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21 novembro 2023

Ignorância Estratégica

Há um conceito em Economia da Informação chamado Ignorância Estratégica. O que significa isso? Basicamente muitas vezes é melhor você escolher a ignorância do que o conhecimento. Eu gosto do exemplo de uma pessoa que resolve fazer uma pós-graduação. Se ele consultar conhecidos que já fizeram, coletar as informações sobre o que isso significa em termos de sacrifícios e noites de estudo, provavelmente sua decisão racional seria não fazer o curso. Ao ignorar as informações sobre o tema e escolher fazer a sua pós, ao final de alguns anos ele terá obtido seu certificado de conclusão de curso. E percebido que se soubesse hoje o que isso significa, talvez não tivesse escolhido fazer a pós. É melhor não saber de todos os detalhes sobre o que significa fazer uma pós-graduação.

Encontrei uma situação semelhante em um pequeno artigo com conselhos sobre investimento. Erik Carter traz três conselhos sobre investimento e o que interessa é o segundo. (Para evitar a curiosidade, o primeiro é não acreditar que gastar dinheiro com luxo significa felicidade; o terceiro é que pequenos ajustes permitem mudar o comportamento das pessoas)

Carter considera um mito o seguinte: Acompanhe seus investimentos frequentemente para garantir que eles estejam indo bem. 

Eis o trecho que interessa:

Afinal, na maioria das áreas de nossas vidas, o desempenho é bastante importante. É por isso que os fãs de esportes ficam obsessivos com estatísticas e os empregadores pedem currículos aos seus candidatos. Embora saibamos que não há garantia, também sabemos que o desempenho passado é um indicador bastante bom do desempenho futuro – exceto quando se trata de investimentos.

Um problema é que os mercados tendem a se mover em ciclos. Lembra-se da bolha das empresas ponto.com e da bolha imobiliária? Quando um tipo específico de investimento está se saindo bem, as pessoas tendem a aportar mais dinheiro nessa categoria. Quando todos, desde jornais até membros da sua família, estão falando sobre o quanto dinheiro está sendo ganho, você quer participar da ação.

Mas o que acontece quando esse investimento inevitavelmente começa a perder valor? Você pode esperar um pouco, mas quando o prejuízo se torna muito doloroso, a tendência é interrompê-lo, retirando seu dinheiro ou, pelo menos, não colocando mais [1]. Claro, isso significa que você também perde a eventual recuperação e transforma uma perda temporária em permanente.

Você volta a investir quando o investimento começa a se recuperar? Normalmente, as pessoas querem esperar um pouco e ver se é real. O problema é que os mercados raramente se movem em linhas retas, então há muitos solavancos no caminho. Uma vez que ele se recupere por um tempo, o investimento provavelmente está se aproximando de outro pico, e o ciclo de ganância, esperança e medo se repete. Isso é chamado de comportamento de rebanho na finança comportamental.


E se um fundo não estiver se saindo tão bem quanto outros em sua categoria? Muitos consultores financeiros citam isso como uma razão para mudar de curso, mas a evidência mostra que os fundos de melhor desempenho geralmente não continuam a superar [2]. Na verdade, eles não tendem a fazer melhor do que os piores. Um indicador muito melhor de desempenho futuro ao comparar fundos semelhantes são as baixas taxas.

Então, o que fazer? O lendário investidor Jack Bogle uma vez disse: “Não olhe nem mesmo para sua própria conta, não abra os extratos” [3] e chamou isso de “uma das maiores regras já feitas para investir”. Isso é um pouco drástico, mas você entende o ponto.

Se e quando você olhar para sua conta, deve ser apenas para garantir que sua carteira ainda seja apropriada para seus objetivos e tolerância ao risco, reequilibrá-la, se necessário, e procurar oportunidades para reduzir taxas, custos de negociação e impostos.

[1] Conceito de aversão à perda aqui é importante.

[2] Conceito de reversão a média. 

[3] É o conceito que dá título a postagem. 

Foto: Eric Muhr

28 outubro 2023

Analfabetismo contábil

 Do livro Ignorância, de Peter Burke:

No mundo das finanças, expressões como "educação financeira" e "educação contábil" se tornaram comuns. A Accounting Literacy Foundation (Fundação pela Educação Contábil), que foi criada em 1982 e se tornou uma fundação em 2020, define essa forma particular de instrução como "a capacidade de ler, interpretar e comunicar uma situação ou evento financeiro, normalmente refletida nos cinco elementos do balanço patrimonial e no demonstrativo de renda [sic, da tradução para o português]: receita, patrimônio líquido, passivo, ativo e despesa" [36]

O que nos interessa aqui é o inverso, o analfabetismo contábil e suas consequências, tanto para pequenas empresas que não tem condições de contratar um especialista financeiro quanto para pessoas comuns que planejam sua aposentadoria. Nesse último caso, já se observou que "as mulheres são menos educadas financeiramente do que os homens" e que "os jovens e os idosos são menos educados financeiramente do que as pessoas de meia-idade". [37]

Quando voltamos no tempo, observamos que foi a necessidade de registrar o armazenamento e o fluxo de mercadorias que levou à invenção da escrita em tábuas de argila, na antiga Babilônia. Instruções para se fazer a contabilidade partidas dobradas (débitos de um lado, créditos do outro) podem ser encontradas em manuais para comerciantes na Itália a partir do século XV [sic. Na verdade foi já no final dos anos 1200] e, mais tarde, para chefes de família em muitas cidades europeias. Por outro lado, governantes como Filipe II (discutido no capítulo onze) e sua nobreza se contentavam em ser analfabetos em contabilidade, ao passo que a maior parte da população rural da Europa ainda não sabia nem mesmo ler e escrever no ano 1800. 


No século XIX, os contadores emergiram como uma profissão à parte, enquanto a contabilidade se tornou mais complexa, um processo que vem sendo continuado desde então. [38] Já inclusive se cogitou que a contabilidade é, em si mesma, "uma tecnologia da ignorância". Por exemplo, um estudo de dezessete escândalos de corrupção na Itália relatados entre 2014 e 2018 concluiu que "a contabilidade desempenha um papel importante na produção e na sustentação da ignorância". [39] Contrariamente a isso, pode ser argumentado que, seguindo a analogia do pensamento que diz "as estatísticas não mentem, os estatísticos, sim", a contabilidade não mente, enquanto indivíduos e empresas podem mentir e efetivamente mentem nos balanços. O preço do analfabetismo contábil é a incapacidade de detectar essas mentiras. 

[36] www.accountingliteracy.org/about-us.html. Acesso em 13 de maio de 2022 

[37] Annamaria Lusardi e Olivia S. Mitchell. ´Financial Literacy Around the World'. Journal of Pension Economics and Finance 10 (2011), 497-508

[38] Jacob Soll, The Reckoning: Financial Accountability and the Making and Breaking of Nations (Londres, 2017)

[39] Daniela Pianezzi e Muhammad Junaid Ashraf, "Accountin for Ignorance", Critical Perspectives on Accounting (2020)

10 março 2021

A Era de Ouro da Ignorância

Não concordo, mas Tim Hadford é provocativo ao afirmar que estamos na era de ouro da ignorância:

(...) Como chegamos a isso? A explicação mais simples - para reaproveitar uma frase do ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Larry Summers - é: “Existem idiotas. Olhe em volta." Mas embora haja uma certa satisfação visceral nessa explicação, há muito mais coisas acontecendo.

Robert Proctor, um historiador, cunhou o termo “agnotologia” [vide aqui] para descrever o estudo acadêmico da ignorância. Ele se interessou pelo fenômeno depois de estudar o esforço bem-sucedido da Big Tobacco para semear dúvidas sobre as evidências científicas sobre os riscos dos cigarros.

Três elementos [ajudam a explicar isto e] vale a pena destacar - nenhum deles [é] inteiramente novo.

Primeiro, distração. É possível que as pessoas gastem horas todos os dias consumindo o que é descrito como “notícias”, sem nunca se envolver com nada significativo. Algumas distrações são óbvias: fazer o sudoku não ajudará você a entender as implicações do acordo comercial pós-Brexit, assim como olhar para fotos de celebridades.

(...) Em segundo lugar, tribalismo político. Em um ambiente polarizado, toda afirmação factual se torna uma arma em um argumento. (...)

As distrações nos impedem de prestar atenção ao que importa, e o tribalismo político nos faz rejeitar evidências que colocam nossa tribo em uma posição ruim. Combine os dois, adicione esteróides e você terá o terceiro elemento da era da ignorância: o pensamento conspiratório.

Os pensadores da conspiração dedicam enorme energia mental para extrair significado de trivialidades. Evidências esmagadoras podem ser descartadas como notícias falsas fabricadas pela conspiração. Então, a ignorância pode ser banida? Não é fácil. David McRaney, criador do livro e podcast You Are Not So Smart , e Adam Grant, autor de Think Again , oferecem conselhos semelhantes: não comece com os fatos.

Em vez disso, estabeleça um relacionamento, faça perguntas e ouça as respostas. (Desnecessário dizer que isso é muito mais fácil em uma conversa na vida real do que nas redes sociais.) 

(...) Em vez de tentar esclarecer outra pessoa, sugiro que cada um de nós comece com seus próprios pontos cegos. Estamos todos distraídos. Todos nós também temos tribos: sociais, senão políticas. Somos todos vulneráveis, então, a acreditar em coisas que não são verdadeiras. E somos igualmente vulneráveis ​​a negar ou ignorar verdades importantes. Devemos todos desacelerar, nos acalmar, fazer perguntas e imaginar que podemos estar errados. É um conselho simples, mas muito melhor do que nada. É também um conselho muito fácil de ignorar.

Minha opinião é que a ignorância sempre existiu. Talvez agora seja mais fácil de mapear.

Imagem: aqui

02 novembro 2014

Listas: Países dos ignorantes

Uma pesquisa fez perguntas aos habitantes de 14 países diferentes. Perguntas como: qual a percentagem de gravidez na adolescência, qual a percentagem de muçulmanos, qual a percentagem de pessoas que votaram nas últimas eleições ou qual a expectativa de uma criança que nasce hoje - foram confrontadas com o valor real. A diferença seria a medida de ignorância da população sobre a sua realidade. O resultado final foi

1. Itália
2. Estados Unidos
3. Coréia do Sul
4. Polônia
5. Hungria
6. França
7. Canadá
8. Bélgica
9. Austrália
10. Grã-Bretanha

03 julho 2014

Ignorância é Poder

Somos induzidos a acreditar que o conhecimento está associado ao poder. O gestor que muito sabe teria mais poder sobre seu chefe/subordinados. Mas o Stumbling & Mumbling http://stumblingandmumbling.typepad.com/stumbling_and_mumbling/2014/06/when-ignorance-is-power.html apresenta dois exemplos que mostram que a ignorância pode estar associada ao poder. O primeiro, do Nobel Thomas Schelling, mostra que o executivo que mantém uma ignorância plausível sobre um crime que está ocorrendo na empresa terá menos chances de ser chantageado, por exemplo. McGoey, ainda citado pelo site, relembra o caso dos banqueiros que tomaram risco antes da crise financeira. Diante do clamor do público eles podiam afirmar: “eu não sabia”. 

Podemos acrescentar o político que usa a mesma frase.