nos Estados Unidos e na União Europeia, a legislação é diferente -bancos e empresas de cartão são fiscalizados pelos bancos centrais, segundo Saddi.

A falta de fiscalização nas empresas de cartão de crédito funciona como um estímulo à fraude, para o advogado.

"Empresa de cartão de crédito precisa ser equiparada às instituições financeiras e fiscalizada pelo Banco Central", defende Saddi.



Zona cinzenta pode ter estimulado fraude - 13 Nov 2010 - Folha de São Paulo - MARIO CESAR CARVALHO

Perguntas ao Panamericano

1) O BC anunciou que ao examinar, há alguns meses, as contas do PanAmericano, descobriu indícios de fraude contábil.

O ativo do banco, que inclui bens e créditos que podem ser convertidos em dinheiro, estaria inflado em R$ 2,5 bilhões.

O valor ultrapassa em muito o patrimônio (diferença entre o ativo e dívidas) dos acionistas do PanAmericano, que é de R$ 1,6 bilhão.

A diferença entre os dois valores, de R$ 900 milhões, é o tamanho do rombo gerado.

O BC informou, de forma picada, que os problemas de maquiagem dos balanços ocorreram tanto em operações de empréstimos como de cartão de crédito.

Aparentemente o banco registrava em seus balanços que tinha direito a receber pagamentos de empréstimos que já havia vendido para outras instituições financeiras (entre outras manobras).

A prática -de vender para outro banco o direito de receber as prestações de empréstimos concedidos a clientes- é comum no mercado.

Pontos não esclarecidos: que manobras ocorreram de fato? A maquiagem de R$ 2,5 bilhões feita no balanço do banco teve a intenção de esconder desvio de dinheiro feito por algum funcionário, prejuízo gigante do próprio PanAmericano ou de outra empresa do grupo?

Ou (hipótese que soa menos provável a esta altura) teria sido resultado de erro?

2) Como um rombo tão grande teria passado despercebido pelas inúmeras auditorias às quais o PanAmericano foi submetido nos últimos anos?

Isso inclui o próprio BC. Mas também bancos e empresas de auditoria externas que por motivos variados analisaram a saúde financeira e a solidez contábil do PanAmericano.

3) Silvio Santos poderia, em tese, ter optado por deixar o PanAmericano falir.

O BC começaria um processo de intervenção no banco, que envolveria ir vendendo os ativos e quitando as obrigações do mesmo.

Dificilmente isso afetaria o patrimônio de Silvio Santos (cujas demais empresas poderiam, por exemplo, ser transferidas para outros familiares, entre outras saídas possíveis).

O empresário, no entanto, tomou um empréstimo subsidiado, dando como garantia seu patrimônio, para cobrir o rombo em seu banco.

A solução teria sido imposta pelo governo? Ou o empresário fez isso para resguardar sua honra?



Poucas informações geram especulação e dúvidas - Folha de São Paulo - 13 de nov 2010 - ÉRICA FRAGA

Fantasmas Panamericanos

Ao menos dois ex-diretores do banco PanAmericano recorreram a um esquema que, nos últimos dois anos, criou cerca de 50 empresas fantasmas no Brasil.

Funciona assim: uma empresa é criada somente no papel com capital mínimo de R$ 100. Pouco tempo depois -geralmente, dois meses-, ela é transferida para outras pessoas. Em alguns casos, o nome da empresa também é alterado. Fica mantido apenas o CNPJ.

Dois exemplos desse esquema são: a Razak Empreendimentos (que recentemente mudou de nome para Bob Rik Serviços Administrativos) e a Antillas Empreendimentos e Participações (transformada há cerca de um mês em Lagonegro Empreendimentos).

Ambas as empresas foram criadas por Ivan dos Santos Freire e Valdison Amorim dos Santos.

O primeiro, um ex-estudante de direito, que passou anos trabalhando como estagiário de um escritório de advocacia que defende o diretório estadual do PT em São Paulo e políticos da cúpula do partido em SP.

ENTRA E SAI

Cerca de dois meses depois da constituição das duas companhias, Freire e Santos se retiraram da sociedade.

Em seus lugares, entraram na Razak e na Antillas, respectivamente, Elinton Bobrik (ex-diretor de novos negócios do PanAmericano) e Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno (ex-diretor diretor jurídico do banco).

O endereço em que as duas empresas foram registradas na Junta Comercial de São Paulo é o mesmo: uma sala em um prédio precário no bairro da Bela Vista, centro da capital paulista.

Ontem, a sala estava fechada e, de acordo com uma pessoa que estava no local, uma funcionária que recolhia a correspondência não é vista há algum tempo.

EMPRESAS

Desde 2006, quando começaram os problemas contábeis do PanAmericano, os oito diretores afastados do banco abriram ou adquiriram participação em ao menos 11 empresas.

As companhias pertencem a setores variados: de promoção de vendas ao segmento imobiliário, passando pelo processamento de pagamentos on-line feitos com cartão de crédito.

BRASPAG

Luiz Augusto de Carvalho Bruno também se tornou sócio, em 2007, da Braspag, empresa que processa 40% dos pagamentos em cartão de crédito feitos pela internet para as dez maiores varejistas do Brasil.

Dessa sociedade, fazem parte ainda outros dois ex-diretores do PanAmericano: Wilson Roberto de Aro (dos departamentos financeiro e de relações com investidores do banco) e Rafael Palladino (superintendente e de captação de recursos).

Palladino é primo de Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos, e participa de 20 companhias ao todo, considerando as fatias adquiridas também antes de 2006.

Um executivo do segmento de e-commerce (comércio online) disse à Folha que, depois do episódio envolvendo o PanAmericano, varejistas estão preocupados com a saúde financeira da Braspag.

Isso porque, se a empresa tiver problemas, a substituição por uma concorrente não será um processo simples, devido ao grande volume de transações que a companhia processa.

OUTROS SEGMENTOS

Palladino, Aro e Bruno também são sócios de uma empresa do setor imobiliário registrada como Galeno de Almeida (aberta em 2007).

A companhia tem ainda participação da Sisan, que construiu o prédio do Pan Americano e o Sofitel Jequitimar (Guarujá), entre outros.

Já Carlos Roberto Vilani, ex-diretor comercial do banco, aparece como sócio de empresas do setor de promoções de vendas, como a VCA (de 2008) e Atitude (de 2009).

(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, ANDREZA MATAIS, CAROLINA MATOS E CLAUDIA ROLLI)


Folha de São Paulo - 13 de novembro de 2010 - Ex-diretores abrem empresas fantasmas


A Folha não localizou ontem os ex-diretores do banco PanAmericano Elinton Bobrik (ex-diretor de novos negócios da instituição financeira) e Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno (ex-diretor diretor jurídico do banco) para falar sobre a abertura de empresas.

Ivan dos Santos Freire, ex-estudante de direito envolvido no suposto esquema de abertura de empresas-fantasmas, disse à Folha que trabalha com assessoria empresarial e algumas das firmas são criadas a pedido de clientes.

Em alguns casos, segundo o sócio dele, as empresas continuam no papel em nome dos dois.

TRANSFERÊNCIAS

"Nós constituímos as empresas e elas estão à disposição. Eventualmente, se o cliente tiver alguma operação na qual ele venha a utilizá-las, as sociedades são transferidas. Quando é a pedido de determinado empresa, eles dão as informações necessárias", afirma.

Freire também afirmou que eles vendem "empresas inativas, que não operam" e que "só vai ter alguma coisa mediante o interesse de quem eventualmente for adquiri-las".

(JEC, AM, CM e CR)


Ex-diretores do PanAmericano não são localizados - Folha de São Paulo - 13 Nov 2010

12 novembro 2010

Rir é o melhor remédio


Fonte: aqui

Panamericano: Tentativa de Resumo do caso

As notícias sobre os problemas do banco Panamericano podem ser divididas em três frentes: o Banco Central (e eventualmente outros órgãos de regulação), a entidade Panamericano (e seu principal acionista, Sílvio Santos) e a questão contábil.

Reguladores

Com respeito aos reguladores, existe a suspeita que os problemas do banco começaram há mais de três anos é preocupante. Isto significa que as empresas de auditoria, a bolsa de valores, a CVM e, principalmente, o Banco Central foram convenientes.

Quando do lançamento das ações do banco na bolsa de valores, o Panamericano contratou a Deloitte para fazer sua auditoria. A IPO foi feita pelo UBS Pactual, BBI (Bradesco) e Itaú BBA. O Banco Central pretende repassar a culpa para o auditor.

O Banco Central esclareceu também que parte dos problemas ocorreu na área de cartões de crédito, onde o rombo pode chegar a 400 milhões. O Panamericano foi notificado dia 8 de setembro, antes das eleições. No dia 22 de setembro, o Panamericano admitiu os problemas e o controlador teve um encontro com o presidente da república.

A entidade

Naturalmente que o preço das ações do banco caíram na bolsa de valores. É interessante notar que na terça feira, antes da notícia aparecer no Estado de São Paulo, o volume de negociação era muito superior a média.

Para resolver o problema da entidade, comenta-se diversas soluções para o controlador, inclusive a venda. Isto foi sinalizado pelo presidente do Banco Central.

Questão Contábil

A empresa de auditoria do Panamericano, Deloitte afirmou estar colaborando com as autoridades.

Os problemas podem aumentar as chances de fiscalização das empresas de auditoria. Aqui o nome envolvido é o da Delloite. A nota divulgada pela Delloite é muito abrangente e pouca clara, como seria de esperar. Divulgou-se hoje o valor do pagamento pelo trabalho feito pela Delloitte: 12 milhões de reais (bem acima dos 95 mil reais que a KPMG irá receber do Banco do Brasil)

Durante o processo de aquisição, o Panamericano passou por uma due diligence da KPMG. Mas será difícil provar que esta empresa teve responsabilidade sobre os problemas

Entretanto, o problema do banco deverá afetar todo o setor de auditoria.

A divulgação do balanço trimestral, prevista inicialmente para hoje, foi suspensa. Uma nova data ainda não foi marcada.

Crime

Brasília - O Banco Central (BC) comunicou ontem (10) ao Ministério Público os indícios de crimes no caso na contabilidade do Banco PanAmericano, informou hoje (11) o diretor de Fiscalização da autoridade monetária, Alvir Alberto Hoffmann. Ele acompanhou o presidente do BC, Henrique Meirelles, na audiência pública convocada pela Câmara dos Deputados.

O Banco PanAmericano precisou recorrer ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para receber um empréstimo de R$ 2,5 bilhões e restabelecer o equilíbrio patrimonial. De acordo com Meirelles, do rombo de R$ 2,5 bilhões apurado na contabilidade da instituição financeira, cerca de R$ 2,1 bilhões são referentes a desequilíbrios do próprio banco e R$ 400 milhões relacionados a administração de cartões de crédito. Meirelles não deu detalhes sobre as inconsistências contábeis do PanAmericano e disse que não é competência do BC fiscalizar o setor de cartões de crédito.

Meirelles afirmou ainda que foi feita uma avaliação no sistema bancário como um todo e não foi encontrada nenhuma instituição com problemas semelhantes aos do PanAmericano, mas ressalvou que banco central nenhum no mundo pode garantir que não surjam problemas nas instituições, no futuro. Para ele, se o BC assumisse esse tipo de garantia, haveria um "risco moral". Segundo Meirelles, o BC continua a investigar a situação do PanAmericano.


BC já informou ao Ministério Público indícios de crimes no PanAmericano
Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Mais sobre o Panamericano

Tropa de choque

Desejo de Silvio Santos: quer a Polícia Federal no caso.

Para entender
Na crise da Lehman Brothers, boa parte dos bancos que operam com crédito consignado usaram sistema de contabilidade parecido com o que acabou gerando buraco de R$ 2,5 bilhões no Panamericano. Isto é, vendiam suas carteiras de crédito e não registravam o fato corretamente.

Simplesmente porque não sabiam como fazê-lo.

Para entender 2

Um deles, cujas contas eram auditadas pela KPMG, corrigiu o erro rapidamente, depois de quatro meses.

Dúvida cruel. Pode não ter sido a mesma equipe da consultoria a responsável pela auditoria no Panamericano. Mas será que a empresa não absorve aprendizados? Isto, no mínimo, é negligência.

Origem

Foi em reunião do conselho fiscal do Panamericano, não se sabe exatamente quando, que os conselheiros tomaram conhecimento do buraco. Ao questionarem o contador-chefe, ele desabafou: “Graças a Deus alguém fez a pergunta certa”. E despejou tudo que fez e sabia.

Origem 2

Corre forte pelo mercado que José Dirceu estaria por trás da costura da compra de parte do Panamericano pela CEF.

Cruzes

Quem é Rafael Palladino, ex-presidente do Panamericano, além de primo da mulher de Silvio Santos?

Um ex-boxeador que até hoje luta de maneira amadora. Inclusive com SS.

Mangalô...

O Citibank fez uma oferta de R$ 1,5 bilhão, em 2007, pela compra da totalidade das ações do Panamericano. Silvio Santos recusou. Fonte da coluna afirma que o apresentador não quis vender porque envolveria demissão de boa parte dos 5 mil funcionários. Outra fonte, porém, dá outro motivo: garante que o apresentador justificou sua decisão dizendo que o banco era o ativo mais lucrativo entre todos que possuía. Portanto, não via razão para se desfazer dele.

Qualquer que tenha sido a razão, o Citi teve sorte desta vez. É que o banco americano tenta, tenta, tenta há anos comprar instituição financeira brasileira e não consegue.


Direto da Fonte - Sonia Racy - 12 Nov 2010 - O Estado de São Paulo